NA
LINHA DA ROSA
Evidentemente: não é o Dan Brown que me
interessa; o que me interessa são os milenares temas que ele levantou, e que,
como já disse antes, ele decalcou daquele outro livro sem ficção que já
mencionei, O Sangue de Cristo e o Santo
Graal, cem vezes mais interessante do que o comercialíssimo Código da Vinci.
Mas não tenho dúvidas de que uma das razões
do bruto sucesso comercial de O Código Da
Vinci está no tom de conspiração internacional. E como cada vez mais gente
desacredita dos políticos e da política que se faz a descoberto, porque os
políticos não podem ser suficientemente claros a explicar certos feitos,
atentados, crises financeiras globais, swaps, golpes e guerras, e
em que muitos dos alegados factos parecem relevar do irracional nas suas
concepções e execução, claro, o público miúdo não só se diverte mais com as
teorias de conspiração como já só acredita no oculto mesmo na vida de todos os
dias, e sobretudo quando se trata da vida política. O público miúdo sente que a
vida do mundo se entretece de conspirações sobre conspirações e
contra-conspirações. Não sabe nada de certo, nunca saberá – não lhe compete saber – mas sente.
A teoria da conspiração é popular. E é propagandeada todos os dias pela
literatura, pela televisão e pelo cinema. E pela realidade, vamos lá. É capaz
de existir mesmo.
Algo estará sempre por detrás de um facto,
por detrás de alguém. Um alguém manobra quase sempre outro alguém. Nada é puro
e desinteressado. Toda a instituição, por mais respeitável, pode funcionar sob
um desígnio secreto. Haverá sempre uma sombria elite de senhores de um conhecimento
superior que escapou à consciência do vulgo e governa por interpostas pessoas o
destino dos homens comuns…
Será mesmo assim? Se
não é, parece. E parece cada vez mais.
Conspiração e simbologia. A Simbologia também
pode aguentar tudo, pode dar para tudo,
para uma coisa e para o seu contrário – diz o ignorante que eu sou. E no âmbito
propagandístico e falsificador do nosso mundo actual torna-se muitas das vezes
complicado saber, mesmo nas coisas mais banais, o que poderá significar o quê.
A realidade pode não passar de um símbolo. Um
símbolo de outra coisa. Essa outra coisa é que nós nem sempre (ou quase nunca)sabemos
qual é. E a irrealidade talvez não passe de uma simbologia do irreal.
O quadro A
Adoração dos Magos, de Leonardo: aí estava a mensagem codificada para
conduzir os vindouros à maior e mais incómoda verdade da História que se
chamava Santo Graal. O quadro foi arredado das vistas públicas da Galleria
degli Uffizi e posto num armazém.
A ocultação da conspiração – como de tantas
outras coisas da vida – é, para o público, o indício mais revelador de que ela
existe. Mesmo que não exista. E aqui colhe particular cabimento a minha sempre recorrente
citação shakespeariana, nada existe mais
do que aquilo que não existe, e muitos de nós não nos cansamos de procurar
sinais de qualquer coisa e significações
ocultas mesmo onde elas não existem. Isto vai desde a demanda do Graal até aos
negócios do futebol, se formos a ver.
Leonardo, o Graal, a Última Ceia… a Última Ceia é
uma reunião de 13 homens? Parece. Mas pode não ser. Quem está sentado à direita
do Senhor? Um homem. Um homem? Sim, um homem de cabelos compridos e fulvos,
mãos entrelaçadas, e até parece que tem seios… um homem ou uma mulher? De
facto, pode ser uma mulher. Quem é esta mulher? Maria Madalena. Uma prostituta?
Há quem diga que foi o papa Gregório, o Grande, o inventor deste boato
calunioso, no ano de 591. Mas não! Madalena não era prostituta. Foi a Igreja
que a fez tal, que a entendeu difamar, e só emendando a mão em 1969. E talvez
porque Maria Madalena terá estado à cabeça de um movimento cristão que se
opunha às pretensões do apóstolo Pedro. O segredo dos segredos estava em Maria
Madalena. Maria Madalena era uma testemunha incómoda. Maria Madalena sabia a
verdade toda e não afinava pelas determinações da hierarquia de Roma, que por
isso mesmo a teria de considerar herética. Maria Madalena era, ela mesma, o
Santo Graal.
Na Ceia
de Leonardo, Jesus e Madalena são representados como que reflexos um do outro.
Jesus: túnica vermelha, manto azul: Maria Madalena: túnica azul, manto
vermelho. Yin e Yang.
