terça-feira, 30 de julho de 2013


            AS AVENTURAS DA HERESIA




Isto hoje em dia não deve ter interesse nenhum, porque a preocupação máxima é a crise, mas não é possível esquecer que a Palestina, já no tempo de Jesus, e tal como hoje, era uma zona de grande instabilidade social e grande agitação politica.


Foi cerca de um século antes  do nascimento de Jesus que a Palestina baqueou diante das legiões romanas. Mas como Roma tinha muito mais que fazer no mundo, deixou a Palestina entregue a uma linha de reis, os Herodes, que não passavam de testas de ferro dos interesses do império. Reis esses, os Herodes, que ainda por cima nem eram judeus, eram árabes, e a governar sob leis que eram de Roma.


Tinha Jesus feito seis anos quando três mil patriotas revolucionários da Judeia eram sumariamente crucificados, o Templo era saqueado, e o IRS lá deles fortemente aumentado pelos romanos. Havia tortura e suicídios. Pilatos, ao contrário do sugerido na Bíblia, era bera como a ferrúgem, cruel, venal e corrupto.


Os grupos revolucionários na Judeia brotavam a cada esquina, fariseus, zelotas – por vezes confundidos com os essénios, e talvez por alguma razão ou afinidade de princípios e práticas associados a eles. No contexto do status vigente pode dizer-se que eram esses zelotas que marcavam a agenda política.



Em 66 (mas já depois de Cristo), a luta armada desencadeou-se.

                               

O povo da Judeia esperava por alguém, alguém que o liderasse na luta contra o ocupante, e a esse alguém chamariam de messias. Mas a questão é que a figura de um messias nada tinha a ver com a divindade do sujeito. Messias que, em grego, se diz Christo, quer dizer ungido, reportava à figura e à dignidade de um rei: David fora um ungido; fora um messias; fora um Christo. Fora um rei. E todos os da sua casa o seriam.
    Para os zelotas do tempo de Cristo e dos anos que se seguiram, o verdadeiro messias era o descendente perdido da casa de David e o seu aparecimento estava por dias. Mas era como entidade política e não religiosa que o aguardavam.


Pode o leitor não ter interesse nenhum nisto e já estar verde de saber isto, mas, ainda assim, digo-lhe que a designação Jesus de Nazaré é já de si duvidosa. E nem se sabe se a cidade de Nazaré já existia no tempo de Jesus. É como lhe digo, leitor. Nazaré não figura nos mapas do tempo nem nos documentos romanos – aliás, nem sou eu que lhe digo, são os entendidos. Nazaré nem aparece no judaico Talmud. Nem Flávio Josefo fala alguma vez na cidade de Nazaré. É só depois da revolta do ano de 66 que Nazaré aparece como cidade.


Jesus, pobre carpinteiro? Também é duvidoso. Ele era um homem culto e parecia preparado para ser um rabi. E… pois não, também não alinhou só com gente pobre, também alinhou com ricos e poderosos, casos de Nicodemos, José de Arimateia. E Maria Madalena era irmã de Lázaro, e aquilo era gente de posses e com muitos amigos na política, quer dizer, na corte de Herodes.
O desacordo factual entre os evangelhos conhecidos e consagrados, mas na verdade compilados muito tempo depois dos eventos e ao arbítrio da conveniência político-eclesiástica, deixam os investigadores às aranhas. Para  o evangelista Mateus, Jesus era membro da aristocracia e com justificadas pretensões ao trono dos judeus; para Lucas, a família de Jesus, conquanto herdeira da estirpe de David, era uma família modesta. E com Marcos, Jesus era finalmente filho do pobre carpinteiro.
                 
                                

Ou aquilo que hoje conhecemos sob a simplificada designação de Jesus era referido a mais do que uma pessoa, duas, três; ou a história da vida de Cristo seria  a crónica ficcionada, ou metafórica, da ideologia e das acções de  uma seita politico-religiosa?
Para Lucas, Jesus nasceu sob as vistas de uns humildes pastores. Mateus põe sábios a assistir-lhe ao nascimento. Em Lucas, a família de Cristo vive pobremente em Nazaré; em Mateus, a família de Jesus tinha de ser, e era, de Belém – além de Jesus não ter nascido num estábulo, ou numa mangedora, mas numa casa normal. Mateus propõe ainda que é a perseguição de Herodes que leva a família a fugir para o Egipto e só no regresso a virem morar para Nazaré.
No evangelho dito de João a crucificação foi na Páscoa judaica. Mateus, Marcos e Lucas estão em maioria no dizer que foi no dia a seguir.


