O GARANTE?
Bem,
da democracia portuguesa talvez não haja muito mais de interessante a saber
para além de saber quem paga as campanhas eleitorais. É aí que reside o poder
efectivo.
Quem paga as
campanhas eleitorais às forças partidárias (as quais, por uma questão de boa
educação, não podem ir contra os interesses de quem lhes dá o rico dinheirinho
para sobreviver), está bem, mas também importaria saber quem compra o árbitro.
A vida não se
resume ao futebol, amigos, nem ao Pinto da Costa, nem ao lampião do Vieira.
Fora do futebol também há quem compre os árbitros.
O árbitro da vida
institucional é o garante! Quem paga a campanha eleitoral desse, sim, desse, do
garante, o P.R., que não arrebanha militantes ajuramentados nem recebe dinheiro
de quotas mensais. Quem lhe paga o luxo dispendiosíssimo de uma campanha
eleitoral com todos os matadores?
O garante? O
garante de quê? O que é que ele garante a não ser o curso sossegado da própria
vidinha?
E o garante, e por
ser isso mesmo, é o árbitro, é a última instância moral supostamente acima dos
partidos-clubes.
E eu acredito até nisso, que ele esteja acima dos partidos-clubes, não pode
é estar acima dele próprio e dos seus interesses, nem dos interesse de quem lhe
pagou para garantir. Garantir o quê? A Constituição? Sim, até pode ser. Mas
antes disso há que garantir a prossecução dos interesses de quem lhas pagou, a elas, às campanhas eleitorais.
A ele e só a ele cabe
pôr e dispôr, dar e tirar, vontade soberana e última nos negócios da pólis.
Será que ele é
homem suficientemente macho para destratar os benfeitores que lhe garantiram
ser o garante?
Será que ele é
homem suficientemente macho para mandar vender chuchas àqueles que lhe
arranjaram quem lhe arranjasse o dinheiro para a campanha eleitoral?
Será que ele é
homem suficientemente macho para desatender aos negócios de quem lhe pagou as
almoçaradas da caríssima campanha eleitoral e para se pôr a pensar na vida dos
descamisados que não almoçam e aos quais não deve um tusto?
Dir-me-ão: ai deve,
deve. Foram esses que votaram nele. Pois votaram. E porquê? Porque a tal foram
induzidos pela campanha eleitoral. E quem pagou essa campanha?
É complicado, não?
Pois é. Mas o verdadeiro poder político já não existe. Ou existe um poder
económico-financeiro travestido de poder político, só porque pode comprar o
árbitro do jogo político.
E o verdadeiro poder
político em democracia (parlamentar, representativa, etc.) está nas mãos dos
que pagam a campanha do garante da Constituição – uma abstracção como outra
qualquer, essa, que dá para isto e para aquilo e para o seu contrário, já se percebeu.
E garantida pelo garante que deve incomensuráveis favores a alguém, é certo,
não se sabe é a quem, só se sabe que não é pessoal de pé descalço.
Ou mais: o verdadeiro
poder em democracia está nas mãos dos que compraram o árbitro da mesma
democracia, sim senhor, e mais dos que puseram o candidato a garante-árbitro em
contacto com os que dariam o dinheirinho vivo para a campanha que levaria o garante-árbitro
a garantir e a arbitrar.
A garantir o quê?
Que o chamado status quo não deixasse
de ser aquilo que sempre foi, porque aquilo que sempre foi é bom e garante
certas e valiosíssimas coisas aos garantes.
Cá para mim, o delito maior dos garantes e dos
indispensáveis à democracia que são os partidos é roubarem-nos a cada dia que
passa mais um niquinho daquela esperança que alguns dizem que nunca morre, mas
que, pelo contrário, por força dos garantes e dos indispensáveis, vai morrendo
aos poucos dentro de nós a cada dia que passa.
Reaccionário, eu?
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