sábado, 4 de janeiro de 2014

     FRANCISCO VENDE MAIS DO QUE BENTO

          

                             

       Francisco pode mesmo vir a ser o maior campeão de vendas da empresa vaticana…
E não me culpem a mim pela eventual blasfémia: era o que vinha um destes dias em rodapé num telejornal, exactamente, que o papa Francisco atraía mais gente ao Vaticano do que o papa Bento.
A teoria económica, ao interpretar tudo o que existe e que acontece, por mais artístico ou espiritualizado que seja, como produto mais ou menos valorizável em termos objectivos e mercantis, pode emitir sentenças destas.
O amor ao próximo, a fé, a salvação da alma, a piedade pelos desvalidos, a paz no mundo, a tolerância, são produtos espirituais, e pelos vistos com tradução quantitativa, numérica, económica – valor!

 

Qualquer dia, quem sabe se os próprios papas não são de considerar também profissionais que, como qualquer de nós na insignificância da sua profissão, vendem os seus serviços à empresa.
Amor ao próximo, fé, salvação, tolerância, paz no mundo, piedade, são, pelos vistos, produtos vendáveis. De outra guisa não passaria pela cabeça dos técnicos quantificadores do marketing reparar que o papa Francisco atraía mais gente ao Vaticano do que o seu antecessor. O que também pode querer dizer que Francisco vende três vezes mais dos produtos vaticanos do que Bento.

 

Claro que ninguém acredita que a simpatia pessoal, o carisma, as atitudes e as palavras de Francisco são sugeridas por alguma agência de publicidade e destinadas a funcionar sobre os mercados, aumentar vendas, multiplicar lucros – estando os cofres da Santa Sé depauperados como devem estar depois das desabusadas somas pagas (nomeadamente pela Igreja americana) às vítimas dos actos de pedofilia sacerdotal.
Como ninguém acreditará que as atitudes, a simpatia e o carisma popular de Francisco são técnicas de comunicação a funcionar como manobras de diversão para os fiéis, distraindo-os dos escândalos vaticanos, os sexuais e os financeiros.

 

Caridade, solidariedade, apelos à moderação do capitalismo selvagem globalizado, apelos à paz (no Médio Oriente e seja em que outro oriente for), amor pelas criancinhas, simpatia pelo San Lorenzo de Almagro, beijos a um homem-elefante, lavagem de pés aos sem-abrigo, poderiam, em suma, ser parte de alguma operação do marketing vaticano.
Alguém acreditará nisso? Não. Mas os promotores de vendas, nem que seja por deformação profissional, assim interpretam, avaliam, quantificam e mandam publicar os resultados: o papa Francisco atrai mais gente ao Vaticano do que o papa Bento.

   


Os ladinos dos operadores de marketing, ao reconhecerem no espírito dos fiéis alguma esperança quanto à melhoria do rumo deste desgraçado mundo por acção do Santo Padre podem, do Santo Padre, empolar mediaticamente a acção, sem se importarem quanto à eventualidade de poderem ser cúmplices de uma campanha de publicidade enganosa.

 

Enganosa, sim, infelizmente, porque durante e depois do pontificado de Francisco os pobres continuarão a ser pobres (um pouco mais, talvez), os ricos continuarão a ser ricos (um pouco mais, talvez), o desamor pelo próximo aumentará na medida da ganância crescente que governa o mundo, as contas do IOR (Banco do Vaticano) continuarão complicadas e as guerras não cessarão – bem pelo contrário.


1 comentário:

  1. Não a teoria mas a prática economicista. Daí os maus vaticínios vaticanicos!
    O Vaticano é um Estado: porque é que as ondas de emigração que navegam pela Europa Unida (e de alguns países bem católicos) não se lhe põem à porta? Lavagem de pés, distribuição de sopas, acampamentos... Só queria saber.
    Abç

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