sábado, 12 de outubro de 2013

                           CARPE DIEM 6


   

                                                   

       Oh, pois, os antigos, mais conhecidos por idosos, claro, vivem rodeados e influenciados pelas gerações do optimismo, vai correr bem, caga nisso, vais ficar bom, tampões impregnados de bebida introduzidos no ânus ou na vagina para acelerar o efeito do álcool (já ninguém está interessado nas causas, já só se espera ansiosamente pelos efeitos), Portugal é o país que mais, há que levantar a cabeça, sabes que isso pode potenciar quadros de depressão?, deixá lá, tá-se bem, sabes que isso pode levar ao suicídio, deixa lá, não há crise, a facilidade, saudinha é que é preciso, e mais as raparigas do que os rapazes, diz que sim, a esperança é a última a morrer, a irresponsabilidade, as pessoas querem lá saber disso!, a impunidade, que mania a tua de estares sempre a armar ao dramático, tudo ao molho e fé em Deus. A festa! Já ninguém pode viver sem a festa. Há palmas e risos ao mais pequeno pretexto, e silvos de júbilo, e uaus!, e gritinhos pelos mais pueris dos motivos. Não é permitido falar de dificuldades, de problemas, de dramas, de complexidades – quando as coisas, muitas coisas, as vidas, a vida, estão cada dia mais difíceis, mais dramáticas, mais problemáticas e mais complexas. Gerações impregnadas do álcool de uma opulência falsa; gerações impreparadas para o tempo sóbrio da dura realidade, diz-se. E muitos culpam os pais. E muitos culpam o Sócrates. E muitos culpam os sindicatos. E muitos culpam os comunistas. E muitos culpam o tempo do Cavaco. E muitos culpam o 25 de Abril. E é: a culpa é do 25 de Abril e da vaga de facilidades que se seguiu, ocupar casas, passar de ano administrativamente, correr com os fascistas (nem todos, vamos lá, ou quase nenhum), sanear os administradores, expulsar os patrões, desacatar os pais.  Pois é. E se assim não acontecesse como era? O 25 de Abril revolucionário ia obrigar as pessoas a viver miseravelmente, pobremente, remediadamente, porque o país não dava para mais, como no tempo do Salazar? Então, onde estaria a razão de ser da chamada revolução do 25 de Abril. O que seria se o 25 de Abril não começasse depressa a inventar a nossa felicidade/prosperidade?
     



1 comentário:

  1. Realmente Portugal é como um jogo de computador. Tudo virtual e com as opções viciadas. Um abraço.

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