A SAZÃO
ARDENTE
O regicídio foi, logicamente, a eflorescência vermelha de ódios e revoltas
semeados às cegas por republicanos e monárquicos na sazão ardente de 19071908.
Escreveu Aquilino Ribeiro.
Fará em
Fevereiro cento e dez anos que se deu em Lisboa um dos factos mais trágicos da
História portuguesa. Assim, de repente, até me parece o mais trágico depois de
Alcácer Kibir. O assassinato de um rei e com a ele o princípio da fundação de uma nova ordem
política no país.
Um
acontecimento trágico atravessado em todas as suas facetas por questões de
moral, cenários e lances românticos, e ainda hoje, em muitos aspectos, coberto
pelo véu do mistério. E está bem de ver que depois das séries televisivas, das
conferências, dos livros escritos, não serei eu aqui a desvendar os mistérios
ou a dizer sobre o caso alguma coisa que não tenha já sido dita, escrita,
conjecturada.
Então para serve esta série de escritos que nos vais impingir?
Sei lá.
Em certa
medida, algumas coisas parecem tão longínquas, tão fora de moda – sacrificar
desinteressadamente a vida por um ideal; assassinar chefes de Estado – que é
como se tudo tivesse acontecido noutro país qualquer, num daqueles países onde
no antigamente as coisas costumavam acontecer. Noutra medida, é possível que
existam aspectos de tão flagrante actualidade na prática política do tempo e na
alternância democrárica, e na inépcia do rotativismo instituído – então e agora
- que é capaz de nos deixar de boca aberta diante do nosso destino de pátria em
constante e atávica crise de valores e de elites.
Devo tudo
às leituras que fiz. A Carbonária em
Portugal, do Prof. António Ventura (Livros
Horizonte); D. Carlos, a Vida e o
Assassinato de um Rei, de José Castro Pinto (da Plátano); Regicídio, a Contagem Decrescente, de
Jorge Morais (Editora Zéfiro); O Regicídio, de Rocha Martins (editora
Bonecos Rebeldes).
Foi em
1901 que João Franco se desvinculou do Partido Regenerador e fundou o seu
próprio partido, o Centro Regenerador Liberal. Há uma crise académica no ano
seguinte, e é em em Maio de 1905 que uma importante personalidade monárquica, José Maria de Alpoim, faz o
que João Franco já havia feito: abandona o seu partido, o Progressista, criando
o estado de dissidência progressista.
A sazão
ardente de 1907/1908, segundo as palavras de Aquilino Ribeiro está a começar
A sazão
ardente avoluma-se em Abril de 1906, as sementes da revolta a germinar nas
forças armadas com um motim a bordo do cruzador D. Carlos; com João Franco a formar governo e a romper com a
prática do rotativismo; a prosseguir em Maio com a raínha a ser vaiada no Campo
Pequeno; e a desembocar na questão de moral que era a chamada lista civil, ou
seja os adiantamentos autorizados pelo governo à casa real.
João
Franco entendia que o país precisava de uma vida nova. O povo andava a ser
enganado pelos partidos do rotativismo, o Regenerador e o Progressista. Tal
súbita verve salvífica desinquietou imediatas desconfianças no eleitorado: se
havia tantos anos o povo era enganado pelos partidos, por que razão andara
tantos anos pelo Partido Regenerador, também ele, a enganar o povo. Porque
nunca até então denunciara os ditos “maus costumes políticos”? Porque nunca se
revoltara contra as situações?
Claro que
o móbil da súbita conversão de João Franco ao amor do povo tinha sobretudo a
ver com os seus interesses pessoais e não com a simpatia pelo povo.
João
Franco via um rival alçapremar-se à chefia do seu partido e assim conquistar o
primeiro plano das atenções e relegà-lo para uma segunda posição. E o rival era
Hintze Ribeiro.
Dissidente
monárquico, José Maria
de Alpoim vira a sua oratória contra os seus ex-companheiros e contra o rei –
contra o qual, de resto, passaria a conspirar, ou até a incitar ao assassínio –
inclusive a pagar-lhe o assassínio.
Como João
Franco, também Alpoim se teria decidido à dissidência por ver comprometido o
seu protagonismo no interior do partido. Estaria para suceder na chefia do
partido ao velho José Luciano de Castro, mas reparara que apesar de velho e
paralizado das pernas, José Luciano de Castro não queria dar de mão da sua
condição de líder do Partido Progressista.