A operação clandestina que terá trazido Maria
Madalena da Judeia para França teria por motivação precisamente salvaguardar o
Graal, o fruto que estava no ventre de Maria Madalena, o filho de Jesus. E
Maria Madalena foi mantida incógnita por razões óbvias de alta segurança. E o
fruto do ventre de Maria Madalena nasceu e cresceu e acabou naturalmente por se
misturar com outros sangues, judaicos, romanos, visigóticos. E assim,
clandestina, secreta, se manteve essa linhagem por nem menos de 400 anos.
Quem pode provar que isso é verdadeiro?
E quem pode provar que isso é falso?
Até que no século V o sangreal se liga ao sangue real dos francos, de onde viria a
derivar a dinastia merovíngia. Seria este o segredo que o acabadinho de
assassinar conservador do Museu do Louvre (Código
da Vinci) teria para transmitir. Seria este o grande segredo da História. E
seria este o Graal.
E seria esta a espada de Dâmocles pendente
sobre a Igreja de Roma, fundada em nome
de um Jesus Cristo descrito etéreo, hierático e impoluto do contacto com
mulher, conforme a hierarquia romana abusivamente estabelecera. E que não
passaria de uma mentira. E, no caso de ter sido assim, a maior mentira da
História do Homem.
A lenda do nascimento de Mérovée, que dá o
nome à dinastia, não será, mais do que uma engenhosa alegoria. Filho de dois
pais, sendo um deles a criatura marinha, metáfora de quem tinha chegado de Além
Mar, ou metáfora do místico desenho do peixe com que os primeiros cristãos
simbolizavam Jesus.
E se a linhagem merovíngia de Clóvis provinha
da semente genética de Jesus, o pacto entre ele e Roma e a Igreja fundada em
nome de Jesus Cristo era a bem dizer uma inevitabilidade.
E as culpas da Igreja no assassinato de
Dagoberto II constituiriam gravidade maior do que a da morte de um simples rei,
quando, em Dagoberto, os sicários de Roma haviam morto um descendente de Deus,
um deus ele mesmo, crime para que a Igreja romana, no espartilho dos seus
dogmas, não podia conceder-se expiação.
Significaria essa situação também a
identidade de Godofredo de Bulhão, nas veias de quem corria o sangue
merovíngio, o sangue do próprio Jesus, um Godofredo simbólica e alegoricamente neto
ou bisneto de um Lohengrin, ou de um Parsifal. Da família do Graal, em conclusão.
Estranho também é o momento histórico da
aparição do Graal, ou melhor, do virem a lume as referências a ele, o que
aconteceu no momento culminante das Cruzadas.
É quando o reino franco se implanta em
Jerusalém e os cátaros ameaçam seriamente o poder de Roma na região que o Graal
começa a ser falado, a ser tema de romances de cavalaria, a insinuar-se não
apenas como um objecto, ou objectos, mas como uma família.
A base na crença no Graal é pagã, começa por
ser pagã, mas, de certa maneira,e inexplicavelmente, é absorvido pelo
cristianismo e passa a ser conotado com a família de Jesus.
E o culto do Graal vai de par com a carreira
da Ordem dos Cavaleiros Templários, o que ainda é mais sugestivo.
E o culto do Graal começa a desvanecer-se
após a queda de Jerusalém nas mãos do infiel, em 1291, e desaparece com a queda
em desgraça dos templários, em 1307-1314. E permanece desaparecido mais um ou
dois séculos, até 1470, em que reaparece nos romances do rei Arthur. Reaparece
e continua de tal maneira que até os altos dignitários nazis acreditam nele e o
procuram.
O romance de Parsifal, ou o Conde do Graal, é
da autoria de Chrétien de Troyes. Aparece em 1188. E de Parsifal se diz que é o
filho da dama viúva, designação que fora também dada a Jesus – e designação
dada, séculos passados, aos maçons, não esquecer, os Filhos da Viúva… que isto
anda tudo ligado, já se sabe…
Aparece depois o mais famoso de todos os
romances do Graal, o do cavaleiro trovador bávaro Wolfram von Eschenbach.
Descendente de Jesus, compreende-se melhor a
acção de Godofredo ao partir para Jerusalém. Godofredo ia a Jerusalém reclamar in loco o que lhe era devido como
herança.
Era Bertrand de Blanchefort Grão Mestre do
Templo quando um contingente de mineiros alemães a trabalhar no maior
secretismo, escondeu qualquer coisa no subsolo dos arredores de
Rennes-Le-Château. Pensou-se que poderia ter sido o próprio corpo de Jesus,
mumificado. Mas outros viraram-se para a probabilidade de terem sido uns
quantos cofres com papiros que certificavam o casamento de Jesus com Maria
Madalena, o nascimento de filhos e outros dados relativos à família e à sua
vida, digamos, civil. E seria isto o Graal.
