WAGNER,O GNÓSTICO
O seu poder é tal que qualquer homem,
Por infeliz que se sinta
em seu estado,
Se contempla esta pedra,
Em vez de morrer como os outros
Deixa de conhecer idade,
Seja no rosto, no corpo ou na
cor
E seja homem ou mulher
Gozará da dita inefável
De contemplar a Pedra por mais
de duzentos anos.
WOLFRAM VON ESCHENBACH - Parzival
Montsalvat situava-se no norte
visigótico de Espanha. Era lá o castelo-santuário do Graal. E rezavam as
velhíssimas crónicas que quando a mouraria infiel ocupava o que é hoje a
Península Ibérica se dera o caso prodigioso de uma legião de anjos ter descido
dos céus e ter visitado o mais pio dos heróis, Titurel, para lhe confiar o
sagrado cálice, símbolo do último sangue do Salvador, e a Lança com que
Longinus, o soldado romano, lhe trespassara o lado. É depois disso que o
piedoso Titurel faz construir um castelo-templo dedicado à custódia das
relíquias e pronto a acolher todo o cavaleiro que se apresentasse sem pecado.
E nasce o dia em que Titurel, já muito entrado em anos e
cansado, renuncia ao senhorio do Graal e abdica em seu filho Amfortas.
Amfortas auto-investe-se de uma principal missão, a de libertar as proximidades
do castelo da maléfica presença de Klingsor e dos poderes mágicos e pecaminosos
que já tantos cavaleiros puros haviam corrompido.
Klingsor habitava o vale ocupado pelos infiéis. Pecara
gravemente. Tentava expiar o seu pecado. Sem sucesso. E então vá de demandar o
castelo do Graal, de bater aos portões e de impetrar guarida entre os
cavaleiros da compaixão. Não é aceite por Titurel. Klingsor conhecera a
impureza e o pecado. Não tinha condições para se deter na roda dos justos e dos
puros, em comunhão com a irmandade. Derivou então para os caminhos da magia. E
então sim, foi bem sucedido ao invocar os poderes tenebrosos. E de tal sorte foi
bem sucedido que os campos escalvados por onde deambulava se transformaram em
jardins luxuriantes, um paraíso povoado por mulheres-flores de suma beleza e
cuja missão seria tentar os puros cavaleiros do Graal.
Noutros tempos contava-se que Klingsor cobiçara a Pedra
Iniciática e quisera apoderar-se dela. Rechaçaram-no os cavaleiros mestres da
Compaixão. Foi então que Klingsor, tornado Senhor das Trevas, começou a odiar o
sexo. Ou, por outras e gnósticas palavras, Klingsor sofrera tormentos causados
pela própria luxúria sexual e para pôr um fim a essa paixão animal que o
consumia não viu outro meio que não fosse pegar numa adaga e capar-se a si
mesmo, e correr de mãos ainda ensanguentadas em busca do Santo Graal e ser
expulso pelos cavaleiros.
Contava-se que a entidade Prometeu/Lúcifer havia roubado o fogo
ao céu e o trouxera para a terra e com ele tinha guiado Klingsor pelas veredas
da insurreição espiritual, porque o fogo arrancado ao céu por Prometeu/Lúcifer
não teria por si a qualidade de ser bom ou mau, senão que seria bom ou mau
conforme o que com ele se fizesse de pecado ou de redenção.
Klingsor tomava a forma de Ego Lunar –
disseram os gnósticos. O Papapurusha. Klingsor é o Mefistófeles clássico. E
conta-se que os velhos eremitas das margens do Ganges fitavam mentalmente o lado
esquerdo da cavidade do estômago e alcançavam uma figura de olhos rebrilhantes
e barba vermelha, cenho enrugado, armado de espada e escudo: era o ponto da
reunião simbólica de todos os defeitos psicológicos de um homem. E os
anacoretas orientais começaram a cantar antífonas sacras quando imóveis e
concentrados no lugar do umbigo.
Amfortas toma a Lança de Deus, a Lança
gnóstica relacionada com a Lança dos Pactos do deus Wotan – na cosmogonia
wagneriana as duas lanças são a mesma, são o falo transcendente, são o
instrumento símbolo da energia sexual masculina- e parte para a refrega contra
as forças de Klingsor. Pouco antes de chegar sai-lhe ao caminho uma mulher de
encantos irresistíveis. Amfortas cai nos braços da mulher, abandona a Lança, e
um grito de morte ecoa por todo o vale. Era Klingsor que surgia diante de
Amfortas, empunhava a Lança sagrada e com ela varava o lado do senhor do Graal.
Os cavaleiros que escoltavam Amfortas acorreram, mas só a tempo de ouvirem a
gargalhada satânica de Klingsor. A ferida do lado de Amfortas nunca mais seria
cicatrizada. A menos que algum outro prodígio acontecesse.
