quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


   

   
       

     OS CÍNICOS

Se bem historiadas estas coisas da democracia, e genericamente da política, não é possível passar ao lado dos que tiveram da ciência política uma visão cínica. Cínica e realista, pois então. Cínica, realista e pessimista, se se quiser ir mais longe.

                                                            

 A Mosca, a Pareto, a Sorel – não falando do velho Maquiavel, de que estes acabam por ser subsidiários – não escapou a fatalidade das desigualdades. A desigualdade teria de ser a regra de um governo. Democracia? Pura ilusão; ou pior: mistificação. Impossível o funcionamento de uma democracia. Será sempre o poderio de uma minoria a impor-se à vontade das massas. E o resto é conversa. E cada vez acredito mais nestes rapazes… está à vista…
A História do Homem e das comunidades não seria então outra senão a História da luta pelo poder entre as elites. Há dúvidas?
Talvez o mais notável destes neo-maquiavelistas seja o italiano Wilfred Pareto. Esse colocou em cima da mesa uma quantidade de constantes psicológicas que determinariam as doutrinas e as teorias mais correntes da ciência política. A essas constantes psicológicas chama ele de resíduos, ou derivações. Eram resíduos ou derivações tudo o que movia a História. Pareciam-se com instintos. Não pertenciam às categorias do racional, eram um eterno pano de fundo de muitas derivações.
Pareto fartava-se de rir quando lhe vinham com a conversa da luta de classes. Não, filhos, o que há é uma incansável circulação de elites, e a História não passa da substituição interminável de umas elites por outras. E digo-vos mais, filhos: a natureza ou o carácter de uma dada sociedade terá de ser encontrada no carácter da sua elite – e disto, digo eu, disto, quem é português sabe de sobra. 
E Pareto vai por aí fora, separando necessariamente a elite governamental da elite não-governamental, claro está… mas sempre elite.
Ezra Pound, nas desaforadas diatribes dos tempos italianos e fascistas, disparou contra o parlamentarismo aos microfones da Rádio Roma. Dizia ele: todos os sistemas de eleições parlamentares são superficiais. Ou talvez não sejam totalmente superficiais, mas devia haver algo de mais profundo, uma convicção, uma realidade. Não pode haver apenas demagogia e mentira.


E já agora, deixem-me citar o homem que Ezra Pound muito admirava no tempo em que escreveu o que anteriormente citei, esse mesmo: Mussolini. Mussolini prefaciando Maquiavel.
As revoluções dos séculos XVII e XVIII procuraram resolver o conflito que está na base de toda a organização social pública, ao considerarem o poder como uma encarnação da livre vontade do povo. Pura ficção. Pura ilusão.
Continuo a citar Mussolini: Quando muito, o povo poderá delegar, mas nunca exercer qualquer soberania. Os sistemas representativos pertencem mais à mecânica do que à moral. Mesmo nos países em que esses mecanismos, depois de séculos e séculos de funcionamento, se tornam quase perfeitos, surgem horas solenes em que o povo deixa de ser consultado (…) ordenam-lhe que aceite sem mais explicações uma revolução, que aceite uma paz, que marche contra a incógnita de uma guerra. E por aqui se vê que a soberania graciosamente concedida ao povo lhe é retirada precisamente nos momentos em que ele mais poderia desejá-la.
Ainda dentro do mesmo registo. Depois do estrondoso triunfo dos nazis em eleições livres, em 32/33, Goebbels escreveu no diário: a vitória é nossa. É muito menos do que poderiamos esperar. Mas o que significam os números daqui para o futuro? Somos senhores do Reich e da Prússia. Todos os outros partidos foram derrotados.
Que Deus Nosso Senhor me valha, mas a sensação – apenas a sensação, é claro – que me assalta assim que chega a noite de um domingo eleitoral português e fico a saber que tal ou tal partido conseguiu uma maioria absoluta é de que a democracia portuguesa irá passar mais 4 anos a dar passos à rectaguarda. Porque me parece difícil que um recém-eleito 1º ministro, mesmo medular democrata, no recôndito da sua consciência não pense, por um momento que seja, como Goebbels: que significam os números daqui para o futuro – e este futuro são 4 anos -, sou senhor de Portugal, os outros partidos foram derrotados. E é a partir desse dia que o nóvel 1º ministro…
Sim, é a partir desse dia que o nóvel 1º ministro sente poder permitir-se fazer o contrário de tudo o que disse e prometeu em campanha eleitoral – que me seja relevado o exagero, se o houver.
Pelos 4 anos que se seguem os números deixam de significar, os outros foram derrotados, ele é senhor do país, e se disse que nunca aumentaria os impostos, por exemplo, depois da maioria absoluta está deserto por aumentá-los. Depois de uma maioria absoluta, os números deixam de significar, e mesmo perante o protesto das palavras dos outros, dos que desta vez perderam a eleição, mas que da próxima a ganharão e reflectirão também um pouco como Goebbels e farão exactamente o mesmo que fez o nóvel e imaginário 1ºministro de que acabei de falar.
E a fragilidade da democracia foi muito patente naqueles anos 30 do século XX, quando os nazis chegaram ao poder por via e por meios formalmente democráticos – e contando com uma conjuntura peculiar, eu sei – e o mesmo Goebbels podia permitir-se escrever: vamos introduzir-nos no Reichstag para, no arsenal  da democracia nos fornecermos das suas próprias armas. Vamos ser deputados e vamos paralizar o regime de Weimar com o apoio de Weimar. Quem é eleito para o parlamento só fica inibido se quiser ser mesmo um parlamentar. Mas se, com ousadia, quiser continuar a luta implacável contra o aviltamento da vida pública, não será um parlamentar, será um revolucionário. Mussolini também era membro do parlamento e pouco depois marchou sobre Roma à frente dos seus camisas negras…
A melhor das democracias, e com as corrupções conceptuais e de sentido que ao longo da vida lhe têm sido feitas, transporta em si armadilhas capazes de fazer dela um para-fascismo sem ser preciso uma ditadura militar e sem deixar de se lhe chamar democracia. 


