quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013







                                O PAPA?

       E que me importa a mim do papa?
    O que me rala verdadeiramente a mim (que não sou católico, que sou agnóstico tendência ateu, mas que, bolas!, também tenho uma alma imortal, perdida, seja, mas alma quand même) é  a constante dessacralização da vida em favor do que chamaram de correcção política, ou correcção dos costumes.
     Hipocrisia por hipocrisia prefiro aquela que tem mais sumptuosas e seculares tradições.
       Que me importa a mim o papa?
    Pode, por mim, ser branco, preto, amarelo, italiano, alemão ou abexim. Que me importa isso?
      Importa que não havia saída para o Doutor Ratzinger nas vestes de Bento XVI, e sendo o ambiente vaticano aquilo que é hoje – e que talvez tenha sido sempre, mas só agora, por via da correcção, os sacros desvarios estão a vir à luz.
Não, não havia saída para o Doutor Ratzinger: ou morria de repente, como o seu falecido colega João Paulo I; ou resignava às boas, ainda que fosse esse o cenário menos comum e menos esperado de há seiscentos anos para cá.
Não sei se foi melhor assim se não foi. O que eu, alma extraviada mas alma, digo, é que este é mais um grande passo da iconoclastia, e dado pelos próprio ícones. Digo que a dessacralização da vida ganhou novos alentos com a resignação a que provavelmente obrigaram o Doutor Ratzinger enquanto beatíssimo padre, enquanto santidade, enquanto sucessor de Pedro, o popular pescador, enquanto infalível vigário de Cristo nesta desgraçada terra.
Até por aqui se vê como a marcha da dessacralização da vida é irreparável: o papa pode ser um homem como os outros, um Doutor Ratzinger, intelectual avelhentado.
E mais um valor sagrado da vida cai em fanicos.
Os valores ditos sagrados, indiscutíveis, porque sim, da vida de cada dia vão deixando de o ser: o emprego – e respectivo salário, que pode ser pago ou não pago de um dia para o outro; a casa onde vivemos a maior parte da nossa vida – e de onde podemos ser corridos de um dia para o outro; a boa educação que nos deram (e até a má) – que passou a ser vista como démodé, atitude fascista (no mínimo reaccionária); a família constituída – que se desfaz com facilidade; a mãe – que hoje se pode assassinar sem medo dos infernos, tal como o pai, tal como o próprio filho, e sem que o chão se abra aos pés do assassino; a mulher – em quem se pode bater, ou até matar, sem se ser fulminado por um raio vindo do Altíssimo; a vida privada – constantemente escrutinada pelos grandes irmãos omnipresentes, omniscientes; as dívidas – que se podem contraír, mesmo sabendo que nunca se poderão pagar; a palavra – que os ventos cada vez levam mais depressa para longe, muito longe…
E mais? Oh, sim, muito mais…
Se eu considerar como valor sagrado, e hoje banalizado, o sexo… será que me levam muito a mal?
E se eu disser o casamento? Também me levam a mal e me chamam fascista?
O papa? Que me importa a mim da cor do papa…





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