ROBERTO ROSSELLINI,
OU A MORAL DA TERNURA
Sim, claro. Até aos cabelos de cavacos, portas e
coelhos. Um pouco de ternura, vamos lá. E um pouco de cultura, também – o que é capaz de
ir dar no mesmo.
Bom, foi uma entrevista cheia de tópicos morais a que
Roberto Rosselllini deu há uns poucos de anos aos Cahiers du Cinéma, então representado por Erich Rohmer.
Certamente que Roberto Rossellini é hoje – como tantos
outros grandes do passado - um artista esquecido do grande público. Por acaso, devo confessar, nunca foi cineasta da minha especial predilecção, mas foi sem dúvida um dos
grandes do cinema italiano do pós-guerra, e para alguns mesmo o criador do
neo-realismo.
Neo realismo?, pergunta ele. É
preciso saber o que se entende por essa palavra.
O neo-realismo, quer no cinema quer nas letras, não
foi uma designação que merecesse consensos largos. Podiam também chamar-lhe
realismo crítico, realismo socialista, ou talvez mais uma ou outra expressão, e
iria sempre bater à mesma porta, quer dizer, a uma estética específica determinada
pelo pós-segunda guerra e por todos os seus problemas sociais e políticos, uma
estética que sobrelevava o realismo tout
court ou o naturalismo. Não se tratava simplesmente de contar histórias
desgraçadas de gente desgraçada, de misérias e de miseráveis. Para se ser
neo-realista de boa escola era necessário adoptar narrativamente um ponto de
vista, o ponto de vista da esperança, a esperança de que as desigualdades
sociais, a pobreza, a fome, não aconteciam porque sim e de que não havia
solução para elas porque sempre teriam de existir num mundo onde sempre
existiriam ricos e pobres.
A esperança.
Mas esperança em quê?
Claro. A esperança num sistema político-ideológico que
amaciaria as diferenças de classe através de uma mais justa distribuição das
riquezas nacionais.
Pois é. Já lá vão décadas, mas, socialmente, pouco se
saiu desta encruzilhada. Esteticamente sim, saiu-se. O neo-realismo ou tomou
outros nomes, ou ficou simplesmente fora de moda, porque os públicos começaram
a viver melhorzinho e não havia mais paciência para ir ao cinema ver desgraças,
ouvir choradinhos e só ter esperança. Com o tempo passou a aspirar-se às
certezas.
É uma entrevista de 1963. Ui! Onde é que isso já vai!
A quem é que essas coisas podem interessar hoje por hoje? Nunca se sabe. Os
pontos de vista antigos podem guardar ainda uma autenticidade e um valor
inesperados, além do sabor que possam ter, e o neo-realismo, para Rossellini,
era, evidentemente, uma atitude moral anterior a uma posição estética.
Filmes de Rossellini (para quem possa não estar dentro
do assunto): Roma Cidade Aberta – o
mais celebrizado; Alemanha Ano Zero,
Europa 51, S. Francisco de Assis, Stromboli, Paisà, Joana D’Arc na Fogueira,
Viagem em Itália, O General Della Rovere, Era Noite em Roma, A Tomada do Poder
por Luis XIV. E mais umas dezenas
deles.
Não sou um
pessimista – diz ele. - Quanto a mim, ver também o mal é uma
forma de optimismo. Sou um pai de família, logo, a vida de todos os dias tem de
me interessar. Censuraram-me por não ter apresentado uma solução, mas isso é um
sinal de humildade. Se fosse capaz de encontrar uma solução para os problemas
que pus em cinema, claro, não teria feito filmes, teria feito outra coisa…
Houve, na crítica, a certa altura, alguma hostilidade
contra Rossellini. Ele diz que tal se deve a ter posto em cinema assuntos em
que o cinema não tocava, ou então porque utilizava um estilo que os críticos
consideravam pouco cinematográfico.
