Interessante
é pensar que a liberdade pode impor-se sob a forma de uma tirania.
Ou ao
contrário. Se quiserem.
Interessante
é pensar num novo fascismo (ou ditadura, ou totalitarismo) possível de
coexistir com os esplendores da democracia parlamentar.
Pacificamente?
É o que veremos.
Interessante
é comparar os agentes da democracia destes novos tempos com os agentes do
totalitarismo de outros tempos, dos tempos de Entre Guerras do séc. XX.
Hoje, a
disputa económica entre Estado regulador e mercados gira em volta de um valor,
o valor mais prezado, a liberdade.
Foram as
democracias parlamentares capitalistas que na II Guerra venceram os
totalitarismos dos Estados-partido nos anos 20 e 30; as mesmas que nos anos 50
entraram em guerra fria com os remanescentes estalinismos, assim preparando e
aplanando o caminho para os totalitarismos mercantis do terceiro milénio.
Pois é.
A liberdade. O maior dos teóricos liberais, Adam Smith, o dizia: “cada homem é
o melhor juiz dos seus interesses e a ele deve ser conferida a liberdade de
realizar esses interesses, e porque a sociedade e as instituições (o Estado)
que a representam mais não fazem do que frustrar as realizações do homem livre
e ambicioso.”
(Ai do
homem pouco ambicioso…)
A luta pela democracia e contra os
totalitarismos, fascista, nazi, estalinista girava em volta de um outro valor
correlativo ao da liberdade, o indivíduo, o indivíduo contraposto às máquinas
estatais colectivistas, cerceadoras das liberdades e esmagadoras dos direitos
individuais.
Mas a
que indivíduo se referiam? Ao indivíduo de Adam Smith, livre e ilimitadamente
ambicioso? Claro. Nós é que pensávamos que fosse connosco, os moderadamente
ambiciosos.
Era
urgente encontrar uma ideologia que servisse o indivíduo livre e ilimitadamente
ambicioso, mas que não se identificasse com fascismos, ditaduras,
totalitarismos. E finalmente encontraram. Os mercados. Não se arranjava nada de
mais livre e de mais ilimitadamente ambicioso.
E o
inquietante destes tempos é perceber que o cariz da presente luta contra a
autoridade do Estado não privilegia o indivíduo e a sua liberdade como valor
supino de civilização e convivência. Hoje, a máquina que aniquila o indivíduo,
e que é a marca de uma renovado totalitarismo, é um colectivo de anónimos
investidores livres e ilimitadamente ambiciosos que se chama mercado. Uma
máquina ainda mais desprovida de moral do que a máquina do Estado totalitário
daqueles anos 20 e 30.
ResponderEliminarExcelente...