segunda-feira, 28 de janeiro de 2013


      

      A JUSTA LUTA DO PATRONATO POR  MELHORES   
                            CONDIÇÕES DE VIDA
                                                                     (3)



  
O quê? Eu aumentar o salário dos meus trabalhadores?
Se aumento os salários, o pessoal vai-me amolecer, vai-me trabalhar menos, vai exigir mais tempo para gastar o aumento, começa a pensar em coisas e em grandezas, vai baixar a qualidade da produtividade, porque o trabalhador vai estar a pensar no que vai poder comprar com o dinheiro do aumento. E além disso, já sei que vai fazer uma data de despesas inúteis, vai estafar o dinheiro todo enquanto o diabo esfrega um olho e vai adquirir vícios.  O melhor é aumentar o preço dos produtos de primeira necessidade. Assim já o trabalhador não fará despesas desnecessárias.
Uma reunião de ricos em Davos, na Suiça. Há um patrão multinaconal que declara:
- Quer seja um indivíduo isolado, uma nação ou uma empresa, o que importa mais para sobreviver neste mundo é ser mais competitivo do que o vizinho.

                                                                                                                                                      

A lei das sociedades humanas pode consubstanciar-se, em certas épocas, numa só palavra. Hoje, aqui, a esta hora, a palavra que em tons sacros dá forma a nosso planeta e à nossa vida é… competitividade.
Se a competitividade em si mesma já foi um meio para obter um desiderato, hoje em dia, cuidado, ela já é um fim em si mesma. Ela e o conceito cultural que exprime. É o objectivo de patrões em busca de melhoria de vida. Pode ser finalidade de Estado. É obrigação do indivíduo.
Absolutamente necessário é reformar os sistemas educativos das nações, todas elas, EUA, França, Inlaterra, Portugal, Chipre, Birmânia, Alemanha, Burkina Faso, Timor Leste, Rússia.
Mas reformar em que sentido?
No sentido de construir um Homem preparado para se integrar sem esforço e com alta rentabildade nos sistemas competitivos da sociedade em que vive. Lutar pelo seu bife seja à custa do que for e de quem for. É isto o desenvolvimento. Desenvolvimento, cultura, investigação: tudo concorre para o mesmo.
O princípio da competitividade contempla formulações guerreiras. Há uma guerra mundial. Está neste momento a decorrer. Essa guerra (sem contar com as guerras de tiros e sangue do oriente médio) é financeira e económica, antes de mais. Neste momento. Mas com componentes tecnológicas, industriais. Estão de facto todos contra todos, mas é preciso que ninguém se deixe matar. E também é bom que ninguém seja neutral. É absolutamente preciso sobreviver. E para sobreviver não há outro meio senão ser mais e mais competitivo. A opinião pública, saturada deste discurso, começa a acreditar que é mesmo verdade.
Competitividade é sistema de vida instalado no planeta inteiro desde o começo dos anos 80. Nada lhe escapa. É uma espécie de graça divina: ou se tem ou não se tem. Os que a têm são salvos (cá está a teologia). Os que não a têm, os que não são competitivos, estão condenados.
Os não competitivos desaparecerão em breve sufocados em fumos de enxofre, em pranto e ranger de dentes.
O vencedor leva tudo – the winner take it all. Uma máxima de catecismo existencial moderno, actualizado.
Leio num antigo número do Monde Diplomatique, que, por exemplo, no ténis, o 45º jogador do ranking  pode ser quase tão bom como um  dos primeiros. Mas nem que dispute a meia-final (um dos melhores, portanto) de um afamado torneio conseguirá um único contrato publicitário para uma marca de alpergatas. Vai tudo direitinho para o vencedor. Os patrões só se sentem quentinhos e a melhorar as suas condições de vida de braço dado com os vencedores, e tudo é posto à mão de semear do vencedor, alpergatas, raquetes, bolas, bonés, roupa de baixo, lingerie
As grandes empresas e os grandes grupos económicos de esfera de acção mundializada não tem o menor pejo de saquear o meio ambiente que pertence à comunidade nem de provocar com as suas actividades verdadeiros desastres ecológicos, desde que esses desastres contribuam para a melhoria das condições de vida do patronato degradadas pela democracia e pelas manias socialistas.
Também não se ralam muito com a criminalidade financeira que disparou por todo o belo mundo capitalista – hoje já não há, é verdade, praticamente outro mundo -, desde o momento em que tal seja proveitoso na reciclagem dos mais impuros dinheiros e contribua para o pãozinho de cada dia dos nossos patrões.
A concorrência mundial é o que domina e determina a quantidade e qualidade do trabalho e do salário. A lei do trabalho é a competitividade das empresas. Mais nenhuma. Se o patronato vence na competição, muito bem, há trabalho, o patronato melhora de vida; se o patronato acumular azares sobre azares, nada de excepcionalmente grave para o patronato, que procura logo outro lugar onde investir. Fecha-se a loja e acabou-se o trabalho. O patrão não pode empobrecer por causa disso e a vida continua.

