A JUSTA LUTA DO PATRONATO POR MELHORES
CONDIÇÕES DE VIDA
O quê? Eu
aumentar o salário dos meus trabalhadores?
Se aumento os
salários, o pessoal vai-me amolecer, vai-me trabalhar menos, vai exigir mais
tempo para gastar o aumento, começa a pensar em coisas e em grandezas, vai
baixar a qualidade da produtividade, porque o trabalhador vai estar a pensar no
que vai poder comprar com o dinheiro do aumento. E além disso, já sei que vai
fazer uma data de despesas inúteis, vai estafar o dinheiro todo enquanto o
diabo esfrega um olho e vai adquirir vícios. O melhor é aumentar o preço dos produtos de
primeira necessidade. Assim já o trabalhador não fará despesas desnecessárias.
Uma reunião de
ricos em Davos, na Suiça. Há um patrão multinaconal que declara:
- Quer seja um indivíduo isolado, uma nação ou
uma empresa, o que importa mais para sobreviver neste mundo é ser mais competitivo
do que o vizinho.




A lei das
sociedades humanas pode consubstanciar-se, em certas épocas, numa só palavra.
Hoje, aqui, a esta hora, a palavra que em tons sacros dá forma a nosso planeta
e à nossa vida é… competitividade.
Se a
competitividade em si mesma já foi um meio para obter um desiderato, hoje em
dia, cuidado, ela já é um fim em si mesma. Ela e o conceito cultural que
exprime. É o objectivo de patrões em busca de melhoria de vida. Pode ser
finalidade de Estado. É obrigação do indivíduo.
Absolutamente
necessário é reformar os sistemas educativos das nações, todas elas, EUA,
França, Inlaterra, Portugal, Chipre, Birmânia, Alemanha, Burkina Faso, Timor
Leste, Rússia.
Mas reformar
em que sentido?
No sentido de
construir um Homem preparado para se integrar sem esforço e com alta
rentabildade nos sistemas competitivos da sociedade em que vive. Lutar pelo seu
bife seja à custa do que for e de quem for. É isto o desenvolvimento.
Desenvolvimento, cultura, investigação: tudo concorre para o mesmo.
O princípio da
competitividade contempla formulações guerreiras. Há uma guerra mundial. Está
neste momento a decorrer. Essa guerra (sem contar com as guerras de tiros e
sangue do oriente médio) é financeira e económica, antes de mais. Neste
momento. Mas com componentes tecnológicas, industriais. Estão de facto todos
contra todos, mas é preciso que ninguém se deixe matar. E também é bom que
ninguém seja neutral. É absolutamente preciso sobreviver. E para sobreviver não
há outro meio senão ser mais e mais competitivo. A opinião pública, saturada
deste discurso, começa a acreditar que é mesmo verdade.
Competitividade
é sistema de vida instalado no planeta inteiro desde o começo dos anos 80. Nada
lhe escapa. É uma espécie de graça divina: ou se tem ou não se tem. Os que a
têm são salvos (cá está a teologia). Os que não a têm, os que não são
competitivos, estão condenados.
Os não
competitivos desaparecerão em breve sufocados em fumos de enxofre, em pranto e
ranger de dentes.
O
vencedor leva tudo – the winner take it
all. Uma máxima de catecismo existencial moderno, actualizado.
Leio num
antigo número do Monde Diplomatique,
que, por exemplo, no ténis, o 45º jogador do ranking pode ser quase tão
bom como um dos primeiros. Mas nem que
dispute a meia-final (um dos melhores, portanto) de um afamado torneio
conseguirá um único contrato publicitário para uma marca de alpergatas. Vai
tudo direitinho para o vencedor. Os patrões só se sentem quentinhos e a
melhorar as suas condições de vida de braço dado com os vencedores, e tudo é
posto à mão de semear do vencedor, alpergatas, raquetes, bolas, bonés, roupa de
baixo, lingerie…
As grandes
empresas e os grandes grupos económicos de esfera de acção mundializada não tem
o menor pejo de saquear o meio ambiente que pertence à comunidade nem de
provocar com as suas actividades verdadeiros desastres ecológicos, desde que
esses desastres contribuam para a melhoria das condições de vida do patronato degradadas
pela democracia e pelas manias socialistas.
Também não se
ralam muito com a criminalidade financeira que disparou por todo o belo mundo
capitalista – hoje já não há, é verdade, praticamente outro mundo -, desde o
momento em que tal seja proveitoso na reciclagem dos mais impuros dinheiros e
contribua para o pãozinho de cada dia dos nossos patrões.
A concorrência
mundial é o que domina e determina a quantidade e qualidade do trabalho e do
salário. A lei do trabalho é a competitividade das empresas. Mais nenhuma. Se o
patronato vence na competição, muito bem, há trabalho, o patronato melhora de
vida; se o patronato acumular azares sobre azares, nada de excepcionalmente
grave para o patronato, que procura logo outro lugar onde investir. Fecha-se a
loja e acabou-se o trabalho. O patrão não pode empobrecer por causa disso e a
vida continua.


