JFK
A
conjunção entre um enorme efectivo
militar e uma enorme indústria de armamento é nova na experiência americana. A
sua influência económica, política e até moral é sentida por cada cidadão, em
cada estado, em cada departamento ou gabinete do governo federal. Devemos
proteger-nos contra as influências ilegais do complexo industrial-militar. Não
podemos deixar que o peso desta combinação ponha em causa as nossas liberdades
ou os processos democráticos -
discurso de despedida do general Eisenhower do cargo de presidente da República
dos Estados Unidos, em Janeiro de 61. E Eisenhower, refira-se, era insuspeito
na matéria. Por ser republicano de direita. E por ser general…
Toda a gente se lembra – e parece que há novos dados sobre o caso
que ainda não conheço - faz por estes dias, hoje, calha bem, 22 de Novembro,
anos, para aí cinquenta, não?, em que de seu o mais famoso assassinato da
História, o do presidente John Kennedy, acontecimento que marcou
incontornavelmente a moral política do mundo, uma moral que nunca mais foi o
que era. E era bom que se falasse disso, e até porque os contornos enigmáticos
de tal assassinato continuam – e continuarão, por mais dados novos que
apareçam, tenho a certeza - na obscuridade dos segredos de Estado.
A comissão oficial encarregada de investigar, presidida pelo
Procurador Geral, Earl Warren, conclui simplesmente que houve três disparos e
um único atirador, Lee Harvey Oswald, a partir do 6º andar de um armazém de
livros.
A comissão chamada Warren não admitiu a hipótese de conspiração e
proferiu o veridicto mais conveniente, quem sabe, à própria estabilidade
política da nação – porque às vezes me dá a ideia de que a estabilidade é um
dos maiores inimigos da democracia (tanto quanto a instabilidade, às vezes) e
porque em nome dela até é permitido atentar contra a democracia, ou seja,
contra a verdade. Ou até contra a própria realidade.
No assassinato de John Kennedy – estou a lembrar-se da ópera Der Freyschütz, de Weber – nem faltou
uma bala mágica. Que entra pelas costas do presidente num ângulo de 17º, faz
uma curva para cima e sai pela parte anterior do pescoço de Kennedy, pára, 1,6
segundos, talvez no ar, vira à direita, vira à esquerda, e de novo à direita, e
de novo à esquerda, entra sob a axila de Connally (governador do Texas, que
seguia no banco da frente), desce num ângulo de 27º, vai a uma costela do mesmo
Connally, sai-lhe pelo lado direito do tórax, vira à direita e volta ao corpo
de Connally, desta vez pelo pulso, saindo, voltando atrás, e morrendo na coxa
esquerda do governador.
Por fim, cai. A bala. E é encontrada - intacta! - numa maca do corredor do hospital.
Foi a bala mais mágica de
toda a história das armas de fogo.
Com a teoria da bala mágica, o relatório da Comissão Warren
concluiria ter havido um único atirador e três tiros, quando a hipótese mais
correcta seria a de quatro tiros e dois atiradores, mínimo.
E se a hipótese de um segundo atirador é válida, juridicamente
está-se perante uma conspiração. Ou aliás, duas. Uma para acabar com o presidente,
totalmente coroada de êxito; e outra
para encobrir a primeira, e esta sem ter tido um grande êxito.
Mas eram coisas que não convinha nada esclarecer.
Mas alguém filmou parte substancial do atentado. Um tal Abraham
Zapruder. Um homem normal. Um homem comum. Que tinha uma máquina de filmar e
foi ver passar o presidente, que estava de visita à sua cidade, Dallas.
O homem vê o carro presidencial aproximar-se da objectiva e vê explodir
a cabeça de Kennedy.
51 testemunhas afirmam ter ouvido disparos vindos de uma vedação na
pequena colina relvada sobranceira, à frente e à direita do automóvel, no
exacto momento dos disparos.
26 médicos do Parkland Hospital observaram a cabeça de Kennedy com
a parte de trás rebentada para fora. Uma abertura de 7 cm. no lado direito da
área occipito-parietal. Grande parte do cérebro de Kennedy tinha desaparecido.
Um quarto da parte posterior da cabeça e do respectivo tecido cerebral
rebentou. Um bocado do crâneo ficou pendurado pelo couro cabeludo. A abertura
da saída da bala tinha um diâmetro de 120 mm. Os médicos civis que examinaram o
cadáver sustentaram que o ferimento na garganta de Kennedy era devido à entrada
de um projéctil.