É uma realidade que estamos desgraçadamente a viver
Nos tempos que correm seria intolerável a existência de uma censura daquelas claras, assumidas, fascistas – claro que existe censura, mas é democrática e disfarçada de outras coisas.
Ditadura militar? Os militares inseriram-se de tal jeito no nivelamento por baixo da sociedade e da permissividade democráticas que fizeram esquecer até aos mais velhos a sua autoridade moral de outras eras. As tropas nacionais profissionalizaram-se. A mística do oficial pronto a sacrificar a vida ao serviço da pátria perdeu-se tanto quanto a mística da própria pátria.
E pelo aumento brutal das despesas militares, os próprios militares ficaram tão enfeudados quanto os políticos ao grande poder económico. As novas gerações de oficiais não me cheira a que estejam muito viradas para golpes e putschs. Além do mais porque não é preciso. Além do mais porque seria europeisticamente intolerável.
A democracia presente, ainda que por ínvios modos, tem no seu arsenal de fogos de artifício políticos todos os meios necessários para se parecer com uma ditadura sem formalmente a ser.
Acho que estavam errados os que diziam que o fascismo era o último recurso do capital para operar a máxima exploração sobre o trabalho. Não acho que o fosse. Uma democracia liberalmente asseada, parlamentar, representativa, faz muito bem esse serviço – faz muito melhor, acho eu – e sem violências físicas; e sem que o capital fique mal visto.
Além do mais, as polícias especiais e de choque, e os métodos de recolha de informação pessoal de cada cidadão continuam a existir, muito mais refinados e eficazes, e a vida política é mais complexa e há fenómenos novos a que não vale a pena chamar de fascismo porque, podendo até sê-lo na operacionalidade, não podem, em teoria, ser chamados de tal. 
Mao Tsé Tung, acabado de chegar ao poder revolucionário, denuncia a liberdade em abstracto das democracias ditas burguesas.  Admite que acaba de instaurar uma ditadura. Acentua a necessidade de instaurar uma ditadura, chamando-lhe paradoxalmente a ditadura da democracia.
                                                                                                                            

Para Mao Tsé Tung, os reaccionários não teriam direito a nada e só o povo teria o direito de voto – voto em quem, pode perguntar-se. Seria assim uma democracia para o povo e uma ditadura para os reaccionários. E restava saber quem seria o juíz que estipulava se eu era reaccionário se eu era povo.      Mao seguia a cartilha de outros seus mestres. Lenine – falar de liberdade e igualdade enquanto as classes não forem abolidas é um logro. E a pergunta a pôr é a seguinte: a liberdade é para que classe? Com que finalidade?
E Lenine disse mais – oh, muito mais: quanto mais uma república é democrática mais brutal e cínica é a tirania do capitalismo. Os EUA são uma das repúblicas mais democráticas do mundo e em nenhuma outra nação o poder de um punhado de milionários sobre toda a sociedade se revela tão brutalmente e com métodos de corrupção tão descarados como nesse país…
E quem tenha estado atento às últimas vicissitudes (económico-financeiras, nomeadamente) da vida americana é capaz de não achar o julgamento de Lenine tão disparatado como isso…
E quem for isento e tiver espírito de observação, ou pelo menos quem neste momento estiver a contas com dívidas à banca por empréstimos para adquirir bens supérfluos que lhe foram induzidos como essenciais pela publicidade do capital multinacional, deve ponderar muito bem as palavras de Lenine – cujo regime político alternativo ao que vivemos, também tenho que o dizer (e embora por outros motivos) não era flor que se cheirasse.                                            
Quando, há 40 anos, ouvíamos falar de democracia… pergunto: em que estaríamos, revirando os olhos de cobiça, a pensar?


