quinta-feira, 12 de junho de 2014

        ROBERTO ROSSELLINI, OU A                  MORAL DA TERNURA


 
                                         

Sim, claro. Até aos cabelos de cavacos, portas e coelhos. Um pouco de ternura, vamos lá. E um pouco de cultura, também – o que é capaz de ir dar no mesmo.


Bom, foi uma entrevista cheia de tópicos morais a que Roberto Rosselllini deu há uns poucos de anos aos Cahiers du Cinéma, então representado por Erich Rohmer.


Certamente que Roberto Rossellini é hoje – como tantos outros grandes do passado - um artista esquecido do grande público. Por acaso, devo confessar, nunca foi cineasta da minha especial predilecção, mas foi sem dúvida um dos grandes do cinema italiano do pós-guerra, e para alguns mesmo o criador do neo-realismo.
Neo realismo?, pergunta ele. É preciso saber o que se entende por essa palavra.


O neo-realismo, quer no cinema quer nas letras, não foi uma designação que merecesse consensos largos. Podiam também chamar-lhe realismo crítico, realismo socialista, ou talvez mais uma ou outra expressão, e iria sempre bater à mesma porta, quer dizer, a uma estética específica determinada pelo pós-segunda guerra e por todos os seus problemas sociais e políticos, uma estética que sobrelevava o realismo tout court ou o naturalismo. Não se tratava simplesmente de contar histórias desgraçadas de gente desgraçada, de misérias e de miseráveis. Para se ser neo-realista de boa escola era necessário adoptar narrativamente um ponto de vista, o ponto de vista da esperança, a esperança de que as desigualdades sociais, a pobreza, a fome, não aconteciam porque sim e de que não havia solução para elas porque sempre teriam de existir num mundo onde sempre existiriam ricos e pobres.


A esperança.
Mas esperança em quê?
Claro. A esperança num sistema político-ideológico que amaciaria as diferenças de classe através de uma mais justa distribuição das riquezas nacionais.
Pois é. Já lá vão décadas, mas, socialmente, pouco se saiu desta encruzilhada. Esteticamente sim, saiu-se. O neo-realismo ou tomou outros nomes, ou ficou simplesmente fora de moda, porque os públicos começaram a viver melhorzinho e não havia mais paciência para ir ao cinema ver desgraças, ouvir choradinhos e só ter esperança. Com o tempo passou a aspirar-se às certezas.

                                


É uma entrevista de 1963. Ui! Onde é que isso já vai! A quem é que essas coisas podem interessar hoje por hoje? Nunca se sabe. Os pontos de vista antigos podem guardar ainda uma autenticidade e um valor inesperados, além do sabor que possam ter, e o neo-realismo, para Rossellini, era, evidentemente, uma atitude moral anterior a uma posição estética.  


Filmes de Rossellini (para quem possa não estar dentro do assunto): Roma Cidade Aberta – o mais celebrizado; Alemanha Ano Zero, Europa 51, S. Francisco de Assis, Stromboli, Paisà, Joana D’Arc na Fogueira, Viagem em Itália, O General Della Rovere, Era Noite em Roma, A Tomada do Poder por Luis XIV.  E mais umas dezenas deles.


Não sou um pessimista – diz ele. - Quanto a mim, ver também o mal é uma forma de optimismo. Sou um pai de família, logo, a vida de todos os dias tem de me interessar. Censuraram-me por não ter apresentado uma solução, mas isso é um sinal de humildade. Se fosse capaz de encontrar uma solução para os problemas que pus em cinema, claro, não teria feito filmes, teria feito outra coisa…


Houve, na crítica, a certa altura, alguma hostilidade contra Rossellini. Ele diz que tal se deve a ter posto em cinema assuntos em que o cinema não tocava, ou então porque utilizava um estilo que os críticos consideravam pouco cinematográfico.

