terça-feira, 9 de julho de 2013

           BILDERBERG PALACE HOTEL


     Basta ver qualquer publicação dos partidários liberais do laissez faire para se ver que a liberdade que eles apreciam, e quase identificam como núcleo de toda a liberdade, é a do empresário comercial
                                                  JOHN DEWEY
     

       O azougado Dr. Alberto João Jardim, mais fino de pensamento e de juízo do que geralmente se julga, relacionou (ele lá saberá porquê) os tristes casos ocorridos nas últimas semanas na vida portuguesa com o Clube Bilderberg, em cuja reunião teriam estado presentes duas figuras importantes (por mais que a gente não o queira admitir) da nossa cena política do momento. Portas (sempre ele!) e Seguro - as portas têm que estar seguras, ele anda para aí muita ladroagem...


           O Clube Bilderberg…

                                
        
        Parecendo que não, já existe desde princípios do século XIII. Chamavam-lhe Nobreza Negra Veneziana. E se hoje ainda lá param representantes dessa nobreza negra veneziana, as conotações tremendistas esbateram-se, claro está, o nome da primitiva foi abandonado, esquecido, mas continua a ser frequentado pelos ricos e poderosos deste mundo, e com clara influência interventiva, senão executiva, na geo-política.


       Reuniram-se pela primeira vez em tempos modernos no ano de 1954, em Oosterbeek, na Holanda, e num hotel precisamente chamado Hotel Bilderberg. Daí o nome do clube, apostado em fundar, ou perpetuar, uma ordem mundial esclarecida (iluminada) assente nos princípios do chamado mercado livre. Ou, experimentando outras palavras, no capitalismo moderno mais agressivo e dedicado à destruição da procura . Estranho. Destruição da procura, que é o mesmo que dizer destruição da economia mundial pela transferência da riqueza das nações para mãos que não as que hoje ainda a detém. Casas, propriedades rurais, fábricas, acções, títulos, poupanças, tudo isso e mais umas botas, que nós todos, população mundial, por via da crise globalizada, poderemos perder por não as podermos manter, por sermos obrigados a vendê-las para prover à nossa subsistência. Uma vez postos à venda, esses bens seriam imediatamente comprados muito abaixo do valor real por entidades mandadas pelos membros (talvez não todos) do Clube Bilderberg.

                         


       Teoria da conspiração, não é?
      
                        

Pode ser que sim. Coisa de filme. Pode ser que sim. Mas cuidado… quantas vezes a realidade não ultrapassa a ficção?


      É que a maioria de nós, pessoas comuns, além de não termos acesso à verdade porque só consumimos a informação que nos é oferecida por jornais, rádios e televisões, propriedade nalguns casos (ou na sua maioria) de membros do Bilderberg, costumamos andar distraídos, quanto mais não seja por uma questão de sanidade existencial.


     Teoria da conspiração. Será. Mas no Monde Diplomatique escrevia-se isto em Abril do ano 2000:
       Ao permitir que o capital flua sem controlo de um extremos do mundo para o outro, a globalização e o abandono das soberanias nacionais associaram-se para promover o crescimento explosivo de um mercado financeiro fora da lei. É um sistema coeso, ligado à expansão do capitalismo moderno baseado em três parceiros: governos, multinacionais e máfias. Negócio é negócio: o crime financeiro é um mercado florescente, orientado pela oferta e pela procura. (…) As multinacionais precisam do apoio dos governos e da neutralidade das entidades reguladoras para  consolidarem posições, aumentarem lucros, esmagarem concorrências. Os políticos estão directamente envolvidos e a sua capacidade de intervenção depende do apoio e do financiamento que os mantém no poder. Esta associação de interesses é parte essencial da economia mundial, o lubrificante que mantém as rodas do capitalismo a girar.

                                                                         



       O problema, grande, que o poder económico e o chamado mercado livre tiveram historicamente de enfrentar foram os fascismos e comunismos da primeira metade do século XX, que os submetia a sério ao poder político. Donde, as conhecidas e populares ferocidades anti-fascista, anti-comunista, anti-totalitária, ostentadas pelos mais bacteriologicamente puros dos democratas. Não por amor aos povos espezinhados pelas botifarras de Hitler ou Stalin. Mais por um acrisolado amor ao grande capital manietado por tão intimidantes sujeições e impossibilitado de realizar em liberdade absoluta negócios que nada tinham a ver com o bem-estar dos povos oprimidos pelos regimes totalitários.
Foi a vitória dos Aliados que valeu ao grande capital multinacional e respectivos negócios à escala mundial. E por acréscimo, e, também, acho eu, bastante secundariamente ao triunfo das democracias modernas. E daqui decorre a chegada  ao absoluto do poder económico sobre o poder político. Todavia mascarando essa supremacia através de políticos mais efectivamente agentes do poder económico do que do poder e das vontades políticas.


Houve políticos do pós-guerra, homens carismáticos, que levaram a peito (ou relativamente a peito) o seu papel e se impuseram ao poder económico. De Gaulle, Adenauer. Mais um ou outro. Para dar um exemplo. Mas depois desses foi o progressivo triunfo da mediocridade política, um triunfo de mediocridades políticas que nestes anos 2000 atingiu o seu esplendor máximo. Políticos medíocres que, evidentemente (e crescentemente), se deixaram manobrar pelo poder económico, a começar pelo financiamento dos partidos e das campanhas eleitorais, levando o pessoal miúdo, intoxicado pelos media, a votar convictamente em homens que supunham empenhados em tratar dos problemas da polis, mas que iam de facto para os cargos antes de mais para tratar da sua vida, da vida do seu partido e da manutenção desses cargos. E nem passando pela cabeça do pessoal eleitor que a missão principal desses homens políticos fosse o facilitar a expansão dos negócios do capital e só muito de raspão - e quando não pudesse mesmo deixar de ser, e porque isso lhe traria vantagens eleitorais – ocuparem-se das aspirações de quem os elegeu. E ai do simpático político candidato a qualquer coisa – um grande cargo de Estado - que não conte com as boas graças do poder económico.  


Ora sendo as coisas como são, onde é que se vislumbra sequer uma ténue fímbria de oportunidade de vida que vá para lá do económico-financeiro?


Decorre daqui o liberalismo campeante. Um liberalismo (económico) que foi descambando em pensamento único, o único admissível num debate moderno, de bom nível, dando espaço ao que chamamos de “politicamente correcto”.


Só é permitido pensar ou discorrer correctamente sob a ideia do mercado livre, do liberalismo, da livre iniciativa privada (os investidores, os investidores!), da ideia do lucro como categoria existencial estruturante da vida dos povos. O que dá direito a chamarmos ao liberalismo de moderno totalitarismo. Moderno totalitarismo que não prende os que não concordam. Não tortura nem mata os discordantes. Directamente, entendamo-nos. Pode condenar ao desemprego. Ao desemprego permanente. Só.
            





2 comentários:

  1. Brilhante!
    A "ideia do lucro como categoria existencial estruturante da vida dos povos" é tão pobre.
    O liberalismo como forma de agir totalitária: não pode ser posto em causa de maneira alguma, uma vez que o liberalismo económico é a "luz dos povos".
    Um dia também "cairá este muro de Berlim".

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  2. "E não se pode exterminá-los?..." Mas onde estão eles?
    Muito obrigada, querido Joel por todas estas belíssimas reflexões... Mas as portas são por tradição estúpidas e os coelhos preocupam-se sobretudo com os caçadores.

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