Em que é que aqueles que nos falavam de democracia e de liberdade estariam a pensar? Seria o mesmo que nós? Seria em liberdade para o homem comum assalariado?

                       


Na verdade, quando, faz agora 40 anos, nos falaram de democracia e de liberdade, queriam efectivamente dizer-nos que essa democracia e essa liberdade para o homem comum assalariado consistia em votar de 4 em 4 anos, porque a liberdade era para os grandes negócios (os maiores possíveis), e para o mercado, e muito menos para quem vivesse de um salário?

                     

Quem vive de um salário, tem a democrática liberdade de votar todos os 4 anos. Tem de sofrer os aumentos de preços de custo de vida, para fazer funcionar majoradamente os lucros do capital. Claro. Tem de sofrer a ditadura de outros. A ditadura de quem manda fixar os preços, a ditadura de quem manda fazer as leis de trabalho e da habitação. E quem manda fazer tais leis sim, vive em democracia pleníssima, pode ganhar o dinheiro que quiser – aliás, deve ganhar o máximo de dinheiro que possa… para fazer funcionar melhor os mercados, ou, perdão, a democracia…


Continuo a  citar Lenine, sem contudo, repito, dizer que o regime alternativo que ele propunha fosse flor que se cheirasse. E citando Lenine, digo: o mecanisno da democracia capitalista observa-se por toda a parte nos pormenores da legislação eleitoral, no funcionamento das instituições representativas, na organização capitalista da imprensa, na restrição sobre restrição que paira sobre a democracia, restrições que, somadas, eliminaram os pobres da participação activa nessa mesma democracia.
Mas já Karl Marx o dizia: autoriza-se os oprimidos a decidir periodicamente, para um certo número de anos, qual será de entre os representantes da classe dominante aquele que os representará e os calcará aos pés no parlamento.

            

A democracia formal e representativa arrisca-se a ser a forma ideal de governo para grandes industriais, grandes comerciantes, grandes intermediários, banqueiros e outros agiotas – veja-se o lucro dos nossos bancos e recorde-se o problema do paralelo endividamento familiar.

                         
                      
O grande problema disto tudo é que a esse sistema, quer seja a bem quer seja a mal, não poderemos opor o sistema comunista, ou fascista, porque desse modo se não morriamos do mal morreriamos da cura e nem tinhamos alternativa de lhe preferir uma democracia bem burguesa e bem representativa, porque iriamos logo no dia seguinte parar ao goulag. Ou a um qualquer Tarrafal. Aí está um insolúvel problema político de todas as eras desde que se começou a pensar nestas coisas, e desde, sobretudo, que se começou a agir.


Vejamos: era a ideologia o que noutros tempos mantinha em respeito o ávido e agressivo poder económico. E mantinha-o em respeito porque subordinado ao poder político, coisa com que o grande capital mundial não atinava nem por nada.
Mas verdade seja dita que esse poder político que subordinava a si o poder económico, não deixando de ser político só por acaso se legitimava pelo sufrágio universal. Ora aí está: eram as ditaduras fortemente ideológicas, fascistas e comunistas. E bem visto, nem Hitler, por mais que se diga em seu desabono, foi meigo para com o poder económico.
É claro que em fascismo os grandes capitalistas enriqueciam à barba longa e em comunismo não.
Os capitalistas em fascismo enriqueciam, mas não mandavam no Estado. Como não havia eleições livres ninguém lhes pedia dinheiro para pagar campanhas eleitorais e eles não tinham por onde mandar.


Ora aí é que bate o ponto… um dos pontos…
A generalização da democracia no pós II Guerra abre todas as portas à finança – precisa muito dela, é certo – e a breve trecho deixa-se reduzir a joguete nas mãos do poder económico-financeiro.

                                  
E quanto mais os dirigentes democráticos se mediatizaram, se mediocrizaram e perderam prestígio, mais a democracia foi usada em proveito do poder económico-financeiro.


Ou o contrário. Quer dizer: quanto mais o poder económico-financeiro puxava os cordelinhos do poder político em democracia, mais os dirigentes políticos se reduziam à insignificância, até caírem no espectáculo de mediocridade a que assistimos hoje, e fortemente financiados nas suas campanhas, claro está, pelo poder económico-financeiro. O que é legal, legalíssimo, sim senhor, mas que não sei se será politicamente muito moral.



