domingo, 5 de outubro de 2014

                   COTTON CLUB


Bob Evans, o buliçoso e cocainómano produtor in charge de O Padrinho, passa o ano de 1983 a trabalhar noutro projecto de filme, Cotton Club. 


Precisa de dinheiro. É claro. Ou melhor, precisa de vender o projecto a quem o pague melhor, seja texano dono de poços de petróleo, seja empresário da construção civil, seja traficante de armas, seja cadeia de fast food. E para vender o seu peixe usa um argumento que julga forte:
- Isto que tenho entre mãos, meus amigos, é uma espécie… ou melhor, é a mesma coisa que O Padrinho. Mas em melhor. Porque é em música. É como vos digo, rapazes, gangsters, música e mulheres fáceis. Dinheiro em caixa! Essa é que é essa!


Até que aparece um financiador. Que traz dinheiro de Porto Rico. 
                                                                                 
Financiador que vem através de conhecimentos do motorista de Bob Evans, que lhe apresenta uma mulher, Lanie Jacobs, que por sua vez o leva a um empresário de espectáculos chamado Roy Radin que tem o sonho de ser produtor de cinema e que, como disse, traz dinheiro de Porto Rico.
Bob Evans aceita o compromisso com esse Radin e esquece a mulher, Lanie Jacobs, que lho apresentou. Mas as coisas não são assim tão fáceis. Pois não, as coisas não são fáceis porque a mulher, Lanie Jacobs, quer ser parte igual no negócio.
 Bob Evans está em Nova York a preparar a rodagem do filme e o financiador de Porto Rico nada de aparecer.
De facto, Radin, o financiador de Porto Rico, desaparece da circulação. Isto… negócios com Porto Rico, já se sabe… e até me vem à cabeça um nome português… mas não é esse que me interessa para agora…


Lanie Jacobs é que aparece em Nova York para comunicar a Bob Evans que Roy Radin, o de Porto Rico, foi assassinado.
Lanie Jacobs, que se apresentou a Bob Evans como uma trintona texana divorciada, era só dealer de cocaína e estava ligada à Mafia. E quer uma parte no negócio de Cotton Club. E Bob Evans não lha quer dar. Bom, nesse caso, o nome dele entrará numa lista e a vida dele vai desvalorizar bastante.


 Nos anos 80, Hollywood estava muito mudada. Nos anos 80, em Hollywood, já não eram bem as majors e os chefes dos estúdios os todo-poderosos. Eram as agências artísticas. Forneciam de um dia para o outro, em pacote, com que realizar um filme: argumentistas, actores, figurantes, produtores, cenógrafos, realizadores. Por atacado. E assim, os patrões dos estúdios prestavam vassalagem aos agentes. Os agentes eram como padrinhos do tipo Don Corleone, agradeciam as prendas e as gentilezas dos estúdios e ouviam os suplicantes. Só não tinham um anel para ser beijado.
Também se dera início à idade do vídeo. Por causa disso, o cinema nunca mais seria o que em tempos fora. E quando Bob Evans, no Festival de Cannes de 1980 tem a ideia para Cotton Club e julga poder vender essa ideia com toda a facilidade a um capitalista, não sabe no que se está a meter, não sabe que para ele está só a começar um pesadelo.


Cotton Club. Sim, sim, era mesmo um clube nos anos 20. Um clube ilegal. No Harlem. E eram raros os brancos que nessa época se arriscavam a entrar no Harlem. Ou então os brancos que se aventuravam a ir ao Cotton Club, eram ou gangsters ou celebridades do cinema. Iam até ao Cotton Club e sentavam-se em mesas minúsculas dispostas em ferradura para presenciar os shows dos negros que tocavam, cantavam e sapateavam – Owen Madden, Charlie Chaplin, George Raft, Fred Astaire, Dutch Schulz (o mafioso holandês), Douglas Fairbanks e Mary Pickford… - cá estão alguns desses brancos.

