domingo, 28 de outubro de 2018


                          AFINAL O HITLER SEMPRE FUGIU
                       PARA A AMÉRICA LATINA?

 


Não me digam!
Mas também temos que chegar à conclusão de que a democracia nunca foi um sistema popular, e porque os ditos populistas que apelam ao voto popular trazem sempre no ventre um projecto autoritário.
A democracia foi um sistema imposto pelas elites políticas e intelectuais numa base de racionalidade e equitatividade, e que teve sucesso quando o capital finalmente compreendeu que com boas estratégias publicitárias e empresariais o nível de exploração do trabalho podia ultrapassar os níveis conseguidos pelas ditaduras.
 
 
Mas o pagode que não pensa, que não lê, sempre, lá bem no fundo, desconfiou da democracia. Ou mais: lá bem no fundo tende a encarar de baixa cerviz os autoritarismos; ou então gosta daquilo de que tem medo. E a questão foi saber em qual dos autoritarismos acreditar, posto que, assim de raspão, se conhecem dois principais, que são os ditos de esquerda e os ditos de direita. E quando o sentido dessas designações vai faltando está lançada a confusão nos espíritos e qualquer autoritarismo serve, mesmo quando encapotado por uma democracia formal.
Isto porque 50 milhões de brasileiros estão prontos a votar livremente um presidente que se apresenta autoritário e de discurso fascizante.
A democracia formal, liberal, parlamentar, representativa está doente. Está de rastos. A dona Le Pen lá vai indo na cultíssima França. A Forza Italia e os fascistas da Lega Nord de vento em pôpa se alçapremaram ao poder. Na Espanha temos a encher pavilhões o Vox. Os supremacistas brancos  da América de Trump estão como querem. E agora o Brasil. E por via das urnas. Como Hitler em 33.
 
 
Se a democracia formal, parlamentar, está doente e não pode resolver os problemas concretos que não passem pelas burocracias partidárias e judiciais, logo o imaginário popular clama por autoridade – ou autoritarismo, que é o último recurso da autoridade – e por métodos de que a democracia não pode lançar mão.
Com a epidémica, generalizada e colossal corrupção na classe política, e com um ex-presidente de cana por causa disso, o pessoal brasileiro já não sabe para que lado se virar, e sendo que aquilo no Brasil também já não é democracia que se veja.
 
 
Mas o que vai acontecer ou não durante o mandato do novo presidente (fascista, racista, machista, homofóbico, e sei lá que mais – alegadamente – de repulsivo e incorrecto); ou se o eleito vai ou não cumprir à risca tudo o que ameaçou fazer; ou se o eleito vai ou não conseguir alianças no Congresso ou no Senado, pouco importa. O que importa é a disposição íntima do eleitorado brasileiro, fustigado pelo ambiente geral de rapina, provavelmente assustado com a extrema violência campeante. Um eleitorado indefeso perante propostas que lhe sugiram uma diferença, uma mudança. Qualquer que ela seja.