quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

E DAQUELA VEZ, NOS LOUCOS ANOS 20 EM  QUE O CUNHADO ARRUINADO DE STRAVINSKI SE FEZ À VIDA    GRAÇAS A UMA IDEIA DE                            RUBINSTEIN?



Bem, já agora vá lá mais esta com Rubinstein e Stravinski e os loucos anos 20.
É assim: um dia, em Nova York, Rubinstein regressa de uma tournée a Cincinnati, chega à recepção do seu Biltmore Hotel e tem uma encomenda à espera dele.
Não, a encomenda não era a amante, a Gabriella Besanzoni acabada de chegar para lhe fazer uma surpresa. A encomenda era uma partitura musical. Uma nova composição. O remetente morava na Suiça. Chamava-se Igor Stravinski.
Há que tempos que Stravinski prometera a Rubinstein escrever uma peça de piano em homenagem a ele, dedicada a ele. E aí estava ela. Piano Rag Music. Enviava-lhe o manuscrito. Era a “primeira peça realmente para piano” de Stravinski. Rubinstein ficou desvanecido.
Aproveitando a partida da Besanzoni, e agora com mais tempo para dedicar a si próprio, Rubinstein vai para o piano e começa a ler a partitura.
E pronto. Sabendo que era uma peça especificamente escrita para piano, Rubinstein não deixou por isso de experimentar as sólitas sensações que a música de Stravinski de hábito lhe transmitiam, ainda que usando a escrita pianistica.


Bom, mas aquilo era mais um exercício de percussão; nada tinha a ver com alguma rag music nem com nenhuma outra música, de acordo com as concepções provavelmente passadistas e empedernidamente pianisticas que eram as de Rubinstein. Arthur sentia-se lisonjeado, ufano, com a distinção, mas também ficava decepcionado.
Daí a tempos, Rubinstein regressa a Paris. Vai para o Hotel Régina. Abre a janela do quarto de dá de caras com uma estátua de Joana d’Arc em tons dourados. Paris. Loucos anos 20.


E encontra, evidentemente, Stravinski. Stravinski está-lhe grato. Quando andara muito nas lonas financeiramente, Rubinstein organizara na América uma subscrição para valer ao grande génio da música com problemas de tesouraria e conseguira uns trocos muito jeitosos a que Stravinski chamou um figo. Talvez derivasse daí a dedicatória do Piano Rag Music.


Também Stravinski estava de novo em Paris. E de novo tesinho que nem um carapau. Deixara a família na Suiça e andava outra vez com uma mão atrás e outra adiante, à procura de Diaghilev.
- Então, conta-me lá, chegaste a incluir nos teus concertos a minha Piano Rag Music?
- Meu caro Igor, vou ser muito franco contigo… sinto-me muito honrado e orgulhoso com a tua atitude de me dedicares a peça. Mas não te podes esquecer de uma coisa, rapaz: eu ainda sou um pianista à moda antiga, um pianista da velha guarda…
- Que é que tu queres dizer
- A tua peça está escrita para percussão, ouviste?, e não para o meu estilo de pianismo.
Stravinski não gostou da conversa de Rubinstein.
- A verdade é que não compreendeste aquela música. Foi isso e mais nada. Não percebeste patavina do que eu te mandei. Mas olha, eu vou-ta tocar agora mesmo e vais ver se não começas a perceber tudo com clareza.
E Stravinski vai para o piano.Vai para o piano e desata a martelar no teclado. E quanto mais ele martelava mais Rubinstein detestava aquela música. E perante o desconsolo do amigo, Stravinski foi mesmo aos arames.
- Mas ouve lá, ó Arthur, tu ainda andas convencido, nos tempos que correm, que és capaz de fazer cantar o piano? É uma ilusão que te meteram na cabeça. Andas enganado, filho! O piano não passa de um instrumento utilitário que a mim só soa como um instrumento de percussão.
- Julgo que não sabes, ou ainda não percebeste, Igor, que o grande público não só não compreende como não gosta… an?… não gosta da tua música nem com molho de escabeche. Ainda não topaste isso? As tuas orquestrações são demasiado pesadas, demasiado ruidosas para o público. Já não te lembras do que se passou na estreia do teu Sacre du Printemps? E olha, por alguma razão, misteriosa, aliás, quando toquei a tua música ao piano ela ficou clara para o público e público até parecia que começava a gostar dela.
Stravinski desata a rir.
- O que tu estás a dizer é um disparate pegado!
Rubinstein levanta-se, vai para o piano e começa a tocar um fragmento de Petrushka.
- Ouve, achas que isto soa a percussão? Ou soa apenas como música?
Stravinski (agora apaziguado e profissional) reflectiu:
- Mas como é que tu consegues fazer soar assim os graves? Tens alguma maneira especial de usar o pedal?
- Claro, homem, o meu pé encontra rapidamente a vibração precisa das notas graves, o que me deixa livre para para modelar as harmonias no registo agudo. Sabes, Igor, o piano que tu tanto odeias, pode fazer coisas que nem te passam pela cabeça.
Stravinski começou a entusiasmar-se.
- Está dito! - grita Stravinski. - Vou escrever para ti uma sonata a partir do material de Petrushka.
E depois abraçaram-se e beijaram-se os dois com muita amizade e alegria.
E foram jantar. À pala de Rubinstein, já se vê. 


