quinta-feira, 27 de julho de 2017


        OU O FASCISMO POR OUTROS MEIOS

      Pasolini (Pier Paolo), poeta, romancista, cineasta, anti-fascista, equiparou um dia (anos 70/80) a sociedade de consumo ao fascismo.
       Ou um passo adiante, ao estabelecer a hierarquia: sociedade de consumo pior do que fascismo.
       Discutível? Sim, infinitamente discutível. Aquele Pasolini era um exagerado, um desesperado, tinha um sentimento trágico da vida.


 
       No entanto, pelas etapas seguintes da sociedade de consumo, a culminar neste capitalismo selvagem que presentemente vivemos, e tendo como corolário a vigilância sempre latente sobre o que é ou o que não é politicamente correcto, assim promovendo a cínica auto-censura que (por outros meios) faz lembrar velhos tempos, a sentença de Pasolini pode nem ser descabida nem exageradamente disparatada como possa parecer à primeira leitura.
       Sim, uma sociedade de consumo, um capitalismo desbragado e sem lei, e uma censura encapotada a pairar sobre as consciências são facadas no coração de quem acreditou que depois dos fascismo o futuro era deslumbrante, e que ao chegar ao futuro viu tristemente embaciados os deslumbramentos.
 
 
       Quem o disse foi Clausewitz, que a política era a continuação da guerra por outros meios. E o paralelismo não sairá muito forçado ao pensarmos  que a sociedade de consumo, o capitalismo selvagem, a censura do politicamente correcto e as câmaras de vigilância que nos seguem os passos desde o Metro ao supermercado podem por vezes parecer a continuação do fascismo por outros meios.