quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013







                           AGUENTAR?

      Aguentar. Pois. Ou como diziam os mais antigos: aguentar e cara alegre.
       Sou dos raros que compreendeu o certeiro e espirituoso dito do banqueiro.
       Se o povo aguenta? Claro que aguenta. Estou com ele. Ou seja, estou com ele, banqueiro quando diz uma verdade. E estou com ele povo, enquanto aguento.
     Os povos aguentam. Ainda não tinham percebido? É essa, de resto, a missão deles.
       Leio, ou ouço dizer: O GOVERNO ESTÁ A CONDUZIR O PAÍS PARA O ABISMO.
       E pergunto a mim mesmo em que consiste exactamente o abismo para um país soberano. E a primeira resposta que me ocorre é que o abismo consiste na capacidade inesgotável do povo desse país para aguentar os actos dos seus maiores.
    Leio, ou ouço dizer: A SITUAÇÃO PODE TORNAR-SE EXPLOSIVA.
     Se é explosiva pode explodir, está para explodir, explodir é a sua condição natural. E pergunto: o que é explodir (politicamente) em Portugal?
Será organizar sierras maestras por esse desolado interior? Acredito eu nisso? Não – quanto mais não seja (que é) porque a revolução está fora de moda, não é politicamente correcta.
Será formar células para iniciar a guerrilha urbana? Acredito nisso? Não – e por acrescentadas razões de incorrecção política.
Será montar atentados aos governantes responsáveis? E eu acredito nisso? Ora adeus! Claro que não. E desde logo porque não temos responsáveis. Responsáveis é aquela espécie de coisa em que o país não pode ser competitivo no mercado das exportações. Assim como não se arranja petróleo por esses subsolos de Deus, também à superfície não conseguimos produzir responsáveis.
Leio, ou ouço dizer: A SITUAÇÃO PARECE UMA PANELA DE PRESSÃO QUE QUANDO REBENTAR NÃO SE SABE O QUE PODERÁ DAR.
O que pode dar? Cacos. Estilhaços. Prejuízos.
O que pode dar já está há algum tempo a dar. Tragédias pessoais. Suicídios. Silenciosos desesperos. Crises cardíacas. Criminalidade aumentada. Manifestações indignadas sobre manifestações indignadas. Greves de protesto sobre greves de protesto. Despejo de velhotas. Fome, fome, fome. Incumprimento por parte das empresas e do Estado para com os assalariados. Incumprimento por parte dos assalariados para com os bancos e os senhorios. Depressões assassinas. Escalada da zanga entre benfiquistas e portistas e concomitantes zaragatas nos estádios. Alguns vidros partidos em dependências bancárias. Alguns ministros vaiados – ocasionalmente, e mesmo no limite, apedrejados. Aumento exponencial da mendicidade. Ódio e más palavras de café sobre a classe politica.  
Aguentar é isso.


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