OS REIS PERDIDOS
O exílio da tribu judaica de Benjamin tê-los-à
levado ao Peloponeso Central, à Arcádia, onde misturaram o sangue com a
linhagem real. Depois andaram pelo Danúbio e subiram o Reno, ligando-se aos
Sicambros, gerando os merovíngios. Significa isso, sensacionalmente, que uma
das mais antigas linhagens da Europa, os merovíngios, a Casa de Lorena,
descende de judeus. Até o escritor Roger Peyrefitte afirmou que toda a nobreza
europeia tem ascendência judaica
Quando os Hunos vêm por aí abaixo, as tribus
europeias acossadas procuram rumo. Os Sicambros (ancestrais dos merovíngios),
cruzam o Reno, entram na Gália e fixam-se nas Ardenas, no norte de França e na
Bélgica. E chamam-lhe o reino da Austrásia. Reino da Austrásia que é hoje a Lorena.
Secretamente, a linhagem de Jesus ter-se-ia
desenvolvido em França, e, no século V, pelo casamento, ter-se-ia mesclado com o
sangue real francês, originando uma dinastia célebre e misteriosa, os
merovíngios.
Os primeiros merovíngios provém dos tais Sicambros,
uns germânicos que se celebrizaram sob a a denominação de Francos. Século V e
século VII: ei-los que reinam sobre grandes extensões de território do que hoje
são a França e a Alemanha. Estamos justamente no período arturiano e dos
romances do Graal, a alta Idade Média, ou a Idade das Trevas, um período
historicamente confuso, praticamente indocumentado e inextrincável.
Idade das trevas porque a igreja de Roma a
obscureceu, e lhe monopolizou a
informação?
Não sei. Mas diga-se que todo o conhecimento,
toda a informação, toda a cultura, toda a arte eram açambarcadas pela Igreja e,
naturalmente, comandadas de Roma. Ninguém sabia ler nem escrever, a não ser os
monges, os homens da Igreja. E o que resta escrito dessa época, como é sabido,
regista os factos ao sabor dos interesses dos vencedores, que eram, na
circunstância, os homens da hierarquia católica.
Para a assunção do poder merovíngio haverá a
destacar uma circunstância no tempo inédita: não houve deposições de monarcas
anteriores, não houve usurpação de tronos, nem guerras nem mortos nem feridos.
Os merovíngios reinaram sobre o povo franco como que desde sempre, desde sempre
legítimos, desde sempre reconhecidos e respeitados.
Mas de onde lhes vinha o nome, merovíngios?
Derivava de Mérovée (ou Meroveus), um ser
semi-sobrenatural, lendário, uma conjugação semântica e sonora que aglutina os
substantivos franco-latinos que designam mãe
e mar. Mérovée terá nascido então de dois pais. Como é isto
arranjado? Não esquecer que estamos no domínio da lenda. A mãe de Mérovée já
estava grávida do rei Clódio. Mas o tempo estava bom e apeteceu-lhe ir dar umas
cacholadas ao mar. Ora, nem de propósito… já nesse tempo havia muita
malandragem, e enquanto ela apurava o
seu estilo no crawl, não é que foi
seduzida e logo violada por uma estranha criatura marinha… não, não estou a
falar de nem de marinheiro nem de cabo do mar nem sequer de nadador-salvador…
falo de uma criatura chamada bestea
Neptuni Quinotauri similis, animal de Neptuno parecido com um Quinotauro.
Proíbo-vos de me perguntarem o que é um
quinotauro…
Mas o malandro do quinotauro não é que
fecundou a senhora uma segunda vez!
Quando o filho, Mérovée, nasceu, houve nele
mistura de sangues diferentes, de um rei franco e de um animal aquático. Por
acaso sei de uma vizinha minha que uma vez ali no Meco… bem, não interessa…
O duplo sangue deu a Mérovée uma data de
poderes sobrenaturais. Essa é que é essa. Magia. Poderes ocultos. Conhecimentos
imemoriais. Artes de berliques e berloques. Milagres. Enfim, tudo isto
ficava registado na folha dos merovíngios. Curavam pela simples imposição das
mãos. As franjas dos seus vestidos tinham também poderes curativos. Comunicavam
à distância, inclusivé com animais. Olha, um tio meu… não interessa…
E todos nasceriam com uma marca no corpo. Uma
cruz vermelha. Ou sobre o coração, ou entre as omoplatas. Também conheço uma
senhora já de idade…
Diziam descender de Noé. E os maçons europeus,
por acaso, retomam muitos séculos mais tarde a ideia.