O corpo foi ilegalmente levado para Washington para ser autopsiado.
E quando se trata de uma questão de Estado – um golpe de Estado, por exemplo -
, uma coisa é a autópsia feita por médicos civis e outra é ela ser feita por
médicos militares, que, muito normalmente (tal qual Adolph Eichmann), obedecem
a ordens e ponto final.
Segundo um estudioso deste caso, o corpo de Kennedy era a melhor
prova do que pudesse ter acontecido. Mas o corpo de Kennedy é evidentemente
manipulado durante o tempo que medeou entre os disparos e a hora da autópsia,
nessa mesma noite.
O avião presidencial sai de Dallas com o acabadinho de empossar
presidente Lyndon Johnson, e, sem ter havido ainda a mínima investigação, os
passageiros do avião presidencial são informados de que o assassino é um tipo
solitário, um louco carente de afectos que procurava a notoriedade.
Pela autópsia dos médicos da Marinha era possível afirmar que oito
ferimentos haviam sido provocados por apenas duas balas, três no presidente,
cinco no governador Connally, e nessas duas balas se incluía forçosamente a dita
bala mágica.
Mas a autópsia militar não foi satisfatoriamente concluída e partes
essenciais do corpo por onde tinham transitado as balas não foram dissecadas.
Alguém de autoridade disse que ficava assim. Que bastava. Havia generais e
almirantes a dirigir os patologistas e outra pessoa de autoridade terá dito que
seria aconselhável aquele caso não ser discutido fora da sala de autópsias.
O patologista chefe não faz mais nada e queima os apontamentos que
tirara. A razão de Estado! A razão de Estado!
Johnson, o novo presidente, ordena que a limousine presidencial banhada em sangue, cheia de buracos de bala
e outras pistas fosse lavada e mandada consertar imediatamente.
O fato do governador Connally é mandado para a lavandaria -
ordens do presidente.
O Departamento de Justiça proíbe o acesso às fotografias da
autópsia.
O que restava do cérebro de Kennedy, quando foi requerido por Jim
Garrison para um novo exame, tinha desaparecido.
Momentos antes do atentado, alguém dos que esperavam para ver
passar o presidente tem um ataque epiléptico providencial. Para quê? Para
distrair a polícia. E eventualmente para que os atiradores se coloquem no
terreno.
Mas o homem epiléptico desapareceu até hoje e não houve registo da
entrada dele no hospital de Dallas.
Conjecturas. Por exemplo, o prédio do depósito de livros de onde
alegadamente Lee Oswald disparou, sozinho, estava em obras no pavimento, o que
facilitava entradas e saídas de desconhecidos. Uma primeira equipa de
atiradores pode ter subido ao 6º andar e ter tomado sossegadamente as suas posições.
Prepara-se a emboscada e, como bem sabe quem esteve numa guerra,
antes de mais há que definir a zona de morte.
Uma segunda equipa, possivelmente, como as outras, coordenada por
rádio e por alguém em posição para ter uma visão privilegiada sobre a área de
fogo, pode ter tomado posições num andar baixo de um edifício designado por
Dal-Tex.
Um terceiro grupo de atiradores pode ter sido posto atrás da
vedação da pequena colina já antes mencionada.
A triangulação de tiro está assim disposta. Alguém com credenciais
dos serviços secretos e de segurança afasta os populares que estão na zona da
tal pequena colina relvada.
Até podiam ter alvejado Kennedy na Houston Street. Mas esperam que
o carro dê a curva, de modo a ficar enfiado nas linhas de tiro dos três grupos.
Elm Street. (Qualquer dia tenho que ir a Dallas.)
O automóvel abranda. Vai a 18 km/hora quando entra na zona de
morte. Espera-se a ordem pelo rádio.
O primeiro tiro. Confunde-se com um rater do escape de um carro.
Esse primeiro tiro falha.
Kennedy, que vai a acenar à multidão, suspende o gesto. Ouviu
qualquer coisa. Connally, no banco da frente vira-se para a direita.
Segundo tiro. Kennedy é atingido na garganta pela frente. Leva as
mãos ao pescoço.
Terceiro tiro: Kennedy é apanhado pelas costas e o corpo flecte
para a frente. Connally ainda não foi atingido.
O quarto tiro. Falha o presidente. Apanha Connally pelas costas.
Connally grita: “Vão matar-nos a todos!”
Outro tiro vai atingir de raspão alguém entre o público.