Rossellini era um cineasta católico. Abordou temas
católicos. Os críticos incomodaram-se por ver um cineasta expôr tão abertamente
o seu catolicismo. Os próprios católicos foram contra…
Rossellini a falar:
- Há um camponês
que vai para o trabalho com o filho de dois anos e um cão, que se chamava
Bonino. O homem deixa a criança e o cão debaixo de um carvalho e vai à sua
lida. Quando volta encontra a criança degolada, com marcas de dentes na
garganta. Na sua dor de pai, mata o cão, e no momento seguinte avista uma grande
serpente. E compreende o seu erro. Consciente da injustiça, enterra cão entre uns rochedos próximos e grava na
pedra uma inscrição: aqui jaz Bonino a quem a ferocidade dos homens matou. E decorreram vários séculos. Uma estrada
foi aberta junto do túmulo. Os viajantes que passavam pela estrada, descansavam
junto do carvalho e liam a inscrição. Um dia, alguns puseram-se a rezar, a
pedir a intercessão do infeliz ali sepultado, morto pela ferocidade dos homens.
E vieram milagres. E as pessoas da região construíram uma bela igreja e um
túmulo condigno de forma a transferirem para lá o corpo desse Bonino. Só então
se deram conta de que se tratava de um cão.
É evidente (falo eu) que a hierarquia da igreja não
podia admitir um filme que contava uma história destas. Mas Rossellini teve
também dificuldades a nível de público.
Sempre que faço
uma projecção particular dos meus filmes para uma pequena audiência de 20 ou 30
pessoas, essas pessoas saem perturbadas, desfeitas em lágrimas… as mesmas
pessoas vão ver o filme ao cinema e odeiam-no. Isso aconteceu-me mil vezes.
Dizem-lhe “senhor Rossellini, esperamos de si um
grande filme. Mas não mostre coisas tão horríveis. Faça um filme longo e belo”.
A luta política
tornou-se tão febril que as pessoas já não julgam livremente - comenta
ele. As pessoas não reagem senão às suas
próprias ideias políticas. O mundo está à beira de uma grande transformação…
E estava. Uma entrevista de 1963, como digo. Mal sabia
Rossellini a transformação que vinha por aí.
Cineasta cristão. Cineasta católico. A força que
Rossellini encontrava no cristianismo era a força de uma liberdade absoluta.
(Não percebo como e onde, mas está bem.) Lá entendia ele que os homens
pretendiam ser livres de acreditar numa verdade que lhes era imposta. Nenhum
homem teria coragem para procurar a sua própria verdade. E Rossellini achava
tal coisa um paradoxo. O Homem faz seja o que for para acreditar na verdade que
lhe é imposta, mas não mexe uma palha para descobrir por si essa verdade.
Outro caso da vida real contado por Rossellini: durante a guerra, um mercador da Piazza
Venezia vendia panos no mercado negro. Um dia, quando a mulher aviava uma
cliente, ele chega-se e diz à cliente: minha senhora ofereço-lhe este
tecido, não quero participar num crime, a guerra já é uma coisa horrível. Assim que a cliente saíu, o homem e a mulher
discutiram e a mulher passou a fazer-lhe a vida negra em casa. O problema moral
subsistia. A mulher continuava a vender no mercado negro, isto é, a praticar crimes
contra a moral do marido. E o marido não faz mais nada: vai denunciar-se à
polícia: fiz este e este e aquele crime de mercado negro, preciso de me
libertar destas coisas. A polícia ouviu-o
e mandou-o para um hospital psiquiátrico. O psiquiatra que examinou o homem
era conhecido de Rossellini. E é ele que lhe conta esta história. Depois de
examinar o homem, o psiquiatra confessa a Rossellini: apercebi-me de que aquele homem tinha somente um problema moral. Mas eu
tinha de o julgar como cientista, não como homem. Como cientista só tenho que
ver se este homem se comporta como a média dos homens, e por isso tive que o
internar no hospital dos loucos.
Rossellini discutiu muito com aquele médico. E aquele
médico o que dizia era da sua obrigação de dissociar nele o ser humano do
cientista. Assim: a ciência tem os seus
limites; a ciência calcula, mede, vê e regula-se com base no que conhece, e é
preciso que esqueça tudo quanto está fora dos seus limites.
