OS QUE CHEGARAM ANTES DE SÓCRATES,
OU OS IRMÃOS DO MAIS
ALTO SEGREDO
É verdade. Antes de Sócrates já havia comentadores político-sociais impolutos, isentos e imparciais nos seus juízos que passavam férias de luxo em mansões de banqueiros no Brasil.
Mas também antes ainda de Sócrates
apareceram no firmamento filosófico os mestres do mais alto segredo (sim, sim, lojas,
aventais, e altos segredos - de justiça, também, quero crer), os grandes iniciados na
gnose antiquíssima, firmes esses, parece-me a mim, na convicção de que o mais
alto conhecimento exige o mais alto segredo (lá está, lojas, aventais,); o mais
alto conhecimento não pode estar acessível ao vulgo (pois claro que não, colheres
de pedreiro, esquadros e compassos), aos simples, porque nunca se sabe o que,
na sua ignorância e boçalidade, o vulgo pode obrar de maléfico quando de posse
de um conhecimento reservado e correlativos poderes – aliás tem-se percebido
isso ao longo dos tempos, dos últimos tempos, das últimas figuras mandantes,
antes e depois de Sócrates.
O mais imponente desses mestres do
mais alto segredo foi sem dúvida Pitágoras.
Temos o caso da seita religiosa dos
judeus do tempo de Cristo, os essénios. É o historiador judeu Flávio Josefo que
admite que os essénios levavam uma vida e praticavam um pensamento próximos dos
do núcleo de iniciados que seguia Pitágoras. Embora outros mantenham que as
analogias tinham como referencial idênticas fontes da sabedoria dos persas.
Tudo é número – proclama Pitágoras,
ainda antes dos negócios de Sócrates.
Mas Pitágoras, que nasceu uns redondos
500 anos antes de Cristo começou a sua carreira indo de terra em terra para
ouvir certos pregadores famosos. Ouviu Anaximandro em Mileto, por exemplo, e aí
conheceu Tales. E de tal sorte impressionou Tales que levou este a dizer que o
jovem Pitágoras possuía um génio ainda superior ao seu – o que, entre
intelectuais, não é muito comum.
O próprio Pitágoras começa a pregar,
atraindo seguidores, com os quais organiza uma comunidade de homens, mulheres e
crianças. Uma comunidade que o era também de bens, onde o que era de um era de
todos e em que os principais valores a cultivar eram a concórdia… e o
segredo, o mais alto segredo.
Imediatamente em volta de Pitágoras
se tecem as lendas. Dizem-no filho nem menos que de Apolo. Atribuem-lhe
milagres. Falam-lhe do dom da ubiquidade, ou da capacidade de deslocamento
físico imediato. Admitem-lhe o poder de evocar existências muito anteriores à
sua.
E também, e mais emocionante ainda do
que as trapalhadas e as ideias de Sócrates, foi ter eu lido nalgum lado que
Pitágoras era nem mais nem menos do que aquele que judaica e biblicamente ficou conhecido pelo nome de Moisés.
Pitágoras era um aristocrata, um
elitista. E como hiper-dotado era um homem enigmático. E também intervinha na
política da polis. Quer dizer, como Sócrates, e muito antes dele, tinha todas
as condições para atrair tanto discípulos ferrenhos e fiéis como as antipatias
do povo. E de tal ordem eram os seus inimigos que quando os governos
aristocráticos que os pitagóricos apoiavam foram postos em causa por um
movimento democrático, rebentou uma revolta na cidade e os seguidores de
Pitágoras foram massacrados.
Não é certo o que terá acontecido depois
a Pitágoras. Terá sido queimado. Terá fugido para o Metaponto e aí morrido.
Mais tarde, a comunidade pitagórica vem
a restabelecer-se em Crotona, obrigada embora a modificar os seus estatutos e
práticas.
Conta a lenda que um dos iniciados, agente
secreto de Siracusa, traiu a memória do mestre e vendeu três livros contendo os
ensinamentos secretos. E conta também a lenda que Platão, em vilegiatura pela Sicília
nas férias grandes, terá adquirido esses livros com a doutrina esotérica de
Pitágoras, servindo–se deles na sua própria obra.
