domingo, 27 de janeiro de 2013


       A JUSTA LUTA DO PATRONATO POR MELHORES
          CONDIÇÕES DE VIDA
                                                      (2)
Os estados autoritários pretensamente providenciavam as coisas em matéria laboral e económica. O social. Daí a figura do Estado Providência. Porque protegia os cidadãos do perigo de um patronato à solta, de um liberalismo sem regras. Porque protegia o emprego. Porque subsidiava os preços – sem deixar funcionar o mercado, intervindo sobre mercado, portanto. E porque o objectivo era político, e o objectivo político primeiro era assegurar a paz social. Isto teoricamente. Já se disse. Nem os trabalhadores podiam andar ao alto e ser sujeitos a regimes de trabalho intensivos. Nem os patrões podiam andar à rédea solta, a declarar falências por dá cá aquela palha, a despedir colectivamente quando lhes apetecesse. Em teoria, claro. E assim dito grosso modo.


Mas vem a II Guerra. Vem e vai. Ganham os aliados. Os aliados eram as democracias do Ocidente, onde o mercado era já então livre quanto o pudesse ser naquelas circunstâncias extremas, onde os patrões investiam no que lhes apetecia e onde, apesar de tudo, os trabalhadores eram protegidos por leis mais eficazes até, e mais civilmente democráticas, do que as dos estados autoritários. E por ser assim, muita gente acreditou na democracia. E ainda hoje, apesar de tudo, acredita. E ainda bem.
Depois das vitória dos Aliados na Guerra, estavam por outro lado
criadas as condições para a queda da preponderância da política no governo das nações e criadas as condições para o ascenso da economia.
Era preciso reconstruir os países devastados pela guerra, além do mais. Mas isso, sendo o princípio dele, marcava o fim do Estado Providência. Era preciso trabalhar-se muito e ganhar-se pouco, isto para os trabalhadores. Era preciso especular com os capitais para se ganhar o máximo – isto para os patrões.
Era a luta insana do patronato pelo seu pão de cada dia – até me chegam as lágrimas aos olhos.
E os governantes de alta estatura política, intelectual e moral foram desaparecendo. E o lugar deles foi sendo ocupado por gente de gerações novas que o económico tentava, porque se apresentava como ideia nova, modelo moderno de governo dos povos. O discurso económico passou a ser o discurso da vanguarda político-ideológica.
E a política passa a depender da economia, das prioridades económicas. E por conseguinte, da iniciativa do patronato. E desde logo, porquê? Por causa de um acto básico em democracia: as eleições.
Para ganhar eleições é preciso dinheiro. Muito dinheiro.
Para montar uma máquina partidária eficiente e atraír militantes é preciso dinheiro. Muito dinheiro.
E a actividade política em si mesma, pode gerar moral e pode gerar paixões, admito, mas não gera dinheiro. É preciso ir buscar o dinheiro onde o há para manter vitoriosa uma máquina eleitoral partidária.
O mais dinheiro que haja para uma campanha eleitoral, o mais certo se tem a vitória.
O que faz um partido com uma vitória eleitoral? Para que lhe serve? Para ter uma maioria parlamentar e para formar governo. O que faz esse governo? Pela ordem naturalíssima das coisas, tenderá a cumular de atenções as pessoas e empresas que deram dinheiro ao partido que o apoia e lhe permitiu ganhar eleições. É humano.
As campanhas eleitorais, hoje por hoje, pouco passam de campanhas publicitárias de promoção de um produto. Vende-se ao eleitorado – ainda que não directamente a dinheiro – a imagem de um ou vários homens políticos.
Quanto custam os tempos de antena, a produção de spots, os outdoors, os hoteis, as caravanas que correm o país a levar a mensagem? E quem paga isso? As quotizações dos militantes? Nem por brincadeira.
Quem paga isso são empresas e empresários. É o patronato. E seja esse partido de direita ou de esquerda – esquerda relativa, bem entendido.
E será que os patrões na sua justa luta por melhores condições de vida ao entrar com milhares e milhares para a campanha eleitoral de um partido ou de um candidato andam a dormir na forma e vão dispender o seu rico dinheirinho com um homem ou uma organização que não lhes dê certas garantias e que mais tarde os venha a pôr em causa?