Afirmavam os merovíngios proceder da Troia
antiga e mítica – o que explicaria os nomes de certas cidades francesas como
Troyes e Paris.
Relacionaram-se com a casa real de Arcádia.
Houve arcadianos no cerco de Tróia, aliás fundada por emigrantes da Arcádia.
Símbolo sacratíssimo entre todos para os
merovíngios era a abelha – daí, se calhar, o conhecido dito está bem, abelha. É verdade, ao exumarem
o túmulo de Childerico I os arqueólogos acharam enterradas com ele 300 abelhas
de ouro maciço. Estava bem… abelha. E, tem graça… em 1804, Napoleão é coroado
imperador. No acto da coroação ostenta, pregadas às vestes, uma quantidade de
abelhas de ouro.
Por falar em Napoleão, diga-se que Napoleão
estava atento à dinastia merovíngia, tanto assim que (está bem, abelha…) Napoleão teve o cuidado de mandar compilar
genealogias a fim de saber se a linhagem havia ou não sobrevivido à queda da
dinastia. É a essas genealogias que os homens-sombra do… alegado… Priorado de
Sião recorrem para as fundamentações dos seus documentos secretos.
Os merovingios eram os reis de cabelos longos.
Como o grande juíz Sansão do Velho Testamento. Os merovíngios reinantes não
cortavam os cabelos porque no cabelo estava o segredo dos seus poderes e
prerrogativas, e por isso um rei merovíngio quando visitou Roma fez furor, foi
capa de revista, e todos olhavam com estranheza para aquele homenzarrão
esquisito de longos cabelos amarelos. Mas em 754, Childerico III, último rei
merovíngio foi deposto e feito prisioneiro, e como suprema humilhação o papa
ordenou que lhe rapassem o cabelo.
Os merovíngios não eram exactamente reis na
acepção corrente do conceito. Eram sacerdotes-reis de funções semelhantes aos
faraós. E não reinavam pela graça de Deus coisíssima nenhuma, eles mesmos eram
uma emanação da graça de Deus. Não eram deuses, eram Deus, eram expressões e
encarnações de Deus mesmo, num estatuto só comparável a Jesus. E caveiras dos
reis merovíngios descobertas por arqueólogos apresentavam incisões, grandes
buracos no alto do crâneo, o que remete para abrutalhados actos rituais praticados
por eles. De maneira que, digo eu, quando a dinastia merovíngia for restaurada
– como se diz que é seu desígnio - já sabemos o tratamento que nos espera…
A alma, para escapar à morte do corpo, tem que
ser libertada por algum lado e assim entrar em contacto com o divino espírito.
Crê-se que a tonsura dos padres, a coroa, é uma reminiscência deste ritual –
muito atenuada, claro. Um ritual também por sinal detectável nas altas
hierarquias do budismo tibetano.
(Isto anda tudo ligado.)
Os reis merovíngios não eram coroados no sentido
que temos hoje da palavra, ou da cerimónia. Não havia cerimónias nem
formalidades entre eles. Era como se nascessem já reis. Logo que o sucessor na
linha directa completasse 12 anos era rei e estava o caso arrumado. Era a mais
pura concepção do direito divino que se podia arranjar, indisfarçável,
indiscutível.
Mas os merovíngios não governavam. Eram
percursores do estatuto da raínha de Inglaterra. Os merovíngios eram. Isso
bastava. Eram. Nada tinham que fazer. Tinham apenas que ser. E apenas reinavam.
Eram. Apenas executavam os actos próprios do seu conceito de rei: os rituais
mágicos. Quem governava eram outros, os chamados prefeitos do palácio, espécie
de chanceleres, os que sujavam as mãos nos negócios práticos do reino. Eram
modernos nos séculos V e VII estes merovíngios.
Talvez não seja um completo disparate
assinalar a relação estreita que no plano literário, como talvez no plano da
mística, possa haver entre os merovíngios, o essencial valor espiritual e
heráldico por detrás das cruzadas, o Graal e a saga épica e germânica dos
Nibelungos. E isto cheira logo a Wagner, não é? Quereria isto dizer que Richard
Wagner em quase toda a sua colossal obra – e carreira, e vida – não se
preocupou com outra coisa, não se interessou por outro tema que não fosse a
correlação merovíngios-Templários-Graal-Nibelungos-Alemanha do fim do século?
Não sei. Wagner podia ser um dos do Segredo, ou pelo menos muito próximo disso.