                                                                                                

Seja qual for o aumento da produtividade do trabalho, os salários baixarão na proporção da quantidade disponível de trabalhadores candidatos a um emprego que vai rareando.
A abundância criada pela globalização das massas trabalhadoras acabará sempre em proveito do patronato anónimo.
Os níveis de rendimento e de riqueza marcam muito as diferenças e os antagonismos Norte/Sul. Mas deste conflito estão excluídos os grupos dirigentes do patronato. É claro. Os homens tem de se defender.
Os bens essenciais podem aumentar na ordem dos 30%, enquanto os salários podem subir qualquer  coisa como  7%.
Para quem trabalha aqui, em Portugal, há dois pesos e duas medidas. Uns vivem a pelintrice de não terem para mandar cantar um cego, enquanto outros, os quadros e administradores, alinham os seus rendimentos pela Europa rica, porque isso se inscreve nos imponderáveis da luta do patronato por melhores condições de vida.
Neste  país o custo de vida está ao nível de Paris, Londres, Bruxelas, Madrid  e o povinho ri alegremente julgando-se a vencer o patronato e  procurando imitar os seus patrões, mesmo comprando aos dolorosos bochechos os bens de luxo que os patrões ainda podem pagar a pronto.
Segundo o Banco Mundial, o fosso médio de rendimento por cabeça entre países ricos e países pobres era de 1 para 11 em 1870. Em 1960 esse fosso era de 1 para 38. E era de 1 para 52 nas contas de 1985.
A tendência – que aliás, podemos verificar no dia-a-dia do nosso quotidiano – é para o empobrecimento geral das classes médias trabalhadoras, e uma tendência que, segundo os estudos do Banco Mundial, se vai acentuar, e assim porque o patronato está finalmente a conseguir algumas significativas vitórias na sua justa e centenária luta contra os trabalhadores madraços.
Perceba-se que no quadro amplo da luta do patronato contra os trabalhadores, como é óbvio,  nada se faz em função dos trabalhadores; são os trabalhadores a serem obrigados a deixar o seu destino pessoal à mercê de uma abstracção altamente manipulável por quem pode: o mercado, a economia; economia mundializada, toda ela altos e baixos imprevisíveis e de durações limitadas.
Porque a verdade, meus amigos e irmãos, é que os nossos patrões são geniais, e ninguém poderá pôr cobro à competitividade. A competitividade nasce na negociata internacional, precede o crescimento, permite e comanda o emprego. Toda a regulamentação, toda a medida proteccionista estará em contravenção com a lei fundamental (a do mercado e da competitividade), e só a defesa dos legítimos interesses dos patrões  poderá, se for caso disso,  servir de pretexto para a infracção a essa lei suprema.
Países inteiros serão esmagados por esta lógica, com especial gravidade os do Sul, os do Sudoeste asiático e os da África sub-sahariana.
Aquilo são tudo regiões sem dinamismo nenhum e onde o patronato ainda sofre horrores…
E as transferências de centros de produção de grandes empresas para  o estrangeiro continuará a ser uma estratégia muito eficaz se se trata de aumentar as respectivas quotas de mercado num mundo competitivo, e bem assim de lhes minimizar os eventuais prejuízos.
O capital – isto é, o patronato – é mais móvel e dinâmico no desenvolvimento das suas justas lutas do que o trabalho. E quem é que tem a culpa disso? Querem ver que também é o patronato?
O patronato submete-se menos facilmente à pressão dos impostos, das necessidades, das mais duras realidades, do que o trabalho. Aproveita as migalhas que o àvaro destino lhe deixa. Por isso o patronato, na sua justa luta, pode mais facilmente castigar os trabalhadores do que o contrário, aumentando-lhes os impostos, minimizando-lhes os serviços sociais, reduzindo o investimento público nas áreas que a esses trabalhadores fazem mais jeito, a saúde, a velhice, a habitação, a educação…
Cada um  usa as armas que pode
O patronato é prudente. O mercado financeiro mundial está arranjado para fazer sobressair mais e mais as diferenças entre os que ganham e os que perdem.
E é claro que o desenvolvimento unicamente baseado nas leis da concorrência de mercado não é sistema que possa reduzir desigualdades de qualidade nenhuma, nem entre os sexos, nem entre os grupos étnicos, e muito menos entre os ricos e os pobres.

                                                                 

1 comentário:

  1. E como inverter tudo isto? - Claro que é possível, e sê-lo-á! É uma questão de tempo....

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