Pois
é. É o que apetece dizer.
Ou…
“uma credibilidade ferida de morte”…
Ora adeus! Elas são tantas nos últimos tempos. Sim,
as credibilidades feridas de morte. As credibilidades de rapazes a quem não
damos crédito que chegue para votarmos neles, mas em quem estupidamente votamos,
e cujas credibilidades vão ficando feridas de morte por suspeita de falcatrua,
por evidência de incompetência, por mentirolas, por irregularidades de maior ou
menor calibre.
Feridas de morte que nunca chegam a matar.
Relvas, Vara, Sócrates, Duarte Lima,
Oliveira e Costa. E BES. E GES. E doces e salgados. E submarinos. E Freeport. E
contas na Suíça. E Tecnoforma. E Segurança Social. E fisco. E os rumores nas
redes sociais sobre a credibilidade até (pasme-se!) de Mário Soares, agora que
o apanham já velho. As irrevogabilidades de 24 horas de Portas. A devassa
vingativa que andam a fazer às contas passadas da vida de António Costa. O
sorridente descaramento do Bava e as lágrimas do Granadeiro. A epidemia de
amnésia que varre o país dos gestores…
Como é isto da democracia portuguesa? Só
teremos todos os quatro anos para escolher entre duas cambadas de vigaristas?
Como é isto da democracia portuguesa?
Votamos todos os quatro anos numa cambada de vigaristas para apadrinharem a
cambada maior dos outros vigaristas em quem não votámos?
Custa a crer. Pois custa.
Já para não falar no caso que se me
atravessa na garganta e do qual pouco os jornalistas falam (et pour cause), que é o dos deputados,
todos, unânimes, da esquerda radical à direita não-sei-quê, a aumentarem-se a
si mesmos significativamente de vencimento, ao mesmo tempo que aprovam leis que
tornam dramáticas as vidas daqueles que neles votaram, caso que considero o nec plus ultra da infâmia política
nacional.
E isto por falarmos em credibilidades feridas de
morte.
Mas será mesmo que quando nos atiramos às urnas, no fim de
contas, estamos a votar, e a legitimar, uma cambada de vigaristas sem
credibilidade, ou de credibilidade ferida de morte logo in ovo? E para depois, no correr das legislaturas, ouvirmos dizer
quer a credibilidade de alguns deles está ferida de morte mas nunca chega a
matar?
É rasca, e banal, e demagógico, e pindérico, e
populista falar mal da classe política como um todo. Eu sei.
Mas como individualizar responsabilidades quando
também se diz que tudo faz parte de um sistema?
Como individualizar responsabilidades se se diz que o
indivíduo só por si nada pode contra um sistema instalado?
Como individualizar responsabilidades quando do tal
sistema, por acaso, o indivíduo também faz parte? E fazendo parte do sistema e sendo
co-responsável no bom momento, como não terá também de se sentir solidário quando
achincalhado e apanhado na leva dos réprobos quando o momento é reles?
No caso do rapaz que representa para nós na
televisão o papel de 1º ministro os ferimentos de morte na credibilidade
política (e cívica, pois então!) vieram a lume com a nunca explicada Tecnoforma
e desaguaram nos dias de hoje com as contribuições para a Segurança Social e
com algumas quezílias fiscais.
Ferimentos de morte política que alguém vai ter de
sarar e deixar sem as consequências politicas que noutro Estado de Direito,
mais habituado à honestidade democrática, implicariam demissão por motu próprio, mas que neste soalheiro
rincão, pelo contrário, reforçam lideranças e prenunciam felicidades em
eleições futuras.
Dizem que por menos do que isso o António Vitorino,
etc.; dizem que por menos que isso o Jorge Coelho etc..
Ora bolas!
Também dizem que por muito menos, escandalosamente
menos, do que tudo isso ao governo de Santana Lopes foi passada guia de marcha
para casa.
Pois não. Este país político não é para levar a
sério. Para levar a sério só as vidas dos que sofrem as consequências dos actos
políticos dos rapazes que às vezes parecem constituir-se como uma cambada de
vigaristas (e ainda por cima incompetentes, muitos deles), e alçados ao poder
pelos votos dos que lhes sofrem as dramáticas consequências.
Mas
ao mesmo tempo acabo por admirar o estômago do rapaz que representa para nós na
televisão o papel de 1º ministro – admirar negativamente, também há, como o
benfiquista que mesmo a contra-gosto tem que admirar a obra do Pinto da Costa.
É mau actor,
mesmo assim, é canastrão, é, mas tem estômago. Um homem sem biografia, lá está,
nem política, nem profissional – ou talvez a biografia de um rapaz da noite.
O rapaz da noite licenciado a martelo numa
universidade qualquer aos quarenta anos. Dizem que se submeteu a tratamentos de
desintoxicação. Não sei de que se desintoxicou. Talvez de uma ou outra overdose de mediocridade.
O rapaz da noite que conhece e desconhece as leis
conforme dê jeito, a ele, ao passado dele, e antes de mais aos interesses de
que é testa-de-ferro.
O rapaz da noite que os nossos tacanhos “superiores
desconhecidos” viram como o homem ideológica e culturalmente descaracterizado, o
zero, o homem perfeito para executar sem rebates de consciência políticas
gravemente lesivas dos pobres ou remediados interesses da maior parte da
população.
Era preciso alguém sem nome e sem talento (nem para
cantar ópera), sem obra feita ou por fazer, sem prestígio de qualquer espécie
(ou só na noite), mas com dose considerável de lata, descaramento e
insignificância para debitar festivamente o que lhe mandassem, hoje uma coisa,
amanhã outra, eventualmente o contrário da primeira, indiferente, irrelevante,
como se nada fosse, só para entreter.
Porra! Também é preciso estômago!
(Robert Musil – O
Homem Sem Qualidades – grande romance.)
É preciso estômago e algum talento, afinal. Talento
do tipo contentinho e insignificante. O talento de ser nada e fingir de 1º
ministro.
(Ingmar
Bergman – Da Vida das Marionetes –
grande filme.)
É de admirar no rapaz da noite a figura de ninguém
que perante uma nação inteira represente durante quatro anos o papel de alguém.
Na verdade meu caro Joel Costa, nada disto me surpreende, não esperava outra coisa desta gentalha que vai desgovernando este país, como também não me surpreende o (p)residente que colocaram em Belém e antes disso como 1º ministro.
ResponderEliminarEsta rapaziada, a meu ver, fez, faz e fará exactamente isto que temos assistido...
O que me surpreende meu caro Joel Costa, é que "este povo" continue a votar nesta gentalha ao fim de 40 anos, isso sim, surpreende me.