O
GIGOLO E A ESTRELA ASSASSINA
Lana
Turner teve uma infância difícil, incluindo maus tratos por parte de uma
família a quem fora entregue muito miúda.
O choque que sofri na minha infância pode
ser uma boa desculpa para os meus comportamentos actuais. Isso pode explicar
coisas que ainda hoje não consigo compreender.
Foi
descoberta para o cinema aos 15 anos, quando andava no liceu de Hollywood, e
contracenou com John Garfield em O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, em
1946.
Nos
primeiros anos 50, Lana Turner já era uma estrela mundialmente aclamada,
ganhava 5.000 dólares por semana e vivia numa mansão de 15 quartos, com uma
fonte de soda para os whiskies, um
salão de beleza com todos os matadores, dez criados, entre eles uma rapariga
cujo único trabalho era pôr e tirar discos enquanto a patroa se maquilhava.Tudo
isso até 1956. Em 1956 viviam-se maus tempos para os grandes estúdios, em boa
parte devido ao incremento da televisão que fazia o público afastar-se das
salas de cinema e ficar em casa. As receitas dos filmes de Lana Turner baixavam
e a Metro negava-lhe a renovação do contrato. Lana sentiu pela primeira vez a
carreira a declinar.
No ano
seguinte é o divórcio do seu quarto marido, Lex Barker, um dos mais conhecidos
tarzans do cinema, e tal acontece quando a filha, Cherryl, acusa o padrasto de
a violar regularmente desde os dez anos. Lana fica desfeita e dá a Lex Barker
vinte minutos para fazer as malinhas e se pôr a andar da mansão.
(Até à
sua morte, em 1973, o pobre Lex Barker jurará a pés juntos a sua inocência.)
Lana
Turner não se poupou nos casamentos.
Entre outros menos assinaláveis foi casada
com o músico Artie Shaw e com o milionário Henry Topping Jor., aquele que, ao
propor-lhe casamento à mesa do Club 21 de Los Angeles, deixou cair um anel de
diamantes dentro do copo de martini
que Lana tinha na frente.E, para não variar, Lana Turner, uma estrela de cinema
fisicamente entre Jean Harlow e Marilyn Monroe, também teve como amante o
célebre mafioso Johnny Rosselli.
Calha
bem aqui uma citação da própria Lana Turner, que embora fadada para viver
histórias de alguma faca e algum alguidar não devia ser parva nenhuma. Dizia
ela: O homem de sucesso é aquele que ganha muito dinheiro e é casado com uma
mulher que o gasta. A mulher de sucesso é aquela que consegue encontrar esse
homem.
Divorciada
de Lex Barker, Lana Turner dá em acompanhar com um homem que diz chamar-se John
Steele e lhe oferece flores e jóias. Mas, por intermédio de amigos, Lana vem a
saber que o John Steele não era nada John Steele, que o John Steele era Johnny
Stompanato. E, ah, é verdade, Johnny Stompanato era um gangster da seita do mafioso Mickey Cohen, já aqui mencionado
anteriormente noutras histórias. Johnny Stompanato já por duas vezes havia sido
constituído arguido, contudo sem nunca ter sido condenado.
Mais:
Stompanato já se repartira por diversas actividades, vendedor de automóveis,
armazenista de mobílias, proprietário de uma loja de animais, sendo porém a sua
principal fonte de rendimentos a actividade de gigolo, para a qual uma actriz amiga de Lana Turner o dizia muito
dotado.
Nunca
se sabe se não foi deste ou de outro caso como este que BillyWilder retirou a
inspiração para o filme Sunset Boulevard.
Para a
polícia, Johnny Stompanato tinha ficha de extorsionário. Extorsionário com a mira
assestada para mulheres ricas e sós. E Lana Turner, quando sabedora de tudo
isto, passa uma temporada sem atender os telefonemas de Johnny. Johnny andava
na roda de gangsters mafiosos e ela
temeu a má publicidade que tal lhe traria à carreira.
E a partir
daqui só contarei cenas que apesar de reais mais parecem cenas de um filme.
Uma
noite, Stompanato, o gigolo, consegue
introduzir-se em casa da estrela, acede ao quarto de cama e começa a querer
sufocá-la com uma almofada. Sentindo que a actriz está a ficar-se, retira a
almofada e desata a beijá-la. Ora, foi o bastante para Lana Turner se apaixonar demencialmente pelo mafioso gigolo.
Era excitante até ao limite aquela relação. Aquela relação pedia-lhe um amor
obsessivo, cimentado sobre violentas zangas e ternas reconciliações.