O poder económico em democracia tem a estricta obrigação de promover… diga-se melhor, de vender, ao eleitorado, as caras político-partidárias que lhe convenham. Ou ainda ingenuamente pensamos que os favores financeiros não se pagam politicamente? Cá por mim, há muito que a cada acto eleitoral, e ao ver as caras dos candidatos aos vários altos cargos me habituei a perguntar qual será o grupo económico, ou grupos, que estão por detrás deste? Quem serão os capitalistas que pagam a campanha daquele? No caso das autárquicas até acho que a cada acto eleitoral em vez de nomes políticos no que acabo sempre por votar é em empreiteiros…
Mas serão só os homens políticos tomados individualmente? É óbvio que não. E os partidos? Quem os paga? A quotização dos militantes – cada vez menos, ainda por cima? Não brinquemos com coisas sérias – ou pelo menos sérias para nós…
E será pelos lindos olhos de um candidato a qualquer coisa que o poder económico lhe financia campanhas milionárias? Com certeza que não. Então, se não, é em troca de quê? De favores.
Favores que nem serão favores, porque favor foi o que o capitalista fez ao político ao pagar-lhe a campanha que o atirou para o poder e lhe permitiu realizar os sonhos de mando de toda uma vida.
Que o atirou para o poder? Que poder?
Claro que o poder económico sustenta financeiramente o funcionamento da política e quer uma contrapartida, uma contrapartida em facilidades políticas para desenvolver os seus negócios e lhe permita naturalmente ser cada vez mais poder económico, ou seja, desenvolver-se, crescer, lucrar ainda mais.
E lá vêm os impostos. Leoninos para quem trabalha. Suaves para quem emprega. E assim porque é preciso desenvolver a economia nacional e os capitalistas só desenvolvem a economia nacional na condição de aumentarem os lucros próprios. Claro como água.
E até se poderia questionar o que significa isso de desenvolver a economia, porque esse desenvolvimento da economia beneficia incomparavelmente mais quem emprega do que quem trabalha.
E quanto mais forte vai ficando o poder económico, mais débil e dependente fica o poder político. Claro como água.
Porque há coisas que só um poder politicamente investido e tornado indiscutível e promotor de obediências cívicas, porque legitimado pelo sufrágio universal, pode fazer. Como por exemplo travar os sindicatos e as reivindicações. Aumentar os impostos – nem seria preciso dizê-lo. Alterar a favor do patronato as leis laborais. Deixar rédea livre aos grandes negócios…
E como deixaram de existir na vida valores que se sobrepusessem ao valor do dinheiro, há até multinacionais com volumes de negócios que ultrapassam o PIB de muitos países.
E é capaz de não ser ficção descabelada pensar que a gloriosa e grega invenção da democracia será gerida no futuro por empórios financeiros à escala mundial e por multinacionais industriais. Tudo se encaminha para aí…


E já agora… não deixa de ser edificante reparar na quantidade de antigos esquerdistas, aplauditores extremados e agressivos dos marxs, dos lenines, dos stalines e dos maos, que perceberam tudo em devido tempo e se bandearam mui prestes para os lados da democracia mais capitalista que se pudesse arranjar. E de maneira tão radical que depressa atingiram os mais altos lugares de comando do regime da democracia burguesa que poucos anos antes tinham combatido. Ou não teriam de facto combatido e os primórdios da vida política deles não passaram de uma representação com vista a uma carreira no futuro?

                      

              É a tal coisa: abaixo o capital… para a gente lhe chegar melhor…

                          

E bem eu gostaria de ouvir um desses políticos outrora maoistas e estalinistas e agora asseadíssimos e importantíssimos democratas e liberais falar com franqueza da evolução fulminante e subtilíssima do seu pensamento político-ideológico; ou então, no caso de serem extraordinariamente honestos, poderem publicamente admitir que na realidade sempre tinham aspirado ao poder, ao poleiro e que já na Faculdade tinham percebido que a melhor forma de chegar ao mais alto poleiro seria para eles começar por desacreditar esse poleiro.
Custa-me a perceber é como pode a democracia confiar, em termos pessoais e políticos, em alguém que um dia – ou em muitos dias da sua jovem vida – abraçou, seguiu e praticou, e muitas vezes sádica e violentamente, até à tortura física - os dizeres do Livro Vermelho de Mao.
Diz-se tão mal da classe política, coitadinha. É moda dizer mal dos políticos. E uma moda que não há meio de passar. E é fácil dizer mal dos políticos. E eu não fujo a essa regra, a essa moda. Claro. Não tenho, de facto, grande consideração pessoal por eles, políticos, mas acabo por admirar aqueles que sempre disseram ao que vinham e assim se mantiveram. Os que disseram logo de entrada o que eram, democratas burgueses, liberais, capitalistas, sociais-democratas, democratas-cristãos, socialistas, comunistas, trotzkistas, maoístas… tenho, nesse aspecto, admiração e até respeito por esses.
Por quem eu não consigo ter um pingo de respeito, desculpem, é pelos que se disseram politicamente uma coisa e de um ano para o outro, do fundo do coração, se disseram outra oposta, e que por sinal era mais vantajosa a todos os títulos do que a primeira. 
É. É o mundo político dos cínicos que me dói. É a dita hipocrisia política que me confunde. E nem sequer o talento da comédia que têm me dá para admirar esses.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013





                                        DON LUÌS



Detesto a proliferação da informação. Se eu fosse um ditador limitaria a imprensa a um único jornal diário e a uma única revista, sendo os dois rigorosamente censurados. Esta censura seria aplicada só à informação, deixando a opinião livre. A informação espectáculo é uma vergonha.