Os patrões, na sua justa luta por melhores condições de vida, quando pagam uma campanha eleitoral estão a fazer um investimento – que é político e que se transformará mais tarde em económico. E não é retintamente publicitário esse investimento porque nenhum partido se descai a dizer publicamente quais as empresas e os capitalistas que o financiaram, quais os mecenas que tornaram possível a sua  vitória.
O patronato paga a caríssima, milionária,  campanha eleitoral de um partido e faz um investimento a prazo. Quer ir buscar o capital empatado com juros.  Altos juros.
Fica então subentendido que os actos e o discurso do governo do partido  vencedor – ou mesmo os do perdedor, que passa a ser oposição – nunca poderão voltar-se contra os interesses de quem lhe financiou a campanha. E esses interesses não são certamente os dos trabalhadores. São certamente os do patronato. Na sua luta. Justa. Por melhores condições de vida. Também têm direito. E têm direito a gostar tanto de lagosta como os operários.
Por isso, o financiamento por parte do patronato de uma campanha eleitoral partidária é mais uma arma na luta desse mesmo patronato contra… contra quem? Contra os seus concorrentes no mercado, é verdade. E também contra os trabalhadores, a sua maior dor de cabeça.
Os futuros actos do governo beneficiarão preferencialmente aqueles que o pagam e só por acidente ou por uma questão de salvaguardar as aparências, beneficiarão aquela entidade que é o inimigo natural dos interesses daqueles que pagam campanhas eleitorais.

Isto assim, simplista, e bruto parece… parece isso mesmo… parece aquilo que realmente é, simplista. Por mais edulcorados que sejam os discursos, a realidade é simples, não anda muito longe disto. Anda até muito perto.
Basta perguntar porque é que os partidos comunistas, com  todo o poder mobilizador que tiveram, nunca, em democracia, ganharam eleições? É óbvio. Porque nenhum capitalista digno desse nome, nenhum patrão honrado,  vai armar-se em parvo e financiar um partido comunista, um partido que jura a pés juntos defender até à morte os interesses dos trabalhadores.

Claro que os partidos comunistas – ou de esquerda marxizóide – podem, em democracia aberta, defender quanto quiserem os trabalhadores. Simplesmente, essa defesa não passará do nível do discurso.
(E também resta saber se os partidos comunistas quando tiveram todo o revolucionário e absoluto poder nalguns países defenderam na realidade assim tão acirradamemte os reais interesses dos trabalhadores quanto o fazem moralmente nas democracias onde não têm assento nos postos de decisão.)

Mas enfim, o Estado tem que deixar de perseguir o interesse colectivo, até pela simplória razão de que deixou de haver interesse colectivo. Todo o homem competitivo é um ser individual que por sua conta e risco trata da sua própria prosperidade.  E se o Estado quer ser um factor de competitividade tem que ignorar todos os que não querem ou não podem ser competitivos. E o interesse colectivo passou a ser o interesse do colectivo das grandes empresas à escala mundial, dos grandes patrões em busca de melhores condições de trabalho e de vida.
Pois é. Também eu pergunto o mesmo. Como é que ainda há políticos que têm a distinta lata de, muito acaloradamente e sem rir, nos vir falar de democracia?
Mas creiam que é pela razão de o Estado estar a mudar de natureza que os governos e as oposições apresentam crescentemente ao nosso voto políticos de uma extracção intelectual pouco menos que básica. É por estarem assim as coisas ao nível do Estado que os debates eleitorais e parlamentares têm o rasteiro nível que hoje têm. Tudo em prol da justa luta do patronato…
Os governos nacionais, só para obter investimento estrangeiro, estão capazes de vender a alma a todos os demónios que lhes aparecerem e não se coíbem de arriscar a destruição do tecido social dos seus países.
E nas tintas se as reduções drásticas de verbas afectadas ao bem comum criem mais profundas clivagens sociais, renovem as trágicas situações individuais de desemprego ou alarguem as franjas nacionais da pobreza. É tudo para o bem. É tudo em prol da justa luta do patronato contra os trabalhadores.
E porque, vamos lá com Deus, se não houvesse patronato saudável, bem vestido, bem calçado e bem alimentado não seriam precisos trabalhadores para andarem ó tio ó tio, ai que não tenho dinheiro para me vestir, nem para me calçar, nem para me alimentar.
Podia-se viver num mundo sem o patronato em luta contra os trabalhadores? Poder podia.  Mas não era a mesma coisa…





4 comentários:

  1. Atraves de um amigo fiquei a saber que as "questões de moral" têm continuação...
    Bem haja por nos brindar agora e aqui com o novo formato das "questões de moral...
    a.castro

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  2. Wowwowowowowowowowowowwowoowowoowowwowoowwowowowowowowo


    PALEOGRAFIA =
    grande enormissima alegriaaaaaaaaaaaaaaaa

    Abraçooo e continue wowowowowowowowwoowowowow

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  3. Não é bom, é EXCELENTE!!!!! Há que pôr tudo a NU!!!! Joel Costa, continue. FORÇA, AMIGO!!!!

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