A vida
estava má para todos naquele período, e Hollywood vivia um tempo em que os
mafiosos a operar no terreno – segundo suspeitas da polícia – engendravam
situações comprometedoras a algumas das estrelas maiores para depois as poderem
chantagear. Um dos estratagemas era conseguir gravações de conversas privadas,
íntimas, e depois comercializá-las no mercado negro, ou não comercializar,
conforme o que o artista – geralmente uma actriz– estivesse disposto a pagar
por elas. E as fitas gravadas com as discussões de Lana Turner e o seu gigolo não tardaram a chegar ao mercado
e a valer cada conversa umas boas centenas de dólares.
Lana
Turner tinha então uma sociedade independente de produção de filmes e o gigolo Stompanato conseguiu que ela lhe
desse um lugar na estrutura da empresa, produtor delegado. E nesse pé partiram
para Inglaterra para a rodagem do primeiro filme a produzir pela sociedade. O
filme chamar-se-ia AnotherTime, Another Place, e a estrela contracenaria
com Sean Connery.
Mas durante
as filmagens, Stompanato convence-se de que a amante está em vias de cair nos
braços do seu parceiro no filme e um belo dia resolve invadir o plateau e
avançar para Sean Connery de pistola na mão, ameaçando-o. Connery, rapidíssimo,
aplica-lhe um banano certeiro e bem assente, tira-lhe a arma da mão e exige que ele nunca
mais ponha os pés no estúdio.
A
patroa Lana Turner demite o gigolo do
seu lugar de produtor delegado e ele, quando sabe disso, vai para a
estrangular. Falha por pouco, mas as cordas vocais de Lana ficam de tal modo
afectadas que por três semanas ela só pode rodar planos sem diálogo.
É
aconselhada a apelar à polícia. A Scotland Yard toma conta da ocorrência e opta
pela deportação do desordeiro. Em 24 horas Stompanato aparece no aeroporto,
pronto a ser recambiado para os EUA. No entretanto, comunica à amante que o
nome dela até pode calhar em conversa quando ele falar com o pessoal da Mafia.
Em
Janeiro de 58 as filmagens terminam em Londres. Lana concede-se um período de
repouso no México. Apanha um avião que faz escala em Copenhaga. E quem está à
espera dela em Copenhaga, quem é, rodeado de jornalistas e fotógrafos? Claro, Johnny Stompanato. E
acabam por seguir os dois para Acapulco.
A
actriz, que segundo todas as aparências transportava para fora dos plateaux
as suas personagens, dirá mais tarde – sabe-se lá com que verdade – que foi à
força de uma pistola encostada à cabeça que dormira com Stompanato em Acapulco.
Nomeada
para um Óscar nesse ano de 58 – suponho que pela interpretação em Peyton Place
–, Lana está presente na cerimónia, e, acabada a cerimónia vai para casa. O gigolo está à espera dela. Bate-lhe.
Deixa-lhe a cara num bolo e os olhos negros.
A filha
de Lana Turner tem agora 14 anos. A mãe confessa-lhe o medo que tem do amante.
A miúda aconselha-a muito avisadamente a queixar-se à polícia, mas Lana recusa
a ideia, o gang de Mickey Cohen, de
que o amante fazia parte, com certeza que mais dia menos dia lhe faria a folha.
Em
Abril ainda desse ano de 58, Lana Turner e a filha mudam-se para New Bedford
Drive em Beverly Hills. Johhny Stompanato acompanha-as.
As
discussões e as violências não cessam. Numa noite há gritos desgarrados no
quarto do 1º andar. Só porque Lana Turner, extremamente susceptível no que
tocava à idade, com 37 anos se sentia a envelhecer e a decair a olhos vistos, e
descobrira que o amante era muito mais novo do que lhe dissera ser, e daí
resultaria muito má publicidade para a carreira dela, sim, se se dissesse que
ela se entretinha com homens mais novos.
Nessa
mesma noite, Lana põe os pés à parede e decreta que as relações entre ela e
Johnny Stompanato estavam terminadas. E intima-o a sair-lhe de casa. Ele não
concorda e ameaça-a: se lhe der na mona até pode desfigurá-la; até pode fazer
mal à filha. É só passar-lhe alguma coisa pela cabeça.
Cheryl, a filha, está no
quarto do lado a fazer os TPC e ouve o que se está a passar no quarto da mãe. E
decide-se. Deixa os livros e os cadernos e desce à cozinha. A governanta da
casa vê a miúda sair da cozinha com um cutelo de carniceiro de 20 cm., rais
parta a miúda para onde é que ela vai com aquilo na mão? E Cheryl, cutelo na
mão, sobe ao 1º andar.
