AFINAL O HITLER SEMPRE FUGIU
PARA A AMÉRICA LATINA?
Não me digam!
Mas também temos que chegar à conclusão de que a democracia nunca
foi um sistema popular, e porque os ditos populistas que apelam ao voto popular
trazem sempre no ventre um projecto autoritário.
A democracia foi um sistema imposto pelas elites políticas e
intelectuais numa base de racionalidade e equitatividade, e que teve sucesso
quando o capital finalmente compreendeu que com boas estratégias publicitárias e
empresariais o nível de exploração do trabalho podia ultrapassar os níveis
conseguidos pelas ditaduras.
Mas o pagode que não pensa, que não lê, sempre, lá bem no
fundo, desconfiou da democracia. Ou mais: lá bem no fundo tende a encarar de
baixa cerviz os autoritarismos; ou então gosta daquilo de que tem medo. E a
questão foi saber em qual dos autoritarismos acreditar, posto que, assim de
raspão, se conhecem dois principais, que são os ditos de esquerda e os ditos de
direita. E quando o sentido dessas designações vai faltando está lançada a
confusão nos espíritos e qualquer autoritarismo serve, mesmo quando encapotado
por uma democracia formal.
Isto porque 50 milhões de brasileiros estão prontos a votar livremente
um presidente que se apresenta autoritário e de discurso fascizante.
A democracia formal, liberal, parlamentar, representativa está
doente. Está de rastos. A dona Le Pen lá vai indo na cultíssima França. A Forza
Italia e os fascistas da Lega Nord de vento em pôpa se alçapremaram ao poder.
Na Espanha temos a encher pavilhões o Vox. Os supremacistas brancos da América de Trump estão como querem. E
agora o Brasil. E por via das urnas. Como Hitler em 33.
Se a democracia formal, parlamentar, está doente e não pode
resolver os problemas concretos que não passem pelas burocracias partidárias e
judiciais, logo o imaginário popular clama por autoridade – ou autoritarismo,
que é o último recurso da autoridade – e por métodos de que a democracia não pode
lançar mão.
Com a epidémica, generalizada e colossal corrupção na classe
política, e com um ex-presidente de cana por causa disso, o pessoal brasileiro
já não sabe para que lado se virar, e sendo que aquilo no Brasil também já não
é democracia que se veja.
Mas o que vai acontecer ou não durante o mandato do novo
presidente (fascista, racista, machista, homofóbico, e sei lá que mais –
alegadamente – de repulsivo e incorrecto); ou se o eleito vai ou não cumprir à
risca tudo o que ameaçou fazer; ou se o eleito vai ou não conseguir alianças no
Congresso ou no Senado, pouco importa. O que importa é a disposição íntima do
eleitorado brasileiro, fustigado pelo ambiente geral de rapina, provavelmente
assustado com a extrema violência campeante. Um eleitorado indefeso perante propostas
que lhe sugiram uma diferença, uma mudança. Qualquer que ela seja.