E conversaram toda a noite acerca da forma como cada um tinha vivido e passado os terrores do tempo da guerra, a 1ª Guerra.
- Tenho a impressão de que vais gostar de uma coisa que eu fiz de sociedade com um escritor suiço chamado Ramuz…


-Como é que se chama?
- A História do Soldado. Mas também fiz outra coisa, uma espécie de música para o ritual russo do casamento. As Bodas. Acompanhada por pianos…
- Oh diabo… faço ideia…
- Exactamente. Em forma de percussão! E olha lá… e tu… com respeito a papel?
- Bem, nas minhas tournées pelas américas, fiz na verdade muito dinheiro…
- Pois é. Vocês, pianistas são uns chupistas do piorio…
- Uns chupistas do piorio? Ora essa!
- Então não são? Ficam milionários de um dia para o outro à custa das músicas que escreveram para vocês um… um Mozart e um Schubert sem vintém…um Schumann meio louco, um Chopin tuberculoso… um Beethoven que sofria do fígado…
- Nessa parte tens razão, Igor. Os pianistas são uma espécie de vampiros que sugam o sangue de gigantes geniais.
E de facto, a sonata composta por Stravinski sobre a música de Petrushka viu a luz do dia.
Rubinstein está com a partitura aberta em frente dos olhos. Ao meu amigo e grande artista, Arthur, com toda a amizade, Igor Stravinski.
Três movimentos: Dança Russa; Em Casa de Petrushka; A Semana Gorda.
Brilhante transcrição, segundo Rubinstein. Podia ouvir-se uma orquestra inteira naquelas duas linhas de música para piano extremamente difíceis de executar.
Nesse entremeio, chega a Paris um cunhado de Stravinski, um certo senhor Bieliankin. Vinha também completamente liso com respeito a dinheiro. Precisava desesperadamente de começar vida em Paris, dado que os seus bens haviam sido confiscados pelas novas autoridades comunistas.
Rubinstein faz certos reparos a Stravinski acerca da escrita pianistica de Petrushka. Certas passagens que, na opinião pianistica dele retardavam por demais os efeitos de progressão dinâmica da obra.
- Está bem, pronto, Arthur, mas agora não me chateies mais com as tuas críticas e com as tuas esquisitices pianísticas. Olha, podes tocar isso da maneira que entenderes que para mim é igual ao quilómetro. Não tenho nada a ver com isso. A partir daqui é com o intérprete.
- Ai é?
- Sim, rapaz, dou-te carta branca. E já agora, também  gostava que falasses com aquele meu cunhado que chegou há dias da Polónia com aquele problema da falta de dinheiro. Talvez tu pudesses fazer alguma coisa por ele...