Sexto tiro. Kennedy é atingido de frente, da cabeça solta-se-lhe
uma massa de sangue amarelada. O corpo é impulsionado para trás e para a
esquerda. É o tiro fatal. Impossível para uma bala que fosse disparada do 6º
andar do armazém de livros.
Tudo se passou em segundos. Seguiu-se a gritaria, o caos geral.
Obviamente.
Os atiradores desmontam rapidamente as armas e desaparecem. Apenas
uma arma não é desmontada: aquela cuja posse é atribuída a Oswald.
A polícia prende 12 pessoas. Não ficou registo de tais prisões.
Onde estava e o que fazia a essa hora Lee Harvey Oswald?
Ao meio dia e um quarto, Oswald estava no refeitório do 2º andar do
edifício do depósito dos livros. Sozinho.
Mas Lee Oswald era um estranho homem. Devia trabalhar para a CIA –
poucas ou nenhumas dúvidas restam sobre isso. Tinha estado nos fuzileiros, onde
aprendera russo, calcule-se, russo!, aprendido na marinha americana por um
vulgar soldadeco, em tempos da mais acirrada guerra fria e sem ninguém lhe ter
perguntado nada.
Mas mais do que isso. Um belo dia deserta para a União Soviética.
Trabalha com os russos em radares – quer dizer, aparentemente traiu a sua
pátria. E está na União Soviética quando é abatido o famoso avião espião U2. E
depois disso regressa aos EUA, trazendo consigo uma mulher, russa. E ninguém o
chateia. É visto no verão desse mesmo ano de 63 em New Orleans a distribuir
propaganda comunista.
E por acaso calhou bem: o memorandum secreto acerca das actividades
de Oswald foi destruído por acidente ao ser fotocopiado.
Mas naquele dia 22 de Novembro de 1963… por volta do meio dia e
meia hora, está sozinho a beber uma Coca
Cola no refeitório; poderia aguardar uma chamada, um sinal de alguém. E
parece que é nessa altura, mais coisa menos coisa, no refeitório, a beber a Coca
Cola, que recebe a notícia de que acabam de alvejar o presidente Kennedy.
Três tiros em 5,6 segundos com uma semi-automática Carcano, do mais barato que se podia
arranjar no mercado – $12,88 -, com balas em desuso desde 1947 e ainda por cima
com a mira telescópica desalinhada: é a façanha que a oficial Comissão Warren
atribui a Oswald.
(Uma centena de atiradores especiais do melhor que havia no FBI,
com aquela mesma arma, naquele estreitíssumo período de tempo, tentaram mais
tarde reproduzir a proeza de Oswald, que não passava de um atirador
medianíssimo. Nenhum deles conseguiu.)
Mas os três cartuchos, muito certinhos, lá estavam.
Oswald, para além de dar os seus três tiros certeiros em 5,6
segundos, teria tido tempo para limpar as impressões digitais da arma e ir
escondê-la no outro lado do armazém.
Teria tido tempo para descer cinco lanços de escada a correr,
passando por duas testemunhas sem que elas o vissem. E aparecer calminho e
folgado no 2º andar do prédio, onde é então visto por um polícia. Sozinho. A
beber uma Coca Cola. Tudo isto em 90
segundos.
E sai pela porta da frente. Percebe então que não foi ele que matou
o presidente – se calhar, ao contrário do que estava combinado. Percebe então
que o seu destino na conspiração sempre teria sido o de figurar como bode
expiatório.
Oswald vai a casa. Veste um blusão. Pega no seu revólver e sai. Uma
e quatro minutos da tarde. De caminho, não se sabe porquê, mata um polícia,
passa por uma sapataria e vai para o cinema.
Mas uma testemunha que vê o assassínio do polícia recusa-se a
identifcar Oswald como o assassino.
Apenas um quarto de hora depois do assassinato, a polícia distribui
um comunicado com uma descrição que condiz com o aspecto de Oswald.
Oswald meteu-se num cinema e a polícia, bafejada por sobrenatural
intuição de que ele estava justamente naquele cinema àquela hora, leva poucos
minutos a cercar o cinema e a prendê-lo.
Interrogado na esquadra durante doze horas. Não há registo do
interrogatório. As notas do interrogatório foram destruídas pelo próprio agente que o interrogou.
No dia seguinte logo de manhã, Lee Harvey Oswald é formalmente
acusado do assassínio do presidente Kennedy.
Quando passa pelos jornalistas, Oswald grita para quem o quer ouvir
que não passa de um bode expiatório.
