HONRA E GLÓRIA AOS MAIS ALTOS
VALORES
PORTUGUESES DO SÉC. XXI
Era tudo mentira? Era. E era tudo verdade? Era. Que
Deus abençoe o Dr. Ricardo Espírito Santo Salgado.
Porque, afinal de contas, quase
tudo funcionava no país em ligação directa ou indirecta aos interesses do BES,
ou do GES. E sabe-se disso porquê? Por intermédio da detenção do Dr. Ricardo
Salgado. E sabe-se, ou passará a saber-se, disso, porque pode ser que se comecem
a destapar as fossas do BES e do GES, e da finança nacional, e do sistema de
financiamento partidário, e da realidade das empresas e dos bancos, e pode ser que venha a ser possível desmascarar aos
olhos do vulgo muita gente e muita coisa que passava por ser verdade. E era. Mas também era mentira.
Mas ai!, a verdade portuguesa é
demagógica e populista. Só a mentira é elegante e correcta. Por isso podem as duas conviver saudavelmente no país. Pode ser que seja
essa a maior desgraça nacional. Sim, desgraça. Nós é que não percebemos. Porque
não podíamos perceber os escaninhos ocultos onde se tecem as verdades e as
mentiras para consumo do vulgo pagante de impostos. E porque também não
queríamos perceber e nos refastelávamos na comodidade da mentira e da verdade e quem viesse
atrás que fechasse a porta.
E como poderíamos nós perceber
onde estava a verdade e onde corria a mentira se, devido ao génio do Dr.
Ricardo Salgado, e de outros seus pares, nos deixámos intoxicar de probabilidades
de consumo e sumptuária, e como crianças insensatas e mal criadas corremos
atrás da música e dos fardamentos novos do crédito fácil que nos abria essa
probabilidade desenfreada de consumo?
Não, não queríamos perceber.
Portugal é um criador de cidadãos que preferem não perceber, e quando ao vulgo
pagante de impostos deixou de interessar saber onde está a verdade e onde mora
a mentira das suas instituições desde que alguém finja pagar-lhe os consumos e
a sumptuária e o deixe fazer figuras de rico.
Como poderemos querer saber da
verdade e da mentira se nós somos a mentira e a verdade engalanadas?
Honra e glória aos mais altos
valores nacionais e ao Dr. Ricardo Salgado.
Era tudo mentira. E é tudo
verdade. É pelos destinos do dinheiro que se percebe muita coisa, incluindo a
mentira e a verdade. Tudo (ou quase) funcionava em função dos interesses do BES
e/ou do GES e aos poucos talvez se destapem os esgotos da vida nacional, a maldição
da dívida pública e privada, a peste do crédito mal parado, a infâmia dos
deputados da nação (alguns empregados do BES ou do GES), unânimes em aumentar o
próprio salário enquanto cortam no salário de quem os elegeu; o festim das
autarquias; as guerrilhas da banca; a tragi-comédia do governo, do presidente e
da oposição; a farsa do sistema de financiamento dos partidos (questão central
da mentira portuguesa); as aparência da liberdade e da democracia; o espectro
constitucional; a nebulosa da Troika; o ilusionismo do crescimento económico; o fantasma da
transparência; as vergonhas do emprego/desemprego/sub-emprego; o venalismo da comunicação social. E até o mito fundacional
destas coisas todas, o 25 de Abril.
Era tudo mentira. E é tudo verdade.
Era tudo mentira. E é tudo verdade.
O Dr. Ricardo Salgado prestará
decerto inestimáveis serviços ao país quando clarificar – quanto mais não seja
provisória e parcelarmente – estes quarenta anos de vida chamada democrática. Pode
ser que ele queira explicar algumas coisas – algumas coisas, bem entendido, que
as autoridades queiram que seja explicado.
Era tudo mentira. E é tudo
verdade.
Honra e glória, repito, aos
mais altos valores nacionais do séc. XXI: a corrupção, o compadrio, o
nepotismo, o roubo, a vigarice, a legal trapaça, a violência doméstica, o abuso
generalizado – da autoridade às finanças, da confiança ao sexo.
E honra e glória ao Dr. Ricardo
Salgado que tanto trabalhou para enaltecer e perpetuar esses valores.
E não foi ele o único, longe
disso. Foi só o principal. O herói da finança. O magnífico. Por isso mesmo é que a nossa desgraça é grandiosa.
Tão grandiosa como esses valores cimeiros da nossa consciência e da nossa
nacionalidade para o séc. XXI.
Castigo divino?
ResponderEliminarPois...
A verdade verdadinha é que, desde o chumbo do PEC 4 em 23 de Março de 2011, tudo nos corre mal.
Desde a Economia ao Futebol, passando pelas profundas e inextricáveis questões de Moral...