segunda-feira, 26 de agosto de 2013

             OS MILHÕES DO SENHOR PRIOR



E então disse-se – parece que havia papeis a afirmá-lo - que Claude Debussy, entre 1885 e 1918 foi Grão-Mestre de uma sociedade secreta, tal como o fora Leonardo, entre 1510 e 1519, como o fora Sir Isaac Newton (1691-1727), Victor Hugo (1844-1885), como o viria a ser Jean Cocteau desde 1918. Na qualidade de iniciado em mistérios secretíssimos e duplos sentidos, Debussy terá escondido, codificadas, na sua música, algumas mensagens.
E que ressonâncias terá tido a questão do Segredo e do Graal e do Priorado na era moderna?
Rennes-Le-Château foi zona de cátaros e o catarismo pode lá ter perdurado até aos dias de hoje.
Há a enigmática história de um  cura de aldeia, aldeia essa que é justamente Rennes-Le-Château.Vou contá-la muito em resumo, resumo, aliás, do que li no livro já tantas vezes por mim mencionado, O Sangue de Cristo e o Santo Graal…
Era uma vez um insignificante cura da aldeia de Rennes-Le-Château que em 1891 decide fazer obras de restauração na sua igrejinha. Ao abater um pilar centenário percebe que a coluna é oca e tem alguma coisa lá dentro. Que coisa? Papeis? Pergaminhos? Um tesouro? Pergaminhos. Quatro. Metidos em tubos de madeira  selados. Quando se foi a ver eram genealogias, uma elaborada em 1244, outra em 1644. E textos em latim. E um texto cifrado, incompreensível.
O padre, que se chamava Béranger Sauniére, dirigiu-se logo ao seu bispo, em Carcassonne, a dar-lhe conta do achado. Mal vê a papelada o bispo de Carcassonne manda imediatamente o cura de Rennes-Le-Château a Paris, com carta de apresentação para certas individualidades ligadas ao seminário de Saint Sulpice.
Sauniére lá vai. 


E deixa-se ficar por Paris as suas três semanas. Visita muito o Louvre, adquire uma reprodução do quadro de Poussin Les Bergéres d’ Arcadie, e contacta um seminarista de Saint Sulpice muito ligado a círculos esotéricos e artísticos, chamado Emile Hoffet. Destes encontros e do que Sauniére andou três semanas a fazer em Paris mais nada se sabe.
De regresso à aldeia, o padre Sauniére continuou com as obras na igreja. Derrubou colunas, removeu lages, achou esqueletos, apagou indevidamente inscrições centenárias.
E começa a travar-se de copiosas correspondências com várias individualidades francesas e estrangeiras. Começa a coleccionar quilos de selos sem nenhum valor aparente. Começa a meter-se em negócios um bocado escurecidos. Começa a abrir contas chorudas em bancos. Em 1896 começa a gastar dinheiro à barba longa. Gasta aos milhões de libras sem pestanejar. Manda construir uma mansão luxuosa a que dá o nome de Villa Bethânia. Manda construir uma torre-biblioteca e chama-lhe Tour Magdala – Torre Madalena.


Reconstruíu e redecorou a sua igrejinha, bem entendido, e logo à entrada mandou enigmaticamente gravar um aviso: Terribilis est locus iste - este lugar é terrível – e pespegou-lhe a carantonha do demónio Asmodeu, o que guarda segredos e tesouros, e também, conforme a lenda, o verdadeiro construtor do Templo de Salomão.