E já que tinha a carta branca do autor para interpretar pianisticamente o Petrushka, Rubinstein tirou partido disso. Com um senão. Nunca haveria de gravar a peça em disco. Diz que conhecia de ginjeira o seu amigo Igor. Por conseguinte, sabia muito bem que, apenas gravasse a peça para a posteridade, mais tarde ou mais cedo Stravinki haveria de se sair com alguma, ou, por exemplo, proclamar ao mundo: Rubinstein, ao tocar a minha Sonata Petrushka mais não fez do que uma traição às intenções do autor.


O Sr. Biliankin, o dito cunhado de Stravinski, homem de longas barbas grisalhas, pareceu a Rubinstein um velho pope da igreja ortodoxa russa.
Era preciso encontrar um meio com que o sr. Bieliankin pudesse governar a vida em Paris. Rubinstein tinha bons conhecimentos no mundo das artes e do espectáculo, mas… bom, com aquele aspecto, pensou, dificilmente poderia pensar em empregá-lo como dançarino nalgum night club. Mas enfim, teria o cunhado de Stravinski algum talento, ainda que pequeno, ou alguma relação com a actividade musical? Não.
- Nesse caso, amigo, Bieliankin, torna-se muito difícil ajudá-lo, sabe? A vida está muito má…
Pois não, o sr, Bieliankin não tinha o menor interesse por coisas artísticas.
- Ó Igor, não sei o que é que hei-de fazer ao teu cunhado. Oiça lá, amigo, Bieliankin, diga-me cá uma coisa, o que é que mais gosta de fazer na vida por si abaixo? Alguma profissão, alguma ocupação em particular?
- Sabe, sr. Arthur, eu sou um filho da terra, toda a vida tive terras, sempre vivi das minhas terras, nunca tive profissão propriamente, isto é…
- Ó homem, mas não há nada que você tenho gosto em fazer… nada que saiba fazer realmente bem…
- Eu? Bem, eu adoro cozinhar. Só se for isso…
- E oiça lá, você seria menino para abrir um restaurante e explorá-lo?
- Eu? Toda a vida sonhei ser dono de um restaurante!
- Então porque é que o amigo não abre um restaurante russo?
- Aqui, em Paris?
- Não, homem, aqui não. Já cá há vários.
- Então não sei.
- Estou cá a pensar em Biarritz. Sabe você que Biarritz está assim  de gente podre de rica e de gourmets. A questão é conseguir um bom sítio, com boas vistas e abrir um restaurante típico. Comida genuinamente russa. Valeu? E que possa estar aberto até às quinhentas. Com música ao vivo para acompanhar a refeição, acordeão, balalaika e essas coisas. Olhe, esta ideia é a melhor ajuda que lhe possa dar.
O sr. Bieliankin começou a sentir suores frios, tal era a satisfação.
- Mas ó sr. Arthur, e onde é que eu vou desencantar o papel para arrancar com esse empreendimento?
- Faça-se à vida, homem, desenrasque-se…
Rubinstein conhecia em Paris dois ou três russos que tinham casado com mulheres riquíssimas…
E não foram precisos muitos dias para se arranjarem uns quantos investidores.
Quando tudo estivesse arranjado, Rubinstein aconselhava um grande jantar de inauguração, uma coisa à séria e em grande.
- Trago-lhe os meus amigos de Biarritz e de San Sebastian. Trago-lhe alguns dos meus amigos de Paris que conhecem os restaurantes russos da Rue Pigalle. Arranjo-lhe uns vinte convidados, a nata da sociedade parisiense e mais uns quantos senhores aristocratas espanhóis que adoram estas coisas… e ainda uma quantidade de gourmets profissionais. O que é preciso, amigo Bieliankin é que a comida seja boa e autenticamente russa. E já agora, peço-lhe licença para colaborar na feitura do menú para essa noite de inauguração. Estas coisas são muito sérias, amigo Bieliankin.
- Pois acredito, sr. Arthur. Mas então, o que é que há-de ser para o jantar do dia da inauguração?



- Vamos lá ver… entrar com blinis. E com caviar. Mas quero o caviar comprimido, à pressão.Os verdadeiros connoiseurs preferem-no ao caviar fresco, que por vezes vem demasiado salgado

                                                 
                               
                                    

- Acompanha com vodka, não, sr. Arthur?
- Claro.
- Smirnovska! Smirnovska!