Uma noite vesti-me de freira, um excelente disfarce. Cheguei a pôr um toque ligeiro de baton e pestanas postiças. Íamos pelo Boulevard Montparnasse, eu e alguns amigos, um deles disfarçado de frade, quando de repente vimos dois polícias dirigirem-se a nós. Pus-me a tremer debaixo da minha touca de religiosa porque em Espanha estas brincadeiras eram punidas com 5 anos de prisão. Os polícias param, sorridentes, e um deles dirige-se a mim, boa noite, irmã, posso ser-lhe útil em alguma coisa?
                                                                                                                                           

Tome cuidado. Sinto em si tendências surrealistas. Afaste-se dessa gente.


Confesso: apesar de todo o meu ódio pela informação gostaria de, depois de morto e enterrado, poder levantar-me de entre os mortos de dez em dez anos, ir a um quiosque e comprar alguns jornais. Com eles debaixo do braço, pálido, roçando as paredes, voltaria ao cemitério e leria os desastres do mundo, antes de voltar a adormecer satisfeito, abrigado pelo túmulo.

Os avisos de Abel Gance para Luis Buñuel se afastar do grupo dos surrealistas não deram resultado. Ou deram o resultado contrário, visto que foi mesmo entre os surrealistas que Buñuel estabeleceu os seus contactos e a sua estética, Breton, Aragon, Éluard, Dali, Man Ray, embora nunca se considerasse um militante surrealista.
Os surrealistas eram belos – Dali fê-lo notar a Buñuel -, de uma beleza luminosa e leonina. A moral surrealista, para Buñuel, era agressiva e ia contra a moral corrente. Privilegiava a paixão, a mistificação, o insulto. Evidenciava-se pelo humor negro, pela tentação dos abismos. Era exigente e perigosa. E mais firme e coerente – segundo Buñuel pensava na juventude – do que a outra moral, a burguesa. Para eles, a vergonha maior era o trabalho assalariado. Há eco disso num filme já da maturidade de Buñuel, Tristana, quando uma personagem diz: Pobres trabalhadores! Cornudos explorados! O trabalho é uma maldição.O trabalho que se tem de fazer para ganhar a vida não enaltece. O que enobrece o Homem é o trabalho que se faz por vocação, por prazer. E vês tu? Eu vivo mal. Mas vivo sem trabalhar
                                                            

É encostado ao surrealismo que Buñuel produz os primeiros escândalos cinematográficos. Un Chien Andalou. O tal filme em que se vê o corte de um olho com uma lâmina de barba. Seguiu-se L’Age d’Or.
O escândalo era o ponto capital da cartilha revolucionária dos surrealistas. Cuspir nas bandeiras nacionais, insultar as forças armadas, injuriar os políticos e outros notáveis, troçar de Deus e da religião, odiar as polícias. E, artisticamente, escrever, pintar ou pôr em cinema ou em teatro a primeira ideia que ocorresse, evitando trabalhá-la racionalmente. Isto para resumir muito, claro está. O surrealismo foi uma escola estética que chegou a produzir obras-primas, sem dúvida nenhuma, e a par disso talvez fosse também uma escola de comportamentos civis e quotidianos chocantes e provocatórios, uma militância do escândalo como parte de uma revolução mais eficaz do que outra qualquer.
Mas o filme surrealista Un Chien Andalou enchia as salas de cinema e encheu de suspeitas os do grupo surrealista. Um filme provocante a encher as salas? Será que ele não era assim tão provocante? Buñuel teve que se explicar.
Breton interpela-o:
- Você afinal está connosco ou está com a polícia?
Buñuel chegou a casa e não dormiu. Sou livre nos meus actos. Eles não têm quaisquer direitos sobre mim. Nada me obriga a obedecer-lhes. Eles não são mais do que eu. E a meio da noite, por outro lado: eles têm razão, tu não és livre; a tua liberdade não passa de um fantasma coberto com um manto de névoa, queres agarrá-la e ela escapa-te, ficas com um vestígio húmido nos dedos.
Para Buñuel, o argumento ideal seria o que tivesse como ponto de partida a banalidade: por exemplo, um mendigo atravessa uma rua, vê  a mão que sai da porta aberta de um carro de luxo e lança fora metade de um havano. O mendigo precipita-se para apanhar o charuto, vem outro carro por detrás dele e mata-o.

