sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

       

      A LIBERDADE, O INDIVÍDUO
          
Interessante é pensar que a liberdade pode impor-se sob a forma de uma tirania.
Ou ao contrário. Se quiserem.
Interessante é pensar num novo fascismo (ou ditadura, ou totalitarismo) possível de coexistir com os esplendores da democracia parlamentar.
Pacificamente? É o que veremos.


Interessante é comparar os agentes da democracia destes novos tempos com os agentes do totalitarismo de outros tempos, dos tempos de Entre Guerras do séc. XX.
Hoje, a disputa económica entre Estado regulador e mercados gira em volta de um valor, o valor mais prezado, a liberdade.
Foram as democracias parlamentares capitalistas que na II Guerra venceram os totalitarismos dos Estados-partido nos anos 20 e 30; as mesmas que nos anos 50 entraram em guerra fria com os remanescentes estalinismos, assim preparando e aplanando o caminho para os totalitarismos mercantis do terceiro milénio.


Pois é. A liberdade. O maior dos teóricos liberais, Adam Smith, o dizia: “cada homem é o melhor juiz dos seus interesses e a ele deve ser conferida a liberdade de realizar esses interesses, e porque a sociedade e as instituições (o Estado) que a representam mais não fazem do que frustrar as realizações do homem livre e ambicioso.”
(Ai do homem pouco ambicioso…)


 A luta pela democracia e contra os totalitarismos, fascista, nazi, estalinista girava em volta de um outro valor correlativo ao da liberdade, o indivíduo, o indivíduo contraposto às máquinas estatais colectivistas, cerceadoras das liberdades e esmagadoras dos direitos individuais.
Mas a que indivíduo se referiam? Ao indivíduo de Adam Smith, livre e ilimitadamente ambicioso? Claro. Nós é que pensávamos que fosse connosco, os moderadamente ambiciosos.


Era urgente encontrar uma ideologia que servisse o indivíduo livre e ilimitadamente ambicioso, mas que não se identificasse com fascismos, ditaduras, totalitarismos. E finalmente encontraram. Os mercados. Não se arranjava nada de mais livre e de mais ilimitadamente ambicioso.

E o inquietante destes tempos é perceber que o cariz da presente luta contra a autoridade do Estado não privilegia o indivíduo e a sua liberdade como valor supino de civilização e convivência. Hoje, a máquina que aniquila o indivíduo, e que é a marca de uma renovado totalitarismo, é um colectivo de anónimos investidores livres e ilimitadamente ambiciosos que se chama mercado. Uma máquina ainda mais desprovida de moral do que a máquina do Estado totalitário daqueles anos 20 e 30. 


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