Amfortas rojava-se dia e noite perante o
Cálice divino implorando a Graça. Via uma luz a desprender-se do Graal. Ouvia
umas palavras murmuradas: espera pelo
puro, pelo inocente, por aquele que foi eleito por mim…
Passa muito tempo. Amfortas somente achava algum lenitivo no
banho que tomava nas águas santas de um lago próximo das muralhas do castelo. O
lago iniciático. A água, elemento feminino da terra, base da vida, contraponto
do sol e do fogo, ens seminis da
alquimia medieva.
Gurnemanz, o mais velho e mais sábio dos monges-cavaleiros,
aproxima-se da liteira em que Amfortas é levado para o banho. Pergunta-lhe
pelas melhoras da ferida e da dor que o mantém pálido de morte, fraco e
tresnoitado. Um dos do séquito responde-lhe:
- Como podes pensar que Amfortas esteja
melhor, tu, Gurnemanz, que tudo sabes? A dor do nosso rei é mais cruel a cada
dia que passa…
- Sim, somos loucos se pensarmos que
alguma coisa o possa curar. De nada lhe valem as ervas e as beberagens. Só vejo
um remédio… um único remédio…
- Qual?
Gurnemanz não o diz. Manda que apressem
o banho do senhor do Graal.
Nisto, aparece entre os arvoredos uma
estranha figura de mulher com aspecto selvagem, cabeleira negra hirsuta, olhas
também negros, fuzilantes. Gurnemanz reconhece-a. É Kundry. Que lhe estende um
frasco de bálsamo.
- De onde vem esta medicina? – quer saber
Gurnemanz.
- De uma terra mais distante daqui do
que tudo o que possas imaginar – diz a mulher. – Se este bálsamo não sarar a
ferida de Amfortas, a Arábia nada mais tem como remédio para ele.
O bálsamo foi aplicado na ferida. Sem
resultado. Entretanto, a mulher, Kundry, presa de algum tipo de epilepsia entra
em convulsões e dá um grito, não, aquele bálsamo era inútil, não servia, não!
Os cavaleiros desconfiaram. Kundry podia
ser uma bruxa, podia estar a querer embruxar o rei até à morte. O sábio
Gurnemanz não era desse parecer. Kundry era uma mulher muito prestável que
nunca tinha feito mal a ninguém, que os ajudava no que podia, que lhes trazia
novas dos reinos mais distantes, e tudo isso sem lhes pedir nada em troca…
- Ela odeia-nos – diz um dos cavaleiros.
– Repara, Gurnemanz, como ela nos olha…
- É uma mulher pagã – diz outro.
Gurnemanz meneia a cabeça. Kundry
poderia ser mesmo uma mulher amaldiçoada. De momento andava por ali, mas talvez
andasse por ali a expiar as más acções que cometera numa outra vida.
- Já a conheço há bastante tempo. E
Titurel já a conhecia desde muito antes da minha chegada. Um dia deu com ela na
mata, corpo rígido, como morta. Depois eu mesmo fui dar com ela meio morta. Foi
no desgraçado dia em que Amfortas foi ferido por Klingsor e perdeu a Lança
sagrada – de repente, Gurnemanz vira-se para Kundry caída no chão, imóvel. – E
agora diz-me lá tu, Kundry… onde estavas no dia em que Klingsor feriu Amfortas
e se apoderou da Lança sagrada? Porque é que nesse dia não apareceste para mos
ajudar?
Kundry primeiro gritou. Depois foi um
longo silêncio. A seguir levantou-se de um salto e gritou na cara do velho e
sábio Gurnemanz:
- Eu nunca vos ajudei!
É quando um cisne selvagem trespassado
por uma seta aparece nos braços de um cavaleiro.
- Quem matou esse cisne? –
pergunta Gurnemanz, aflito.
- Estavamos com Amfortas a vê-lo voar em
círculos sobre as águas do lago. Amfortas disse que aquele vôo do cisne era um
presságio esperançoso. E de repente, uma flecha corta os ares e atinge o cisne…
Um formoso adolescente aparece então na
clareira, corpo coberto de peles, um arco na mão, um saco de flechas às costas
– flechas iguais à que tinha atingido o cisne. Os cavaleiros bradaram: era
aquele o matador do cisne. Gurnemanz interroga o jovem. Foste tu? Sim, tinha sido
ele, tinha artes de conseguir caçar qualquer ave em pleno vôo. E não estaria
ele arrependido da má acção praticada? Não, não parecia estar nada arrependido,
antes parecia contentíssimo.
- Como te atreveste a matar um ser vivo
neste bosque sagrado onde só a paz tem lugar? Os animais fizeram-te mal? O
cisne voava sobre o lago em busca da companheira e para consagrar o banho do
nosso rei…
O jovem pareceu comovido. Tanto que
quebrou o arco, arremessou para longe o saco das setas e cobriu a cara com as
mãos, murmurando que nunca tinha pensado em nada do que Gurnemanz lhe contava.
- De onde vens tu?
- Não sei.
- Quem é teu pai?