                                                                                         

Rossellini era um cineasta católico. Abordou temas católicos. Os críticos incomodaram-se por ver um cineasta expôr tão abertamente o seu catolicismo. Os próprios católicos foram contra…
Rossellini a falar:
- Há um camponês que vai para o trabalho com o filho de dois anos e um cão, que se chamava Bonino. O homem deixa a criança e o cão debaixo de um carvalho e vai à sua lida. Quando volta encontra a criança degolada, com marcas de dentes na garganta. Na sua dor de pai, mata o cão, e no momento seguinte avista uma grande serpente. E compreende o seu erro. Consciente da injustiça, enterra  cão entre uns rochedos próximos e grava na pedra uma inscrição: aqui jaz Bonino a quem a ferocidade dos homens matou. E decorreram vários séculos. Uma estrada foi aberta junto do túmulo. Os viajantes que passavam pela estrada, descansavam junto do carvalho e liam a inscrição. Um dia, alguns puseram-se a rezar, a pedir a intercessão do infeliz ali sepultado, morto pela ferocidade dos homens. E vieram milagres. E as pessoas da região construíram uma bela igreja e um túmulo condigno de forma a transferirem para lá o corpo desse Bonino. Só então se deram conta de que se tratava de um cão.


É evidente (falo eu) que a hierarquia da igreja não podia admitir um filme que contava uma história destas. Mas Rossellini teve também dificuldades a nível de público.
Sempre que faço uma projecção particular dos meus filmes para uma pequena audiência de 20 ou 30 pessoas, essas pessoas saem perturbadas, desfeitas em lágrimas… as mesmas pessoas vão ver o filme ao cinema e odeiam-no. Isso aconteceu-me mil vezes.
Dizem-lhe “senhor Rossellini, esperamos de si um grande filme. Mas não mostre coisas tão horríveis. Faça um filme longo e belo”.
A luta política tornou-se tão febril que as pessoas já não julgam livremente -  comenta ele. As pessoas não reagem senão às suas próprias ideias políticas. O mundo está à beira de uma grande transformação…


E estava. Uma entrevista de 1963, como digo. Mal sabia Rossellini a transformação que vinha por aí.
Cineasta cristão. Cineasta católico. A força que Rossellini encontrava no cristianismo era a força de uma liberdade absoluta. (Não percebo como e onde, mas está bem.) Lá entendia ele que os homens pretendiam ser livres de acreditar numa verdade que lhes era imposta. Nenhum homem teria coragem para procurar a sua própria verdade. E Rossellini achava tal coisa um paradoxo. O Homem faz seja o que for para acreditar na verdade que lhe é imposta, mas não mexe uma palha para descobrir por si essa verdade. 



Outro caso da vida real contado por Rossellini: durante a guerra, um mercador da Piazza Venezia vendia panos no mercado negro. Um dia, quando a mulher aviava uma cliente, ele chega-se e diz à cliente: minha senhora ofereço-lhe este tecido, não quero participar num crime, a guerra já é uma coisa horrível. Assim que a cliente saíu, o homem e a mulher discutiram e a mulher passou a fazer-lhe a vida negra em casa. O problema moral subsistia. A mulher continuava a vender no mercado negro, isto é, a praticar crimes contra a moral do marido. E o marido não faz mais nada: vai denunciar-se à polícia: fiz este e este e aquele crime de mercado negro, preciso de me libertar destas coisas. A polícia ouviu-o e mandou-o para um hospital psiquiátrico. O psiquiatra que examinou o homem era conhecido de Rossellini. E é ele que lhe conta esta história. Depois de examinar o homem, o psiquiatra confessa a Rossellini: apercebi-me de que aquele homem tinha somente um problema moral. Mas eu tinha de o julgar como cientista, não como homem. Como cientista só tenho que ver se este homem se comporta como a média dos homens, e por isso tive que o internar no hospital dos loucos.