O grande dramaturgo napolitano Edoardo De Filippo
conta a Rossellini este outro caso magnífico. Estava a escrever a sua peça Nápoles Milionária e passeava pelas ruas
da sua cidade para se inspirar e documentar. Vem a saber de uma família
napolitana que expunha em casa uma criança negra nascida de um casal branco.
Era um espectáculo. O marido estava à porta e cobrava 5 liras. Entrava-se,
via-se a mulher com o filho pretinho nos braços. De Filippo viu o espectáculo,
saíu e foi ter com o marido: “ouve lá ó meu grandessíssimo tratante, tu não
tens vergonha de, por 5 liras, mostrar a toda a cidade que és corno com o
preto?” O marido chama De Filippo de parte e diz-lhe: “Don Edoardo, fica aqui
entre nós… nós lavamos a criança à noite.”
Se a lógica na Nápoles do pós-guerra era a corrupção,
o comportamento normal, dentro da média, seria a corrupção. Uma família
paupérrima tinha de continuar a viver. E para continuar a viver teria de se
actualizar.
A Nápoles do pós-guerra. Um mundo fascinante, belo,
pobre, perverso, imoral, que o cinema italiano, nomeadamente através de De Sica
e de Rossellini, não deixou de explorar artisticamente.
Numa certa cave habitava uma família de 16 pessoas.
Crianças e adolescentes eram 14. O mais pequeno tinha três anos.O mais velhinho
tinha 18. Todos faziam mercado negro. Todos andavam com as algibeiras cheias de
dinheiro. E o que, além de comida, compravam eles com todo esse dinheiro?
Roupas, fatos? Não. Sapatos? Não. Compravam caixões enfeitados com bonitas
fitas de prata.
Qual era o sentido
daquilo?, pergunta
Rossellini.
O sentido era uma gente que vivia vidas sub-humanas,
que tinha como certeza mais próxima uma morte pelo bombardeamento ou pela fome
e que, comprando uma bela urna, se apresentaria em breve muito mais dignamente
perante Deus.
E Rossellini pergunta: isto era paganismo? E dá a resposta: não era de modo nenhum paganismo; tinha um sentido infinitamente mais
profundo.
É preciso ver que Nápoles é a única cidade do mundo em
que há um milagre com data fixa. O milagre de San Gennaro. A 19 de Setembro. E
se a 19 de Setembro, diz Rossellini, San Gennaro não fizer um milagre, o povo
vai á igreja descompô-lo.
Roberto Rossellini protagonizou uma situação pessoal
escandalosa para a época. Sendo casado, apaixonou-se por uma célebre actriz
sueca, também casada, e ela por ele, claro, Ingrid Bergman. Acabaram por se
casar e ter filhas, uma delas a hoje famosa Isabella Rossellini. E Ingrid
Bergman, à medida que ia vivendo em Itália e aprendendo o italiano, fazia notar
ao marido “tem graça que vocês, italianos, dizem que tudo é bonito ou feio, bello ou brutto. Nunca dizem se é bom ou mau.” Rossellini confirma. Dizemos um belo prato de spaghetti e não um
bom prato; um belo carro e não um bom carro. E se é assim na linguagem, assim
fatalmente será na concepção da vida.
Naquele modo de falar Rossellini dizia espelhar-se
toda a Itália.
A certa altura da História do cinema, pôs-se a questão
estético-moral do cinema-verdade, do cinéma-verité.
Filmar a vida não trabalhando esteticamente o resultado, não o manipulando
tecnicamente com montagens para alindar a realidade e fazer desaparecer tempos
mortos. (Enfim, seria isso e mais alguma coisa que agora não me ocorre.) O que
é preciso dizer é que os defensores desse cinema reivindicavam para si uma
verdadeira posição moral. E como Rossellini fazia o oposto e se reclamava do
mesmo, de uma posição moral, Erich Rohmer, na qualidade de entrevistador dos Cahiers pergunta-lhe a que chamava ele
afinal de posição moral. Pois bem, era uma posição de amor. Amor, tolerância, compreensão. Logo,
participação.
Desde que os homens do cinema-verdade filmavam e
afastavam da obrigação deles um juízo sobre o filmado, uma participação, uma
simpatia, uma tolerância, e diziam “sejam as coisas tal como são, estamo-nos
nas tintas”, deixariam, segundo Rossellini, de ter uma atitude moral e passavam
a ter uma atitude cínica.