- Não sei
- Quem te ensinou o caminho para aqui?
- Não sei.
- Como te chamas?
- Não sei.
- Não sabes?
- Tive muitos nomes, mas não recordo nenhum…
- Então… não sabes nada de nada… mas… se não sabes nada do que
te perguntei, diz-me o que sabes, porque alguma coisa deves saber…
- Tenho mãe. Chama-se Herzeleide. Vivíamos nos bosques.
- Quem te deu o arco?
- Ninguém. Foi feito por mim. Para espantar as águias.
Parsifal tudo ignorava de si por ter eliminado de si o Eu, desse
modo obtendo uma inocência edénica. Era necessário morrer na própria pessoa, na
carne, no que significa o Eu, se se tem algum urgente e inalterável propósito
de encarnar em si o poder de Deus.
Gurnemanz mirava o moço com atenção. As feições dele eram
regulares. Parecia-lhe alguém de nobre estirpe.
Kundry, que continuava por ali, aproximou-se do grupo. E
respondeu pelo jovem.
- Ele chama-se Parsifal - Parsifal, o filho de Herzeleide e
Gamuret entrara sem luxúria nos territórios de Montsalvat e com uma flecha
atingira alegremente o cisne sagrado do Kalahamsa. - Quando a mãe o deu à luz,
o pai, Gamuret, acabava de morrer em combate. Herzeleide, para salvar o filho
da mesma sorte do pai fugiu com ele para longe, para um bosque desabitado…
Parsifal acorrre vivamente:
- Sim, um dia passaram por lá uns cavaleiros de armaduras
esplêndidas e mantos brancos… eu quis acompanhá-los, eles riram-se de mim,
disseram que iam ao castelo do Graal… fui atrás deles mas não os pude
alcançar..e depois atravessei montanhas, corri vales e bosques e desertos e
caminhei sem parar e tive de usar o meu arco para me defender das feras e dos
homens…
Kundry já segredava a Gurnemanz:
- O que ele diz é verdade. Até venceu gigantes. Era temido por todos
este rapaz… ouve, a tua mãe já não chora…
- Não. A tua mãe morreu
Parsifal agitou-se. Como? A minha mãe morreu? Sim, morreu.
Kundry estava ao pé dela quando ela morreu. Parsifal não quer acreditar, quer
castigar Kundry. É Gurnemanz que os separa. Se Kundry o disse é porque é
verdade, assegurou o velho. Kundry não mentia.
- Nunca faço o Bem – balbuciou Kundry. – Desejo a paz e o
repouso mas sempre me sinto fatigada. Queria dormir. Dormir? Não, nunca. Tenho
medo.
E soltando um dos seus terríveis gritos Kundry desaparece no
bosque. Quando no bosque adormecer, hipnotizada, Kundry ouvirá uma voz a
perguntar-lhe: que terrível ideia assalta os teus sonhos? Qual é o acto que não
o querendo praticar o praticaste?
Amfortas regressava do banho. Era meio-dia. Gurnemanz encarou
com o jovem Parsifal. Reflectiu uns momentos e falou:
- Vem comigo, rapaz. Vou levar-te ao Ágape Sagrado. Se fores o
puro e o inocente, o Graal te alimentará.
- Quem é o Graal?
- Não se pode dizer. Fosses tu o eleito do Graal e não perderias
a Graça. E já agora te digo, meu jovem, uma vez que me parece reconhecer-te…
não há caminho algum que te leve ao Graal… o Graal mesmo te servirá de guia.
- Mas diz-me tu, velho, que se passa? Ainda agora começámos a
caminhar e parece que já andámos muitas milhas…
- Neste lugar, meu filho, espaço e tempo são uma e a mesma
coisa…
- Que dizes, velho? Não te compreendo…
- Saberás, meu jovem, que na Eternidade não há tempo. É a
dimensão zero. Estás no Espírito puro…
Parsifal era um dos tantos que peregrinavam pela terra sem
compreender. Nesse momento, Parsifal figurava-se na categoria maçónica oculta
do Aprendiz, tendo por guru, ou guia, o velho Gurnemanz
Chegados à vasta sala abobadada, os pagens a acender as
lanternas, Gurnemanz fitou o jovem.
- Presta atenção ao que vires e depois mostra-me claramente se
és ou não és o puro, o inocente, o louco, o eleito como depositário da
sabedoria…
(O Wagner esoterista, o Wagner iniciado, gnóstico, estará mais
efectivamente presente no Parsifal do
que noutra das suas obras, em ortodoxias, em sugestões filosóficas, em
vestígios de culto católico tradicional embrulhados em rituais pagãos, em nigromância,
em orientalismos, ascetismo, amor puro, piedade, redenção…)
Os cavaleiros guardiões do Graal eram chamados Mestres de
Compaixão. Eram os oficiantes da religião-síntese, a primeira de todas as
religiões.Como os dos Templários, os mantos dos cavaleiros da Compaixão, os
defensores do Graal, são brancos. A diferença está na cruz (Tau) vermelha,
substituída por uma pomba.