São – serão, que isto também não deixa de ser
matéria de fé - os chamados Documentos Sangreal
que contam a história verdadeira de um vencido, Jesus Cristo. Um vencido da
História oficial quanto à verdade dos feitos, mas um vencedor, afinal de
contas, um vencedor espiritual e cultural por dúbias razões, vencedor por
aquilo que não foi: filho dilecto de Deus.
Haverá nos quatro grandes caixotes de
documentos, cartas e memórias anteriores mesmo a Constantino, testemunhos
directos de companheiros do próprio Cristo, porém sem a menor alusão à sua
divindade, profeta, visionário, sim, mas humano, como outros antes e depois
dele.
Os quatro caixotes podem mesmo conter certo
documento cheio de ensinamentos escrito pelo punho do próprio Jesus.E também um
diário pessoal – ou projecto de evangelho - de M. Madalena.
São esses documentos que, admissivelmente, os
primeiros Templários acharam sob as ruínas do Templo de Salomão e que os
tornaram tão poderosos, fazendo Roma dobrar-se à sua vontade ?
Por qualquer razão ignorada, o que quer que
fosse pode ter sido transferido para a fortaleza-mor dos cátaros, o castelo de
Montségur. E pode ter sido essa a causa motivante da cruzada sangrenta contra os
cátaros e o subsequente cerco de Montségur.
Acreditou-se que seriam os cátaros os
detentores do Graal. Um Graal entendido como a taça que recolheu o sangue de
Cristo. Absurdo. Os cátaros não davam importância transcendente e divina à
figura de Cristo, nem tão pouco acreditavam piamente na crucificação. Para que
queriam eles o objecto sagrado, o cálice que recebeu um sangue que nunca existira?
Mas os escritores cátaros, Chrétien de Troyes
e Wolfram von Eschenbach continuavam a tecer as suas histórias em volta do
Graal, declarando até que o verdadeiro castelo do Graal se situava nos
Pirinéus, na zona de Montségur.
Ou seria o Graal tão somente uma informação?
Seria o Graal uma informação tão importante
ao ponto de ter assanhado Roma contra os albigenses da maneira que assanhou?
Seria o Graal a tal prova irrefutável da
não-crucificação e da não-divindade de Jesus Cristo, perigosa, obviamente,
perigosíssima, para a Igreja de Roma ainda nos séculos XII e XIII?
Consta que Richard Wagner foi a
Rennes-Le-Château antes de começar a compor Parsifal
– não vejo a necessidade que teria disso em termos de composição da ópera, mas
enfim. E também consta – e é verdade - que já desde 1934, com Otto Rahn (o verdadeiro Indiana Jones, disseram), e mais
intensamente entre 1940 e 1945, os exécitos nazis seguiram na peugada de Wagner
e fizeram escavações na região.
Wagner. O Parsifal.
Numa das suas leituras possíveis, pode entender-se o Parsifal como um tributo a Maria Madalena, e é a personagem Kundry,
sem dúvida a mais complexa figura de mulher de todo o mundo da ópera, que
encarna de Maria Madalena todo o poder de uma histórica ambiguidade: mulher
sobre todas as mulheres, mulher múltipla, guardadora de segredos, sapiente de
linhagens – a de Parsifal, esse filho da
viúva; a de Cristo, outro que tal - , repositório de memórias proibidas;
ou, por outra parte, sedutora, pecadora, prostituta e corruptora a soldo de
Klingsor, como o papado a queria, como a tradição a consagrou. Pela concepção
da personagem de Kundry poderemos compreender o quanto Wagner estava do lado de
dentro do segredo ao fazer de Kundry-Maria Madalena um segredo em si mesma.
Uma rosa de cinco pétalas: símbolo que a
velha irmandade de Sião criara para se referir ao Graal. A rosa.
A rosa de cinco pétalas poderia simbolizar
ainda a própria Maria Madalena, e já que a igreja lhe proibia a menção ao nome.
Daí chamarem-se esotéricas a estas coisas: um siginificado literal e um
significado oculto para um objecto, uma pessoa; objecto e pessoa que significam,
mas ocultam; criam novas verdades sobre as existentes e designadas, mas, sendo
segundas, são tão puras com as verdades primaciais de que derivam.
