shakespeare 400 – george steiner
Nenhuma actividade
ou profissão se salvou do bisturi shakespeariano, médicos, advogados, agiotas,
soldados, marinheiros, magos, putas, padres, políticos, músicos, carpinteiros,
reis, assassinos…
Shakespeare, no
dizer do Prof. George Steiner, é um inventário da experiência humana. Um
inventário inultrapassável. A obra de Shakespeare é uma soma do mundo.
Porém, para decepção de Steiner, a
relação mestre-discípulo não chamou uma especial atenção do Bardo.
Está bem, há o didactismo sentencioso de
Polónio em Hamlet. Ou sim, Próspero
em A Tempestade. Caliban educado em
dureza e rigores; Miranda criada entre ríspidas afeições. Mas tudo isso é
incidental, ainda assim. Nada disto é fulcro central de uma peça.
Steiner arrisca que a ausência temática
do binómio mestre/discípulo em Shakespeare releva de uma recusa subconsciente
das reivindicações e pretensões do academismo autoritário sobre a mente do
autodidacta universalista. É bem pensado.
Já em Montaigne Steiner destacava a
mesma pecha, digamos assim, o mesmo reflexo.
E o mais intrigante é que essa eventual
recusa inconsciente de Shakespeare contrastava gritantemente com o gosto que
tinham pelo ensino formal os contemporâneos dele, Marlowe, Chapman, Ben Johnson…
E quem poderia ensinar Shakespeare nas
verdades e mentiras da consciência humana?
Ah, os Sonetos…
E tu que conheceste as estrelas e a luz do
sol,
por ti mesmo instruído, perscrutado,
honrado, seguro,
sobre a terra caminhaste insuspeito –
tanto melhor!
Sem comentários:
Enviar um comentário