Mas julgam que qualquer um assinava
uma proposta e era admitido assim de pé para a mão na comunidade pitagórica?
Engano. A doutrina pitagórica era uma doutrina total e abarcava, ou pretendia,
todos os ramos do conhecimento e todas as manifestações da actividade humana,
que será o mesmo que dizer que os pitagóricos não constituíam só uma escola de
pensar, mas também grupo de acção, um partido político, sim, no tempo velho muito
antes de Sócrates em que nos partidos políticos ainda se pensava para agir – e
eu diria mais da escola pitagórica, ou seja, diria o óbvio, que ela era um
primeiro esboço de organização maçónica, sendo que, como tal, ainda, o
recrutamento dos membros obedecia a regras estrictas.
Nas provas de selecção para as escolas
pitagóricas tinha-se em conta o aspecto do candidato – não sei se preferiam os
altos, os louros, ou os baixotes e morenos. Atentava-se no modo de andar do
candidato – o que por sinal eu também acho um dado importante no imediato (e
superficial, claro) conhecimento de uma pessoa; assim como também já eu tinha
reparado que o andar de um fulano do PC não se parece nada com o andar de um
PS, e muito menos a maneira de andar de um militante do PSD tem alguma
semelhança com a maneira de andar de um elegante, culto, bon vivant, bem falante e aristocrático militante do Bloco de
Esquerda. É uma coisa que se vê mesmo à vista desarmada.
Obediência. Culto do “ele disse” –
ele, Pitágoras, está visto. Orações. Jejuns. A iniciação pitagórica durava
entre dois e cinco anos e era fundamental, porque a iniciação não era – não é -
outra coisa do que uma peregrinação interior, ou uma preparação interior para
receber o conhecimento, e sendo ele mesmo, Pitágoras, um alto iniciado no
Egipto e na tradição da Atlântida.
Uff!
Havia provas de silêncio – como escutar
as lições do mestre e não pedir esclarecimentos. Aliás, os candidatos não viam
o mestre, sempre encoberto por uma cortina. E quando passavam as provas do
silêncio os candidatos subiam ao grau de matemáticos. Tinham a partir daí o
dever de ensinar.
Proibido comer animais – pois não, não
andavam a comer as mulheres uns dos outros. Proibidos os sacrifícios
religiosos. Proibido comer favas – esta para mim é a mais intrigante das
proibições, uma coisa tão boa, guisadinhas, com enchidos e entrecosto…
Tudo é número. Era a divisa da seita.
Compreender é medir.
Terá sido Pitágoras, vindo ao mundo
tanto tempo antes de Sócrates, o grande sacerdote da quantidade que tanto
inflama o mundo de Sócrates – quantidade de suspeições, quantidade de votos, quantidade de euros?
Isso mesmo, resta saber de que
Sócrates se fala, bem entendido…
Mas a concepção pitagórica do número
podia ser diferente da concepção de Sócrates, seja esse Sócrates qual for, ou
da concepção hoje reinante dos números no mundo formatado pelos Sócrates.
O número é uma colecção de unidades. 3
resulta de 1+1+1. Um número que nasce da repetição da unidade. É o que
consideramos nós, hoje. Para Pitágoras, o número é o resultado da divisão da
própria unidade. O Uno desdobra-se e o Um produz Dois – interpretou
Aristóteles. Não há plural de uma unidade. O Uno é o número dos números; a
mónada é o número das coisas numeradas.
Para os pitagóricos o número é uma
figura. O 3 é um triângulo. O 4 um quadrado. O 5 um pentágono. A soma dos
números ímpares igual à sucessão dos números quadrados. De qualquer modo, é o
Uno que encerra todos os números e se eleva acima dos contrários.
Os números são o Ser, o formal, o
material, o causal.
Os números são os princípios que há em
todos os seres da natureza, capazes de movimento, substância, matéria, princípio.
Os números são anteriores a todos os
seres da natureza, transcendentes e imanentes em simultâneo.
Os números são coisas, porque as
coisas são números.