Seja qual for
o aumento da produtividade do trabalho, os salários baixarão na proporção da
quantidade disponível de trabalhadores candidatos a um emprego que vai
rareando.
A abundância
criada pela globalização das massas trabalhadoras acabará sempre em proveito do
patronato anónimo.
Os níveis de
rendimento e de riqueza marcam muito as diferenças e os antagonismos Norte/Sul.
Mas deste conflito estão excluídos os grupos dirigentes do patronato. É claro.
Os homens tem de se defender.
Os bens
essenciais podem aumentar na ordem dos 30%, enquanto os salários podem subir
qualquer coisa como 7%.
Para quem
trabalha aqui, em Portugal, há dois pesos e duas medidas. Uns vivem a
pelintrice de não terem para mandar cantar um cego, enquanto outros, os quadros
e administradores, alinham os seus rendimentos pela Europa rica, porque isso se
inscreve nos imponderáveis da luta do patronato por melhores condições de vida.
Neste país o custo de vida está ao nível de Paris,
Londres, Bruxelas, Madrid e o povinho ri
alegremente julgando-se a vencer o patronato e
procurando imitar os seus patrões, mesmo comprando aos dolorosos bochechos os bens
de luxo que os patrões ainda podem pagar a pronto.
Segundo o
Banco Mundial, o fosso médio de rendimento por cabeça entre países ricos e
países pobres era de 1 para 11 em 1870. Em 1960 esse fosso era de 1 para 38. E
era de 1 para 52 nas contas de 1985.
A tendência –
que aliás, podemos verificar no dia-a-dia do nosso quotidiano – é para o
empobrecimento geral das classes médias trabalhadoras, e uma tendência que, segundo os estudos do Banco Mundial, se vai acentuar, e assim porque o patronato
está finalmente a conseguir algumas significativas vitórias na sua justa e
centenária luta contra os trabalhadores madraços.
Perceba-se que
no quadro amplo da luta do patronato contra os trabalhadores, como é óbvio, nada se faz em função dos trabalhadores; são
os trabalhadores a serem obrigados a deixar o seu destino pessoal à mercê de
uma abstracção altamente manipulável por quem pode: o mercado, a economia;
economia mundializada, toda ela altos e baixos imprevisíveis e de durações
limitadas.
Porque a
verdade, meus amigos e irmãos, é que os nossos patrões são geniais, e ninguém
poderá pôr cobro à competitividade. A competitividade nasce na negociata
internacional, precede o crescimento, permite e comanda o emprego. Toda a
regulamentação, toda a medida proteccionista estará em contravenção com a lei
fundamental (a do mercado e da competitividade), e só a defesa dos legítimos
interesses dos patrões poderá, se for
caso disso, servir de pretexto para a
infracção a essa lei suprema.
Países
inteiros serão esmagados por esta lógica, com especial gravidade os do Sul, os
do Sudoeste asiático e os da África sub-sahariana.
Aquilo são tudo
regiões sem dinamismo nenhum e onde o patronato ainda sofre horrores…
E as
transferências de centros de produção de grandes empresas para o estrangeiro continuará a ser uma estratégia
muito eficaz se se trata de aumentar as respectivas quotas de mercado num mundo
competitivo, e bem assim de lhes minimizar os eventuais prejuízos.
O capital –
isto é, o patronato – é mais móvel e dinâmico no desenvolvimento das suas
justas lutas do que o trabalho. E quem é que tem a culpa disso? Querem ver que
também é o patronato?
O patronato
submete-se menos facilmente à pressão dos impostos, das necessidades, das mais
duras realidades, do que o trabalho. Aproveita as migalhas que o àvaro destino
lhe deixa. Por isso o patronato, na sua justa luta, pode mais facilmente castigar
os trabalhadores do que o contrário, aumentando-lhes os impostos,
minimizando-lhes os serviços sociais, reduzindo o investimento público nas
áreas que a esses trabalhadores fazem mais jeito, a saúde, a velhice, a
habitação, a educação…
Cada um usa as armas que pode
O patronato é
prudente. O mercado financeiro mundial está arranjado para fazer sobressair
mais e mais as diferenças entre os que ganham e os que perdem.
E é claro que
o desenvolvimento unicamente baseado nas leis da concorrência de mercado não é
sistema que possa reduzir desigualdades de qualidade nenhuma, nem entre os
sexos, nem entre os grupos étnicos, e muito menos entre os ricos e os pobres.

E como inverter tudo isto? - Claro que é possível, e sê-lo-á! É uma questão de tempo....
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