Seguiu-se a cerimónia da trans-substanciaçãodo pão e do vinho
sacrificiais.Ouviu-se a voz de Titurel, o que jazia no túmulo, porém ainda vivo
por uma Graça especial de Deus. Titurel pede ao filho, Amfortas, que presida à
cerimónia, que desvele o Santo Graal para que ele o possa contemplar, e assim renove
o merecimento da Graça e continue a viver depois de ter morrido. Amfortas grita
de dor. Ai dele, desgraçado, melhor seria que o pai vivesse e que fosse ele a
morrer.
- Mostrem o Graal – ordena a voz cava e distante de Titurel.
- Não! - grita Amfortas.
Tornava a ouvira voz de sonho que lhe falara em certa noite… um sapiente… um iluminado pela compaixão… um
casto inocente… espera por ele… é e ele o meu eleito.
Amfortas desfia a sua tortura moral e física e a sua impotência
dolorida ao contemplar o Graal, a nascente de todo o Bem, obrigado a implorar o
favor dos puros quando era ele, culpado, que estava à margem de toda a Graça. Amfortas,
o Venerável, o Senhor do Graal, estivera nos pecaminosos braços de Kundry, e
neles derramara o Mercúrio do Conhecimento Secreto. E assim caíra fulminado
pelo Arcano 16 da Kabbalah.
Kundry, Gundriggia, Herodias, a figuração universal e intemporal
da prostituta, a Eva da Tentação, a desbocada que riu na cara do Salvador;
Kundry, um compósito de diversas personagens com orígem em fontes medievais,
simbolo também da transmigração das almas; Kundry a alusão que reporta ao mito
do Judeu Errante, porque condenada pelos séculos e só redimida por um homem com
força de carácter que lhe resista aos poderes tentadores; Kundry, que em função
de tal destino só deseja ardentemente a morte.
O Graal, a taça significante e receptora do aparelho sexual da
mulher. A taça que já Abraão possuíra; que Malquisedec possuíra,
transportando-a à fecunda terra de Canaã e levando-a com ele no tempo nos
fundamentos primeiros da cidade de Jerusalém,,,
- Será possível que ninguém deu o justo valor esta tortura que
me trespassa quando contemplo o que a todos vós deleita?
O Taça Sagrada que navegara na arca de Noé…
- Que significa este meu ferimento? Porquê o rigor de tantas
dores, e a angústia, e o suplício infernal de me sentir condenado a uma missão
atroz?
O Cálice que terá sido levado para o Egipto, aí sendo tomado por
Moisés. O Cálice com que a rainha de Sabá experimentara Salomão…
- Cruel herança me foi confiada… eu, o único delinquente entre
todos… eu, o guardião da Santa relíquia…
Amfortas, amparado pelos pagens, consegue por fim levantar-se da
liteira e erguer indignamente o Cálice por onde o Salvador sorvera o último
vinho e que agora ele consagrava com o pão.
Parsifal observava. Sentia-se em maravilhoso êxtase e não
compreendia o que via.
José de Arimateia recolhera nesse Cálice as gotas do sangue que
escorrera da cruz e que escondera, junto com a lança de Longinus, das buscas
dos soldados romanos, dirigindo-se a Roma com as relíquias, tencionando confiá-las
aos cristãos da cidade, e, vendo as perseguições de que eles eram vítimas,
fugindo com as relíquias de Roma direito às margens do Mediterrâneo…
Graal, o Cálice, a Taça, ou a maravilhosa pedra que um anjo
deixara cair sobre a terra, o que não a impediu de assumir forma de taça, a
taça por onde o Salvador bebera… ou a pedra cúbica de Jesod, o ponto que a
Kabbalah situava nos órgãos sexuais…
Terminada a cerimónia todos saíram. Parsifal ficou. Só. A olhar.
A sentir o que não compreendia.
Daí a pouco Gurnemanz reapareceu.
- Ainda aqui estás? – disse ele ao jovem. – Compreendeste o que
viste? – negou com um movimento de cabeça. – Então é porque não passas de um
louco. Vai-te daqui. Depressa. Segue o teu caminho e deixa os cisnes em paz.
Mata antes as feras.
- Onde estiveste? – perguntou Klingsor, executando um passe de
mágica e fazendo comparecer Kundry no jardim paradisíaco.- Estiveste com o
Graal. Trataram-te como uma fera e tu continuas a pensar neles, a chegar-te a
eles. Porque não ficas aqui comigo? Porque me fugiste depois de me teres trazido
Amfortas, o mais puro dos cavaleiros guardiões do Graal? – Kundry tremia e
gemia sem responder. – Queres mesmo servir os castos? Ou é para os compensar da
tua traição? Não esperes nada deles. Todos são corruptíveis e eu mesmo podia
destruí-los com a Lança que apanhei ao rei deles… mas hoje a nossa tarefa é
mais difícil. Temos de vencer um homem perigoso que usa como escudo a
simplicidade de espírito.