Cheryl
bate à porta do quarto da mãe. Os gritos continuam. Ouve a mãe gritar que está
farta, que está pelos cabelos. Ouve o amante gritar ah, minha cabra que é
mesmo esta noite que morres. Cheryl bate outra vez à porta. É a mãe que
abre. Cheryl entra e vê Stompanato com um braço alçado. Palpita-lhe que ele vai
agredir violentamente a mãe.
Bem, Stompanato não ia agredir a mãe, estava de
braço no ar porque estava compor os suspensórios nas costas. Mas quando vê a
rapariga, o gangster precipita-se
para ela, cai sobre ela e espeta-se no cutelo de carniceiro. A esvair-se em
sangue, consta que terá dito Cheryl, meu Deus, que é que tu fizeste?
Stompanato
é acometido por uma convulsão e cai morto no tapete do quarto. Cheryl remove
calmamente o facalhão do corpo do gigolo,
pousa-a na cómoda e sai do quarto aos gritos. Eram 9,20 da noite de 4 de Abril
de 1958.
O
primeiro a chegar à cena do crime na noite de 4 de Abril foi o médico pessoal
da actriz, que imediatamente a aconselhou a recorrer a um advogado da Mafia,
Jerry Giesler, um que defendera Bugsy Siegel 18 anos antes. E quem vem
identificar o cadáver do gangster não
é outro senão o chefe dele na Mafia, Mickey Cohen.
- Este assunto não me está a agradar nada-
diz o mafioso aos jornalistas. - Palpita-me que ainda
há muitas perguntas sem resposta, e eu preciso de saber a verdade custe o que
custar.
O
cutelo não tinha impressões digitais. Fora umas gotinhas num tapete cor de
rosa, não havia sangue no quarto. Mickey Cohen era de opinião de que Lana
Turner e a filha haviam assassinado Johnny Stompanato enquanto ele dormia.
Num
hotel em Westwood guardava Stompanato as suas coisas. Tinha lá um quarto,
tratava lá dos negócios, dormia lá de vez em quando. Um dos recepcionistas, ao
ouvir falar do crime, usando uma chave mestra, introduziu-se no quarto. As
luzes estavam acesas e havia indícios evidentes de arrombamento na janela da
casa de banho. Uma das criadas do hotel viria a dar por falta de um saco cheio
de cartas que estivera sempre guardado no mesmo sítio.
Cartas?
O chefe do gang, Mickey Cohen
escrevera essas cartas, endereçadas ao jornal Los Angeles Herald para que Stompanato as remetesse. Cohen queria
vê-las publicadas, de modo a informar a opinião pública de que Johnny
Stompanato jamais perseguira Lana Turner, como ela afirmava. O que acontecia
era Stompanato estar muito apaixonado por ela.
O irmão
de Stompanato vem recolher o corpo. Diz à imprensa não acreditar na versão de
Cheryl e quer que Lana Turner seja sujeita ao detector de mentiras. E pergunta:
como é que uma jovem de 14 anos que nunca na vida se servira de facas para
acções violentas teria forças e destreza para assassinar à facada um matulão
que tinha sido fuzileiro?
Também ele pensava que o irmão estaria a pegar
no sono no momento de ser atacado e morto. E até um chefe de polícia de Beverly
Hills viria a fazer irónico reparo no facto de os gangsters não poderem acreditar que uma adolescente fosse capaz de
assassinar um dos deles.
Entre
os objectos pessoais de Stompanato havia um revólver e negativos de fotografias
onde algumas actrizes de certa nomeada apareciam nuas e em poses
comprometedoras. Entretanto, os advogados de Lana Turner queimam uma quantidade
de negativos em que a actriz aparece nua.
Vai
tudo para tribunal.
A
televisão começa a transmitir em directo as sessões do julgamento do assassínio
de Johnny Stompanato. 11 de Abril de 1958.
Os fans acotovelam-se à
entrada do tribunal para ver passar a estrela, tailleur cinzento de
factura italiana e cabelo cortado à garçonne-
No
tribunal, Lana Turner fala durante uma hora. Há quem diga que foi a melhor
interpretação da vida dela. Tudo o que se diga terá de levar o tribunal a
acreditar que se tratara de um homicídio, por assim dizer, justificável.
Na
assistência do julgamento, alguém se levanta e acusa os investigadores de
quererem proteger a estrela de cinema.