Mas Maria Madalena teve vários nomes
secretos. Cálice, e Graal, designadamente. E Rosa. Rosa com percursos semânticos e
esotéricos a passar pelo pentáculo de Vénus, pela rosa dos ventos, pela bússola
que nos indica o caminho de vida; e anagrama, ainda, de Eros, o deus do amor
sexual – presente na tal personagem wagneriana de Kundry, também...
Maria Madalena chega então à Gália, ao sul de
França, e refugia-se entre as comunidades judaicas aí existentes. E como os
guardadores judeus de Maria Madalena sabiam que guardavam as linhagens de David
e de Salomão, Maria Madalena foi respeitada como uma raínha de pleno direito e
foi então elaborada uma árvore genealógica – na verdade, toda a genealogia do próprio Jesus Cristo. Essa
genealogia é a peça fundamental do chamado Sangue Real, Sangreal, ou, abreviadamente, Graal.
Mas tal genealogia provará alguma coisa só
por si? Quem tem autoridade para lhe confirmar a autenticidade? Pois,
precisamente a mesma autoridade de quem atesta a autenticidade dos livros da
Bíblia.
Já o dizia Napoleão: a História?, o que é a História senão uma fábula em relação à qual
todos estão de acordo.
A intenção primeira das cruzadas terá sido
justamente a de destruír informações explosivas e evitar o caos na cristandade
se elas fossem reveladas?
Maria Madalena seria a prova de que a nóvel
igreja, banhada de um falso halo sagrado, não passava de uma instituição criada
para comemorar a vida e a morte de um simples mortal.
Maria Madalena teria de ser difamada pela
História. O papado encarregar-se-ia disso logo desde os seus primórdios.
Chamar-lhe-ia meretriz. Ocultaria provas do casamento dela com Jesus, chamado o
Cristo, desmobilizando a acção dos que mantinham que Jesus teria deixado
descendência e era um mortal. Esse dossier
era coisa de vida ou de morte para a igreja de Roma.
Terá sido a Virgem Maria o equivalente
cristão da deusa-mãe? Parece que não.
Será a Notre Dame, em nome de quem foram
erigidas em França tantas igrejas, a Virgem Maria? Também parece que não é
certo. Mas dizer que essa Notre Dame é Maria Madalena é heresia das mais grossas.
A tradição encenada no terceiro século da era Cristã faz de Maria Madalena uma
prostituta, arrependida, está bem, mas prostituta, nunca a mãe -
porque nesse caso seriamos todos filhos dela, da prostituta, e eu
conheço alguns, é verdade, mas acredito que ainda se arranje por aí quem não o
seja, mesmo assim.
Maria Madalena só seria deusa-mãe se tivesse
trazido no ventre a descendência transcendente do próprio Cristo. Mas a
contradição é flagrante: se se diz, e alguns podem provar, que Cristo não
passava de um homem, onde está a transcendência da linhagem desse Cristo?
Graal, em certo sentido, e em termos
espirituais, foi designação de uma experiência pessoal, de uma iniciação, sinónimo de uma transformação,
alteração de um estado de consciência, instante místico de conhecimento,
gnose,iluminação, em suma, comunhão com Deus, o Graal imaterial, impalpável,
inconcreto, subjectivo, individual.
Mas ocorre dizer que uma das primeiras
designações do que hoje é conhecido como o Graal, foi Sangraal. E depois Sangreal. E
ainda aparece San Graal, Santo Graal.
Até Sang Réal, sangue real. Não havia
originariamente nenhum cheiro de santidade no nome. O San era de sangue e não de santo. O Graal era uma designação de
realeza.
Sangreal,
Sang Réal, Graal, sangue real: nenhuma outra coisa mais do que o sangue dos reis perdidos da
linhagem merovíngia, a prova da sua existência e da sua descendência.
O Graal. Somente quatro enormes caixotes de
papelada, e tão enormes que só seis daqueles matulões medievais e templários
tinham força para mover?
Os investigadores da especialidade
continuavam incansáveis a examinar os escritos de Da Vinci à cata de umas dicas
codificadas, uns símbolos, uma criptografia que os levasse ao esconderijo. Um
quadro. A Madonna dos Rochedos. Podia
estar ali a chave do enigma. A paisagem de fundo era parecida com uma
acidentada paisagem da Escócia, crivada de grutas. Ou não. A chave estava na Última Ceia. A Ùltima Ceia não seria outra coisa, não teria outro fim senão
funcionar como código de localização do Graal. Ou não. Talvez fosse mesmo na Mona Lisa que estava o código, era
preciso investigar as sucessivas camadas de tinta - porque é que hoje estão a abrir a tumba de família da que foi (terá sido)o modelo de Mona Lisa, porquê?