No começo
do séc. XX português – como no resto da Europa – era evidente o declínio das
monarquias. Como por cá era evidente a ingovernabilidade do país. Guerras entre
monárquicos; guerras entre republicanos; guerras de monárquicos contra
republicanos e de republicanos contra monárquicos. O povo estava fora disto,
claro,como sempre.
O povo
tinha medo. Medo das bernardas, das bombas, das balas pedidas. E também lá teria
as suas convicções. E muito simples, parece-me a mim, básicas: ou se era
monárquico, ou se era republicano. A dissidência em cada um destes grupos era
entretém dos senhores, tinha essencialmente a ver com interesses pessoais e de
casta.
Se os
monárquicos estavam agrupados em dois partidos, o Regenerador e o Progressista,
com as dissidências registadas, passou a haver guerras mais intestinas ainda no
campo da monarquia. Dissidentes regeneradores contra o Partido Regenerador;
dissidentes progressistas contra o Partido Progressista; os dois partidos um
contra o outro.
O fim do
regime parecia anunciado. Era questão de tempo. Em termos de governabilidade do
país era avisado esperar uma emergência de ditaduras.
Nas
eleições de Abril de 1906 reclamaram-se irregularidades, e na sequência disso
registaram-se recontros entre populares e a polícia.
Hintze
Ribeiro lê a situação e pede ao rei que adie a abertura das Cortes por alguns
meses. Para acalmar as hostes. Em compensação, compromete-se a fazer um bom
governo. O que ele quer é um tempo de governação sem fiscalização parlamentar,
logo, sem oposição, uma vez que o parlamento ainda não abrira. O que ele quer é
uma situação de provisória ditadura. Uma emergência. Mas o rei não vai daí
abaixo.
Meu querido Hintze, não me parece conveniente
o adiamento das cortes. Promoveria uma imediata sublevação no espírito público.
Não digo já dos republicanos, o que era lógico, mas de muitos, senão de todos
os monárquicos que te não acompanham nesta ocasião – escreveu
D. Carlos ao seu primeiro ministro. Não lhe parecia o momento azado para uma
aventura ditatorial, alega ainda.
Hintze
Ribeiro, em consequência da resposta do monarca, pede a demissão do governo. E
se D. Carlos recusa a Hintze Ribeiro a
faculdade de governar em ditadura, não o recusará pouco depois quando é João
Franco a assumir a presidência do ministério.
Meu querido João Franco, tendo o conselheiro
Hintze Ribeiro acabado de depor nas minhas mãos a demissão do ministério, e
desejando eu que neste momento te encarregues da formação de novo ministério,
desejo que aqui venhas falar-me logo que possas e quanto mais cedo melhor…
Pela
letra de alguns comentadores, João Franco não mostrara até então,
politicamente, nada de mais, tirante os dotes oratórios. E pergunta-se a razão
por que D. Carlos terá recorrido a ele para formar novo governo.
O partido
de João Franco era um partido minúsculo, em comparação com os regeneradores e
os progressistas. E nunca governara. Tal como o seu maior, João Franco, que,
tendo já sido ministro, nunca chefiara um governo.
O
programa. As dúvidas – que assolavam o espírito do rei. O partido franquista
iria pôr em prática as promessas do seu programa? E se as circunstâncias
políticas não permitissem tal?
Mas D.
Carlos estava até aos cabelos dos fracassos tanto de regeneradores como de
progressistas. A nomeação de João Franco e do seu pequeno partido constituía um
risco. Mas D. Carlos talvez não lhe visse alternativa alguma e se sentisse
empurrado para o risco.
Uma coisa
é o falar e o prometer – como todos bem sabemos -, e mais a propaganda que pode
transformar (pelo menos por algumas horas) os fracassos em sucessos… - e outra
coisa é o fazer. Mas João Franco
ambicionava o poder. João Franco tinha a qualidade inerente ao seu defeito: uma determinação quase cega.
Tinha uma ideia e ia com ela em frente, acontecesse o que acontecesse.
A ordem
do dia na vida nacional nesta época era paradoxalmente a desordem. E a desordem
era tal que as próprias cortes eram fautoras dessa desordem, promovendo
deliberadamente algazarras que justificassem o fim dos trabalhos e o fecho
temporário do parlamento.