Manda pintar nas paredes as diversas estações da Via Sacra, mas em todas elas era patente algum desvio ao relato oficial das Escrituras. Numa delas aparece uma criança envolta num manto de lã escocesa; noutra, representa-se a cena do enterro de Jesus Cristo, mas realizado à noite, com a lua cheia em fundo – contrariando soezmente a Bíblia.
Sauniére, o insignificante cura de aldeia começa a receber uma quantidade de visitas, e visitas ilustres como o secretário de Estado da Cultura do governo francês, ou como o arquiduque Johann von Habsburg, primo do imperador da Áustria.
Diga-se que ainda no final do século XIX havia planos para a constituição de uma Santa Aliança, uma unificação política da Europa católica sob a égide dos Habsburgos, com Áustria, França, Itália e Espanha. O pior foi que a Alemanha e a Rússia boicotaram esses planos. A guerra de 14 rebentou. As dinastias foram derrubadas.
Mas como ia a dizer… segue-se que o bispo da diocese de Carcassone pede satisfações ao padre Sauniére quanto aos gastos milionários que fazia. Sauniére é que não lhe passa o mínimo cartão. O bispo não é de modas e, ai ele é isso,  denuncia-o a Roma pela venda fraudulenta de missas. Sauniére é suspenso de funções por um tribunal eclesiástico. Apela ao Vaticano. Não se sabe que cordelinhos são mexidos lá dentro, o que se sabe é que o padre Sauniére é reintegrado.
A 17 de Janeiro de 1917, dia de Saint Sulpice, o padre Sauniére tem 65 anos, está de perfeita saúde, e sofre um súbito derrame cerebral.


Súbito? Mas como súbito se a governanta dele já no dia 12 tinha encomendado um caixão? – ainda há a factura desse caixão.
Sauniére já sabia demais? Mas sabia demais o quê?
Sauniére está no leito de morte. É chamado um colega sacerdote para o ouvir em confissão e lhe administrar a extrema unção.
O padre entra no quarto do doente. Sai daí a muito pouco tempo, completamente transtornado e vindo a cair em profunda depressão por meses e meses. Não diz uma palavra sobre o que viu ou ouviu no quarto do moribundo. Apenas admite que que se recusara a administrar-lhe a extrema unção. Sauniére morre a 22 do mesmo mês de Janeiro de 1917, e sem a absolvição.


No dia seguinte, logo de manhã, sentam o morto, em roupão, numa poltrona posta no terraço da torre-biblioteca Maria Madalena que ele havia mandado construir. O povo vai vê-lo e arranca-lhe alguns farrapos do roupão como lembrança – um rito merovíngio.
Quando se abre o testamento fica a saber-se que o padre Sauniére afinal não tinha um chavo de seu.
Mas vamos ter calma quanto a conclusões. Também se disse que não senhor, que o padre Sauniére não descobriu o que descobriu em Rennes-Le-Château por mero acaso, e que foi conduzido àqueles específicos documentos por agentes ao serviço do Priorado e que por eles tinha sido recrutado como agente de baixo escalão.
O caso é que, por 1916, Sauniére começou a andar de candeias às avessas com os seus controleiros do Priorado. Dez dias antes de morrer estava de perfeita saúde, como se disse. Mas o caixão para ele já estava encomendado pela governanta, essa sim, agente do Priorado e sua controleira-mor. Alguém estaria, estivera, ou começaria a estar por detrás de Sauniére. Quem?
Um outro homem da Igreja, simples padre como ele, chamado Henry Boudet, tinha acesso a chorudos e misteriosos fundos e entre 1887 e 1915 terá passado para a mão do colega Sauniére os seus 13 milhões de francos.
Mas Sauniére, até 1915, terá estado a leste dos tremendos segredos. Só terá tido direito a saber mais alguma coisita acerca da caldeirada em que se meteu, ou o meteram, quando o tal abade Boudet estava às portas da morte, em Março do tal ano de 1915.
Mas este insignificante padre Boudet é que sim, é que devia sabê-la toda, visto que até pagava luvas ao próprio bispo de Carcassonne. Tenho as contas todas, estão aqui: 7.655.250 francos entre 1885 e 1901. O próprio bispo era agente a soldo do padre. É obra! Padre que por sua vez era agente das poderosas forças do Priorado de Sião. E todos eles alistados e obedientes a uma maçonaria de Rito Escocês, cristã, aristocrática, hermética e de orientação mágica.
Uff! Com tantos padres em acção, é caso para dizer… fosse lá um homem ser prior numa freguesia daquelas…
O tesouro achado em Rennes-Le-Château pelo padre Sauniére não era feito de ouro, prata ou pedras preciosas. Eram documentos. Eram provas ditas irrefutáveis de que a crucificação fora um embuste e de que Jesus Cristo vivera até 45 anos depois dele próprio.
Mas o que é uma prova irrefutável de uma coisa que se passou cerca de 2000 anos antes?
O esoterismo e as sociedades secretas atingiram foros inusitados no século XIX, especificamente no século XIX francês e quando esse século XIX caminhava para o fim.
Claude Debussy frequentava esses meios. Mais: era Claude Debussy, ao que se diz, o grão mestre do Priorado de Sião quando o abade Sauniére descobre os célebres documentos de Rennes-Le- Château.