Uma das razões porque me deu na cabeça
escrever estas discursatas, além de falar dos que vieram antes de Sócrates,
reside na beleza, direi mesmo na estética destes pensamentos. Há, a meu ver,
uma beleza verbal, uma sonoridade musical em cada asserção, um esplendor
objectivo e uma grandiosidade subjectiva que me traz a luz dos ciprestes, o
odor das laranjeiras e das oliveiras do Mediterrâneo e do Egeu.
Falando de Pitágoras, é, já se sabe,
obrigatório falar de música.
A harmonia é a proporção, a proporção
que une, princípio conciliador dos princípios contrários que constituem um ser.
A harmonia reconcilia os elementos em discórdia. A harmonia é o princípio
fundador da música, no seu papel agregador de consonância e dissonância. Para
Pitágoras a música era a aritmética oculta na relação entre número e proporção.
Há uma harmonia sensível. Quem no-lo
comunica são os instrumentos. Os pitagóricos estudaram as relações entre
comprimento e espessura da corda de um instrumento e sequentemente a tensão a
que o girar da cavilha sujeita a corda e o som daí resultante.
É Pitágoras quem estabelece o valor
numérico dos intervalos musicais.
E depois há a célebre experiência dos
vasos percutidos, os sons e os volumes do som. Tomaram-se alguns vasos com a
mesma capacidade. Um é deixado vazio e outro meio cheio (ou meio vazio).
Percute-se cada um deles e tem-se a oitava, a consonância da oitava. E daqui
derivou a construção dos instrumentos, cordas e sopros, e também a construção
dos teatros e respectivas características acústicas. E mais se convenceram
então os pitagóricos de ser a harmonia musical a presidir à concepção do mundo.
Os astros. As sete esferas determinam
os sete sons da lira e os intervalos que os separam dois a dois, daí se seguindo
uma harmonia – uma oitava. O mundo é uma lira de sete cordas. A escala musical
é uma questão cósmica. A astronomia é a teoria da música celeste.
(Onde é que Sócrates se lembraria
disto se não tivessem vindo os que vieram antes dele?)
Arquitectura. Sobre a noção de
intervalo harmónico reina o número, origem de todas as coisas. E esse intervalo
harmónico é verificável no cerne da ideia de uma arquitectura sagrada. O templo
grego seria então uma peça de música petrificada. Estudando os intervalos entre
as colunas do Parténon descobriram-se os números rigorosos e proporcionais de
uma escala pitagórica.
Harmonias arquitectónicas presentes na
construção dos poliedros e no desenho das figuras esotéricas, hexágono, rosácea,
pentagrama. Uma herança pitagórica recolhida pelos primeiros maçons, quer
dizer, os construtores das grandes catedrais medievas.
É de Pitágoras que vêm os grandes
símbolos maçónicos. O pitagorismo continuava o orfismo, os mistérios do culto
de Apolo hiperbóreo, uma das tradições mais arcaicas da Humanidade.
É no número, é pelo número, que a
harmonia e a proporção se transformam em corpo, em corpos. Intervalos temporais
na música; intervalos espaciais na arquitectura; extensão e duração e o
encontro delas no conceito de ritmo.
Aritmética e música são as chaves do
entendimento do mundo.
E depois a relação com a vida e com os
homens. A música é labirinto de simpatias que produzem a consonância e
transcendem os intervalos, que é o que separa os indivíduos uns dos outros,
dando-lhes a faculdade de ressoar entre si, símbolos de notas da escala
relativamente ao que os cerca.
Números, quantidade e qualidade. Os
números de Pitágoras continham uma carga espiritual – não sei se se passa o
mesmo com os números de Sócrates. Os números de Pitágoras não eram meras
quantificações – não sei se é assim com os números de Sócrates. Por exemplo, os
números pares eram femininos e os ímpares masculinos. E os pitagóricos
explicam: dividindo pares e ímpares em unidades, o par apresentará no meio um
espaço vazio, quando o ímpar o tem sempre ocupado por uma das suas partes. Pode
parecer pornográfico, mas é assim mesmo…
O 3 é perfeito. Tem princípio, meio e
fim. E é ele o primeiro a tê-los. O 3 é linha e é superfície. É triangular,
equilateral. É a potência do sólido, quando toda a ideia de sólido se apresenta
em três dimensões.