Rossellini discutiu muito com aquele médico. E aquele médico o que dizia era da sua obrigação de dissociar nele o ser humano do cientista. Assim: a ciência tem os seus limites; a ciência calcula, mede, vê e regula-se com base no que conhece, e é preciso que esqueça tudo quanto está fora dos seus limites.
O grande dramaturgo napolitano Edoardo De Filippo conta a Rossellini este outro caso magnífico. Estava a escrever a sua peça Nápoles Milionária e passeava pelas ruas da sua cidade para se inspirar e documentar. Vem a saber de uma família napolitana que expunha em casa uma criança negra nascida de um casal branco. Era um espectáculo. O marido estava à porta e cobrava 5 liras. Entrava-se, via-se a mulher com o filho pretinho nos braços. De Filippo viu o espectáculo, saíu e foi ter com o marido: “ouve lá ó meu grandessíssimo tratante, tu não tens vergonha de, por 5 liras, mostrar a toda a cidade que és corno com o preto?” O marido chama De Filippo de parte e diz-lhe: “Don Edoardo, fica aqui entre nós… nós lavamos a criança à noite.”

                                                        

Se a lógica na Nápoles do pós-guerra era a corrupção, o comportamento normal, dentro da média, seria a corrupção. Uma família paupérrima tinha de continuar a viver. E para continuar a viver teria de se actualizar.
A Nápoles do pós-guerra. Um mundo fascinante, belo, pobre, perverso, imoral, que o cinema italiano, nomeadamente através de De Sica e de Rossellini, não deixou de explorar artisticamente.


Numa certa cave habitava uma família de 16 pessoas. Crianças e adolescentes eram 14. O mais pequeno tinha três anos.O mais velhinho tinha 18. Todos faziam mercado negro. Todos andavam com as algibeiras cheias de dinheiro. E o que, além de comida, compravam eles com todo esse dinheiro? Roupas, fatos? Não. Sapatos? Não. Compravam caixões enfeitados com bonitas fitas de prata.
Qual era o sentido daquilo?, pergunta Rossellini.
O sentido era uma gente que vivia vidas sub-humanas, que tinha como certeza mais próxima uma morte pelo bombardeamento ou pela fome e que, comprando uma bela urna, se apresentaria em breve muito mais dignamente perante Deus.


E Rossellini pergunta: isto era paganismo? E dá a resposta: não era de modo nenhum paganismo; tinha um sentido infinitamente mais profundo.
É preciso ver que Nápoles é a única cidade do mundo em que há um milagre com data fixa. O milagre de San Gennaro. A 19 de Setembro. E se a 19 de Setembro, diz Rossellini, San Gennaro não fizer um milagre, o povo vai á igreja descompô-lo.


Roberto Rossellini protagonizou uma situação pessoal escandalosa para a época. Sendo casado, apaixonou-se por uma célebre actriz sueca, também casada, e ela por ele, claro, Ingrid Bergman. Acabaram por se casar e ter filhas, uma delas a hoje famosa Isabella Rossellini. E Ingrid Bergman, à medida que ia vivendo em Itália e aprendendo o italiano, fazia notar ao marido “tem graça que vocês, italianos, dizem que tudo é bonito ou feio, bello ou brutto. Nunca dizem se é bom ou mau.” Rossellini confirma. Dizemos um belo prato de spaghetti e não um bom prato; um belo carro e não um bom carro. E se é assim na linguagem, assim fatalmente será na concepção da vida.


Naquele modo de falar Rossellini dizia espelhar-se toda a Itália.
A certa altura da História do cinema, pôs-se a questão estético-moral do cinema-verdade, do cinéma-verité. Filmar a vida não trabalhando esteticamente o resultado, não o manipulando tecnicamente com montagens para alindar a realidade e fazer desaparecer tempos mortos. (Enfim, seria isso e mais alguma coisa que agora não me ocorre.) O que é preciso dizer é que os defensores desse cinema reivindicavam para si uma verdadeira posição moral. E como Rossellini fazia o oposto e se reclamava do mesmo, de uma posição moral, Erich Rohmer, na qualidade de entrevistador dos Cahiers pergunta-lhe a que chamava ele afinal de posição moral. Pois bem, era uma posição de amor. Amor, tolerância, compreensão. Logo, participação.