- Não quero – resmungou Kundry.
- Ai queres queres. Terás de me obedecer. Sou eu o teu amo e o
teu encantamento nada pode contra mim. E sabes que aquele que conseguir vencer
a tua maldição te libertará…
E Parsifal chega ao jardim de Klingsor. Parsifal desce ao Nono
dos infernos dantescos. Venceria as sacerdotisas da tentação. Começava a ser o
Companheiro. É recebido pelas mulheres-flores, desnudas, estonteantes de beleza
provocatória, instrumentos infernais de tentação carnal governadas por
Klingsor. Rodeiam o jovem. Prometem-lhe alegria, amor e prazeres sem igual.
Parsifal resiste.
- Meu único amor… porque me desprezas?
- As minhas mãos esqueceram-te. Mas os
meus olhos viram-te...
- A tua imagem está viva dentro do meu
corpo…
- As lágrimas da tua memória são as que lavam os meus olhos…
Parsifal não sucumbe à tentação das ninfas desnudas. Mas
falta-lhe a prova definitiva, o encontro com Kundry. Ouve a voz dela ordenando
às ninfas:
- Afastai-vos dele, mulheres vulgares, frívolas raparigas,
fascinantes flores de umas horas que depressa murcharão.
E as mulheres-flores regressam ao castelo mágico de Klingsor.
E Kundry aparece, e agora sob uma forma escultural, uma mulher de
impressionante beleza. Kundry é a esposa e é a fêmea demoníaca que precipita a
queda e a perdição dos homens, e a quem o Senhor do Graal, Amfortas, não
resistiu.
- Foste tu, sublime formosura de mulher aquela que me chamou, a
mim, o ser que nunca teve nome?
Fora ela, sim.
- Foi a ti que chamei, o inocente, o puro, o louco, Fal-Parsi…
Kundry conhece o poder da predestinação daquele mancebo, teme a
probabilidade de o vencer, mas está segura do poder do sortilégio de que
Klingsor a investiu.
Fala-lhe do pai, Gamuret, morto a combater o infiel para
irreparável dor de sua mãe, Herzeleide. Fala-lhe da mãe, do terror da mãe pela
perspectiva de o ver morrer como o pai, ele, o único amparo que a Herzeleide
restava.
- Até este momento desconheceste a dor. Até este momento
ignoraste as doçuras do prazer da carne. O saber transformará a tua
inconsciência em conhecimento – e pode ter dito a Parsifal as palavras de
Hermes Trimegisto: dou-te o amor que
contém a súmula de toda a sabedoria. - Procura conhecer em mim o amor, o
mesmo amor que inundou o coração de Gamuret, teu pai, quando sucumbiu de paixão
por tua mãe, Herzeleide. Esse amor que um dia te deu corpo e vida. O amor que
afugentará de ti a morte e a baixeza humana. O amor e este primeiro beijo de
paixão que hoje te ofereço como última bênção de tua mãe.
Porque o mandamento não é eliminar o sexo, é superá-lo,
absorvendo-lhe a sabedoria mística, a essência da religião-síntese e primeva.
Parsifal recorda uma história ouvida em
qualquer tempo, em qualquer lugar. Amfortas! A ferida que não cessa de sangrar!
A ferida!
- Eu vi essa ferida num lugar e num
tempo, e essa ferida sangra agora dentro de mim…
- Não, não é a ferida que te queima, é o
incêndio do meu corpo apertado contra o teu…
E com a remota memória da ferida vem a
cerimónia do pão e do vinho a que assistira sem compreender, o pão e o vinho
que celebravam o sangue vertido no acto pecaminoso.
E Parsifal afasta de si a mulher, Kundry,
a prostituta universal, a tentação, Magdala wagneriana reclinada em leito de
flores, acometida pela mais ardente luxúria.
Parsifal não derrama em
Kundry o seu Vaso de Hermes.
Na medula e no sémen está a chave da
salvação do Homem.
A Mãe Divina, serpente ígnea, administradora dos poderes
mágicos, Kundalini encerra e completa os símbolos iniciáticos de S e do T –a
Serpente e a Cruz (Tau). É a força do universo. É o poder eléctrico oculto que
preside à matéria orgânica e inorgânica. Kundalini, a Serpente, é a curva
inefável que desce e que sobe, a exaltação e a humilhação, a nona esfera do
sexo, sublimação e desastre. Tudo o que deseja subir terá primeiro que descer,
porque a exaltação será sempre precedida de humilhação.
Kundalini inicia a penetração e a subida
no corpo do iniciado e permite-lhe as experiências transcendentes: a plenitude
espiritual; a hiper-sensibilidade psíquica; o aumento da consciência objectiva;
os mais intensos desejos místicos; o estado de lassidão; o estado de sonho, que
combinado com a meditação resulta em êxtase.