                       

Buñuel refere a ideia bebida num romance de Roger Caillois. O mundo e a vida seriam completamente diferentes se a atitude de Pôncio Pilatos tivesse sido outra.
Pilatos seguiria o seu desejo de justiça. Após uma noite de insónia, tomaria a decisão: libertaria Cristo. Cristo seria acolhido pelos discípulos com alegria imensa, prosseguiria a sua vida, difundiria os seus ensinamentos e morreria bastante velho, considerado homem santo. Por um século ou dois haveria peregrinações ao túmulo. E depois seria esquecido. E a História do mundo seria outra.
Claro que o surrealismo pode partir de uma concepção ateísta. O acaso. O mistério. O ateísmo de Buñuel conduzia directamente à aceitação do inexplicável e do princípio de mistério que revestiria o universo. Aceitava viver numa escuridão. A acção de uma divindade organizadora cuja acção era ainda mais misteriosa do que o mistério mesmo do universo, levava Buñuel à escolha entre dois mistérios,  e entre dois mistérios escolhi o meu, porque pelo menos me preservava a liberdade moral.
A fúria de compreender, e consequentemente de rebaixar e mediocrizar, toda a vida me incomodou. Incomodam-me as perguntas imbecis, porquê isto, porquê aquilo. Buñuel achava essa uma das maiores infelicidades da natureza. O melhor talvez fosse entregarmos o nosso destino ao acaso, aceitar. Talvez assim se conseguisse uma certa felicidade muito semelhante à inocência.
Buñuel tinha a particularidade insólita de ser um realizador de cinema de renome mundial que padecia de surdez. Mas tinha adorado Wagner. Usara a música dele do primeiro ao último filme.

                                                                                  

Mas será uma das personagens do seu filme A Via Láctea a dizer: o meu ódio pela ciência e o meu desprezo pela tecnologia conduziram-me finalmente a este absurda fé em Deus.
                                                                                                                                                  

Os psicanalistas escreveram longamente sobre os filmes de Buñuel – e é claro que estamos num tempo em que os filmes exprimiam vida e ideias. Buñuel agradece aos psicanalistas que lhe analisaram a obra, mas declara que nunca os leu, persistindo no seu horror a compreender, na sua felicidade em acolher alegremente o inesperado.
                                                                          
Gosto da solidão. Desde que um amigo venha falar comigo de tempos a tempos.
Gosto dos anões. Admiro a segurança que têm em si próprios. Algumas mulheres gostam de anões talvez porque lhes dê a impressão de estarem a lidar ao mesmo tempo com um amante e com uma criança.

                                                                 

As duas grandes amizades da juventude de Luis Buñuel eram Salvador Dali e Lorca. Até ao fim da vida insistiu em desafiar, até para o murro, quem dissesse que Lorca era homossexual. A certa altura da sua vida, na América, sem dinheiro, Buñuel consegue um emprego no Museu de Arte Moderna de Nova York. Já então as grandes amizades se tinham diluído. Lorca morria assassinado pelos falangistas de Franco. 


Dali manifestava-se a favor dos fascistas na guerra civil de Espanha, enquanto também ele emigrava para a América e escrevia um livro, A Vida Secreta de Salvador Dali, onde falava do amigo Luis Buñuel e o apresentava como um ateu – o que, no contexto americano parecia ser ainda mais grave do que ser chamado de comunista. Resultado: Buñuel é despedido do emprego no Museu de Arte Moderna. E depois vai ter com Dali.
Bebem champanhe no bar de um hotel novaiorquino de luxo. Buñuel quase vai à cara de Dali, chama-lhe porco, está sem trabalho por causa dele e do maldito livro que escreveu. Dali responde-lhe com toda a calma: ouve uma coisa, Luís, escrevi aquele livro para me pôr a mim num pedestal e não a ti.

                                                                                         

Buñuel encontra-se com outro realizador então no patamar da celebridade mundial. Nicholas Ray. Ray, americano, quer perceber como é que Buñuel consegue fazer filmes tão importantes com orçamentos tão pequenos. Buñuel (que nessa época filmava no México) replica: dimensiona os seus filmes ao orçamento de que pode dispor. Se não o fizer não poderá filmar. E desafia Ray a fazer a experiência.
- Você, que já é um realizador célebre, tente conquistar a sua liberdade. Rodou agora um filme de 5 milhões de dólares, não foi? Então experimente rodar outro a seguir por 400.000 dólares e veja a diferença que vai sentir em si próprio.
Resposta de Nicholas Ray:
- Você não deve estar bom da cabeça; se eu fizesse isso, em Hollywood toda a gente iria pensar que e estava arruinado, que as coisas me corriam mal. Seria o meu fim. Nunca mais filmaria nada.
Buñuel nunca discutia os itens financeiros de um contrato. Ou aceitava ou recusava. Nunca fazia nada só pelo dinheiro. E quando recusava não havia oferta que o demovesse. 

                                             
Aquilo que não faço por um dólar também não o farei por um milhão de dólares.