 

                                          



Os negros estavam no palco. Cotton Club tinha uma orquestra privativa de negros, dirigida por um rapaz a quem todos prediziam um brilhante futuro, chamado Duke Ellington.
Evans lá arranja 8 milhões para dar início aos preparativos do filme. Ainda lhe faltam 12 milhões. Trata com o negociante de armas suponho que iraniano, Adnam Kashoggi, mas o negócio vai por água abaixo. O preço dos trabalhos de pré-produção já sobe aos 140.000 dólares por semana.
E que tem Evans de concreto para arrancar com a fita? Um argumento de Mario Puzo – o autor de O Padrinho, recordo – mas um argumento que não impressionava ninguém; e o actor Richard Gere para o papel principal – Richard Gere que ao perceber os apertos do seu produtor ficou em pulgas para saltar fora do projecto. Bob Evans tinha umas acções da Paramount e vendeu-as para realizar capital.
Evans parece conseguir convencer uns irmãos libaneses proprietários de casinos, Frederick e Eduard Doumani. 
Conta-lhes que a mulher que queria uma parte na sociedade, a tal Lanie Jacobs, tinha encomendado a morte do primeiro financiador, Roy Radin, e que ele, Evans, estaria a seguir na lista dela. Os irmãos libaneses meneiam as cabeças, envolvem outro nome no negócio – não nos interessa para o caso – e preparam-se para financiar Cotton Club. Orçamento: 20 milhões.
Os libaneses, que também são donos do El Morocco de Las Vegas, são sócios do mafioso Joe Agosto e do mais conhecido Joey Cusumano. Estão metidos em sarilhos com as autoridades, são testemunhas-chave do processo em curso contra os chefes da mafia de Kansas City, que haviam feito mão baixa sobre os hoteis de Vegas.
Se calhar o eventual leitor não sabia que o mundo do cinema era um mundo perigoso. Eu, por mim, já tinha desconfiado, mas nunca imaginei que o fosse a este ponto…
Aquele Joey Cusumano era, estava-se mesmo a ver, um homem da Mafia; era o delegado da Mafia de Chicago em Las Vegas. E era perseguido pela ligação com um gangster, um tal Spilotro…
- Claro que sou amigo dele, mas o facto de se ser amigo de um cirurgião não faz de uma pessoa um cirurgião.
Lá isso é verdade…
Mas o FBI é que andava há dez anos em cima dele e não encontrara maneira de o incriminar.
O que ele, esse Cusumano, queria era ser produtor de cinema. Evans ouvia-o e pensava que ele estaria muito mais à vontade com uma metralhadora ou um revólver nas mãos do que a tratar de câmaras de filmar.
 E Bob Evans mete em cabeça ser ele mesmo a realizar o filme. Pede a Francis Ford Coppola, amigo desde a aventura de O Padrinho, que lhe reescreva o argumento e põe logo de parte a ideia de ser ele a realizar Cotton Club. Coppola, que está de novo à nora com dinheiros, pergunta-lhe se não quer que seja ele, além de argumentista, o realizador. Evans fica encantado da vida. Até eu ficava…
E escreve-se uma história que cheira à história real do já tantas vezes aqui falado gangster-actor George Raft.
O trompetista Dixie Dwyer – que seria Richard Gere – salva a vida do gangster Dutch Schulz. Como reconhecimento passa a figurar na lista de pagamentos do mafioso enquanto espião de Schulz em Hollywood, velando pelo andamento dos investimentos dele. E pronto, o trompetista ao serviço do gangster acaba por se apaixonar pela namorada desse gangster que lhe paga…
A 28 de Agosto de 1983 começa a rodagem.


Um caos. De princípio a fim. Desde logo pelo pormenor de Richard Gere fazer de trompetista branco, quando no Cotton Club dos anos 20 só eram admitidos músicos negros. Negro, no filme, é o dançarino de claquettes, Gregory Hines.


Coppola improvisa todos os dias, em vista das dificuldades que todos os dias surgem com isto ou com aquilo – Gere não se apresenta no plateau porque ainda não chegou a acordo quanto ao contrato, por exemplo.
Escolheram-se locais de filmagem que não vão poder ser usados. Construíram-se cenários que são para deitar fora. Ao improvisar a rodagem do filme, Coppola pensa na técnica de improvisação dos músicos de jazz. Mas a questão era improvisar num negócio de dezenas de milhões de dólares. Ao ponto de Coppola chegar a rodar uma cena que o seu co-argumentista lhe ia ditando de uma cabine telefónica.


Os músicos negros que representavam a orquestra de Duke Ellington foram trocados por brancos, e aos brancos foi exigido que reproduzissem o som da orquestra do Cotton Club dos anos 20.