Quando Kundalini atinge o lótus das mil
pétalas que está na parte superior do cérebro encontra-se com Shiva, o Terceiro
Lugar, o Espírito Santo.
A transmutação do sémen em energia
cósmica criadora é axioma de uma sabedoria hermética. Assim o estudaram os
colégios iniciáticos do Egipto, da Grécia, da Índia e do México. Nunca derrames
a Taça de Hermes no decurso do transe sexual - ensinavam. É nessa substância
que se contém a virtude celeste do fogo, a energia seminal que deverá ascender,
subir ao cérebro através dos cordões enervados, esplêndidos e etéreos dispostos
em 8 que se desenvolvem de um lado e do outro da espinha dorsal – Idá e Pingalá
na poética dos Vedas, relacionados com a fossa nasal esquerda e direita.
Já nos velhíssimos textos se escrevia
que o orifício inferior do canal medular no homem comum está hermeticamente
fechado e que são os vapores seminais que o abrem com o objectivo essencial de
permitir a passagem da serpente sagrada. A serpente sagrada, Kundalini, não
realiza um movimento mecânico, só desperta no verdadeiro amor entre homem e
mulher, nunca no encontro dos adúlteros e dos perversos. E a milagrosa subida
de Kundalini pelos canais próprios produz-se muito lentamente, emitindo o
misterioso som da víbora acossada por um pau, e sempre em acordo com os méritos
do coração.
No derramar do Vaso de Hermes (sémen) dá-se a perda dos graus
esotéricos, a Kundalini baixa e desce várias vértebras.
E Parsifal não o derramou. Ao contrário do sucedido com Amfortas
quando tentado pela mesma Kundry transfigurada em instrumento de Klingsor. E
por isso Amfortas caíra, perdera a predestinação esotérica e se deixara ferir
pela sua própria lança, condenado à eterna ignomínia, à eterna indignidade
sacral.
Kundry, envolvida no esplendor de uma
predestinação sagrada que o espírito do grande Mal perverteu, grita:
- Débeis sois todos vós! E todos caem
comigo… e todos caem atingidos pela minha maldição!
Kundry, perturbada, chama pelo mago
Klingsor em seu socorro. Klingsor aparece empunhando a Lança roubada ao Senhor
do Graal e atira-a contra Parsifal, procurando feri-lo como ferira Amfortas.
Mas Parsifal, o louco, o inocente, o herói, está puro, não derramou o Vaso de
Heermes, e a sua pureza torna-o invulnerável. A Lança suspende a trajectória
por cima da cabeça de Parsifal. Em êxtase, Parsifal recolhe a Lança e com ela
traça o sinal da cruz. Nesse momento, o castelo de Klingsor, o jardim das
delícias e das tentações (que Richard Strauss julgou ter descoberto ao visitar
Sintra nos anos 40, mas que Wagner tinha muito antes descoberto nos jardins do
Palácio Rufolo, em Ravello), desmorona-se, as mulheres-flores fenecem e são
levadas pelo vento. Kundry solta um grito terrível e cai ferida de morte.
E Parsifal afasta-se sob uma luz difusa de ouro e violeta. Vai
munido da Lança Sagrada, a lança de Amfortas, que é a mesma lança com que
Longinus, o soldado romano, feriu o lado do Salvador no Monte do Calvário.
Gnosticamente tornar-se-á símbolo de salvação, de libertação - e por muito
tempo correu fama de que Hitler a possuiu e a conservou no seu gabinete de
trabalho na Chancelaria.
Parsifal terá tido existência na vida a que chamamos de real?
Os gnósticos admitem que sim, que foi um
grande cavaleiro, epítome da pureza de coração, da castidade e do amor
consciente. Pode ser. Se eles o dizem…
Amanhece nas cercanias de Montsalvat. É
Sexta-Feira Santa.
Gurnemanz, ao sair da cabana de eremita
onde vivia, ouve um gemido. Atravessa o riacho que bordejava um prado florido
pela primavera e na orla da mata mais adiante dá com um corpo desfalecido. É
Kundry. Coberta de farrapos. Meia morta. Corpo gelado. Gurnemanz tenta
reanimá-la. Diz-lhe que doravante poderia ver a luz, o inverno passara. Junto
de um manancial,Gurnemanz recolhe a água com que lhe salpica a fronte até a
reanimar. Kundry abre os olhos e fita Gurnemanz com rancor. Depois levanta-se.
Com um andar mecânico atravessa o riacho e vai à cabana de Gurnemanz. Sempre em
gestos automáticos começa a ordenar alguns objectos, uma gamela, um cântaro, um
bordão.
- Nada tens para me dizer, Kundry? Estás
louca? Nem me agradeces por te ter livrado do pesadelo que te levaria à morte?
Kundry replicou-lhe sombriamente:
- Servir. Só quero servir.
- Terás pouco que fazer então…
Kundry levanta bruscamente a cabeça e diz:
- Vem aí alguém.