E os nibelungos não são uma invenção mítica. Os nibelungos eram uma tribu de
germanos que existiu curiosamente na fase final da dinastia merovíngia. E nomes
merovíngios registados há-os, Siegmund, Siegfried, Kriemhild, Siegelinde,
Brünhilde.
Isto anda tudo ligado!
Clóvis foi o mais célebre dos monarcas
merovíngios. Foi rei entre 481 e 511. E nessa altura é que os Francos se
convertem ao cristianismo tal como era estipulado por Roma.
Em 384 o bispo de Roma começava a sentir
faltar-lhe o chão debaixo dos pés, mas, talvez mesmo por isso, começava também
a auto-intitular-se papa. Até aí tinha sido somente o bispo de Roma. Não lhe
cabia a liderança global da cristandade, bispo de Roma e acabou-se. Até porque
o cristianismo conhecia cismas atrás de cismas e dividia-se em muitas ideias,
conhecia imensos desvios ao que Roma pretendia fosse uma ortodoxia unificada e
universal. Um dos grandes inimigos da visão romana do cristianismo era, por
exemplo, a igreja celta. E campeava o arianismo.
E, entre outras coisas, o arianismo negava
liminarmente a divindade de Jesus Cristo. E mais: tomara conta de todos os
bispados da Europa ocidental. A visão de Roma e a sua ortodoxia estavam por
isso em perigo.
Clóvis é o homem providencial para Roma. Roma
vê nele a única hipótese de salvação e vencimento para as suas teses. Mas era
preciso convertê-lo ao cristianismo romano. Clotilde, a mulher – não confundir
com a sua cunhada - iria encarregar-se da tarefa de converter o rei Clóvis. E
tanto andou, tanto andou, tanto serrazinou a paciência ao marido que conseguiu
– viria por isso, mais tarde, a ser canonizada.
Clóvis torna-se o primeiro rei católico dos
Francos – aí está porque a Igreja de França foi chamada a filha mais velha da
Igreja católica.
Clóvis celebrou um acordo com Roma. Roma passaria
a ter à mão e a seu serviço um reino de verdade, um domínio material e concreto
para pôr e dispor e já não só o imponderável reino dos céus.
A Igreja de Roma garantia a sobrevivência
temporal, aliada a um poderoso rei e num contexto europeu de heresias que
ameaçava à séria a sua hegemonia teológica. A contrapartida de Clóvis era ser
chamado de Novis Constantinus. O
império sobre o qual estenderia a sua jurisdição estaria unificado, seria mais
forte: um Sacro Império Romano a suceder àquele império que Vândalos e
Visigodos haviam pouco antes feito em fanicos. O império seria para Clóvis a
herança da estirpe dos merovíngios, e Clóvis, imperador dos germanos
ocidentais, seria o rei de todos os reis. Estava consagrada a aliança entre a
Igreja e o Estado e cada uma das partes
jurava fidelidade à outra.
Clóvis é baptizado em Reims por S. Remígio.
Mitis
depone colla, Sicamber, adora quod incendisti, incendi quod adorasti.
Isto é bonito! São as palavras de S. Remígio
no acto de baptismo de Clóvis. Curva humildemente
a tua cabeça, Sicambro de uma cana, adora o que queimaste e queima o que
adoraste.
A Igreja de Roma, atenção, não fez de Clóvis
um rei. Limitou-se a baptizá-lo, por assim dizer, ao modo cristão. Rei ele já o
era. E era porque sim. E a ele e à sua descendência a Igreja de Roma se
sujeitava. Tratava-se de um pacto que poderia ser aperfeiçoado ou modificado,
mas nunca traído. E os merovíngios nunca minimizariam este ponto.
A espada de Clóvis passa a fazer estrago entre
aqueles que de bom grado não se dobraram à fé de Roma. Os Francos, à pala
disso, foram-se expandindo França fora, Alemanha fora. E contra eles marchavam
os Visigodos arianos. Que foram batidos no ano de 507. Aquitânia e Toulouse
passavam igualmente para mãos francas. Os Visigodos acantonavam-se em
Carcassonne, mas eram varridos de Carcassonne por Clóvis, até se estabelecerem
em… em… Razés, hoje Rennes-Le-Château.
A Dagoberto II tocou em herança do pai o reino
da Austrásia. Não há é paciência para contar as vicisitudes do reinado de Dagoberto.
Mas pode dizer-se que Dagoberto absorvera dos visigodos as tendências arianas.
