AS CALÇAS DO JUIZ ALEXANDRE
Então não se lembram
de o ver, rompendo por entre os repórteres, negando a cara às ávidas câmaras
televisivas, a fugir a sete pés pelo campus da Justiça, tronco em blazer azul normal, pernas embaraçadas
no excesso de pano das calças?
Li na Internet um
depoimento do advogado Proença de Carvalho, e deduzi que aquelas calças
bambalhonas, não sei se já repararam, dois ou três números acima do tamanho
mais conveniente a um juiz de instrução, guarda um simbolismo. Simbolismo esse
que o advogado Proença de Carvalho me descodificou. É que o juiz Alexandre, a
esta hora, já podia estar sossegadíssimo na Relação. Uns números acima,
portanto, de ser juiz de instrução. E se não está – e continuo a servir-me do
advogado Proença de Carvalho – é porque não quer. E se não quer é porque não
gosta cá de relações. Gosta de poder. E nesse poder está compreendido o poder
de mandar para a pildra, nem que seja preventivamente, ou provisoriamente, alguns
poderosos. Ou antigos poderosos. Quem sabe até se alguns futuros poderosos que
pela acção do homem das calças largas, o juiz Alexandre, nunca atingirão o
estatuto de poderosos mesmo. Quem sabe…
O poder? O poder de
quê? Ora, o poder modernamente dos mais apetecidos. O poder de julgar, sim,
está bem, e o poder do sensacionalismo mediático, é pá este juiz sim, não tem
medo deles, é um gajo de tomates negros. “O juiz dos tablóides”: classifica o
douto Proença de Carvalho.
E esse gosto pelo
sensacional poder mediático traduz-se nas mãos únicas do juiz Alexandre e na
concentração de uma carga de processos dos mais retumbantes que se possam
arranjar aqui na parvalheira.
O juiz Alexandre já
foi bombeiro, é católico praticante, é filho de pessoas comuns, é o Garzon
português (o Garzon verdadeiro só não é o Alexandre espanhol porque chegou
primeiro do que o Alexandre aos holofotes da justiça), é ele o justiceiro do Far-West em que a vida
institucional portuguesa deu nos últimos tempos. E é sportinguista. E por aí
deve ter muito de quem se vingar. Digo eu. Estou a brincar.
Pois sim, já podia
estar refastelado a desembargar num posto acima e não quer. Pela História
jurídica, que irá falar dele. Pelas calças.
No geral, mantém um
número de roupa adequado à classe de juiz de instrução. Mas guarda a simbólica
para as calças, dois ou três números acima da medida do mediano corpo de um
juiz de instrução. E assim o juiz Alexandre está a significar a sua situação
profissional aos media, ao mundo
distraído e ignaro que não repara em certas coisas.
Podia estar mais alto e
mais largo e mais comprido na carreira. Não está porque não quer. E não quer
porque a sua alma ressentida de sportinguista (de católico, de filho de gente
humilde) tem sede de justiça efectiva, e o seu corpo tem fome de notoriedade
mediática, e as suas calças são à dimensão do crime que prevalece neste mundo
perdido que ele anda a tentar redimir.
Ainda fazendo fé no
advogado Proença de Carvalho, o juiz Alexandre podia ser o juiz natural – não
sei o que seja, mas acho uma designação saudável, ecologista. Sim, podia ser.
Podia ser e é. Digo eu. É. Excepto nas calças. Aquele par de calças a drapejar
no campus em fuga aos fotógrafos é pouco natural. É o par de calças de quem
quer julgar à larga, perigo de fuga e de destruição de provas, mas ó
meretíssimo!, cale-se, detenção, mas ó meretíssimo, cale-se, senão também você
vai dentro, que isto aqui é tudo à larga, falsificação, burla, branqueamento,
fraude fiscal, mas ó meretíssimo!, cale-se, prisão preventiva. Já está. Outro!
Mas ó meretíssimo… cale-se. Aqui é tudo à larga. Olhe para as minhas calças.
Aqui é tudo pela medida grande. Já reparou nas minhas calças? Banqueiros,
deputados, chefes de polícia, agentes secretos, ministros (ou ex-ministros, o
que vai dar no mesmo), ex-chefe de governo…
O sonho dele, antes
de reduzir o número das calças, é apanhar um chefe de governo que não seja ex,
raios me partam se não é.
À larga. Tudo à
larga. Tudo em grande. Tudo pela medida grande. Barulho. Televisão. Rádio.
Jornais. A obra dele. Devia estar na Relação, pois devia, mas não está. A sua
relação com a Relação fica-se, para já, pelas calças, bastante grandes para
meter nos bolsos delas o mais que vier que dê direito a grande notícia,
políticos, financeiros, tubarões, enfim, daqueles que mordem mesmo…
E por falar nisto…
E por falar nisto, e
tendo sempre como orientação de estudos as calças do juiz Alexandre, estou
prestes a terminar a minha licenciatura de sofá em Processo Penal.
Para mestrado e
doutoramento devo ter que esperar. Esperar pelos recursos de uma data de
condenações em 1ª instância. Pelos julgamentos do pessoal do BES e do BPN e do
BPP. Pelo julgamento do “animal feroz”. Sei lá…
Nessa altura já não
estarei no mundo dos viventes, com toda a certeza. Mas mesmo assim deixo aqui o
preito de gratidão académica aos meus insígnes mestres televisivos, Saragoça da
Mata, Sá e Cunha, Rogério Alves, Rangel, Caiado Guerreiro, Inês Serra Lopes,
Artur Marques, Magalhães e Silva. Fora aqueles de quem esqueci o nome. Nem sei
o que mais haverá para aprender nos bancos de universidade para além do que
eles têm ensinado ao povo pela televisão. E tudo isso à pala do juiz Alexandre
e das suas calças largas.
Uma coisa é certa: com ou sem calças (na mão), está a um passo de entrar na História de Portugal!
ResponderEliminarIncarnando que espécie de papel, isso agora é o que todos veremos, mais cedo que tarde...