CARPE DIEM 6
Oh, pois, os antigos, mais conhecidos por
idosos, claro, vivem rodeados e influenciados pelas gerações do optimismo, vai
correr bem, caga nisso, vais ficar bom, tampões impregnados de bebida
introduzidos no ânus ou na vagina para acelerar o efeito do álcool (já ninguém
está interessado nas causas, já só se espera ansiosamente pelos efeitos), Portugal
é o país que mais, há que levantar a cabeça, sabes que isso pode potenciar quadros de
depressão?, deixá lá, tá-se bem, sabes que isso pode levar ao suicídio, deixa
lá, não há crise, a facilidade, saudinha é que é preciso, e mais as raparigas
do que os rapazes, diz que sim, a esperança é a última a morrer, a irresponsabilidade,
as pessoas querem lá saber disso!, a impunidade, que mania a tua de estares
sempre a armar ao dramático, tudo ao molho e fé em Deus. A festa! Já ninguém
pode viver sem a festa. Há palmas e risos ao mais pequeno pretexto, e silvos de
júbilo, e uaus!, e gritinhos pelos mais pueris dos motivos. Não é permitido
falar de dificuldades, de problemas, de dramas, de complexidades – quando as
coisas, muitas coisas, as vidas, a vida, estão cada dia mais difíceis, mais
dramáticas, mais problemáticas e mais complexas. Gerações impregnadas do álcool de uma opulência falsa; gerações impreparadas para o tempo sóbrio da dura realidade, diz-se.
E muitos culpam os pais. E muitos culpam o Sócrates. E muitos culpam os
sindicatos. E muitos culpam os comunistas. E muitos culpam o tempo do Cavaco. E
muitos culpam o 25 de Abril. E é: a culpa é do 25 de Abril e da vaga de
facilidades que se seguiu, ocupar casas, passar de ano administrativamente,
correr com os fascistas (nem todos, vamos lá, ou quase nenhum), sanear os
administradores, expulsar os patrões, desacatar os pais. Pois é. E se assim não acontecesse como era? O
25 de Abril revolucionário ia obrigar as pessoas a viver miseravelmente,
pobremente, remediadamente, porque o país não dava para mais, como no tempo do
Salazar? Então, onde estaria a razão de ser da chamada revolução do 25 de
Abril. O que seria se o 25 de Abril não começasse depressa a inventar a nossa felicidade/prosperidade?
Realmente Portugal é como um jogo de computador. Tudo virtual e com as opções viciadas. Um abraço.
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