Não acredito num
facto artístico acabado se não houver ternura. Podemos tratá-lo de uma maneira
muito cruel até. A ternura é a verdadeira posição moral. Não sei reconhecer
como forma artística alguma coisa que não comporte ternura. Podemos
ridicularizar alguém e ao mesmo tempo sentir ternura.
E numa obra do cinema-verdade não havia ternura. Era o
acaso das imagens que conduzia tudo.
Acredito que a
crueldade é sempre uma manifestação de infantilismo. Sempre. A arte de hoje
torna-se de dia para dia mais infantil. Cada um tem o seu desejo louco de ser o
mais infantil possível. Não estou a dizer ingénuo, notem bem. Estou a dizer
infantil. E por causa do infantilismo caímos no mais baixo da escala humana.
Passámos ao macaco antropomórfico. Em breve estaremos na rã e na enguia. É isso
que me irrita. É essa falta de pudor.
Mal sabia Rossellini para que pontos de infantilismo e
macaquice antropomórfica estaria guardada a arte e a cultura dos anos 2000…
Mas continua Rossellini, quanto à questão do
infantilismo: chegámos à vaidade total,
ao doentio. E isso num mundo que se torna todos os dias mais sério, mais
complexo.
Pois por isso mesmo – palavras minhas agora; opinião
barata, agora, a minha -, porque o mundo se torna mais complexo, se estarão a
tornar mais prementes a ignorância e a incompreensão humanas, a perplexidade, a
angústia perante o complexo da vida, da vida quotidiana, diria. O ir para a
universidade, o tirar licenciaturas, o fazer mestrados, e chegar ao mundo do trabalho e não ter
emprego, e viver doutor e mestre longos dias sem conseguir assegurar a digna
subsistência, sim. Apenas um exemplo entre mil de complexidade, de perplexidade
humana. Recurso? Talvez o infantillismo da heroína e do ecstasy, do cultivo doentio do protagonismo e da auto-estima
imbecil, que produzem efeitos enganosos de plenitude e felicidade no meio do
real alucinante; talvez as bebedeiras de fim de semana, ou as corridas a 300 à
hora, ou a condução em sentido contrário numa auto-estrada,a infantilidade, a
perplexidade, a loucura. Talvez o êxtase. Disse.
E agora diz Rossellini: Visto que este mundo é feito pelos homens, tenho de o aceitar sempre,
apesar das queixas do género… caminhamos para a destruição total, para a
tragédia nuclear, etc…. hoje a arte ou é queixa ou é crueldade.
Era. Digo eu. Talvez em 1963. Queixa ou crueldade.
Era. Hoje, a arte feita hoje, talvez seja mais exactamente infantilismo,
irresponsabilidade, culto do feio, auto-indulgência. O mundo é feito pelos homens, diz ele, tenho de o aceitar sempre…
Nas problemáticas artísticas, literárias, cinematográficas
ou filosóficas daqueles inícios dos anos 60, havia a alienação e a
incomunicação (ou incomunicabilidade). Rossellini não achava nesses termos nem
na maneira como eram tratados restea alguma daquela ternura que postulava como
atitude moral. Só via nisso complacência.
Hoje sentimo-nos
na vanguarda, a partir do momento em que nos queixamos. Mas queixar-se não é
criticar. E criticar já é uma posição moral.
Estou-me nas
tintas para o facto de fazer arte. Isso quer dizer renunciar a muito. É uma
posição moral – e, se me permitem empregar esta palavra – uma posição heróica.
O que todo o homem instintivamente procura é tornar-se ilustre. Eu procuro não
tornar-me ilustre, mas tornar-me útil.
Pergunta o entrevistador: em geral, os artistas dos
quais faz parte conceberam o seu dever de uma maneira diferente; para eles a
arte não tem qualquer utilidade imediata, prática. Resposta: para que uma arte se torne uma arte importa
que possua uma linguagem, que exprima coisas que sejam compreensíveis à média
dos indivíduos. Sem isso torna-se uma abstracção. Não estou a dizer, cuidado
com os mal entendidos, que para tanto seja preciso fazer filmes comerciais…
Pois não. Não se tratava de transformar a arte.