Acusavam-no então de desprezar as igrejas de Deus e de lançar impostos. Roma
andava-lhe a fazer a folha, está-se mesmo a ver…
Um dos inimigos de Dagoberto era o perfeito do
palácio, o verdadeiro governante, por assim dizer o 1º ministro, chamado
Pepino, o Breve (ou o Gordo, não sei). Um belo dia, Dagoberto foi à caça. A
certa altura apeteceu-lhe bater uma sorna à beira de um riacho. Ferrou-se no
sono e enquanto ele se ferrava no sono, um afilhado seu, nada meigo agente do breve
e/ou gordo Pepino, ferrou-lhe por sua vez uma lança num olho que não foi
brinquedo, e por forma a que a ponta lhe saísse pelo alto da cabeça. E
acabava-se com a raça dos merovíngios enquanto o diabo vazava um olho. Foi por
alturas do Natal, no dia 23 de Dezembro de 679.
Pepino, o Breve, estaria a soldo de Roma.O
pacto entre Roma e os merovíngios era quebrado pela Igreja. E seguiu-se a
perseguição à família de Dagoberto. O poder real teria de ir parar às mãos dos
pragmáticos prefeitos do palácio.
Impunha-se a fundação de uma nova dinastia franca, a dos carolíngios.
A questão é posta a Roma nos seguintes termos:
Quem deve ser rei? Aquele que detém de
facto o poder, ou aquele que, chamado embora de rei, não tem poder algum? A
piada ia direitinha para os merovíngios que não sujavam as mãos nas caldeiradas
da governação. E os futuros carolíngios eram uns práticos, em contraste com os
misticismos e espiritualidades mágicas dos merovíngios.
Claro que o papa esteve de acordo com o
carolíngio: deve reinar que tem de facto o poder. E assim, Childerico, rei
merovíngio, foi deposto por Pepino, o prefeito do palácio, e imediatamente sujeito
aos barbeiros do Vaticano, que a primeira coisa que lhe fizeram foi raparem-lhe
o longo e sagrado cabelo amarelo.
Morto e tosquiado Childerico III, os
merovíngios desaparecem virtualmente da História.
Mas a linhagem sobrevive.
E sobrevive com o infante Segisberto IV, filho
de Dagoberto. Segisberto, ao qual nunca se percebe bem o que aconteceu, mas que
deve ter sido posto a salvo da sanha assassina dos usurpadores carolíngios e
dos sicários da Igreja de Roma. Como acerca de tantas outras matérias vitais
para a civilização ocidental, não há documentações oficiais nem quanto à morte
de Segisberto nem quanto à vida. Os jornais continuam sem falar do caso, ninguém
ligou meia ao problema.
Ninguém… é como quem diz…
O tal Priorado de Sião – que hoje alguns
respeitavelmente dizem nunca ter existido senão depois de 1957, mas que, para
este efeito, eu vou partir do princípio que existiu e bem - estava atento,
embora, de facto, ainda não existisse na época dos merovíngios.
Entretanto, a historiografia oficial de França
elimina Dagoberto do rol dos seus reis. Até 1646, o rei merovíngio Dagoberto II
nunca existira. Na lista dos reis francos passara-se de Dagoberto I para
Dagoberto III. Logo, as omissões quanto à vida de seu filho Segisberto são
compreensíveis.
Mas quem pode acreditar incondicionalmente na
História oficial seja do que for e de quem for? Quem poderá hoje ser um
fanático quanto à ocorrência ou não de certos acontecimentos, ou quanto à
existência real ou não de certas pessoas?
Resulta entretanto evidente a razão do
apagamento do rei Dagoberto II da História de França por tão longo período. Se
Dagoberto não existira de facto, o seu filho Segisberto também nunca tivera
existência real. A equipa de falsificadores da História francesa até 1655 sabia
o que estava a fazer e porque o estava a fazer. Era de capital importância
negar a existência de Segisberto.
Se Segisberto tivesse sobrevivido, os merovíngios e a sua linhagem, fiéis ao pacto de Clóvis, poderiam reclamar direitos, continuariam a ser uma ameaça moral e jurídica às casas reinantes. E eram. E, segundo alguns, continuariam a ser. Por causa de documentos que provavam uma genealogia; por causa de uma linhagem ainda viva de reis perdidos e secretos. É essa a raison d’être do Priorado de Sião no decorrer da História. Foi por essa causa que se escreveu, em última análise, o Código da Vinci.