                                           


- Borscht! Autêntico borscht russo...

 

                                                                              

- E o vinho?
- Um Bordeaux de uma interessante colheita não ficará mal.
- Oh, Bordeaux
- Não concordo com uma coisa…
- Qual?
- Para mim, a entrada ideal seria um shaslik do Cáucaso, apresentado num espeto em brasa com o competente arrozinho à russa.



- Se quer que lhe diga, amigo Arthur, a úncia entrada digna de um jantar deste calibre seria o belo leitão assado… e o resto é conversa…

                                                       

- Odeio esse prato.
- Não me diga!
- Ainda me lembro na Rússia e na Polónia… os talhos põem na montra, nuns grandes pratos, as cabeças dos pobres leitões. Sempre que passava por um desses talhos fechava os olhos para não ter essa visão bárbara, amigo Bieliankin
- Não, sr. Arthur, temos que ter leitão… temos que ter. Temos que ter! Eu sou um verdadeiro mestre a prepará-los, amigo Arthur.


- Shaslik, amigo Bieliankin, shaslik…
- Olhe, para já, isso nem é bem russo…
- Então o que é?
- É caucasiano.
- Ora…
- Um prato do Cáucaso, e digo-lhe, ainda por cima de muito mau gosto…
E como o cozinheiro era o cunhado do Stravinski, Rubinstein achou que era como o outro e deixou cair a ideia dele. Mas falou dos queijos. Como iria ser a tábua dos queijos. O outro pôs-se a rir.
   
                                                                    

- De que é que você se está a rir?
- Amigo e senhor Arthur… na nossa boa mesa genuinamente russa não costumamos pôr nada que cheire mal. Mas olhe, proponho uma sobremesa. Um preparado gelado à base de rum. Uma especialidade russa.
- Rum? Uma especialidade russa? Não me faça rir que eu estou cheio de cieiro, amigo Bieliankin… rum, uma especialidade russa…
Já se viu que o próprio Stravinski não é mencionado nestas cenas por Rubinstein. Devia estar para lá a compor as suas músicas e a ver se sacava algum de alguém e a borrifar-se para o restaurante do cunhado.
- Oiça, essa do rum e do ice-cream, sr. Bieliankin, estou farto de comer disso nos restaurantes franceses  mais chauvinistas…
E ainda por cima, era uma sobremesa que o russo insistia fosse acompanhada por um champanhe de boa marca.


Chega o dia da inauguração. Nesse dia, à hora do requintadíssimo jantar russo, apresentou-se à mesa o tout  Paris,  o tout Biarritz,  o tout San Sebastian, o tout Madrid,  o tout tudo o que Rubisntein esgravatou nas suas mundaníssimas relações.

                                                    
                                                                     



Um sucesso. Um sucesso que Rubinstein declara ter ultrapassado de largo as suas melhores expectativas. A gente era tanta que o cunhado de Stravinski se viu forçado a servir doses mais pequenas do que as previstas, quando não, a comida não chegava para tantas bocas. Mas Rubinstein ficou especialmente contente com uma coisa: metade dos convidados recusaram comer o leitão, com a elegante desculpa de já terem enchido a malvada de caviar, blinis e borschts.
Lá se arranjou um acordeonista baratucho e um homenzito de cabeça rapada que tocava umas músicas russas aciganadas com um ar tão triste que arrancava lancinantes bravos aos mais macambúzios dos bebedores de vodka.
Stravinski não estava na festa.
Diz Rubinstein, não sei com quanta verdade, que Stravinski não apareceu por uma única razão: ao autor do Sacre du Printemps não interessava ser cumprimentado entre leitões. Assados pelo seu próprio cunhado, ainda por cima.
No dia seguinte, uma surpresa pouco agradável aguardava Rubinstein.
O sr. Bieliankin não foi de modas e apresentou a Rubinstein a conta do jantar daquela rapaziada toda. Conta cujo montante, não era nada, ultrapassava todo o dinheiro que Rubinstein tinha consigo (não esquecer pormenor importante: não havia multibanco). Para pagar, Rubinstein teve que vender à pressa alguns dos títulos argentinos que tinha, o que demandou complicadas operações bancárias entre Biarritz, Paris e Buenos Aires. E não esquecer outro pormenor importante: não havia telemóveis nem internetes.
Vá lá que o Bieliankin lhe cobrasse os custos simples dos jantares, ao preço de fábrica, vamos dizer assim. Mas não. O sr. Bieliankin, cunhado de Stravinski, que, como digo, acabava de se fazer à vida numa época e num lugar difíceis com o apoio de Rubinstein e respectivos amigos, apresentava-lhe uma conta na base dos preços que o próprio Rubinstein, inocentemente, o aconselhara a sobrecarregar quando tivesse uma clientela de ricos. Ora isto para um judeu, meus amigos… devem ser facadas.