Do bosque saía a estranha figura de um
cavaleiro: armadura negra, completa, espada à cinta e escudo na mão esquerda,
rosto oculto pela viseira. Na mão direita uma lança com a ponta virada para
baixo. A figura dirigiu-se à nascente das águas límpidas e santas e sentou-se.
- Salvé viajante – saudou Gurnemanz. –
Se te perdeste… talvez eu possa encaminhar os teus passos, - o desconhecido
manteve-se em enigmático silêncio. – Se fizeste um voto de silêncio, muito bem,
respeitá-lo-ei. Mas serei eu a ver-me obrigado a falar. Estás num lugar santo e
aqui ninguém pode estar armado, lança em punho e rosto escondido. E menos ainda
no dia de hoje. Saberás tu, viajante, que hoje é dia santo? – o desconhecido
continuava a guardar silêncio. – Com que raça de pagãos tu andaste por esse
mundo para não saberes que hoje é Sexta-Feira Santa? Deixa as armas, homem. Não
ofendas a Deus num dia como o de hoje.
É então que o misterioso cavaleiro da
armadura negra se põe de pé, crava a lança na terra, ajoelha aos pés de
Gurnemanz, coloca no chão a espada e o escudo e sobe a viseira. Gurnemanz
olha-o com muita atenção. Já vira aquela cara, aquela cabeça, aqueles traços
nobres, aquele rosto puro. Reconhece-o. É Parsifal. E recua para junto de
Kundry.
- Lembras-te dele? O que matou o cisne…
aquele que eu mandei embora… ah – a Lança! – Conheço aquela lança… é a Lança
Sagrada! Oh, bendito seja este dia para todo o sempre…
- Bendito seja – repetiu Parsifal. –
Porque foi neste dia que voltei a encontrar-te.
- Também me reconheces?
Passara muito tempo. Parsifal era agora
o Mestre que sofrera.
Parsifal correra o mundo e não encontrara os caminhos do Bem.
Passara provações sem conta, suportara sofrimentos indizíveis, travara lutas
ominosas, deixara-se ferir sem se defender para não macular de violências a
Lança Sagrada. Estivera a pontos de perder a esperança de encontrar o templo do
Graal e assim poder devolver a Lança.
E chegava a vez de Gurnemanz narrar os
infaustos acontecimentos ocorridos no castelo do Graal. Amfortas desde aquela vez
que Parsifal presenciara nunca mais celebrara os ofícios da trans-substanciação
que lhe competiam. Amfortas, exausto pelas dores da ferida que continuava a
sangrar e pelas torturas íntimas da sua culpa só implorava a morte. Os
cavaleiros não recebiam mensagens a mobilizá-los para qualquer guerra santa e
por isso se davam a vaguear, macambúzios, tristes e solitários pelos bosques
das redondezas, desesperançados, miseráveis, sem um chefe. Alguns tinham
desaparecido na floresta. Outros tinham morrido em desespero místico. Ele,
Gurnemanz, sobrevivera para assistir à impotência de Amfortas. Titurel, o velho
herói, sem poder gratificar-se com a visão do Graal que lhe acrescentava a
vida, acabara por morrer em definitiva, morrer como morrem todos os homens.
- Poderás tu levar-me ao lugar onde está
agora Amfortas? – sugere Parsifal.
Certamente que sim, Amfortas estava no
templo. Prometera para aquele dia santo, finalmente, o magno gesto revelador do
Graal, o ofício, a oração em memória do pai.
Kundry aparecia com um frasco de óleos
perfumados que retirara do seio e com uma ânfora cheia de água da fonte
bendita. Propunha-se lavar os pés e ungir o jovem Parsifal, porque era a hora
de cumprir a regra da hospitalidade.
- Queres lavar-me os pés? – disse
Parsifal.- Também gostaria que tu Gurnemanz derramasses a água bendita sobre a
minha cabeça…
Era a cerimónia do baptismo.
A Parsifal é despida a intimidante
armadura negra da dor e do combate e é-lhe vestida a túnica branca do Neófito,
a pureza, a libertação do instinto velho do pecado. Kundry lava os pés de
Parsifal e enxuga-os com os próprios cabelos
- Bendito sejas - disse Gurnemanz,
espargindo-lhe a água sobre a cabeça. – Que por esta água abençoada fiques
purificado de todo o pecado, e que a angústia se afaste de ti.
- Queres ungir-me os pés? Pois bem,
também gostaria que a minha cabeça fosse ungida pelos santos óleos derramados
pelo companheiro de Titurel e que hoje mesmo ele me saúde como se saúda um rei.
Gurnemanz verteu o vidro dos óleos
perfumados sobre a cabeça de Parsifal, dizendo:
- Consagro a tua cabeça e saúdo-te como
um rei, como um Sapiente da Compaixão, porque tu és o mais puro.
Ao levantar-se, brilhava uma luz diáfana
nos olhos do herói puro. Kundry arrojou-se-lhe aos pés e o herói mais puro
verteu a água bendita sobre a cabeça da mulher.
