shakespeare
400 – the globe theatre
Tanto quanto temos
notícia foi em 1592, no Rose Theatre, que Titus
Andronicus e a primeira parte de Henry
VI foram dadas ao público londrino. Rose Theatre a funcionar antes da
inauguração do famosíssimo e histórico Globe Theatre.
Os teatros
isabelinos funcionavam então em sistema de repertório e os actores tinham que
se haver com a estafa da mudança diária de uma peça para outra. Facto que, no
entanto, e segundo os entendidos, proporcionou a subida geral do nível artístico
das representações.
O velho Globe foi
então inaugurado em 1599, estava o reinado de Isabel I a dar as últimas
representações. O Globe viria a ser dirigido por uma sociedade de actores
constituída pelos irmãos Burbage (Richard e Cuthbert), por um tal de William
Shakespeare, e mais por John Heminge, Henry Condell, Will Kempe, Augustine
Phillips e Thomas Pope.
Num dia de 1613, o
Globe pegou fogo. E ardeu. E ardeu por razões de ordem teatral, quando durante
uma representação de Henry VIII (de
autoria partilhada por Shakespeare e John Fletcher) houve a ideia de disparar
um canhão no palco e as centelhas do disparo voaram para os telhados – estava
nesse dia, por acaso, Shakespeare de folga, na terra, em Stratford.
O teatro levou
apenas um ano a ser reerguido e a reabrir, e a manter-se em actividade até à
chegada ao poder dos puritanos, em 1642, o que obrigou ao fecho de todos os
teatros londrinos.
A companhia do
Globe Theatre, dirigida por Richard Burbage, produziu as estreias de grande
parte das peças de Shakespeare. Mas não só, evidentemente. Muitos outros
dramaturgos viram as obras estreadas no Globe.
Richard Burbage foi
o primeiro grande actor inglês – num próximo post voltarei a falar dele, e com a ajuda de Laurence Olivier
voltarei ao que se pode chamar de grande linhagem aristocrática dos actores
shakespearianos – e o mais certo é ter sido ele a criar as personagens mais
altamente marcantes do mundo do mestre de Stratford, Ricardo III, Hamlet,
Malvolio, Othello, Lear.
Com a restauração
da monarquia, em 1660, o rei Carlos II deu prioridade máxima à restauração da
vida teatral e foi sob o seu magno patrocínio que se formaram duas companhias
de drama, os King’s Men e os Duke’s Men, que vão dar origem à edificação dos
dois principais teatros régios, o Drury Lane e o Covent Garden.
A vida teatral
londrina passava assim de Southwark para o West End e institucionalizava-se, e
respeitabilizava-se, com a realização de espectáculos nocturnos em espaços
nobres e devidamente fechados.
Acontece então,
numa vida teatral dominada pelos actores homens, a alteração decisiva, diria
revolucionária, que foi a utilização de actrizes.
Ainda que a rainha e as damas
nobres costumassem representar nos teatrinhos da corte dos Stuart, é só em 1660
que aparecem nos tablados de Londres as actrizes profissionais. E sai um
decreto régio: às mulheres, e não aos
rapazes, deveriam passar a ser confiados os papéis femininos.
Shakespeare,
entretanto morto (em 1616), muito poderia ter apreciado semelhante inovação,
que lhe teria acrescentado mais verdade e maior verosimilhança aos trabalhos.
Todavia, os
historiadores não têm absolutas certezas para afirmar quem teria sido a
primeira actriz da cena inglesa. Ainda assim, sabe-se que no dia 8 de Dezembro
de 1660 foi uma mulher que recitou Desdemona na King’s Company, dirigida por
Thomas Killigrew, e sendo as outras personagens femininas ainda desempenhadas
por rapazes.
E se esse Killigrew
da King’s Company já mantinha quatro actrizes sob contrato profissional, o
rival da Duke’s Company, William Davenant, já lá tinha seis.
Foi esse Davenant o
introdutor das mudanças de cenário – e da mobilidade dos próprios cenários para
lá do proscénio.