                                                

Verlaine, outro dito ocultista, apresentou Debussy a Victor Hugo e desde então quem queria ver o músico era entre os círculos simbolistas e esotéricos. Aliás, círculos que punham e dispunham na vida cultural de Paris. A cantora lírica Emma Calvé era a grande sacerdotiza. Foi ela que apresentou o padre Sauniére a Debussy. Debussy encontra Mallarmé nos círculos iniciáticos e compõe o Après Midi d’un Faune. Debussy conhece Maurice Maeterlinck, que escrevera um drama merovíngio intitulado Pélleas et Mélisande e compõe uma ópera homónima. Debussy, pouco antes de morrer, em 1918, está a compor música para Axel, uma peça de inspiração rosa-cruz, de Villiers de L’Isle Adam. Nunca chegará a terminá-la.


Mallarmé recebia à terça feira. Apareciam muitas vezes lá por casa Oscar Wilde, Yeats, Stefan George, Valéry, André Gide e Marcel Proust. Era o tempo do renascimento do oculto francês, que incluía simbolistas, satânicos, roza-cruzes, cabalistas. Entre eles estava Mac Gregor Mathers, que não tardaria a fundar em Londres, uma das mais intrigantes ordens secretas dessa época, a Golden Dawn.
Nos movimentos esotéricos da sub-cultura parisiense do fin de siécle estavam envolvidos inclusive sacerdotes católicos de certa importância. E também, claro, artistas, os mais atreitos a essas coisas em função dos próprios imponderáveis materiais com que trabalham. Mas atenção estou a falar de artistas de primeira grandeza mundial. Olhem, por exemplo, a tal Emma Calvé, uma célebre cantora de ópera, uma Callas daquele tempo, grande sacerdotiza do Segredo, grande animadora de rituais eróticos do sagrado feminino, amiguinha de outras celebridades também envolvidas no assunto, Mallarmé, Debussy, Maeterlinck, Nerval, Baudelaire…
Em 1875 outra sociedade secreta poderosa se constituira levando o nome de Hiéron du Val d’Or. Orientava-se pela geometria sagrada. Poderia considerar-se teosófica. Interessava-se pelas orígens do Homem, pela orígem das raças, das línguas, dos códigos, dos símbolos. Anunciava-se como associação secreta trans-cristã. Estudava o pensamento e a vida dos druidas. Pretendia fundar uma geopolítica esotérica e uma ordem do mundo a que chamava etnárquica.
Ainda com o século XIX a dar as últimas e estaria para breve, segundo eles, um novo Sacro Império Romano na Europa, reformulado, claro está, unificador de todos os povos em princípios espirituais, em desprezo de coordenadas políticas, sociais ou económicas. 
Pretendia o Hiéron du Val d’Or concretizar um sonho antigo, o reino celestial na Terra. Em baixo assim como em cima, é a conhecida base do hermetismo. E isso iria ser consumado. O governo da Terra seguiria por fim a harmonia do cosmos.
Bom, já não era sem tempo…
As nações seriam províncias. O governo seria mundial. E seria oculto, e desempenhado por uma elite. Na Europa seria o Vaticano a mandar chover, a produzir todas as determinações espirituais, determinações a ser executadas pelos Habsburgo, e com os Habsburgos a actuar como sacerdotes-reis, quais faraós do Egipto.