Uma taça, uma pedra, um livro, uma energia desconhecida, um caixote de
documentos, enfim, um objecto, um estado de espírito, tudo tem podido ser o
Graal no curso da lenda dos séculos. Nunca ninguém do vulgo se lembrou de que o
Graal, o Santo Graal, pudesse ser uma pessoa. Quem? Uma mulher, ainda por cima…
O Graal pode ser um símbolo arcaico de
femininilidade, o sagrado feminino, a deusa,
um dos valores morais e civilizacionais eliminados pela Igreja de Roma.
No pensamento antigo, a mulher era uma
instância de poder sagrado, exactamente pela sua missão de criar vida. Mas
Constantino e os bispos da nova igreja pretendiam uma igreja de valores
masculinos. Era preciso inventar uma nova fórmula. Tocava ao homem e não a Deus
essa invenção.
Eva oferece da maçã a Adão, Adão morde-a e com essa dentada nem
sabe no que se vai meter e no que nos vai meter a nós. A adãnica dentada é a
queda da raça humana. Pronto. Estava feito.
A mulher e a sua mística hora de parto já não
eram as criadoras da vida. O Criador passava a ser invocado no masculino. O
Criador. E mais, Eva, aparecia nesta vida extraída de uma costela de Adão, a
mulher era um sucedâneo do homem. E ainda por cima pecaminoso.
E se havia coisa com que os cátaros
embirravam solenemente era com a fé. É verdade. Repudiavam a fé e,
evidentemente, a Igreja de Roma e mais toda a sua hierarquia. À fé preferiam
eles o conhecimento e a experiência pessoal do sagrado, a que chamavam gnose,
gnose que se sobrepunha aos dogmas e aos credos, fossem eles quais fossem. O
contacto com Deus era experiência individual e dispensava intermediações e
hierarquias, padres, bispos e papas.
Os cátaros e a sua heresia dualista eram um
bicho de sete cabeças para Roma. E até porque também eles afirmavam que Jesus
tinha morrido como um vulgar homem. E até porque lhes era impossível conceber
que Jesus, Deus-espírito encarnado, pudesse ter participação na matéria vil.
Jesus-Deus era espírito puro, impossível de crucificar.
E ainda por cima os cátaros tinham de seu,
eram ricos.
A cruzada empreendida por Roma contra os
cátaros foi um dos maiores crimes culturais do catolicismo e uma das maiores
chacinas da História do Ocidente cristão.
Mas na cruzada de Roma contra os cátaros qual
terá sido o papel dos Templários?
Pois, ao que dizem, os Templarios
mantiveram-se na neutralidade. Limitaram-se a testemunhar. E explicaram porquê.
Porquê? Por entenderem que cruzada só havia
uma, contra os sarracenos e mais nenhuma. E muitos cátaros acossados se
acolheram em instalações templárias.
A Rosa? Nem sempre foi Greenwich o meridiano principal
e a longitude zero. Antes de Greenwich foi Paris e a longitude zero atravessava
a igreja de Saint Sulpice. Um filamento de metal dourado vara em diagonal o
chão da igreja, sobrecarregada de nexos místicos e esotéricos. Chamaram a esse
filamento de metal a Linha da Rosa.
A rosa é capaz de ser o símbolo crucial do
esoterismo, o código cimeiro de todos os códigos e de toda a iniciática. A rosa
náutica dos mapas guiou os mareantes, disse-lhes as 32 direcções dos
ventos. Mas as linhas da rosa não têm
fim, não se podem contar, cada linha imaginária que tracemos de polo a polo é
uma linha da rosa, sendo porém a linha mestra da rosa aquela que indica a
longitude zero e da qual partem todas as medidas e proporções da Terra. E até
1888 passou pela igreja de Saint Sulpice a primeira de todas as longitudes.
Proibida a menção ao nome de Maria Madalena,
os conhecedores da verdadeira história, os iniciados, portanto, viram-se
obrigados a recorrer a códigos e a símbolos sempre que se lhe queriam referir.
E não há melhor campo para isso do que o recurso às artes. A Última Ceia, de Leonardo, é o paradigma
perfeito da transmissão oculta e simbólica de um segredo.
Mas quem seria exactamente para os iniciados
antigos a Nossa Senhora? Maria, a virgem-mãe, ou Maria Madalena? Notre Dame de
Paris é uma catedral erigida em honra e louvor de que Maria, de que notre dame?, a virgem-mãe do filho do
carpinteiro José, ou Maria Madalena, esposa carnal de Jesus Cristo, portadora
do Graal, ou sendo ela própria o Santo Graal?
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