O 5 também tem a sua piada. É de todos
os primeiro que resulta da soma do primeiro número feminino e do primeiro
masculino. E 6 é produto do primeiro masculino e do primeiro feminino. E o 7…
bem, o 7…
O 7 não engendra nenhum dos números da
década nem é engendrado por nenhum deles. Chamavam-lhe Minerva, deusa que não
foi engendrada nem foi mãe; não foi resultante de união e, esperta, nunca se
uniu a ninguém. Multiplicado por outro, o 7 não engendra nenhum dos números da
década. Mas também não resulta da multiplicação de nenhum outro.
Tião de Smirna (não me vão dizer que
nunca ouviram falar dele), fonte de conhecimento pitagórico, diria que é em 7
semanas que o feto atinge a perfeição e é no mês 7 que se torna viável. É aos 7
anos que as crianças ficam sem os dentes de leite e a puberdade acontece na
segunda série de 7 anos, nascendo a barba na terceira série de 7 anos. An? 7
meses decorrem de um equinócio a outro. 7 orifícios tem a nossa cabeça. 7
vísceras tem o nosso corpo.
Chega.
Tetraktys. A década. A década que
possui poderes. Sobre ela assentava o juramento dos neófitos do pitagorismo. A
ela eram elevadas orações. Número divino gerador de deuses e homens. Contentor
da raiz e dos fluxos criativos. Chave de todas as coisas. A década detém em si
a natureza do par e do ímpar, do que se move e do que nunca muda, do Bem e do
Mal. Encerra em si uma quantidade igual de números primos e de números
compostos. 10 é igual a 1 mais 2 mais 3 mais 4.
4 vezes 2 engendra 8 e é engendrado
por 2; 6 é resultado de 2 vezes 3 e não engendra nenhum número da década.
Outros há que engendram, mas não são engendrados, o 3, o 5 – o 3 dá 9 e
multiplicado por 2 dá 6, e o 5 multiplicado por 2 dá 10.
Nicómano de Gerasa (não me vão dizer
que não se lembram dele) deixou dito que na década preexistia o natural
equilíbrio entre conjunto e elementos. Por isso o deus, que por meio da razão
tudo dispõe com sabedoria, se serviu da década como de um canon para o Todo e todas as coisas do céu à terra se relacionam na
concordância dos conjuntos e das partes na década baseados e pela década
ordenados.
Pitágoras era um gajo do caraças – o
mais nobre, elevando e poético que se pode chamar a um homem desta envergadura.
Pitágoras era menino para se recordar de
vidas passadas, não sei se já o disse. Tinha (teria) portanto o dom da
reminiscência. E lá dizia ele, se calhar com razão, que a alma era um ser
demoníaco que tinha sido aprisionado dentro do corpo. Noutro tempo vivera ao pé
dos deuses, a alma, mas acabou presa no corpo. Quando a morte do corpo
acontece, a alma separa-se dele e vai uma temporada para o Hades a
purificar-se. E depois regressará à terra e habitará um novo corpo. Isto
mete-me um bocado de medo, que querem…
Mas o que vale é que há remissão para
a alma. É durante as diversas transmigrações que as almas expiam as
malfeitorias cometidas. E quando se acham dignas de ser libertadas do ciclo
desgraçado das existências alcançarão a vida imortal.
Eu por acaso já há tempos que ando a
tratar disso para mim, mas ainda me falta tempo, ainda não descontei o
suficiente… e tenho uma coisa contra: gosto de bifes. Pois é. Enquanto comer
carne estou feito (estou feito ao bife, não é?), não tenho hipótese.
Carne não. E porquê? Então não se está
mesmo a ver porquê? Porque posso estar a devorar o corpo de alguém reincarnado
num animal, o que pode dar uns gazes levados do diabo. E como ultimamente tenho
tido uns enfartamentos e tenho andado com más digestões, só pode ser disso.
Sabe-se lá quem é que eu tenho andado a comer… e sei lá quem é que qualquer dia
ainda me há-de comer a mim… mal passado...