O que aliás já acontecia nas representações de máscaras na
corte dos Stuarts por obra do afamado cenógrafo Inigo Jones.
Thomas Betterton é
quem sucede como vedeta da cena inglesa a Richard Burbage, em 1660. Era exímio
quer em tragédia quer em comédia, e é ele que começa a fazer algumas modificações
nos textos de Shakespeare, e n sentido de uma actualização, de uma adaptação
aos gostos de cada época. Assim se inicia uma prática de revisões que seria
norma pelos tempos a seguir.
Anne Bracegirdle é
consagrada pelos investigadores destas coisas como a maior das actrizes
históricas do teatro inglês. Não era contudo menina para doses dramáticas muito
fortes - o que é estranho para quem foi considerada a maior – e restringia-se
ao repertório mais light das heroínas
shakespearianas, Portia, Desdemona, Cordélia, Ophélia. Tinha uma amiga que lhe
passava a perna nas personagens de mais peso, Elizabeth Barry, que ganhou alta
fama em Lady Macbeth.
As revisões,
actualizações e adaptações do teatro shakespeariano continuavam, e algumas,
pelo dizer dos sapientes, foram mesmo drásticas. E foram a normalidade no
século seguinte até aos alvores do século XIX. Garrick, o grande actor do
século XVIII, e verdadeiro devoto do mestre de Stratford, abusou dos cortes,
das revisões e até das reescritas. Msmo assim, no que toca a Shakespeare, o
século XVIII foi o século de Garrick.
Entretanto, nascia
o teatro americano. Na Virginia. Com a família Hallam, os primeiros
shakespearianos americanos importantes. Que aliás eram ingleses.
Fazem o Mercador de Veneza em 1752, em Williamsburg.
Fazem o Ricardo III em Nova York no
ano seguinte.
Virá a ser Edwin
Booth o primeiro grande shakespeariano das américas, e bate o record de 1000
noite seguidas a representar Hamlet
em plena guerra civil. Um máximo que só vem a ser superado por John Barrymore,
em 1922.
Há um homem,
William Poel, vivo entre 1852 e 1934, que se perfila como campeão da
restituição dos textos de Shakespeare na sua pureza original. Não só dos
textos, diga-se, também do estilo de encenação e representação deles.
No meio disto tudo,
havia que erigir um teatro especializado na própria cidade que vira nascer o
Bardo, Stratford-upon-Avon. E esse teatro aparece. Em 1879. E abre no dia do
aniversário do velho Willy, 23 de Abril. É em 1960 que o baptizam de Royal
Shakespeare Company, fadado para produzir todas as 37 peças canónicas do
Mestre.
O mundo do drama
shakespeariano conheceu há pouco tempo novos impulsos com a construção do novo
Globe Theatre,em South Bank, mais ou menos no lugar do original Globe Theatre
dos tempos isabelinos.
Numa iniciativa
visionária do actor e encenador americano Sam Wanamaker, foi desenhado igual ao
original tanto quanto as pesquizas históricas e as escavações o determinaram, e
também na intenção de replicar tanto quanto possível as técnicas encenográficas
do tempo de Shakespeare.
É um teatro aberto,
quer dizer, ao ar livre, exactamente como o velho, com o público próximo da
cena e dos actores num palco trilateral.
Na sua maior parte,
os espectáculos decorrem de dia, à luz natural. O que não implica forçosamente
que não se façam récitas nocturnas, sob uma luz eléctrica a incidir
uniformemente sobre actores e público, sendo porém de evitar excessos nos
efeitos visuais.
Também foi planeada
alguma amplificação sonora para ajudar a projecção da voz dos actores. E
igualmente música ao vivo quando necessário.
Como era de
tradição no primitivo Globe, previram-se algumas produções só com
actores-homens, num regresso histórico à estranha e isabelina ideia de que o
público viriaao Globe Theatre mais para ouvir a peça do que para ver…
Como já há muito nos habituou, uma excelente efeméride,nos três blogs a ele dedicados, sobre as vicissitudes da obra do enorme bardo inglês...Obrigada, caro amigo.
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