                                                                        

Desde que os homens do cinema-verdade filmavam e afastavam da obrigação deles um juízo sobre o filmado, uma participação, uma simpatia, uma tolerância, e diziam “sejam as coisas tal como são, estamo-nos nas tintas”, deixariam, segundo Rossellini, de ter uma atitude moral e passavam a ter uma atitude cínica.
Não acredito num facto artístico acabado se não houver ternura. Podemos tratá-lo de uma maneira muito cruel até. A ternura é a verdadeira posição moral. Não sei reconhecer como forma artística alguma coisa que não comporte ternura. Podemos ridicularizar alguém e ao mesmo tempo sentir ternura. 
E numa obra do cinema-verdade não havia ternura. Era o acaso das imagens que conduzia tudo.
Acredito que a crueldade é sempre uma manifestação de infantilismo. Sempre. A arte de hoje torna-se de dia para dia mais infantil. Cada um tem o seu desejo louco de ser o mais infantil possível. Não estou a dizer ingénuo, notem bem. Estou a dizer infantil. E por causa do infantilismo caímos no mais baixo da escala humana. Passámos ao macaco antropomórfico. Em breve estaremos na rã e na enguia. É isso que me irrita. É essa falta de pudor.


Mal sabia Rossellini para que pontos de infantilismo e macaquice antropomórfica estaria guardada a arte e a cultura dos anos 2000…
Mas continua Rossellini, quanto à questão do infantilismo: chegámos à vaidade total, ao doentio. E isso num mundo que se torna todos os dias mais sério, mais complexo.

                                                                          

Pois por isso mesmo – palavras minhas agora; opinião barata, agora, a minha -, porque o mundo se torna mais complexo, se estarão a tornar mais prementes a ignorância e a incompreensão humanas, a perplexidade, a angústia perante o complexo da vida, da vida quotidiana, diria. O ir para a universidade, o tirar licenciaturas, o fazer mestrados, e  chegar ao mundo do trabalho e não ter emprego, e viver doutor e mestre longos dias sem conseguir assegurar a digna subsistência, sim. Apenas um exemplo entre mil de complexidade, de perplexidade humana. Recurso? Talvez o infantillismo da heroína e do ecstasy, do cultivo doentio do protagonismo e da auto-estima imbecil, que produzem efeitos enganosos de plenitude e felicidade no meio do real alucinante; talvez as bebedeiras de fim de semana, ou as corridas a 300 à hora, ou a condução em sentido contrário numa auto-estrada,a infantilidade, a perplexidade, a loucura. Talvez o êxtase. Disse.


E agora diz Rossellini: Visto que este mundo é feito pelos homens, tenho de o aceitar sempre, apesar das queixas do género… caminhamos para a destruição total, para a tragédia nuclear, etc…. hoje a arte ou é queixa ou é crueldade.
Era. Digo eu. Talvez em 1963. Queixa ou crueldade. Era. Hoje, a arte feita hoje, talvez seja mais exactamente infantilismo, irresponsabilidade, culto do feio, auto-indulgência. O mundo é feito pelos homens, diz ele, tenho de o aceitar sempre…
Nas problemáticas artísticas, literárias, cinematográficas ou filosóficas daqueles inícios dos anos 60, havia a alienação e a incomunicação (ou incomunicabilidade). Rossellini não achava nesses termos nem na maneira como eram tratados restea alguma daquela ternura que postulava como atitude moral. Só via nisso complacência.

                                                                      

Hoje sentimo-nos na vanguarda, a partir do momento em que nos queixamos. Mas queixar-se não é criticar. E criticar já é uma posição moral.
Estou-me nas tintas para o facto de fazer arte. Isso quer dizer renunciar a muito. É uma posição moral – e, se me permitem empregar esta palavra – uma posição heróica. O que todo o homem instintivamente procura é tornar-se ilustre. Eu procuro não tornar-me ilustre, mas tornar-me útil.