Subornando um guarda, um tal Jack Ruby, proxeneta e próximo da
Máfia, entra no edifício da polícia pela porta do cavalo.
Oswald é trazido da cela no meio de polícias. Jack Ruby,
destaca-se, pronuncia-lhe o nome (à velha maneira mafiosa) e mata-o a tiro.
Mais tarde a arma de Jack Ruby, entretanto morto, é posta em leilão
pelo irmão.
Depois do leilão, o irmão de Ruby diz muito secamente que ninguém
morre com uma bala no estômago, que foi o que Ruby fez a Oswald, um tiro na
zona do estômago. E na verdade, ninguém hoje morre com uma bala no estômago,
mas o certo é que Oswald é dado como morto. E Ruby é preso e promete alto e bom
som contar toda a história. Mas acaba por morrer sem nunca a contar.
A verdade oficial, governamental, está criada. O resto é com a imprensa.
O relatório da Comissão Warren sai. Com a tese do assassino louco,
carente e solitário.
Mas os 26 volumes da Comissão Warren ficaram incompletos. Houve
testemunhas que nunca foram chamadas. Algumas eram capitais e dessas uma morreu
de uma queda, outra de ataque cardíaco, outra num quintal quando foi confundida
com um veado e lhe deram um tiro.
Provas médicas? A Comissão ignora-as. Não são pedidos os dossiers da CIA e do FBI.
Na verdade, a Comissão Warren parecia manipulada por homens sob as
ordens de J. Edgar Hoover, o todo poderoso patrão do FBI.
O director da CIA, Allen Dulles, em vésperas de ser exonerado do
cargo por Kennedy, terá sido o homem chave das conclusões da Comissão: Oswald
agira sozinho. E os media engoliram a
conclusão como boa e não quiseram investigar mais nada por sua conta.
Claro, os media, não
sendo governo são parte fundamental do verdadeiro poder. E mexer muito no caso
podia deixar a descoberto a realidade das instituições e enfraqueceria a
estabilidade política da democracia americana.
E as pistas ajudadas a lançar pela imprensa americana quanto à
responsabilidade do atentado passam tanto por Fidel Castro como pelos próprios
anti castristas. Passam pelos russos. Passam pela máfia. Cada um deles, e cada
uma das pistas, sempre por intermédio de Oswald.
Oswald dava para todos os gostos. Oswald que, por acaso, nunca
chegou a ser julgado.
Seguem-se na zona de morte e na linha de tiro Robert Kennedy e Martin Luther King. E
tudo leva a crer que os seus assassinos não passaram igualmente de bodes expiatórios.
O povo americano na altura não tinha ainda visto o filme amador do
tal Zapruder. O filme tinha sido escondido. O povo americano nunca viu as
verdadeiras radiografias e fotografias feitas ao cadáver durante as autópsias.
Centenas de documentos referentes ao atentado ficaram retidos ou foram
destruídos. Se alguém os exigisse, a resposta das entidades seria: segurança
nacional. Mas que rica segurança.
Havia, há, um governo secreto e invisível nos Estados Unidos. E
provavelmente noutros estados, ou em qualquer estado evidentemente que mais ou
menos unido e com acções proporcionais à importância e dimensão que tem. E
seria esse governo secreto dos Estados Unidos quem moveria, moverá, os
cordelinhos da realidade política mais incompreensível e muito do lado de lá do
que fazem crer as versões oficiais.
Segurança nacional.
A ocorrência de 22 de Novembro de 1963 tem todas as aparências de
um golpe de Estado. Afascizado, até, por sinal. Mas o objectivo dele
cumpriu-se. Kennedy estaria no momento a conceber uma retirada progressiva das
tropas americanas, por enquanto ainda não demasiado engolfadas no problema do
Sudeste Asiático.
Depois da morte de Kennedy, Lyndon Johnson inverteu os dados da
questão e intensificou a presença militar americana no Vietnam. Porque a guerra
é o maior negócio da América – 80 mil milhões de dólares/ano em 1969.
E foi o povo americano que pagou tudo isto. São
os povos que pagam sempre destas e doutras – e são os que menos direito têm a
saber a verdade do que pagam.
Jim Garrison considerou que o governo americano via o seu
povo como um rancho de crianças a quem não podia ser revelada a realidade, para
não ficarem perturbadas. Ou para não lincharem pura e simplesmente os
responsáveis.
Alguém disse um dia que às vezes é preciso defender um país
do seu governo.
