A NOSSA PESTE
E calhou que nos trancos e barrancos
de umas obras em casa, ponderando eu a remanescente validade de alguns papeis
velhos, dei com um número de uma grande revista das antigas, a Seara Nova, onde se transcrevia uma
carta de Wenceslau de Moraes ao seu amigo Lopes de Mendonça.
A carta é enviada de Kobe, Japão, onde Moraes
vivia, como se sabe, e tem data de Maio… de 1911.
A nossa tragédia de existir
como nação já era então evidente aos espíritos mais lúcidos. Diz assim a carta:
Mas
de todos os agonizantes é a nação portuguesa a que mais agoniza Porquê? Sejamos
francos: povo sem princípios honestos, formado pela aventura e continuando
sempre na aventura; muito arrojado, mas seguindo sempre uma moral de rapina; as
conquistas,os enormes lucros ganhos sem trabalho, depois as colónias. Tudo isto
tem sido a nossa peste. Ilustração nenhuma, cultura nenhuma, ideal nenhum, e
sobre isso a enormíssima pressão dissolvente do fanatismo religioso. Ajunte-se
a fatalidade do clima. Que pode fazer de bom uma nação que tem vivido nestas
circunstâncias? Nada.
todas na muche...
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