Tudo é número, meus amigos, essa é que
é essa, por mais que nos doa. Tudo é número. O pós-socrático e diviníssimo
Platão lá dizia que se roubássemos o número à raça humana nem chegaríamos a
conhecimento algum.
E a propósito de números, também
Platão lá pensava na dele que as indispensáveis matemáticas eram apenas um
primeiro passo para o que realmente ao Homem importa aprender. Mas mesmo assim,
e para aceder à escola platónica, se assim lhe pudermos chamar, a condição era
ser um geómetra.
A sabedoria das quantidades não é
certo que nos acrescente alguma sabedoria sobre a justa medida, precisamente a
que repele de si tanto o excesso quanto o defeito. Insistimos na medida e não
discernimos a medida do Bem e andamos perdidos na desmedida.
Há uma disciplina a que chamam de
concepção residual de quantidade e que é a estatística. Pode-se dizer que vivemos
uma moral de estatística. Claro que num tempo de Sócrates nem poderia ser de
outra forma, temos de viver em pleno no reino do número, na civilização do
quantitativo, do massificado, somos mestres da natureza, fomos libertados pela
tecnologia. Mas libertados para quê? Exercemos o nosso domínio sobre a natureza
exactamente para quê? Haverá em nós discernimento entre o que se faz e o que se
devia fazer? Não estaremos já nestes tempos pós-socráticos e troikentos e salgadíssimos
e espírito-santescos a confundir a quantidade com a qualidade. Ou pior ainda, a
substituir uma por outra?
Podemos até neste arrazoado não sair
do domínio da cultura, porque no próprio domínio da coisa cultural aconteceram
as transformações morais da qualidade para a quantidade. Uma obra-prima da
literatura não é, garantidamente, qualitativamente, um livro bem imaginado e
bem esgalhado. É apenas um indício quantitativo. É apenas um livro que vendeu
milhares ou milhões de exemplares. O grande pintor de hoje (e talvez não só de
hoje) não é o mais interessante ou o mais estimulante para a alma, é o que
vende bem. Músico bom é aquele cujo disco vendeu mais de um milhão de cópias. E
o grande filme é o que obteve as mais chorudas receitas de bilheteira. E para
que essas quantidades se consigam, a via não é a do incremento da qualidade do
produto mas sim a quantidade investida na promoção desse produto, o que
confunde os espíritos e nos baralha por completo a noção de qualidade de vida.
Pitágoras, um dos que apareceram antes
de Sócrates, incitava os seus discípulos ao exercício da auto-análise, e todas
as noites eles se perguntavam “que falta cometi?”, “que bem pratiquei?”, “que
dever esqueci?”. Não sei se os de Sócrates ou os de depois de Sócrates – ou o
próprio Sócrates - têm, tiveram ou terão este hábito…
Ovídio fala de Pitágoras nos seguintes
termos: o seu pensamento elevava-se às
alturas, aos deuses do céu, e a sua imaginação contemplava visões além da vista
mortal. Todas as coisas estudava com mente atenta e ávida, e levou para casa o
que tinha aprendido, e sentou-se entre os homens ensinando-lhes o que era
digno, e eles escutaram-no em silêncio.
A celebridade de Pitágoras propagou-se
pelos séculos. Chamaram-lhe o Homem Universal e a influência dele alastrou na
matemática, na cosmografia, na música, e antes de mais na conduta, no desejável
ascetismo, na purificação. Está-se mesmo a ver que só podia ter aparecido antes
de Sócrates…
Devia ser uma personalidade magnética o
diacho do homem, e a realidade da maçonaria pitagórica, cheia de rigorosos
mandamentos e intimidantes tabús, era uma fraternidade religiosa que intervinha
sobre a política do sul da península itálica, e apenas porque Pitágoras
ambicionara o domínio da cidade. O domínio da cidade, sim, mas atenção, através
da filosofia.
Morre, ao que se disse, após quarenta
dias de jejum – os quarenta dias do deserto.
Uma pena não lhe terem tirado uma
fotografia de jeito para eu pôr aqui…
Gordo, quando nos encontramos para bebermos um copo?
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