Pergunta de Jim Garrison, promotor do Estado da Louisiana que
investigou o caso por conta própria: qual
o futuro de uma democracia na qual um presidente pode ser assassinado em
circunstâncias suspeitas sem que a máquina legal estremeça? Quantos mais
assassinatos políticos disfarçados de ataques cardíacos, suicídios, cancros ou
overdoses? Quantos mais acidentes de avião ou de automóvel sem se lhes denunciarem
as verdadeiras causas?
(E depois ainda os
politicamente correctos e os bem pensantes gozam com as teorias da
conspiração.)
E a propósito disto, lembrou-me agora: quem terá de facto mandado
assassinar o rei D. Carlos? E o presidente Sidónio Pais? Já para não falar de
Sá Carneiro e Amaro da Costa…
E será que Salazar caiu normalmente de uma cadeira? Quem esteve lá
para ver? Alguém pode ter estado. Eu não.
Salazar? O problema urgente e magno do Ultramar português pode
dizer-se que era na altura (1968/69) o nosso Vietnam. E pedia soluções rápidas
e incompatíveis com as ideias do velho. E alguém pode ter tentado alguma coisa.
Coisa essa que não terá dado o resultado total, mas que, para os nossos brandos
costumes, foi suficiente para abrir caminho a uma mudança. Mudança que na
substância do problema ultramarino nessa altura não se verificou. Porque
só mudou o governo e não mudou o poder.
Porque, vejamos, uma coisa é o governo e quem governa, e outra
coisa é o poder, o efectivo poder que só acidentalmente passa pelos governos,
do qual poder os governos fazem mais ou menos parte. Os governos limitam-se a
administrar o poder – quando muito. E no caso português deu para perceber que
Marcelo Caetano, sendo chefe do governo, talvez não fizesse inteiramente parte
do poder.
Kennedy era a cabeça do governo institucional americano. Mas se
calhar não fazia completamente parte do poder. Do poder de facto. Aliás,
Kennedy podia mesmo estar a revelar-se um perigo para o poder.
(De quem é o poder que governa actualmente aqui na nossa desgraçada
parvalheira? Passos Coelho? Cavaco? Tanta mediocridade? Talentos políticos de segunda e terceira
categoria? Ora adeus! Brincamos?)
O poder real dos estados não se sujeita a votos nem vota nada. Mas
pode decidir quem terá de morrer. (É o que diz uma testemunha do inquérito de
Jim Garrison, alta patente militar.) Mais ou menos como na crucificação de
Cristo.
E nestes assados não se chamam aos assassinos assassinos, mas sim
mecânicos. Profissionais. Homens treinados para não falharem quando chegar a
hora e obedecendo sem saberem exactamente a quê e a quem. Nunca ninguém os
descobrirá. Não deixam rasto. Não se encontram com ninguém.
É o Estado secreto.
Ninguém tem o direito a saber a verdade. Nem muitos dos que
participaram na construção dela.
Há quem afirme que nos tempos que correm só um louco varrido não
acredita em conspirações.
Excelente, como habitualmente.
ResponderEliminarNa interminável lista dos homicídios de Estado universais, só nos últimos cinquenta anos, um dia se saberá por que tiveram de ser assassinados o Padre Max, Ali Bhuto, Aldo Moro, o super-Juiz anti-Máfia siciliana (escapa-me agora o seu nome), Bin Laden, Saddam Hussein, Diana de Gales, John Lennon e o próprio Albino Lucciani (mais conhecido como Papa João Paulo I...)!
Penso que Giovani Falcone. Há um filme longo, não uma obra prima mas interessante fresco de Itália "La Meglia Gioventú" que revi há pouco.
ResponderEliminarE há os "homicídios morais" que os puritanos de fachada sempre encontram.
Só me pergunto que m... de democracia hipócrita é esta - e outras - em que demoram 50 anos a levantar o véu mal cheiroso das trafulhices e assassínios.
Abçs de bettips
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarFalcone! Esse mesmo, obrigado.
ResponderEliminar«La Meglio Gioventù», um Filme soberbo (em duas Partes), um interessante e impressionante "fresco" da Itália dos anos sessenta e setenta, mas também... de Portugal, se olharmos bem (e salvas as devidas adaptações...)!
Faltam-nos, gritantemente, Filmes como este, "frescos" portugueses sobre as Guerras de África, a Diáspora dos humildes e esfarrapados, a suburbanização do País, os tempos do "marcellismo" e, claro está, o 25 de Abril, a Revolução, a Descolonização e a... Democratização - incompleto (e por agora adiado) trabalho de Sísifo.