Pergunta o entrevistador: em geral, os artistas dos quais faz parte conceberam o seu dever de uma maneira diferente; para eles a arte não tem qualquer utilidade imediata, prática. Resposta: para que uma arte se torne uma arte importa que possua uma linguagem, que exprima coisas que sejam compreensíveis à média dos indivíduos. Sem isso torna-se uma abstracção. Não estou a dizer, cuidado com os mal entendidos, que para tanto seja preciso fazer filmes comerciais…
Pois não. Não se tratava de transformar a arte. Tratava-se de reencontrar a arte. E para reencontrar uma arte que se tinha corrompido e volatilizado na abstracção, que fizera perder o hábito e o gosto da linguagem, Rossellini entendia que era preciso restabelecer precisamente a linguagem, que cada palavra tornasse a encontrar a sua significação e o seu valor e fosse o fruto de um pensamento profundo.   


Mas você não pensa que a evolução da arte é irreversível?
Julgam que no mundo não houve períodos de obscuridade e de desmoronamento de civilizações? É um facto histórico. Sempre se deu. E se há desmoronamento de uma civilização, há desmoronamento da arte, da linguagem.
Palavras actuais as de Rossellini, na minha maneira de ver. Sim, nós, cidadãos banais, todavia ainda de alguma memória, conhecemos esse desmoronar da linguagem na nossa vida de todos os dias, e sobretudo no nosso fadário televisivo de todas as noites. Não é preciso mais para me aperceber do grau de desmoronamento e transformação civilizacional que estou a viver.


Uma civilização traz sempre como fruto a sua arte – diz Rossellini. - As obras dos poetas tinham um papel mínimo no interior das civilizações que eles mesmos tornaram ilustres. Quando uma civilização já não existe, ou quando está em crise, a arte morre ao mesmo tempo. Ou mesmo antes.
Então… o que será preciso fazer?
Para existir, uma civilização precisa de arte. E para existir, a  arte precisa de ideias claras. Olhamos com desprezo esse mundo da técnica, da ciência, e pensamos que é algo de funesto que traz a ruína ao mundo inteiro. Mas que esforço fazemos para compreender, do ponto de vista moral, esse fenómeno, que mesmo assim ainda pertence ao nosso tempo, à nossa civilização?
Para ele seria imperioso penetrar e participar no fenómeno científico e tecnológico e encontrar nele as fontes de emoção necessárias à criação de uma arte.

                                                                

Se o artista não for o fecundador das coisas, falta ao seu dever.
Aponta o Renascimento, nascido no momento em que os artistas tomavam consciência do transcendente passo que a Humanidade dera no domínio da técnica e da ciência. E que fizeram? Tornaram-se sábios. Ficaram com uma preparação científica, mas fortemente ligados à sua natureza. O entusiasmo era factor importantíssimo, também. E deram-nos obras primas - conclui.
O Renascimento foi um facto imenso na História do Homem. A razão? Os artistas souberam mergulhar numa realidade científica, apropriaram-se dela, repensaram-na, e elevaram-na à posição de arte superior.
A arte era para ele a própria vida. Uma maneira de perpetuar a vida e dar uma razão às coisas, exaltando o entusiasmo,provocando emoções.
Quando uma arte se compraz em matar as emoções, em privar de vida o que é vital, já não é uma arte. 


A função do artista: vencer as coisas, encontrar uma nova linguagem.
Se um fenómeno humano existe, e se o olharmos com ternura, é impossível não descobrir nele alguma coisa de vital. Pelo simples facto de ser humano já é vital.
Outra fala de Rossellini: no ano passado, em Spoleto, fiz uma encenação teatral. Precisava de três minutos de música. Na véspera do ensaio geral ainda não a tinha. Então, pus-me diante de um gravador e com um garfo fiz pan-pan, com um piano fiz pim-pim, mandei vir um tipo com um violino e ele fez dzin-dzin. Assim gravei os meus três minutos de música e as pessoas levaram-nos muito a sério. Pus no cartaz: Música de Jean Pach.
É inacreditável que se possam fazer falcatruas desta maneira, remata Rossellini.





1 comentário:

  1. Já em Fevereiro deste ano ouvi este episódio incluído no ciclo cinematográfico com que ao tempo nos brindou (em 2008?...) na Antena2.

    Parabéns pela deliciosa síntese da ternura culta ou da terna cultura extrapolada de Rossellini.

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