Tratava-se de reencontrar a arte. E para reencontrar uma arte que se tinha
corrompido e volatilizado na abstracção, que fizera perder o hábito e o gosto
da linguagem, Rossellini entendia que era preciso restabelecer precisamente a
linguagem, que cada palavra tornasse a encontrar a sua significação e o seu
valor e fosse o fruto de um pensamento profundo.
Mas você não pensa que a evolução da arte é
irreversível?
Julgam que no
mundo não houve períodos de obscuridade e de desmoronamento de civilizações? É
um facto histórico. Sempre se deu. E se há desmoronamento de uma civilização,
há desmoronamento da arte, da linguagem.
Palavras actuais as de Rossellini, na minha maneira de
ver. Sim, nós, cidadãos banais, todavia ainda de alguma memória, conhecemos
esse desmoronar da linguagem na nossa vida de todos os dias, e sobretudo no
nosso fadário televisivo de todas as noites. Não é preciso mais para me
aperceber do grau de desmoronamento e transformação civilizacional que estou a viver.
Uma civilização
traz sempre como fruto a sua arte – diz
Rossellini. - As obras dos poetas tinham
um papel mínimo no interior das civilizações que eles mesmos tornaram ilustres.
Quando uma civilização já não existe, ou quando está em crise, a arte morre ao
mesmo tempo. Ou mesmo antes.
Então… o que será preciso fazer?
Para existir, uma
civilização precisa de arte. E para existir, a
arte precisa de ideias claras. Olhamos com desprezo esse mundo da
técnica, da ciência, e pensamos que é algo de funesto que traz a ruína ao mundo
inteiro. Mas que esforço fazemos para compreender, do ponto de vista moral,
esse fenómeno, que mesmo assim ainda pertence ao nosso tempo, à nossa
civilização?
Para ele seria
imperioso penetrar e participar no fenómeno científico e tecnológico e
encontrar nele as fontes de emoção necessárias à criação de uma arte.
Se o artista não
for o fecundador das coisas, falta ao seu dever.
Aponta o Renascimento, nascido no momento em que os
artistas tomavam consciência do transcendente passo que a Humanidade dera no
domínio da técnica e da ciência. E que fizeram? Tornaram-se sábios. Ficaram com
uma preparação científica, mas fortemente ligados à sua natureza. O entusiasmo
era factor importantíssimo, também. E
deram-nos obras primas - conclui.
O Renascimento foi um facto imenso na História do
Homem. A razão? Os artistas souberam
mergulhar numa realidade científica, apropriaram-se dela, repensaram-na, e
elevaram-na à posição de arte superior.
A arte era para ele a própria vida. Uma maneira de
perpetuar a vida e dar uma razão às coisas, exaltando o entusiasmo,provocando
emoções.
Quando uma arte se
compraz em matar as emoções, em privar de vida o que é vital, já não é uma
arte.
A função do artista: vencer as coisas, encontrar uma
nova linguagem.
Se um fenómeno
humano existe, e se o olharmos com ternura, é impossível não descobrir nele
alguma coisa de vital. Pelo simples facto de ser humano já é vital.
Outra fala de Rossellini: no ano passado, em Spoleto, fiz uma encenação teatral. Precisava de
três minutos de música. Na véspera do ensaio geral ainda não a tinha. Então,
pus-me diante de um gravador e com um garfo fiz pan-pan, com um piano fiz
pim-pim, mandei vir um tipo com um violino e ele fez dzin-dzin. Assim gravei os
meus três minutos de música e as pessoas levaram-nos muito a sério. Pus no
cartaz: Música de Jean Pach.
É inacreditável
que se possam fazer falcatruas desta maneira,
remata Rossellini.
Já em Fevereiro deste ano ouvi este episódio incluído no ciclo cinematográfico com que ao tempo nos brindou (em 2008?...) na Antena2.
ResponderEliminarParabéns pela deliciosa síntese da ternura culta ou da terna cultura extrapolada de Rossellini.