Houve
quem defendesse que Stompanato se teria também travado de relações íntimas com
Cheryl, a filha de Lana. Houve quem pensasse que mãe e filha estariam ambas
apaixonadas pelo gangster.
Em
suma, as culpas acabam por recair na filha da estrela, Cheryl, de 14 anos.
O tribunal
decide colocar Cherryl sob tutela num centro para delinquentes juvenis. Esteve
lá três semanas e depois foi enviada aos cuidados da avó. Fez duas tentativas
de suicídio.
Stompanato
teria dito à Turner que a Mafia sem dúvida o vingaria se lhe acontecesse
alguma, e Lana Turner muda de poiso. Declara ter recebido cartas anónimas com
insultos e ameaças de morte. A polícia vigia-lhe a casa dia e noite.
Lana
Turner estava crivada de dívidas, dívidas aos advogados, dívidas até à Metro
Goldwyn Mayer. Temia nunca mais vir a ter trabalho depois de tudo aquilo. Mas
pouco tempo depois há um produtor que a contrata e lhe propõe o papel de
protagonista no remake, dirigido por Douglas Sirk, do filme nos anos 30. Imitação
da Vida. Uma intriga a girar à volta de uma mulher egoísta que ora mimava
ora desprezava a filha, e estando ambas apaixonadas pelo mesmo homem.
O filme
foi feito e rendeu muito bom dinheiro. Bom dinheiro esse dividido entre o
produtor, Ross Hunter, e a estrela. E de tal modo o filme vendeu bem que Lana Turner
terá ficado milionária e recomposto as finanças.
O
público convenceu-se de que a história do filme, tal como êxito de outro filme
anterior, Peyton Place, se relacionava com a própria vida privada da
estrela, e talvez daí o sucesso.
Mas o
que dá a ideia é de que, na volta, claro, tão mafiosa era a estrela como o seu
gigolo. Provavelmente até mais ela do que ele. Ou mafiosa e criminosamente
engenhosa, ela ou quem a terá aconselhado a cometer o crime, bem como quem a
terá industriado sobre a técnica de o ocultar.
A
partir de 1970 Lana vive com um ex-cabeleireiro e ex-professor de dança, Eric
Root de seu nome. É este homem que muitos anos depois declara ter-lhe a actriz
contado a verdade.
E a
verdade (ou a suposta, embora plausível, verdade) é que teria sido a própria
Lana Turner a assassinar Johnny Stompanato.
- Matei esse filha da puta… e se tivesse que
voltar a fazê-lo não tenhas dúvidas de que o faria.
O tal
Root escreve um livro. Nesse livro uma outra versão dos factos aparece à luz do
dia.
E recapitulando
(flashback)… perante o crime
consumado, como já foi dito, comparecera o médico pessoal da actriz que a
aconselhara a chamar o advogado Jerry Giesler. Jerry Giesler aparecera, sim
senhor, acompanhado por um detective particular. Tudo isto antes da chegada da
polícia. O trabalho deles fora o de convencer Lana a deixar que fosse a filha a
suportar a responsabilidade do crime em lugar dela.
É o
detective particular que limpa os vestígios, todas as impressões digitais do
cutelo, afinal as impressões digitais da própria Lana - detective particular foi ele (Frank Otash) que também apareceu, dizem, na cena final da vida de Marilyn Monroe.
- Parece que vocês vieram matar um porco para
cima da cama - terá dito o detective particular diante do espectáculo de
sangue.
Um
escritor virá a classificar o caso como uma luta de poder entre concorrentes,
um mistério que se adensou em todas as suas infinitas complicações.
Mesmo
assim, Lana Turner voltará aos estúdios e regressará ao êxito com Um
Solteirão no Paraíso (ao lado de Bob Hope), Retrato a Negro e Madame X.
Virá ainda, nos anos 80, a aparecer na série televisiva Falcon Crest.
E Lana
Turner morre de cancro na garganta em 1995, com 74 anos.
Esther
Williams, a actriz, declarou um dia que ninguém nunca virá a saber a verdade
toda sobre o assassínio de Johnny Stompanato. E porquê? Porque as provas de um
delito costumam desaparecer muito naquela zona do mundo
chamada Hollywood. E porquê? Porque Hollywood procura sempre, e antes de tudo o
mais, proteger-se.
A filha da LANA, no mínimo é co-autora do crime, pois, foi ela que trouxe a arma que causou a morte do Johnny Stompanato, com o agravante de ter sido vista com a arma do crime, por uma empregada.
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