Para Lucas, Jesus é um humilde, um cordeirinho dócil. Para Mateus é um homem importante.
Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste: últimas palavras que Mateus e Marcos atribuem a Jesus na cruz. Pai, na tua mão entrego o meu espírito, afirma Lucas que Ele disse por último.
Tudo está consumado, segundo o evangelho de João –ou atribuido a alguém que assinou João.


Nos evangelhos, e quanto ao estado civil de Jesus, o silêncio é de ouro. E no entanto, muitos dos seus discípulos eram casados, a começar por Pedro. E nem Jesus em algum momento terá defendido o celibato; e se não o defendia nem o pregava, porque razão haveria de  praticar?
Os costumes judaicos não estavam com contemplações e impunham o casamento aos homens. Um homem judeu era potencialmente um pai, um pai que se via constrangido a encontrar mulher que fosse mãe para o seu filho.
Admitindo que Jesus não fosse casado e se fizesse maioritariamente acompanhar só por homens, e sendo o que eram os costumes e a cultura dos judeus, o que é que impede os malsins de conjecturar que ele pode ter sido condenado e morto em consequência disso?
Mas admitindo como mais do que certo que Jesus fosse casado, quem poderia ser a mulher de Jesus?


Duas mulheres o acompanhavam com frequência Maria (da terra de Migdal, ou Magdala) Madalena, era uma delas.
Prostituta, Madalena? Não é que, nos evangelhos, essa condição lhe seja assim tão flagrantemente assacada. Talvez ela fosse pecadora, mas também  parece certo que era mulher de teres e haveres, que tinha amigos influentes, e que, com alguma probabilidade, pudesse ter tido uma vida sexual mais folgada do que o permitia a ortodoxia…
Jesus é ungido por uma mulher. Mas teve que ser uma mulher com bastante de seu. Porquê? Por causa dos custos. Dos custos do óleo de nardo com que era feito o ritual da unção. E o óleo de nardo nesse tempo, IVA incluido, custava os olhos da cara.


É por essa unção que Jesus assume o estatuto de messias. E, em ritual tão solene, a mulher que o ungiu não podia ser uma mulher qualquer.
O tratamento dado por Jesus a Madalena é de modo a provocar ciúmes nos outros seus seguidores. E pode bem ser que Maria Madalena tenha sido difamada pelos discípulos mais invejosos, que lhe começaram a chamar nomes a verem que Cristo a tratava carinhosamente e que, inclusivé, a beijava na boca.
Mas outra mulher se apresenta como possível esposa de Jesus, outra Maria, irmã de Marta e de Lázaro. Maria Betânia - não essa, a do Brasil, uma outra, da Judeia (ou Maria de Betânia), e seus irmãos. Tudo gente que tinha de seu.   

Há mulheres que os evangelhos colocam em situações e lugares diferentes e que podiam não passar de ser uma e única mulher. A tradição popular assim o diz. E os estudiosos da actualidade concordam. Se Maria Madalena estava presente na crucificação, porque não o estaria Maria de Betânia, discípula tão dedicada que ela era do Mestre. Ou estava e os evangelhos lhe chamam Maria Madalena?


O eventual casamento de Jesus com Maria Madalena podia transcender o mero matrimónio entre cidadãos. Poderia ter revestido uma forma de aliança entre famílias com  vista a finalidades dinásticas, políticas. A consequência física desse casamento seria uma linhagem real a prosseguir a linhagem real de David.
Porque há evidências (dizem) de que Maria Madalena também era de linhagem régia, da tribu de Benjamin.
Jesus era da linha de David, e se tinha pretensões ao trono dos judeus estas eram legítimas. E como David, da tribu de Judá, usurpara o trono ao benjamita Saúl, Jesus, casado com uma benjamita, cumpria uma formalidade dinástico-política importantíssima ao unir as duas casas reais, unificando a linha de descendência e de pretensão ao trono. Dessa forma, melhor podia mobilizar o país, liderar uma revolução, expulsar o ocupante romano, restaurar a monarquia salomónica. E seria então ele, de todo o direito, o rei dos judeus.