O actor inglês Bob Hoskins fazia o papel do gangster Owen Madden - o padrinho de George Raft, já falámos dele. Na opinião de Bob Hoskins, o filme fora financiado por investidores de Las Vegas porque era uma boa oportunidade para lavar dinheiro. E ele diz isto porquê? Porque todos os dias o financiamento chegava em contado dentro de grandes malas que uns tipos mal encarados entregavam ao produtor Bob Evans.


Mas a chegada das malas do dinheiro era irregular, e assim, era impossível fazer contas, fazer previsões. Daí, em boa parte, a improvisação de Coppola. E depois, com as malas do dinheiro chegavam as malas com a cocaína - de que Bob Evans era grande consumidor.
E Coppola ia gastando o dinheiro, inventando na sua improvisação cada vez mais cenas dispendiosas. E os homens de Las Vegas viam o seu a arder e torciam o nariz. Não ficara estipulado no contrato que Coppola se responsabilizaria pelas despesas que excedessem o orçamento, e Coppola estava na maior, e os capitalistas viam a vida deles a andar para trás. O filme estava a importar em 1,2 milhões por semana.
Os homens de Las Vegas procuraram então um mafioso qualquer que metesse em respeito quem lhes estava a estafar o rico dinheirinho. E é o tal Cusumano quem lá está para isso. Chega todas as manhãs, senta-se a um canto, não diz uma nem duas, deixa correr.


Cusumano explicaria mais tarde:
- Antes de abrir a boca para falar preciso de saber de que é que estou a falar. Já o meu querido paizinho me dizia “não fales muito, filho, que os peixes só são apanhados quando abrem a boca”.
Porque Coppola tivera artes de apaparicar o mafioso. Mandara que pusessem para ele, ao lado da sua, uma cadeira de realizador – e com o nome dele escrito nas costas Joey.
Evans dirá que Coppola era um Maquiavel que conseguira transformar aquele que seria naturalmente o seu inimigo – estava ali para lhe cortar as vasas da megalomania – num colaborador e num aliado.
A ambiência das filmagens de Cotton Club faria então lembrar a magnífica comédia de Woody Allen (quem sabe se inspirada nas filmagens de Cotton Club) Balas Sobre a Broadway, quando um gangster enviado à Broadway para vigiar os ensaios do investimento numa peça de teatro do seu patrão mafioso começa pouco a pouco a dirigir ele a peça.


Cusumano diz aos homens de Las Vegas para não se aproximarem de Coppola. Coppola era um criador, não estava com paciência para ouvir falar constantemente em orçamentos. Cusumano respondia por Coppola.


Quando a despesa passou do milhão e meio verificou-se que as caixas e as malas do dinheiro estavam vazias e que por aquele andar o custo do filme chegaria aos 48 milhões de dólares. Os rapazes da Mafia de Las Vegas que tinham adiantado o dinheiro a Bob Evans para lançar a produção, telefonam-lhe. Pois era, ou recuperavam o seu dinheiro, e depressinha, ou haveria chatice da grossa. E os telefonemas sucediam-se. E Evans andava num virote. E pediu três milhões e meio a um agiota a uma taxa de juro de enlouquecer. E hipotecou a casa.
- Esta gente de Las Vegas não se preocupa mesmo nada com as coisas artísticas.
Envia um cheque de 46.000 dólares aos credores. Cusumano informa Coppola: as filmagens terão de ficar concluídas a 23 de Dezembro desse ano de 1983. Coppola terá de condensar as cenas principais num plano de filmagem de três semanas – não era problema que ele não tivesse já tido em O Padrinho. Depois de O Padrinho, no entanto, Coppola tornara-se um perfeccionista. Podia filmar sete vezes a mesma cena. Pois bem, em Cotton Club seria obrigado a aprontar 40 sequências em três dias.


Cusumano, o mafioso, ia creditado no filme como produtor executivo, andava cheio de ilusões a respeito da indústria cinematográfica, estava convencido de que o seu destino era a 7ª arte, pensava a sério em mudar de vida, em transferir-se de Las Vegas para Hollywood.
- Compro uma casa na praia, meto-me no cinema e levo uma rica vida.
Coppola até lhe escreve uma carta de recomendação lá para Hollywood.
(Anos mais tarde, este Cusumano levaria quatro anos de prisão por burla no sindicato dos empregados de restauração de Las Vegas e por fraude a uma seguradora.)
Evans acusava os tais irmãos libaneses, os Doumani, de o terem ameaçado de morte. E para honrar as dívidas, renuncia à sua parte nos lucros de Cotton Club.