E para ajudar o pai que é velho, metade do preço cobrado pelo Bieliankin a Rubinstein era dos leitões que Rubinstein tanto odiava.
- Ah pois é, amigo Arthur, pois apresento-lhe a conta. Se você soubesse o trabalhão que eu tive com tudo isto! -  grita-lhe o Bieliankin.
- Os leitões é que eu…
- Os leitões? Se você soubesse a estafa que me deu arranjar estes leitões todos… tive que ir a Bordeaux… tive que ir a Toulouse… por um pouco não os encomendava directamente de Paris, veja lá bem, sr. Arthur…

Arthur sabia era que tinha ali uma conta calada para pagar.
- O sr. Arthur sabe lá o dinheirão que eu gastei em telefonemas! E ainda me diz que a brincadeira lhe saíu cara… com franqueza, sr. Arthur…
O que é que eu hei-de fazer à minha vida, suspirou o bom do Arthur, se me vim meter com um cínico, com um ingrato… ainda por cima adepto de leitões assados…
La Boîte Russe. Foi como se ficou a chamar a casa.


Daí a uns tempos o Bieliankin instalou-lhe um salão de baile no andar de cima. Mas Rubinstein nunca contou a Stravinski como é que tudo tinha acabado. Stravinski só ouviu contar uma parte da história, e então aí ficou muito orgulhoso das façanhas culinárias e do talento financeiro do seu inefável cunhado.
Foi por essa altura que Rubinstein frequentou muito o atelier do seu amigo Picasso, que passava o tempo a fazer-lhe queixas da mulher, Olga Kochlova, porque ela lhe fazia a vida num inferno. Sim, esse, Picasso, que num dia desses levou um milionário americano lá ao atelier e lhe mostrou algumas das suas obras-primas. O americano fixou-se numa das telas, olhou, interessou-se, tornou a olhar, e perguntou ao mestre:
- Mestre, diga-me lá, o que é que esta tela representa?
Picasso, muito sério, também muito concentrado na obra e muito intelectualmente, responde:
- Duzentos mil dólares.
Stravinski, ao contrário do cunhado, continuava a tinir, sem cheta. Continuava a encontrar-se com Rubinstein.
- Tu é que a levas direita, Arthur. Tocas meia dúziazita de números ao piano e fartas-te de ganhar dinheiro…
- Ó homem, vê se te calas que eu já não tenho paciência para ouvir essa conversa, an? Eu tenho alguma culpa de que tu toques piano tão abominavelmente? Sou eu que tenho culpa, querem ver… mas porque é que tu não compões uma coisa fácil, um concerto para piano e orquestra ou qualquer coisa assim que esteja ao teu alcance e não te pões a tocá-lo em público por esse mundo fora?


Um conselho precioso que não caíu em saco roto. Em poucas semanas, Stravinski tinha pronto o seu Concerto para Piano e Instrumentos de Sopro.
E ganhou bom dinheiro com ele. Com ele e com a sua nova carreira de pianista que corre mundo a tocar exclusivamente as próprias obras – as únicas que sabia tocar.
Mais tarde, seria chefe de orquestra. Que só dirigia as próprias obras. Mas que ganhava bom dinheiro.




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