Maria Madalena e Jesus, ambos com sangue real? Convenhamos, não eram uns quaisquer. E casados mais perigosos se tornavam, porque neles se fundiam as duas mais ilustres estirpes da realeza judaica.
Mas por favor… não se segue daqui que eu esteja pessoalmente convencido desta ou daquela verdade. Não me interpretem mal.  Estamos no domínio do fabuloso, do especulativo, do misterioso e do romanesco. E da heresia e das suas aventuras. Mas não sou eu o herege – pelo menos por isto. Limito-me a reproduzir aquilo que li e em que pessoalmente nem acredito nem deixo de acreditar.
Falta uma semana para a crucificação quando Jesus entra triunfalmente em Jerusalém montado num burro. Assim o mandava o Velho Testamento àquele que se reclamasse do estatuto de messias.
O problema foi o burro. Era preciso achar um burrinho e não havia ali á mão burrinho nenhum – o que também me soa um bocado estranho. Jesus manda então alguns dos discípulos a Betânia, diz-lhes que em tal parte assim-assim acharão um jumento. E assim acontece. E o caso levou foros de milagre. Um burrinho ali, logo, à mão de semear, como que por encomenda.


Mas os comentadores permitem-se duvidar de tal milagre. Preferem pensar que toda a cena estava minuciosamente planeada para seguir o guião (chamemos-lhe assim) estipulado no Antigo Testamento.
    Quem é o homem que fornece o burro para a triunfal entrada de Jesus, o Cristo, em Jerusalém na qualidade de messias escolhido e ungido? Pode ter sido Lázaro. Amigo e seguidor secreto de Jesus, assim como outros, dispunha de fortuna e influência – porque alguns dos discípulos declarados poderiam estar fora do segredo. Lázaro estava dentro do segredo e pode ter ele sido o director de cena e o chefe contra-regra da representação ritual de Jesus como messias.


Dizem alguns que havia em redor de Jesus, para além dos apóstolos evidentes – que seriam os soldados rasos -, um círculo secreto e realmente poderoso e influente de seguidores. E pode ter sido sob a direcção de Lázaro que o ritual de uma crucificação e de uma ressurreição iniciática de Jesus pode ter acontecido.
Quem em primeira instância condena Jesus à crucificação é o Sinédrio, o grande conselho dos velhos judeus. Depois de o condenarem levam-no a Pilatos. Exigem de Pilatos um claro pronunciamento contra ele.
   Mas parece que tal coisa não faz historicamente qualquer sentido.
Se Jesus é condenado pelo Sinédrio na noite da Páscoa, é preciso dizer que o Sinédrio estava proibido de reunir durante a Páscoa. E então… como é isto arranjado?
Preso e julgado ante o Sinédrio à noite. Mas, azar!, o Sinédrio não reunia à noite…
       (E já agora, entre parêntesis, deixem-me que vos diga que não sei onde é que os investigadores e académicos historiadores vão buscar tantas certezas de uma época tão remota, mas enfim…)


Parece ser verdade que o Sinédrio não dispunha de poderes e autoridade para proferir sentenças de morte por crucificação. Só por apedrejamento. E aqui é que está o busílis. É por causa disso que Jesus é levado perante Pilatos. Mas porque razão então o Sinédrio não condenou Jesus no âmbito das suas competências, ou seja, ao apedrejamento?


Os autores dos evangelhos – autores e revisores e censores -, escrevendo para audiências romanas quiseram eximir Roma ao crime da morte de Jesus. E é por isso que Pilatos aparece na cena dos evangelhos a dizer que nada tem com o caso, que não vê naquele homem culpa alguma. A verdade é que pode não ter sido essa.
A multidão incita Pilatos a condenar Jesus. Pilatos não quer, mas já que a multidão clama por isso, ele cede.
Não cabe na cabeça de ninguém que um pro-cônsul romano da época fosse homem para ceder à multidão de um território estrangeiro ocupado a ferro e fogo… mas, escritos como foram os evangelhos, a ficção tornar-se-ia aceitável para Roma. E era em Roma que a Igreja de Cristo teria de ser fundada. Uma questão de marketing  político


Pilatos chama a Jesus “Rei dos Judeus”; na cruz é afixado um dístico a dizer o mesmo – isto segundo os evangelhos conhecidos do vulgo.