- Começa hoje a minha missão. Recebe o
baptismo e crê naquele que te salvará.
Gurnemanz cobriu os ombros de Parsifal com
o seu manto e encaminharam-se para a cerimónia. O encanto de Sexta-Feira Santa
fazia-se sentir por toda a natureza.
Quatro cavaleiros de branco ataviados
entraram conduzindo o ataúde de ferro onde jazia o corpo de Titurel. Os pagens
colocaram no altar o estojo onde se guardava o Graal. Entoaram-se os cânticos.
Quatro outros pagens carregaram a liteira de Amfortas até ao centro do recinto.
Os cavaleiros intimam-no: seria a última vez que lhe exigiam o
cumprimento das suas obrigações.
Amfortas levantava-se e avançava, sempre
amparado pelos pagens. A tampa da urna de ferro era levantada e o cadáver
amortalhado de Titurel ficava visível para todos.
- Meu pai! – gritou Amfortas. – Tu, o
mais puro, aquele a quem os anjos confiaram o tesouro divino… a ti, herói
sagrado te trago a morte… e a ti suplico que dirijas a Deus esta prece… “tem
piedade, Senhor… e concede a meu filho a paz”…
Amfortas, nas vascas da agonia, rasga as
vestes. Ao verem o sangue jorrar da ferida do seu rei os cavaleiros recuam
horrorizados. Amfortas sabe que o levantar do véu e o descobrir do Cálice
(Graal) lhe prolongará a vida e lhe renovará a agonia, a ele, vítima da
tentação de Kundry e do feitiço de Klingsor que só anseia pela morte.
Parsifal entra na grande sala, seguido
por Gurnemanz e Kundry. Todos se afastam para ele passar porque uma altaneira e
indizível majestade emanava dele.
Parsifal ergue a Lança e com ela toca o
peito de Amfortas. Dizendo:
- Só uma arma pode operar o milagre. A
Lança cicatrizará a ferida que ela mesma abriu. Estás curado. A salvação está a
descer sobre ti – volvendo o corpo para os presentes, Parsifal torna a erguer a
Lança. – Esta Lança Sagrada… este tesouro divino… eu o devolvo. Abram o Santo
Graal. Que ele seja revelado a todos.
E Parsifal cai diante do Cálice Sagrado,
e o Espírito, na forma de uma pomba branca, desce sobre o cavaleiro banhado por
um raio de luz, pousando-lhe na cabeça.
Wagner sobreviveu pouco tempo à estreia
de Parsifal, sete meses. O Parsifal estreia em Julho de 1882, Wagner morre em
Fevereiro de 1883. O Parsifal, enquanto Bühnenweihfestspiel (festival sacro),
era assunto demasiado sério para entrar no circuito comercial do repertório
profano de ópera. Bayreuth e o
respectivo festival, segundo o círculo mais fechado dos wagnerianos, estavam
destinados a ser o centro de uma nova religião. Eis porque Wagner nunca
autorizou nenhuma representação de Parsifal fora do santuário de Bayreuth, e
por isso a mulher, Cosima, ao que se diz, pretendeu modificar as leis do
direito de autor de forma a limitar a exclusividade de Parsifal a Bayreuth. Não
conseguiu o intento. O prazo de exclusividade expiraria em 1913.
Não obstante tudo isso, Parsifal é
cantado, por assim dizer clandestinamente, em 1903, no Met de Nova York, suponho
que em inglês, e ignorando quaisquer disposições legais eventualmente
existentes e em vigor, e acarretando o anátema lançado pela família Wagner e
pela maçonaria de Bayreuth sobre a direcção do teatro e sobre os cantores que o
interpretaram – nunca mais poriam os pés num palco alemão.Certo
que também ainda antes de 1913, em Amsterdão (1905, 1906, 1908) ele terá sido
executado – execuções reservadas aos membros da Sociedade Wagner. Zurich também
já o tinha querido levar à cena, no que foi impedido pelas tais diligências da
viúva e do filho do mestre. E se Monte Carlo chega a apresentar Parsifal é a
título privado e por convites.
Mas por fim, chega o ano de 1913, os
direitos de propriedade intelectual prescrevem, e dá-se a estreia oficial
extra-Bayreuth, em Londres, no Covent Garden, a 2 de Fevereiro de 1914.
Estreia legalmente o Parsifal
e rebenta a I Grande Guerra.
Há quem fale de uma relação entre as duas coisas, uma conexão
espiritual, por assim dizer… não sei, não sou gnóstico...
Encantatório (eu sabia!). Esta minha mania de encontrar segundos (até 3ºs e 4ºs) sentidos, dá para temer que a guerra dos "mercados" abra com uma coisa humanitária, inocente, tipo "we are the world, we are the people" e uma contribuição por PayPal. E, entretanto, morre-se e vive-se todos os dias.
ResponderEliminarAbç