Gosto das cobras e dos ratos. Vivi sempre com ratos. Domesticava-os. O rato é um animal apaixonante e muito simpático. Quando estava no México cheguei a ter 40 ratos. De vez em quando ia soltá-los à montanha.

                                                                
                                                                                                 
No período mexicano, Buñuel admite ter filmado assuntos que não o interessavam e ter trabalhado com actores de fraca qualidade. Mas assevera nunca ter filmado uma cena contrária às suas convicções e à sua moral pessoal. 

Los Olvidados. Um filme rodado no México sobre crianças pobres e abandonadas que viviam de expedientes, na linha de Sciuscià, de Vittorio de Sica. O filme teve êxito na Europa, nomeadamente em Paris. Mas desagradou ao Partido Comunista Francês. Os críticos de cinema do Partido são proibidos de se referir ao filme. George Sadoul é um deles. Vai encontrar-se com Buñuel num café da Étoile.
- Mas porquê?
- Ora, porque é um filme burguês.
- Mas burguês como?
- Vê-se um dos jovens a ser perseguido por um pederasta que lhe faz propostas. Chega um polícia e o pederasta foge.
- E então?
- O que significa que a polícia ainda pode desempenhar um papel útil. Ora isso não se pode dizer… ah, e na cena da casa de correcção tu mostras um director bastante gentil e humano, que deixa o rapazinho sair para comprar cigarros.
- Não pode ser…
- Não. Isso não pode ser, um director de uma casa de correcção não pode ser visto assim…

                                         

Dias depois, o cineasta soviético Pudovkin vê o filme, gosta, escreve um artigo entusiástico no Pravda e a atitude do Partido Comunista Francês e dos seus críticos de cinema muda de um dia para o outro.
                                                   
                                                                      

Os paranóicos são como os poetas. Já nascem assim. Interpretam depois a realidade no sentido da sua obsessão, com a qual tudo se relaciona.
                                                                          

Jean Cocteau marca encontro com Buñuel no bar do Hotel Carlton de Cannes. Buñuel aparece pontualmente ao meio dia. Não vê Cocteau. Espera meia hora, nada, vai-se embora. À noite, Cocteau pergunta-lhe porque não apareceu ao encontro. Buñuel conta o que se passou. Cocteau jura-lhe que fizera exactamente o mesmo e também não o vira. Conferem os pormenores, quem estava, quem passou, quem entrou, quem saiu. Batia certo. Os pormenores coincidiam. E no entanto, não se tinham visto um ao outro.
Uma das grandes melancolias da minha vida é não poder ouvir música. Se houvesse um milagre que me devolvesse esta faculdade, a minha velhice estaria salva, a música seria morfina bastante doce, conduzindo à morte sem alarme.
Nos tempos de jovem, além de Wagner, tinha gostado de Beethoven, de César Franck, de Schumann, de Debussy.
Numa coisa sou anti-espanhol: gosto de comer cedo, de me deitar e levantar cedo.
Gosto do Norte, do frio e da chuva, e nisto sou espanhol. A chuva faz as grandes nações.
Não gosto dos possuidores da verdade, sejam eles quem forem.

                                 
Tenho horror aos fotógrafos de imprensa. Gosto da pontualidade. Gosto e não gosto de aranhas. Tenho horror á multidão. Adoro os bares, o álcool e  tabaco. Gostei de Sade.


Quando ouvia bem, Buñuel adorava ópera. Começou a ir à ópera com três anos, levado pelo pai. Começara pelos italianos e acabara em Wagner.  Confessa que por duas vezes nos seus filmes plagiou libretos de ópera: o Rigoletto, em Los Olvidados (num certo episódio que metia um saco) e Tosca, num filme chamado A Febre Sobe em El Paso, cujo entrecho diz ele que segue de uma maneira geral o da Tosca.   
O disfarce é uma experiência apaixonante, diz ele. E recomenda essa experiência porque permite viver uma outra vida. É disfarçar-se de operário para uma pessoa apreciar como todos a tratam, como lhe passam à frente numa fila, como as raparigas passam por ele sem o olhar. Este mundo não está feito para quem se veste de operário. Na juventude, em Madrid, Luis Buñuel disfarçou-se muito. De padre. De oficial do exército. Uma vez, porque um soldado não lhe bateu a pala como devia ser, mandou-o apresentar ao oficial de dia do quartel, dizendo que ia da sua parte. Diz-se que ele e uns amigos também se disfarçavam de freiras só para se roçarem pelos homens nos carros eléctricos.

                                               
Gosto dos claustros. Não gosto dos cegos, tal como da maior parte dos surdos.
E entre os cegos de quem Buñuel não gostava contava-se Jorge Luis Borges. Era um bom escritor, sim, mas o mundo estava cheio de bons escritores – e nem Buñuel respeitava especialmente alguém só por ser bom escritor. Conheceu-o e achou Borges presunçoso e adorador de si próprio, petulante e exibicionista.

