domingo, 30 de novembro de 2014

                     AS CALÇAS DO JUIZ ALEXANDRE

        Então não se lembram de o ver, rompendo por entre os repórteres, negando a cara às ávidas câmaras televisivas, a fugir a sete pés pelo campus da Justiça, tronco em blazer azul normal, pernas embaraçadas no excesso de pano das calças?


        Li na Internet um depoimento do advogado Proença de Carvalho, e deduzi que aquelas calças bambalhonas, não sei se já repararam, dois ou três números acima do tamanho mais conveniente a um juiz de instrução, guarda um simbolismo. Simbolismo esse que o advogado Proença de Carvalho me descodificou. É que o juiz Alexandre, a esta hora, já podia estar sossegadíssimo na Relação. Uns números acima, portanto, de ser juiz de instrução. E se não está – e continuo a servir-me do advogado Proença de Carvalho – é porque não quer. E se não quer é porque não gosta cá de relações. Gosta de poder. E nesse poder está compreendido o poder de mandar para a pildra, nem que seja preventivamente, ou provisoriamente, alguns poderosos. Ou antigos poderosos. Quem sabe até se alguns futuros poderosos que pela acção do homem das calças largas, o juiz Alexandre, nunca atingirão o estatuto de poderosos mesmo. Quem sabe…


        O poder? O poder de quê? Ora, o poder modernamente dos mais apetecidos. O poder de julgar, sim, está bem, e o poder do sensacionalismo mediático, é pá este juiz sim, não tem medo deles, é um gajo de tomates negros. “O juiz dos tablóides”: classifica o douto Proença de Carvalho.
                                               

        E esse gosto pelo sensacional poder mediático traduz-se nas mãos únicas do juiz Alexandre e na concentração de uma carga de processos dos mais retumbantes que se possam arranjar aqui na parvalheira.


        O juiz Alexandre já foi bombeiro, é católico praticante, é filho de pessoas comuns, é o Garzon português (o Garzon verdadeiro só não é o Alexandre espanhol porque chegou primeiro do que o Alexandre aos holofotes da justiça), é ele  o justiceiro do Far-West em que a vida institucional portuguesa deu nos últimos tempos. E é sportinguista. E por aí deve ter muito de quem se vingar. Digo eu. Estou a brincar.


        Pois sim, já podia estar refastelado a desembargar num posto acima e não quer. Pela História jurídica, que irá falar dele. Pelas calças.


        No geral, mantém um número de roupa adequado à classe de juiz de instrução. Mas guarda a simbólica para as calças, dois ou três números acima da medida do mediano corpo de um juiz de instrução. E assim o juiz Alexandre está a significar a sua situação profissional aos media, ao mundo distraído e ignaro que não repara em certas coisas. 

                                                                          

      Podia estar mais alto e mais largo e mais comprido na carreira. Não está porque não quer. E não quer porque a sua alma ressentida de sportinguista (de católico, de filho de gente humilde) tem sede de justiça efectiva, e o seu corpo tem fome de notoriedade mediática, e as suas calças são à dimensão do crime que prevalece neste mundo perdido que ele anda a tentar redimir. 


        Ainda fazendo fé no advogado Proença de Carvalho, o juiz Alexandre podia ser o juiz natural – não sei o que seja, mas acho uma designação saudável, ecologista. Sim, podia ser. Podia ser e é. Digo eu. É. Excepto nas calças. Aquele par de calças a drapejar no campus em fuga aos fotógrafos é pouco natural. É o par de calças de quem quer julgar à larga, perigo de fuga e de destruição de provas, mas ó meretíssimo!, cale-se, detenção, mas ó meretíssimo, cale-se, senão também você vai dentro, que isto aqui é tudo à larga, falsificação, burla, branqueamento, fraude fiscal, mas ó meretíssimo!, cale-se, prisão preventiva. Já está. Outro! Mas ó meretíssimo… cale-se. Aqui é tudo à larga. Olhe para as minhas calças. Aqui é tudo pela medida grande. Já reparou nas minhas calças? Banqueiros, deputados, chefes de polícia, agentes secretos, ministros (ou ex-ministros, o que vai dar no mesmo), ex-chefe de governo…


        O sonho dele, antes de reduzir o número das calças, é apanhar um chefe de governo que não seja ex, raios me partam se não é.
        À larga. Tudo à larga. Tudo em grande. Tudo pela medida grande. Barulho. Televisão. Rádio. Jornais. A obra dele. Devia estar na Relação, pois devia, mas não está. A sua relação com a Relação fica-se, para já, pelas calças, bastante grandes para meter nos bolsos delas o mais que vier que dê direito a grande notícia, políticos, financeiros, tubarões, enfim, daqueles que mordem mesmo…

                                                                                  

           E por falar nisto…
      E por falar nisto, e tendo sempre como orientação de estudos as calças do juiz Alexandre, estou prestes a terminar a minha licenciatura de sofá em Processo Penal.
        Para mestrado e doutoramento devo ter que esperar. Esperar pelos recursos de uma data de condenações em 1ª instância. Pelos julgamentos do pessoal do BES e do BPN e do BPP. Pelo julgamento do “animal feroz”. Sei lá…

        Nessa altura já não estarei no mundo dos viventes, com toda a certeza. Mas mesmo assim deixo aqui o preito de gratidão académica aos meus insígnes mestres televisivos, Saragoça da Mata, Sá e Cunha, Rogério Alves, Rangel, Caiado Guerreiro, Inês Serra Lopes, Artur Marques, Magalhães e Silva. Fora aqueles de quem esqueci o nome. Nem sei o que mais haverá para aprender nos bancos de universidade para além do que eles têm ensinado ao povo pela televisão. E tudo isso à pala do juiz Alexandre e das suas calças largas.  


1 comentário:

  1. Uma coisa é certa: com ou sem calças (na mão), está a um passo de entrar na História de Portugal!

    Incarnando que espécie de papel, isso agora é o que todos veremos, mais cedo que tarde...

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