Mas que Rei dos Judeus? A que título “Rei dos Judeus” conferido a um homem que ia ser tratado com toda a intolerância e crueldade?
Rei dos Judeus? Era gozo? Era presunção pateta do próprio Cristo? Ou seria pretensão legítima? Não se sabe. Os evangelhos não no-lo esclarecem.
Mas não tinham vindo três reis magos visitar um menino recém-nascido? Três reis logo de uma assentada, e dos verdadeiros… três reis em busca do menino nascido rei dos judeus
E de quem tinha afinal Herodes tanto medo? E porquê?
Teria Herodes medo daquele que representasse uma linha mais legítima e um mais legítimo direito de sucessão ao trono de Israel?
Se Cristo não violou a lei romana – como o próprio Pilatos se descaíu a dizer -, porque foi então castigado segundo os métodos de Roma: crucificação; crucificação exclusivamente usada para réus de crimes contra Roma?
O Cristo crucificado à ordem de Roma seria o Cristo que nada tinha a ver com os conflitos políticos do tempo?
    

    
      Se Cristo era absolutamente apolítico como querem os evangelhos, porque concitou então contra ele o braço da justiça imperial?
Na cruz, suspenso pelas mãos, um homem ficava inibido de respirar. Só se lhe prendessem, ou pregassem, também os pés para aliviar a pressão nos pulmões. Desse modo, um crucificado poderia levar uma semana a morrer. Só no caso de lhe partirem as pernas o processo de morte seria naturalmente acelerado por asfixia. As pernas de Jesus não foram partidas.
Quando o soldado romano lhe aplica a lançada no lado, Jesus já está morto. E tem apenas poucas horas de crucificado.


A morte de Cristo na cruz ocorre no instante preciso, e só para evitar que os soldados lhe partissem as pernas. E porque era preciso cumprir até à última a profecia do Velho Testamento.
Poderia ter Jesus organizado toda a sua vida e trajectória em função da profecia velho-testamentária que anunciava para essa época a chegada de um messias?
Jesus diz que tem sede. O soldado romano estende-lhe a lança com a esponja embebida em fel e vinagre. Não, não era um acto de sadismo. Porquê? Porque o vinagre é um estimulante, servia para reanimar, por exemplo, os escravos exaustos que remavam nas galés. Jesus, ao cheirar ou ao sorver o vinagre da esponja, experimentaria uma renovação temporária das energias. Pois. Mas não foi isso que aconteceu. Logo que lhe chegam a esponja à boca, Jesus diz as últimas palavras e morre. Fisiologicamente, cientificamente, é uma morte no momento errado, a reacção do corpo de Cristo está errada segundo a ciência.
Aos lábios de Cristo pode ter chegado uma droga, um calmante ópiáceo, aloés, beladona. Usava-se na época.


Mas se assim foi, porque foi?
Faria parte do plano provocar na vítima uma morte apenas aparente?
Estaria Jesus ainda vivo – embora inconsciente - depois da esponja e das últimas palavras?
Se a crucificação era um acto público, um espectáculo de multidões, os evangelhos, pelo contrário, descrevem a de Jesus de  modo bem diverso.
Segundo Mateus, Marcos e Lucas, os assistentes estariam a observar de longe. Alguns autores especulam que a crucificação poderia ter acontecido num lugar privado, talvez o jardim de Gethsemani,  propriedade de um dos do círculo mais íntimo e mais fechado de Jesus. Uma crucificação num recinto privado pode dar margem a mistificações.
As testemunhas não eram neutras. E estavam longe. Longe o suficiente para lhes ser difícil distinguir quem era o homem que estava de facto a ser crucificado. E menos ainda se o crucificado estaria a certa altura verdadeiramente morto. Mas para toda a encenação acontecer era preciso que a autoridade romana fechasse os olhos. Pilatos era o responsável pela ordem. Pilatos era um tirano. Pilatos era corrupto. Mas Pilatos entrega o corpo de Jesus a José de Arimateia, quando, pela lei, o crucificado não tinha direito a sepultura e o corpo ficava-lhe na cruz, a ser corrompido pelo sol e pela chuva, a ser devorado pelas aves de rapina.