Se Segisberto tivesse sobrevivido, os merovíngios e a sua linhagem, fiéis ao pacto de Clóvis, poderiam reclamar direitos, continuariam a ser uma ameaça moral e jurídica às casas reinantes. E eram. E, segundo alguns, continuariam a ser. Por causa de documentos que provavam uma genealogia; por causa de uma linhagem ainda viva de reis perdidos e secretos. É essa a raison d’être do Priorado de Sião no decorrer da História. Foi por essa causa que se escreveu, em última análise, o Código da Vinci.
Mas Segisberto fora salvo. Pelo irmão. E
mandado para as terras da princesa visigótica Giselle de Razés, sua mãe. Chegou
ao Languedoc em 681 e adoptou o apelido Plantard – o rebento ardente – da linha merovíngia de sucessão.
E a quem é que interessa nos dias de hoje
falar destes a quem chamaram os reis perdidos? Absolutamente a ninguém. Nada
disto hoje interessa a ninguém…
Nada, isto é… a não ser apenas uma das
histórias morais (de inquestionável sabor wagneriano) sobre a estranha moral
que tantas vezes se contém na História, na História do Homem e na sua vida. Nem
sempre toda a verdade nem toda a mentira da petite
histoire interessa à grande História contar.
Pelo assassínio enigmático do rei Dagoberto
II, a linhagem merovíngia estava à beira da extinção, não tivesse um filho de
Dagoberto conseguido fugir e refugiar-se no estrangeiro. Dessa linhagem, salva
no último momento, virá a descender Godffroy de Bouillon, ou Godofredo de
Bulhão – se o quiserem mais à moda do Porto -, em suma, o fundador da…
provável… Ordem de Sião.
Geoffroy de Bouillon cria a Ordem dos
Cavaleiros Templários com o objectivo de recuperar documentos (Sangreal-Graal)
escondidos nas ruinas do Monte de Sião em Jerusalém, de forma a poder provar as
ligações entre a sua casa, os merovíngios, e a linhagem de Jesus Cristo,
reclamando-se legitimamente do direito ao trono dos judeus. Sim, porque, apesar
das reprimendas de Roma, os merovíngios não foram de forma nenhuma
anti-semitas. Houve casamentos entre merovíngios e judeus. A questão dos cabelos
compridos nos merovíngios era uma reminiscência da sua ancestralidade nazorita.
Jesus há quem diga que também era um nazorita, e se não o era parece que o foi
sem dúvida alguma o irmão, Tiago. E na casa real merovíngia abundavam os nomes
hebraicos, Sansão, Salomão, Eleazar, Lázaro…
E não sei se se lembram que em 1070, muitos
anos antes da primeira Cruzada à Terra Santa, um grupo de monges vindos da
Calábria, chegou às Ardenas e entrou nos domínios de Godofredo de Bulhão. Quem
os chefiava era um monge chamado Ursus e entre eles estava Pedro, o Eremita,
que havia de se celebrizar por ter sido, em 1095, ao lado do papa Urbano II, o
primeiro a pregar a necessidade de uma cruzada à Terra Santa onde a sepultura
de Jesus Cristo estava em mãos muçulmanas infieis.
Mas, em 1070, chegados às Ardenas, logo os
monges passaram a beneficiar da protecção de Matilde de Toscana, duquesa de
Lorena, por sinal tia de Godofredo de Bulhão. A senhora duquesa ofereceu aos
monges um terreno num lugar chamado Orval, perto de Stenay, justamente o sítio
onde o último rei merovíngio, Dagoberto II, tinha sido assassinado.
Pouco antes de 1108, porém, os monges
calabreses já tinham desaparecido misteriosamente daquela terra e sem se saber
para onde se dirigiram.
Quando os monges misteriosos desaparecem pela
calada da noite da Abadia de Orval, podem, ao contrário do que se pensou, não
ter regressado à sua terra natal da Calábria, podem ter dado logo corda às
sandálias a caminho de Jerusalém, a caminho da Abadia de Notre Dame du Mont de
Sion. Mas ninguém pode afirmar tal coisa com certeza.
Pode ser que um dia destes…
E quem teve a triste ideia de me ler até aqui vai
com sorte de eu o poupar a mais extenso relambório de raínhas, princesas e
abadessas desta estirpe perdida… Monegunda, Rusticula, Glodesinda, Sadalberga,
Eustadiola, Austreberta, Burgundufara…
Que grande trapalhada...Ora para o que lhe havia de dar, Joel...Merci, quand même...
ResponderEliminarMuito bom
ResponderEliminarJoli voyage....mci de la navette
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