O
experimentado político José Luciano de Castro oferece ao rei uma escapatória,
um acordo de governo entre o seu partido o progressista, e os franquistas, a
que chamaria de concentração liberal, permitindo ao pequeno partido de João
Franco governar com o apoio do grande Partido Progressista. E tal acontecia
como vingança de José Luciano de Castro relativamente a Hintze Ribeiro, acabado
de se demitir. José Luciano de Csstro tinha razões de queixa de Hintze e não
hesitava em comprometer o destino do país só para ajustar contas com outro
político. Uma questão entre senhores. Em 1906/1907.
Também os
republicanos, por meio de carta de Bernardino Machado ao rei, se dispunham a
deixar governar os franquistas. Preferiam, por razões corporativas, o governo
de um pequeno partido ao de um grande, como o Regenerador. Mas o risco de o
parlamento se pôr contra o governo minoritário persistia, era imenso, e nem o
rei tinha alvedrio para lhe conferir estabilidade.
Mas vamos
lá que o pequeno partido de João Franco lograva sucesso na sua governação. Era
certo e sabido que se tal ocorresse tiraria votos (e talvez deputados) aos
progressistas de José Luciano. José Luciano estaria atento para ver até quando
e a que pontos lhe seria útil ou pernicioso politicamente apoiar um governo de
João Franco. A João Franco conviria que as coisas corressem bem para se
libertar do colete de forças de progressistas e regeneradores que o aperreava.
João Franco
sobe ao poder a 19 de Maio de 1906, as cortes abrem a 1 de Junho. A oposição
manifesta-se, provoca tumultos e insulta. A um ponto tal que as mesmas cortes
terão de encerrar logo quatro dias depois, com eleições marcadas para Agosto.
João
Franco vai inaugurar uma sede de campanha do seu partido lá para os lados de
Alcantara. A confusão é geral. Há gritos e insultos. Republicanos e
oposicionistas apareceram e procuraram inviabilizar a sessão.
João
Franco grita: os republicanos estão a
precisar de uma carga de sabre como de pão para a boca!
As
manifestações hostis a João Franco, na opinião do próprio, eram uma provocação
para que o governo decretasse violentas medidas repressivas. Se o governo o
fizesse estaria a prestar um favor à causa republicana que assim reclamaria
para si o estatuto de vítima, o que, em politica, costuma dar dividendos.
Vai-te embora bandido! Fora!Fora! – gritava o
populacho quando João Franco, finda a sessão, chegou ao automóvel sob uma chuva
de pedradas.
Mas João
Franco era corajoso. Manda subir a capota do carro e fica de pé, à disposição
das pedradas, a agradecer aos que o aplaudiam, ignorando as invectivas do
pagode. As pedradas continuam. Há feridos. Há homens de navalha aberta. Há
sangue.
Joga-se a vida! Joga-se a vida!, gritava
João Franco aos seus.
Prendia-se
um dos desordeiros, um filho da terra, o Chico Teso.
Era
assim. Era Portugal. Pequenino, rasca. D. Carlos estava a águas – não no
Cartaxo, mas em Pedras Salgadas, e de lá escreveu a João Franco.
Meu querido João, felizmente que nada
sofreste. Na minha opinião, coisa alguma de maior sorte poderia ter sucedido ao
governo em prol das ideias que desejamos levar àvante, as únicas que
conseguirão fazer alguma coisa deste nosso tão bom e até hoje tão maltratado
país.
Na opinião
de D. Carlos,os distúrbios de Alcantara acabavam de dar ao governo um excelente
pretexo para acabar de vez com tumltos de rua, além de terem posto contra os
arruaceiros toda a gente honesta, e esta
– remata o rei – felizmente para nós
ainda é a maioria.
João
Franco era impetuoso. Alguns o dirão precipitado. Outros o dirão imprudente.
Sei lá disso. Talvez fosse irresponsável. Cà para mim era simplesmente
politico,quer dizer, ambicioso antes de mais, ambicioso de mando. E talvez
pensasse mais nos seus interesses e nos do seu grupo, o que iria dar no
mesmo,visto que grupo dele era ele. E nem que isso pudesse vir a custar a vida
ao seu rei.