E Cotton Club é um flop comercial e de crítica – embora eu o ache um excelente filme.


Talvez a esta hora já não se lembrem de Roy Radin, o tal empresário de espectáculos que se apresentou como primeiro financiador de Cotton Club com uns dinheiros de Porto Rico e que desaparecera como o fumo, e que depois a Lanie Jacobs informou que fora assssinado
Na realidade fora assassinado mesmo. E pela própria Lanie Jacobs, de conluio com uns gandulos. O conflito entre eles tinha tido a ver com o assalto à casa da Lanie. Assalto esse em que lhe tinham sido roubados 10 kg. de cocaína e 270.000 dólares. E Lanie lá entendeu que Radin não era estranho àquele assalto e que pelo menos devia saber onde estavam os 10 kg da coca e os 270.000 dele. Porque depois também ela ficou em cheque perante os fornecedores da droga, que queriam saber por miúdos como tinha sido isso do roubo.
A 13 de Maio de 1983, Lanie e Radin tinham marcado um jantar em Beverly Hills. Lanie tinha chegado à porta do hotel onde Radin se hospedara. Mas o Radin tinha medo daquela mulher que se pelava e pedira a um amigo para seguir o carro de Lanie até Beverly Hills. Radin entrara na limousine de Lanie… e nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima.
        
                               

Lanie Jacobs - entretanto casada com um suspeito de tráfico de droga colombiana - vem a ser presa e acusada da morte de Radin em 1991. (Poupo-vos os pormenores, por fastidiosos.) Mas, por qualquer razão que desconheço, os homens do ministério público querem à viva força que Bob Evans também seja implicado no crime – afinal de contas, era gente envolvida no plano de financiamento do filme Cotton Club que ele queria produzir. E o que seria um caso relativamente corriqueiro por aquelas paragens, um assassínio ligado a um roubo de droga, tornou-se um caso mais complicado. O procurador-geral entendia que a causa do rapto e assassinato de Radin não fora motivado por outra coisa senão por uma disputa sobre os lucros de Cotton Club. E se calhar tinha razão…


Disse uma analista americana destas vidas, Joan Didion, que não há como Hollywood para que o móbil de um crime esteja relacionado com financiamentos absolutamente hipotéticos de um filme absolutamente hipotético. E se a Los Angeles dos anos 80 subsistia era em grande parte devido aos abusos de confiança. Los Angeles era uma cidade mantida pelo cinema e pelos negócios da droga.
O advogado de Bob Evans – mais tarde também de O. J. Simpson – aconselha-o a invocar a 5ª Emenda e calar-se. E Bob Evans cumpriu aquilo à risca e parece que até hoje nunca mais disse nem uma nem duas sobre os acontecimentos ligados ao filme Cotton Club.
A cocaína é factor decisivo na vida de Hollywood e muitos afirmam que os anos 80 do mafioso John Gotti por aquelas bandas se pareceu muito com os anos 20 de Al Capone. Em Hollywood não haverá argumentista, actor, produtor ou realizador que não seja viciado em cocaína, e até os agentes artísticos não se importam nada de ser pagos em cocaína.
O excedente de tesouraria da Reserva Federal de Los Angeles aumentou, entre 1985 e 1987, 2.300 %, 3,8 milhares de milhões de dólares. O que para muitos entendidos é um indicador da quantidade de dinheiro proveniente do tráfico de coca que é injectado no sistema. O Departamento de Justiça compara mesmo a economia de Los Angeles a um mar de dinheiro, salgado pela droga.
Dodi Al Fayed, lembram-se? A princesa do povo, Diana, o desastre, a morte, o pai dono do Harrods e do Ritz de Paris que suspeitava que o seu filho e mais a princesa do povo tinham sido mortos por ordem de Buckingham, etc..
Pois era um grande aficionado da cocaína, aquele Dodi, que Deus o tenha em descanso. E chegou a produzir (ou co-produzir) filmes. E comprava a cocaína a um tal Tony Fiato, homem de mão da Mafia de Los Angeles. Os mafiosos disseram dele que se servia das pessoas e que quando menos se esperava se punha na alheta e deixava atrás dele um comboio de dívidas.
Isto só mesmo os muito ricos para se endividarem. Ou os muito ricos, ou, como os exemplos cá da terra nos têm mostrado, os que se querem fazer passar por ricos.
E com mais ou menos Mafia pelo meio, O Padrinho  volta a estar na berlinda.
A Paramount era accionista de uma empresa italiana que branqueava para a Mafia dinheiros da venda de heroína. Mas a Paramount lá entendeu que a Mafia lhe deveria render lucros de várias maneiras, a bem ou a mal, pelo legal ou pelo cambalacho; pela realidade ou pela ficção. Tanto que em 1980 quis por força produzir uma terceira sequela de O Padrinho.
Coppola outra vez? Não, basta! Falemos de Scorsese, de Lumet, de Michael Cimino. Que tal?