                                                   

Ora vamos lá a ver… Habsburgos,igual a Lorena; Lorena, a querer dizer Priorado, an? E Priorado igual a merovíngios. Isto é um pouco como a anedota do maluco das fisgas…
Mas estavam aí as profecias de Nostradamus!
E quando a coisa está mesmo a rebentar… azar dos azares… - não azar dos Távoras, azar dos Lorenas e dos Habsburgos… - rebenta outra coisa, a guerra, a I Guerra Mundial. Os Habsburgos são destronados. 
Terá sido a guerra e o fim do império dos Habsburgos o efeito da causa que eram as intenções desta poderosa sociedade secreta e que não era senão outra das máscaras afiveladas pelo Priorado de Sião? Priorado de Sião que apesar de todos os seus poderes se via mais uma vez derrotado nos seus intentos?
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Mas o Priorado continuou a existir. Os seus membros continuaram poderosos e influentes e continuaram no pós-I Guerra, ao entrar verdadeiramente do século XX,  a persistir nas suas pretensões antigas de nove séculos.
Voltando à questão de Rennes-Le- Chateau e do seu cura, o padre Sauniére… toda a fortuna acumulada pelo padre Sauniére não se sabe como nem porquê fora previamente transferida para o nome da sua governanta e essa governanta continuara, depois da morte dele,  a viver muitfolgadamente a sua vida. 
Até que chegam os dias da II Guerra mundial. 
Em 1944 os nazis ainda não tinham perdido de vista as questões esotéricas, precisavam cada vez mais das fontes de verdadeiro poder escondidas do vulgo e procuravam-nas. E por isso enviaram arqueólogos também a Gisors, aos domínios originais do Priorado. Eles lá sabiam. Queriam escavar debaixo da fortaleza.


                                                                          
             

Talvez nem sequer tivessem tido tempo de dar as primeiras pázadas. A invasão aliada da Normandia frustrou-lhes  intento. Mas…


Mas, em 1946, um particular francês escavou por conta própria nas redondezas de Gisors, descobriu qualquer coisa fora do vulgar e foi informar o presidente da câmara: encontrara uma cripta subterrânea; nessa cripta, para seu espanto, deparara com 19 sarcófagos de pedra e 30 cofres de metal. Pedia ao presidente da Câmara autorização para continuar as suas buscas pessoais. Mas calma, muita calma. Era preciso uma autorização oficial, papelada, formalidades, burocracia.
E a burocracia da Câmara de Gisors demorou até 1962.
Em 1962, o próprio André Malraux, ministro da Cultura, se interessou pelo caso – ou ele, nos anos 30, não tivesse dado a uma das personagens do seu mais famoso e genial romance, A Condição Humana, o nome de Gisors… sabe-se lá porquê…
     Em 1962, está bem de ver, não se encontraram nem sombras dos 19 sarcófagos de pedra nem dos 30 cofres de metal. Nada. O assunto até andou pelas páginas dos jornais – não há melhor para confundir os espíritos e despistar as almas da opinião pública do que pespegar tudo nos jornais, já se sabe.
Quer dizer, o particular francês dera de novo com a cripta, isso sim, o conteúdo dela é que tinha desaparecido. E no entanto, aquela capela subterrânea, em honra de Santa Catarina, aparecia mencionada em pelo menos dois manuscritos antigos, um de 1375, outro de 1696.
É possível que nos cofres e nos sarcófagos estivesse guardada a parte mais importante da memória dos nove séculos de actividade do Priorado de Sião. E quem sabe mesmo se aqueles 19 sarcófagos e aqueles 30 cofres não eram o Santo Graal inteirinho, o Santo Graal que os próprios nazis tanto tinham procurado?
Em 1946 o governo francês emite nova moeda, os francos novos.
Claro que, acabada a guerra, muitas contas haveria que dar a Deus e que regularizar com os homens. Muitas fortunas colossais foram ilicitamente acumuladas durante os anos de guerra, muitas fraudes ao fisco houve, muita especulação, muitos conlúios lucrativos com o ocupante alemão. Havia muita coisa a esclarecer. Donde, a necessidade de, ao trocar os francos velhos pelos francos novos, cada cidadão ser coagido a justificar os seus rendimentos e acumulações de dinheiro.


Quando chegou a vez da governanta do falecido padre Sauniére esta preferiu a pobreza. E nunca por nunca explicou às autoridades os milhões que tinha de seus e de onde eles lhe tinham vindo.
Viram-na no jardim da Villa Bethânia a queimar notas, maços de notas, muitos milhares de francos velhos. Viram-na a empobrecer.
Mas também há quem diga que toda esta história de Rennes-Le-Château é uma mistificação e que as coisas não se passaram nada assim, mesmo a dar-se o caso de alguma coisa se ter realmente passado.





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