Governe-se com o parlamento, é esse o meu
desejo, mas também é preciso que o parlamento faça alguma coisa. De palavras
está o país farto. O país quer é que se discutam no parlamento medidas que lhe
sejam úteis – carta de D. Carlos ao seu primeiro ministro João Franco.
Dezembro de 1906.
Nos
alvores do ano de 1907, João Franco só vê obstáculos à sua governação. Começa a
perder os apoios parlamentares prometidos. Vai pelo país um grande surto
grevista. Os progressistas monárquicos passam-se para as hostes republicanas e
integram um comité revolucionário. Falo dos mais notórios, José de Alpoim, o
cavaleiro fidalgo da casa real, visconde da Ribeira Brava e Alexandre Braga.
João
Franco quer remodelar o governo. Já tem nomes. Três. O rei dá-lhe cobertura.
Mas os três nomes ideais para João
Franco recusam. Pertencem ao Partido Progressista. João Franco quer mostrar ao
país o apoio claro desse partido. Pois. Mas os homens fortes desse partido
desconfiam dele, desconfiam de que o intento de João Franco é mesmo o de
esvaziar o Partido Progressista e atraír para ele os melhores homens.
E o velho
José Luciano de Castro roi-lhe a corda. Que João Franco apenas pretenderia
criar dissidentes. Quem sabe se não mesmo anexar o Partido Progressista ao seu?
Ninguém cairia na esparrela de o encorajar nesse sentido. E também os
progressistas esperam a todo o momento a queda do governo do mesmo João Franco,
na certeza de serem eles os chamados a formar novo governo.
Há que
tirar dos factos do passado, se tal for possível, algum proveito e
esclarecimento para os dias de hoje. Porque é que os políticos querem com tanto
afã ser governo, mesmo nas situações nacionais mais infelizes?
Ora ora. Só
um partido de governo, de poder, pode distribuir benesses e lugares pelos seus.
Digo pelos seus militantes, simpatizantes e clientes – sobretudo clientes.
Quando um partido perde eleições ou é apeado do poder o que se passa nas suas
hostes é uma trági-comédia. Os clientes ficam sem os seus empregos, e esses
seus empregos não são qualquer coisa, eles são presidentes de empresas, de
bancos, de organismos vários. Eles são directores gerais. E sendo que esses presidentes
e directores, uma vez empregados bem alto, chamam para os cargos mais
subalternos e acessórios (vices, chefes, sub-chefes, sub-directores,
assessores, disto ou daquilo) os seus amigos, os amigos do partido que lá os
pôs, os militantes, os clientes. Parece populismo,ou demagogia, e talvez o
seja, mas o diabo é que é verdade.
É verdade
e é democracia, pois então…
Se o
partido não está no governo e não pode distribuir lugares, entra em crise
interna mais ou menos profunda. O nervosismo instala-se. Os descontentamentos
minam tudo. Toda a gente quer uma mudança, uma mudança de líder logo para
começar. O líder que se segue será o que vai conduzir o partido à vitória nas
eleições, ao governo, e ao poder de distribuir as mais lautas gamelas pelos
clientes. É este o sentido da nossa vida comunitária. E democrática, pois
então…
Resolver
a contento os problemas reais do país e do povo não é razão bastante para estar
no poder. Pode até calhar que esse partido resolva alguns deses problemas, mas
o principal móbil das ambições de poder de um partido é esse partido poder
distribuir lugares pelos seus clientes. E um partido começa a deixar de ter
importância, e militantes, e patrocinadores e clientes, se andar muito tempo
fora da área do poder e não puder, como deve, não só fazer os favores devidos
aos que financeiramente o patrocinam, como prover devidamente os seus clientes.
Em Maio,
João Franco tem o governo composto. Sem gente dos progressistas. E a coisa não
anda. E o rei dissolve o parlamento. E João Franco vai governar em ditadura.
Não há perspectiva de novas eleições.
Quando
João Franco fora ministro de um governo de ditadura chefiado por Hintze
Ribeiro, declarara que governar em ditadura era um erro e que não voltaria a
cair noutra. E caiu.
Pouco
tempo antes, também D.Carlos não permitira a Hintze Ribeiro governar em
ditadura. Permitia-o agora a João Franco. Sabe que vai ser alvo de censuras,
mas é mais um risco que se propõe correr. Os partidos consideram-se
destratados, marginalizados do processo político.
