OU O FASCISMO POR
OUTROS MEIOS
Pasolini
(Pier Paolo), poeta, romancista, cineasta, anti-fascista, equiparou um dia
(anos 70/80) a sociedade de consumo ao fascismo.
Ou um passo adiante, ao estabelecer a
hierarquia: sociedade de consumo pior do que fascismo.
Discutível? Sim, infinitamente
discutível. Aquele Pasolini era um exagerado, um desesperado, tinha um
sentimento trágico da vida.
No entanto, pelas etapas seguintes da
sociedade de consumo, a culminar neste capitalismo selvagem que presentemente
vivemos, e tendo como corolário a vigilância sempre latente sobre o que é ou o
que não é politicamente correcto, assim promovendo a cínica auto-censura que
(por outros meios) faz lembrar velhos tempos, a sentença de Pasolini pode nem
ser descabida nem exageradamente disparatada como possa parecer à primeira
leitura.
Sim, uma sociedade de consumo, um
capitalismo desbragado e sem lei, e uma censura encapotada a pairar sobre as
consciências são facadas no coração de quem acreditou que depois dos fascismo o
futuro era deslumbrante, e que ao chegar ao futuro viu tristemente embaciados
os deslumbramentos.
Quem o disse foi Clausewitz, que a
política era a continuação da guerra por outros meios. E o paralelismo não
sairá muito forçado ao pensarmos que a
sociedade de consumo, o capitalismo selvagem, a censura do politicamente
correcto e as câmaras de vigilância que nos seguem os passos desde o Metro ao supermercado podem por vezes parecer a continuação do fascismo por outros meios.