                                  

Claro que se eu encontrasse Borges de novo talvez mudasse de opinião.


Detesto John Steinbeck até à morte. Steinbeck não seria nada sem os canhões americanos. E com Steinbeck, no mesmo saco ponho Hemingway e John dos Passos. Se tivessem nascido no Paraguai ou na Turquia quem se daria ao trabalho de os ler? É a potência de um país que decide os grandes escritores.

                                                                 

O Anjo Exterminador  é um dos raros filmes que Buñuel voltou a ver. E o que viu nesse seu filme foi um grupo de pessoas que não podem fazer aquilo que têm vontade de fazer: sair de uma sala. Tema recorrente no universo buñueliano. A inexplicável impossibilidade de satisfazer um desejo.
Em L’Age d’Or um casal quer juntar-se e não consegue. Em Cet obscur Objet du Désir há o desejo sexual de um homem que envelhece. Em Archibald de la Cruz, o protagonista tenta matar-se e não consegue. Em O Charme Discreto da Burguesia um grupo de pessoas desejam fortemente jantar juntas e não conseguem. Na vida como nos filmes também Buñuel se sentia estranhamente atraído pelas coisas que se repetem. Não sabia porquê, e também nunca procurou uma explicação, avesso que era, como se viu antes, às explicações.

                     

Interessava-se pelo fetichismo sexual, claro. Sentia uma atracção teórica e exterior pelas perversões sexuais. Divertia-se com isso, e não obstante nada havia de perverso no seu comportamento. O contrário seria surpreendente, diz, o perverso não pode mostrar publicamente que o é, é esse o seu segredo.
                                                                                             

Pode discutir-se o conteúdo de um filme, a sua estética, o seu estilo, a sua tendência moral, mas o filme nunca deve aborrecer.
O tempo não muda nada às coisas, vive-se no interior de si próprio, as viagens não existem.
- Don Luis, acha que vai ganhar o Óscar?
- Sim, estou convencido que sim. Já paguei os 25.000 dólares que me pediram. Os americanos têm defeitos, mas são homens de palavra.
Dias depois, os jornais mexicanos titulam que Luis Buñuel havia comprado o Óscar da Academia por 25.000 dólares.
Escândalo em Los Angeles.
O produtor pergunta a Buñuel o que lhe teria passado pela cabeça para dizer aquilo.
- Oh, era uma brincadeira inocente.
Três semanas depois, o filme (Charme Discreto da Burguesia) ganha o Óscar de melhor filme estrangeiro, e Buñuel continua a repetir para quem o queira ouvir: os americanos têm defeitos mas são homens de palavra.
                                                                                       
                                 

Elemento capital, e estrutural, no mundo de Buñuel: os sonhos. Foi o gosto de sonhar muito sem tentativas de de explicação que o levou aos surrealistas. A terra está envolta num manto de sonhos perdidos.


           Aos 60 anos, envergando o meu velho uniforme, volto à caserna em Madrid onde fiz o serviço militar. Tenho medo que me reconheçam. Tenho vergonha de ser soldado com esta idade. Preciso de me encontrar com o coronel para lhe falar do meu caso. Como é possível? Julgava que tinha feito a tropa e afinal não tinha.
O  meu pai está sentado à mesa com a família. Come pouco e lentamente. Não fala. Sei que está morto e murmuro para a minha mãe e para a minha irmã: é preciso que ele não saiba de maneira nenhuma que está morto.
A  minha mão invisível estende a Hitler uma folha de papel. Dou-lhe 24 horas para mandar fuzilar Goering, Himmler, Goebbels, e todo resto da pandilha. Hitler manda chamar as secretárias e berra: quem é que me trouxe este papel?

                                                                           

Encontra-se com Breton, o chefe de fila dos surrealistas, já em 1955. Breton tinha-se separado de Dali. Dali tornara-se um comerciante miserável. Agora separava-se de Max Ernst pelas mesmíssimas razões.
- Os surrealistas apenas acabam de ter êxito tornam-se mercenários. É triste dizer, meu caro Luis, mas o escândalo já não existe.




      Chega à velhice e afirma que a ciência é inimiga do Homem. A ciência  adula no Homem um instinto de omnipotência que o leva à destruição. Até aos 75 anos ele não detestava a velhice. Encontrara uma calma nova, um contentamento, uma libertação, o desaparecimento do desejo sexual.

                       

Já desde há vários anos, de cada vez que deixo um lugar que conheço bem, onde vivi e trabalhei e que faz parte de mim, Paris, Madrid, Toledo, páro um instante para lhe dizer adeus. Adeus San José. Conheci aqui momentos felizes. Sem ti, a minha vida teria sido diferente. Mas vou-me embora e tu continuarás sem mim. E digo adeus a tudo, às montanhas, às fontes, às árvores, às rãs…