Meu querido João, vamos ter uma campanha
sobretudo contra nós os dois, mas é para isso que cá estamos. Deste uma sessão
parlamentar nunca vista, mas chegaste ao fim convencido de que não era dali que
podia vir o restabelecimento da disciplina social nem o renascimento do nosso
país. Deixemos falar quem fala e continuemos a nossa obra.
Meu senhor, a comissão executiva do Partido
Progressista, composta por dedicados amigos de V. Majestade, deliberou
protestar contra a ditadura. Atrevo-me a suplicar que atenda as vozes e
conselhos dos que em tantos anos de serviços têm provado a sua dedicação à
monarquia.
Meu querido José Luciano, compreenderás, tu,
que me conheces há longos anos, que eu não tomaria as decisões que tomei se as
não julgasse neste momento indispensáveis para bem do nosso país
Meu senhor, tendo sido encarregado pelos meus
colegas, como conselheiro de Estado mais antigo, de solicitar a V. Majestade
uma audiência para lhe expormos o nosso modo de pensar sobre a actual situação
política, peço se digne conceder-nos a honra de nos receber. Permita
V.Majestade que lhe beije a mão.
Meu querido José Luciano, é sempre com muito
prazer que ouço e recebo os meus antigos ministros e verdadeiros amigos como tu
e teus colegas, e por isso receber-te-ei na 6ª feira pelas duas da tarde.
Sucessivamente, e a partir de 2ª feira, irei recebendo cada um dos teus colegas
pela uma e meia da tarde.
João
Franco prosegue a sua governação em ditadura. Há confrontos de rua com a
polícia. Dois mortos. Na desordem do dia estará ainda a questão dos
adiantamentos à Casa Real.
No dia 6
de Agosto, às 9 da manhã, no nº 17 da Rua de Sto. António à Estrela dá-se uma
violenta explosão. Há mortos, feridos e prisões.
Meu querido João, quanto aos anarquistas, não
me admira que neste momento alguns apareçam, mas é para isso que cá estamos e
por certo nem a ti nem a mim será o medo que nos fará mudar de caminho.
Na
verdade, os anarquistas actuavam em ligação com alguns elementos monárquicos
dissidentes, José de Alpoim entre eles. Havia gente de dinheiro a financiar a
fabricação e a aquisição das bombas e de outro material de guerra.
Mas o
povo das províncias aclamava el-rei por onde quer que ele andasse. El-rei não
dava mostras de temer pela vida, não obstante o exemplo que tinha na família:
Umberto I de Itália, seu tio, morto num atentado sete anos antes.
A
imprensa atacava a raínha, tão esmoler, e desfazia-lhe nas obras de
beneficência, chamava-lhe exploradora da miséria. E pressionava o rei a abdicar
– e isto tanto a imprensa republicana como a monárquica. Uma personalidade
grada das letras porrtuguesas incitava mesmo ao assassínio: Guerra Junqueiro.
José
Luciano de Castro, o maioral do Patido Progressista, opinava para os jornais: estamos num período revolucionário… isto não
é uma ditadura, isto é um golpe de Estado, e o meu partido compromete-se a usar
todos os meios para que as ditaduras cessem por uma vez.
Júlio de
Vilhena, chefe dos regeneradores, dizia: o
que estamos presenciando não pode continuar. Isto terminará fatalmente com um
crime ou com uma revolução.
A seguir,
veremos como, pela questão de moral que se encobria por detrás de uns miseros
19 contos de reis, a vida do rei e o problema dos adiantamentos à casa real
haveira de aquecer ainda mais a sazão já escaldante.
Este meu comentário nada mais vai acrescentar a tudo aquilo que já se tornou um "cliché" português. Mas a verdade é esta: Portugal - infelizmente - nunca soube viver num sistema parlamentar. Nem hoje, nem há 100 anos atrás.
ResponderEliminarTempos virão (espero) em que este país possa ser governado de forma verdadeiramente democrática. Até lá e enquanto não se der uma autêntica mudança das mentes e das gentes, só uma ditadura "séria" (em que o Tirano seja um gajo com Moral e com "eles no sítio") poderá salvar este país.
Sad, but true.