                                          
Bom, nada, nenhum deles. Acabou por ser de novo Coppola: 6 milhões de dólares de cachet e 15% das receitas. Coppola andava mais uma vez às aranhas com dívidas e estava em riscos de perder os hectares de vinha de Napa Valley comprados com o dinheiro do primeiro O Padrinho.
Mario Puzo é chamado outra vez para dar uma mão no argumento. Seis meses para escrever o guião, pede Coppola. Seis semanas, concede-lhe a Paramount. O filme teria de estar pronto nas férias de Natal de 1990.
Interessante: Coppola recorre como inspiração a fontes literárias, Rei Lear, Titus Andronicus, Romeu e Julieta, e, espanto, à ópera: Rigoletto.
Mas às tantas desistiu da inspiração literária e operática. Decidiu que O Padrinho 3 seria o retrato do estúdio que o produzia. Isso mesmo: da Paramount.


E Coppola vá de rechear o seu último O Padrinho de teses bem perigosas e mal comportadas, sustentando que a verdadeira Mafia não era outra senão a própria igreja católica – estava maluco de todo aquele Coppola! -, e que era ali, na Igreja, que estava o verdadeiro poder; era ali que residia o secretismo, o mistério, a lei do silêncio.


Estava maluco, Coppola, embora, segundo o que constava (e do que sabemos hoje), pudesse não andar longe da verdade: o Vaticano branquearia dinheiro da Mafia, servindo-se de uma sociedade com o mesmo nome com que aparece no filme, Immobiliare. Sociedade essa que em 1970 comprara metade dos estúdios da Paramount, e com o agravo de aceitar a condição (escândalo!) de lá se poderem realizar filmes pornográficos.
- Não se dirigem os negócios da Igreja com avé-marias – disse Monsenhor Paul Marcinkus, um homem da igreja curiosamente nascido em Chicago (my kind of town), e que tratava das finanças do Vaticano em 1970.
E como alguns dos leitores mais atentos e de boa memória se recordarão - e no caso, está claro, de terem visto O Padrinho 3 - é a morte súbita do papa João Paulo I a linha de força do filme. E morte devida às complicações financeiras e mafiosas em que o Vaticano se via envolvido através de Monsenhor Marcinkus, e quando João Paulo I intentou pôr fim aos negócios escuros em que a Igreja estava metida.


Mas pronto, ficamos assim, chega de Mafia e de Hollywood. E acabaram as histórias morais sobre a exemplar democracia americana.
Ou não. Talvez só mais uma história… um dia destes…





 



2 comentários:

  1. Ninguém comenta...é pena. Mais uma vez, um excelente texto sobre os bastidores de um belo filme e não só. Realmente, o cinema americano tem mesmo muito que se lhe diga...

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  2. Descobri só agora o Blog Questões de Moral que espero visitar mais vezes porque gostava muito de o ouvir na Antena 2 que deve ter acabado como têm acabado bons programas como por exemplo Um Lugar ao Sul e tantos outros. Recordo um programa de Jorge Rodrigues, também na Antena 2 e muitos mais. .
    Adquiri, li e estou farto de o emprestar o livro Balada para Sérgio Varela Cid e é espantoso o cenário de Lisboa do Século XX, Inglaterra, a viagem à América. a Ida ao Brasil, o vício do jogo...Procurei e encontrei na Internet referências da mulher, dos trabalhos manuais, da zona da Caparica..
    Neste Blog faz falta música.
    Considero Joel Costa um bom escritor e com muitas outras qualidades e até pelo desassombro como fala de tudo. Recordo um comentário que fez no DN a propósito da morte de Pavaroti um pouco contra todas as lamechices que na altura corriam..
    Hei-de voltar..
    Monteiro

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