José de Arimateia solicita a Pilatos o corpo de Jesus e Pilatos entrega-lho. Que direito tem José de Arimateia a receber o corpo de Jesus? Só por ser um dos do círculo secreto? Mas se o círculo era secreto, Pilatos não devereia ter nada que saber dele…


José de Arimateia era um homem riquísimo e membro do Sinédrio. Era influente. Talvez fosse até ainda aparentado com a família de Jesus. Jesus tinha amigos influentes e institucionalmente bem situados. Tinha mesmo que os ter se aspirava de facto à dignidade máxima de rei, e se de facto lhe corria nas veias o sangue real da Judeia. Inclusivé teria relações entre o poder romano e os saduceus. E  terão sido esses os que conspiravam na sombra para lhe frustrar a subida ao trono a que legitimamente aspirava.


As pretensões de Jesus eram tão legítimas que não havia maneira de lhes evitar as consequências senão matando-o sob um pretexto qualquer. Não seriam porém os adeptos da verdadeira mensagem de Cristo a preparar-lhe uma crucificação fictícia. A quem daria jeito uma crucificação fictícia seria aos que estavam interessados na preservação da linhagem real de David, familiares de Jesus, gente da aristocracia judaica, iniciados do círculo secreto do Mestre.
Os sermões de Jesus, os milagres que lhe saõ atribuídos, seriam parte de uma operação de propaganda e de um programa político de tomada do poder?
A crucificação pode ter sido encenada como uma manobra política. Um substituto pode ter tomado o lugar de Cristo. Ou Cristo, assumindo o seu lugar na cruz, pode não ter morrido nessa altura.
Basilídio de Alexandria, grande heresiarca da década de 120 a 130, comentou profusamente os evangelhos e, ao fazê-lo, deixou para o mundo a heresia das heresias. Ei-la: a crucificação foi um embuste; Cristo não morreu na cruz; quem morreu de facto na cruz foi um seu substituto, Simão, o Cireneu. E acontece que o Corão, no século VII , afirmaria precisamente o mesmo.


     Ao cair da noite, o presumido corpo de Jesus é removido para uma sepultura próxima – e ao que tudo indica em propriedade privada. E três dias depois esse corpo desaparece.


Nos mistérios e nas escolas ritualísticas da Palestina daquele tempo, o rito encenado de uma morte e de uma ressurreição simbólicas não era coisa invulgar. O iniciado era enclausurado num túmulo, esse túmulo adquiria o simbolismo de um ventre, um ventre que tempos depois devolvia o iniciado à claridade do dia, como num novo nascimento. Ritual e simbolismo, aliás, a que hoje poderíamos dar o nome de baptismo, baptismo como o praticado por João nas águas do rio Jordão, em que o neófito era ritualísticamente mergulhado nas águas, emergindo a seguir, o que tornava simbolicamente unos o iniciado e o oficiante.


Para onde foi então o corpo primeiramente depositado naquela sepultura?
Se o corpo não estava morto e era o do próprio Jesus, e desapareceu, para onde foi? Para o Oriente, para Caxemira, onde viria a morrer já consideravelmente velho?
Para a colina-fortaleza de Massada, onde ainda assistiria ao assédio dos romanos no ano de 74 depois dele, morrendo por essa época, com 80 anos?


Documentos de relativamente recente descoberta dão-no como vivo no ano de 45, depois dele. Vivo? Onde? Não se sabe.


Vivo? Em Alexandria, possivelmente. No Egipto, que era para onde fugiam os perseguidos judeus. E teríamos assim um Cristo vivo em Alexandria e na precisa época em que aí se formava um sincretismo de ensinamentos cristãos e pré-cristãos ancestrais, o corpo doutrinário do que veio muito mais tarde a ser conhecido como Rosa-Cruz.
       A tradição e os antigos homens da Igreja não deixam margem para equívocos: Lázaro, Maria Madalena, Marta e José de Arimateia foram levados num barco para Ocidente, para a Gália, para o sul de França, para um lugar que hoje é a cidade de Marselha.


       E Maria Madalena, grávida, traria dentro dela o Santo Graal, o sangue real.


2 comentários:

  1. Voltamos sempre e quando for preciso.
    A Historia têm Histórias muito mal contadas.
    Como por exemplo o significado da palavra VIRGEM que em aramaico designava"mãe com apenas um filho" e não o significado que lhe damos hoje. Dietrich Schwanitz

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